O Exército usou oficiais para rever decisões de médicos militares que não prescrevessem “tratamento precoce” a suspeitos de terem Covid. A ordem foi dada pelo comando da 7ª Região a seus hospitais em Natal, João Pessoa e Recife.
Determinava que pacientes passassem por um “segundo atendimento”, com a possibilidade de “reconsideração de ato”. Esta etapa seria exercida por um Oficial de Supervisão Administrativa, alguém com patente de capitão ou superior e que, obrigatoriamente, não fosse da área de saúde.
Em denúncia feita ao MPF em Pernambuco, um dos profissionais afirmou que havia “coerção dos médicos militares pelo comando da 7ª RM para prescrição de tratamento precoce para Covid e reavaliação de atendimento para indicação forçada de medicação”.
Segundo o denunciante, os médicos seriam “praticamente obrigados a prescrever com um capitão vigiando”.
As unidades militares responderam por escrito à provocação do MPF, de forma coordenada, informando que respeitavam a autonomia médica, apesar de o documento do comando afirmar que as medidas de combate à Covid na área da 7ª RM tinham “como ponto principal o incentivo para o tratamento precoce”.
A exemplo do que ocorreu, no ano passado, com a apuração do caso Prevent Senior pelo Ministério Público de São Paulo, o MPF arquivou a denúncia.
*Lauro Jardim/O Globo
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Metrópoles – Os acionistas de 20 das 500 empresas que mais empregam no Brasil têm offshores em paraísos fiscais. Ao todo, 25 acionistas ou donos de companhias como Prevent Senior, MRV Engenharia, Grendene e Riachuelo, entre outras, inauguraram esses negócios com objetivos que foram desde a compra de imóveis e iates até a economia de impostos e a proteção de suas fortunas contra crises políticas e econômicas do Brasil. Uma colaboração jornalística organizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), do qual o Metrópoles faz parte, investigou, nos últimos meses, milhares dessas offshores, abertas principalmente nas Ilhas Virgens Britânicas, e cujos documentos foram entregues ao ICIJ por uma fonte anônima há cerca de um ano.
O resultado dessa investigação deu origem à série de reportagens Pandora Papers, que começa a ser publicada a partir deste domingo (3/10) por veículos como Washington Post, Le Monde, El País, The Guardian e BBC, entre outros. No Brasil, além do Metrópoles, também participaram da investigação o site Agência Pública, a revista Piauí e o site Poder 360.
Offshores são empresas em paraísos fiscais e constituem populares instrumentos entre as pessoas mais ricas do mundo. Elas são criadas por motivos que vão desde economizar no pagamento de impostos — um drible fiscal eufemisticamente chamado de eficiência tributária — até a proteção de ativos contra o risco político ou confiscos, como o que ocorreu no Brasil em 1990. Por estarem localizadas em países com pouca transparência e fiscalização, as offshores também são usadas por quem quer ocultar patrimônio ou por corruptos ou integrantes de organizações criminosas que desejam esconder dinheiro sujo. No Brasil, é permitido ter offshores, desde que declaradas à Receita Federal e, quando seus ativos ultrapassam US$ 1 milhão, ao Banco Central.
O ICIJ entende que revelar a existência de offshores de ricos e poderosos, mesmo quando não há crime envolvendo a sua criação, é prestar um serviço de interesse público, porque esse é um mecanismo de economizar impostos e proteger patrimônio exclusivo da elite econômica mundial. Em outras palavras, a maioria da população não tem dinheiro nem meios para abrir uma offshore.
Os brasileiros estão em destaque dentro desse clube exclusivo. Com 1.897 nomes, o país é o quinto com a maior quantidade de pessoas citadas na base do Pandora Papers, que conta com pelo menos 27,1 mil offshores. Constam, nesse grupo, os donos das maiores empresas do Brasil, como os irmãos Andrea, Eduardo e Fernando Parrillo, donos do plano de saúde Prevent Senior; o dono do grupo Guararapes (Riachuelo) e quase candidato à Presidência da República em 2018, Flávio Rocha; os donos da Grendene, Pedro e Alexandre Grendene; o patriarca da família Menin, Rubens Menin, e seus filhos, donos da MRV, do Banco Inter e da CNN Brasil, entre outras empresas; e o dono da Rede D’Or, Paulo Junqueira Moll. Todos eles afirmaram ter declarado às autoridades brasileiras que são proprietários de offshores.
Para chegar aos nomes, o Metrópoles solicitou ao Ministério da Economia a lista das 500 empresas brasileiras com a maior quantidade de funcionários. Depois, uma pesquisa desses CNPJs nas informações societárias públicas da Receita Federal elencou quem são os donos, diretores e conselheiros dessas empresas. Por fim, um último cruzamento identificou quais desses nomes tinham offshores com documentos no acervo do Pandora Papers.
As empresas dos brasileiros citados no Pandora Papers foram abertas por razões diversas, desde a compra de um barco e imóveis até a diversificação de portfólios de investimentos em contas em países como a Suíça e os Estados Unidos. Também houve quem abrisse a offshore para usar o cartão de débito de uma conta no exterior. Todos os 70 executivos e empresários foram contatados, seja por meio da assessoria de imprensa, seja por outros canais, para que informassem se declararam à Receita Federal e ao Banco Central a abertura da offshore e explicassem a razão de terem criado as empresas. Veja a seguir os detalhes sobre os casos envolvendo os dez primeiros nomes desta lista e na sequência a relação completa, dos 70 executivos.
Irmãos Parrillo (Prevent Senior)
A Prevent Senior, plano de saúde que tem rede própria de hospitais, entrou no foco da CPI da Pandemia devido a supostos estudos realizados pela empresa para, sem a autorização dos pacientes, avaliar a efetividade da cloroquina e de outros medicamentos contra a Covid-19. Os irmãos que controlam a Prevent Senior — Andrea, Eduardo e Fernando Fagundes Parrillo — figuram no banco de dados do Pandora Papers como detentores de quatro offshores: a Shiny Developments Limited, a Luna Management Limited, a Hummingbyrd Ventures Limited e a Grande Developments Limited. Juntas, totalizam quase US$ 9 milhões em ativos.
Em todos os casos, o dono da empresa é uma offshore localizada em São Cristóvão e Nevis, país que é um movimentado paraíso fiscal no Caribe, e que não informa quem são os donos de suas offshores. Os irmãos aparecem sempre como beneficiários, ou seja, as pessoas que efetivamente controlam a companhia. A manobra é comum, e muitas vezes seu objetivo é deixar mais opaca a propriedade de offshores. Beneficiários de offshores costumam alegar que não são donos, já que não detêm nominalmente as ações da empresa.
A Shiny e a Luna são ligadas a Andrea. Em formulário de atualização dos dados da companhia de 2018, a empresária informou que a Shiny foi criada para manter portfólio de investimentos e conta-corrente, ambos no banco Raymond James da cidade de Coral Gables, na Flórida. A offshore detém US$ 3,7 milhões em ações, títulos de dívida pública e participações em fundos mútuos, que são fundos de investimento que detêm uma série de ativos cujo rendimento é dividido entre seus cotistas. Os valores viriam, segundo o formulário preenchido dela, de rendimentos da Prevent Senior. De acordo com a descrição detalhada do objetivo da Shiny, ela receberia recursos “dos clientes no Brasil e transferiria os recursos para a conta pessoal de investimentos no Raymond James (Shiny Development)”.
Documento da offshore de Andrea Parrillo, da família controladora da Prevent Senior
Já a Luna Management detinha US$ 50 mil e serviria para movimentar dinheiro no Brasil e para uso de cartão de débito. A conta também é do Raymond James em Coral Gables.
A Hummingbyrd é ligada a Fernando e mantém, segundo os documentos do acervo do Pandora Papers, US$ 3 milhões em investimentos diversos, também em contas no Raymond James. O formulário da companhia, atualizado em janeiro de 2018, diz que ela serviria exclusivamente para investimentos.
Documento da offshore de Fernando Parrillo, um dos controladores da Prevent Senior
A Grande Developments é de Eduardo e, segundo o formulário de atualização da companhia, de janeiro de 2018, também tem foco em investimentos, mantendo US$ 2 milhões em aplicações diversas no mesmo Raymond James. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Prevent Senior respondeu que “todas as movimentações são declaradas” às autoridades brasileiras.
Documento da offshore de Eduardo Parrillo, um dos donos da Prevent Senior
Família Menin (MRV, Banco Inter, CNN Brasil)
Apesar do perfil discreto, a família Menin e principalmente seu patriarca, o bilionário Rubens Menin, têm aparecido mais, nos últimos anos, devido a operações empresariais com ampla repercussão, como a criação da CNN Brasil e os investimentos no time de futebol de coração de Menin, o Atlético Mineiro. As duas principais empresas da família são a construtora MRV e o Banco Inter.
A família Menin tem quatro offshores citadas nos documentos do Pandora Papers, que detêm pelo menos US$ 82,2 milhões em ativos. A primeira se chama Costelis International Limited e tem jurisdição nas Ilhas Virgens Britânicas, um dos principais paraísos fiscais do mundo. A empresa existe pelo menos desde 2016, quando suas informações foram atualizadas.
De acordo com o formulário enviado na ocasião à Trident Trust, a Costelis International detinha, em 2016, US$ 75 milhões em ativos. Esse valor corresponde ao barco de luxo Dokinha V e outros bens não especificados. O Dokinha, ancorada na Flórida, entre as cidades de Aventura e Fort Lauardale, tem 33 metros de comprimento — o tamanho de um prédio de dez andares. A embarcação, que está entre as 5 mil maiores do mundo, tem quartos capazes de acomodar até 10 passageiros.
Uma das offshores de Menin detém a propriedade de um barco
Em 2016, quando as informações da companhia foram atualizadas, a Costelis estava exclusivamente no nome de Rubens Menin. Em 2018, as ações de parte da empresa foram distribuídas igualmente entre seus três filhos, João Vitor, Maria Fernanda e Rafael. Depois disso, não houve mais registros de mudanças na participação societária da Costelis.
Os documentos mostram ainda outra incongruência. A Conedi Participações, family office dos Menin — ou seja, a empresa criada para gerir os investimentos da família —, afirma, em seu site, que faz “toda a gestão financeira onshore e offshore da família, bem como a administração de seus principais ativos com foco na eficiência fiscal e tributária”. O site, entretanto, não cita a Costellis. Ela também não lista outras offshores de Rubens Menin, também citadas no Pandora Papers: a Remo Invest Limited e a Sherkhoya Enterprises Limited. A Remo Invest, também com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, detinha em 2017 US$ 10,225 milhões em ativos não especificados. Em 2014, uma outra offshore da propriedade de Rubens Menin, a Stormrider Investments, fundiu-se à Remo Invest. Não há informações sobre os ativos detidos pela Sherkhoya.
Irmãos Grendene (Grendene e Vulcabras Azaleia)Os irmãos gêmeos Pedro e Alexandre Grendene Bartelle, donos das gigantes de calçados Grendene e Vulcabras Azaleia, são figuras frequentes nas investigações coordenadas pelo ICIJ. Offshores dos irmãos foram mencionadas no Bahamas Leaks, de 2016, e no Paradise Papers, de 2017. Desta vez, os dois aparecem no quadro societário de três offshores citadas em documentos do acervo do Pandora Papers. A primeira, AGB, traz as iniciais de Alexandre e tem jurisdição nas Ilhas Virgens Britânicas. Foi criada em 2005, um ano depois da abertura de capital da Grendene. Alexandre figura como proprietário e presidente, e Pedro, como vice-presidente da AGB. Não há documentos informando a razão de sua criação. O certificado que indica o dono da companhia também indica que, quando foi criada, a companhia recebeu US$ 20 milhões de Alexandre.
Flávio Gurgel Rocha (Riachuelo)
Flávio Rocha é o dono do grupo Guararapes, que controla a varejista Riachuelo, entre outros negócios de menor porte. Rocha chegou a ser pré-candidato à Presidência da República em 2018 pelo PRB, atual Republicanos. Depois de desistir da campanha, apoiou o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O empresário aparece como diretor reserva da offshore Cruzcity Holdings desde a sua criação, em 19 de setembro de 2016. A diretora titular é a sua mulher, Anna Claudia Klein Rocha.
De acordo com o formulário de criação da companhia, a Cruzcity detinha, na sua origem, US$ 1 milhão destinados para investimentos. Os recursos estavam em uma conta e em um portfólio de investimento, mantidos pelo banco J. Safra Sarasin de Genebra, na Suíça. O montante viria da renda pessoal de Anna, que se apresenta como proprietária do escritório de design de joias Ana Rocha e Apolinario e proprietária de uma herança de origem não identificada.
Flavio é diretor reserva em uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas
A assessoria de imprensa de Rocha informou que “os investimentos de Flávio Rocha e sua esposa seguem as normas das autoridades competentes e estão devidamente declarados ao Banco Central à Receita Federal”. “A offshore é parte de uma carteira diversificada de ativos e investimentos do empresário”, disse a nota.
Família Moll (Rede D’Or)Dois integrantes da família controladora da Rede D’Or, maior grupo de hospitais privados do país, são citados em documentos do Pandora Papers como proprietários de duas offshores. Ambas foram criadas em maio de 2016, meses antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff, um dos momentos de maior turbulência no histórico recente da política brasileira.
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Três médicos que ajudaram na construção do dossiê entregue à CPI da Covid foram ouvidos pelo Fantástico e narraram rotina de medo, apreensão e insegurança após denúncias se tornarem públicas. Operadora diz que “investigações técnicas esclarecerão os fatos”.
Três médicos que trabalhavam na operadora de saúde Prevent Senior e ajudaram na construção do dossiê investigado pela CPI da Covid mostraram o rosto pela 1ª vez, em entrevista ao Fantástico, neste domingo (3). Eles narraram pressão da operadora de saúde para a alta precoce de pacientes, a fim de diminuir custos e liberar leitos de UTI nos hospitais da empresa.
George Joppert, Walter Correa e Andressa Joppert dizem que vivem atualmente uma rotina de medo, apreensão e insegurança, após as denúncias contra a operadora se tornarem públicas.
Na entrevista, reafirmam a pressão para prescrição de ‘kit Covid’ nos hospitais da empresa e confirmam a meta para que os médicos atendessem 60 pacientes por cada plantão de 12 horas nos hospitais.
“A intenção de denunciar também é expor a fraude. Expor a fraude do tratamento precoce, a fraude de suposto sucesso de gestão”, disse Walter Correa ao Fantástico.
“Nós estamos fazendo a coisa certa. Nós não somos criminosos. O bem social acho que tem que prevalecer acima de qualquer outra definição, ou de dinheiro ou de lucro”, afirmou George Joppert.
“São vidas que eles estão cuidando, e não estão cuidando como deveriam cuidar”, declarou Andressa Joppert. Os três fazem parte do grupo de 12 médicos que escreveram o dossiê contra a operadora e devem ser ouvidos pela CPI da Covid nos próximos dias.
‘Kit Covid’
Os três médicos contam que, no ano passado, houve muita pressão da Prevent Senior para que eles receitassem o chamado “kit Covid”, que é o pacote com os remédios ineficazes contra a Covid-19, que era distribuído para os clientes do plano de saúde no momento das consultas.
Segundo os profissionais, não havia autonomia dos médicos para decidir ou não pela prescrição desses remédios durante a pandemia.
“Eles estavam de olho em quem prescrevia ou não. Foi uma coisa que eles tinham um controle, então não havia essa autonomia”, afirmou Walter Correa.
“Entregava a receita, entregava o kit que já ficava no consultório. Era tudo controlado. Ficava um balde com um monte de saquinho com os kits, era meio constrangedor às vezes, entregava para os pacientes a receita com kit e orientava ‘olha, a gente tem que prescrever mas melhor usa só as vitaminas, não usa medicação’. E era assim que funcionava”, completou.
Andressa diz que um diretor chegou a obrigá-la a receitar hidroxicloquina a uma paciente com problemas cardíacos, sob ameaça velada de demissão.
“É uma contraindicação para o uso de hidroxicloroquina. Até no próprio protocolo da Prevent é uma contraindicação. Então, mesmo com aquela contraindicação, eu fui orientada. Teria que prescrever, mas eu não prescrevi. E fui chamada atenção”, afirmou a médica.
Questionada sobre o que poderia acontecer com o médico que não receitasse os remédios ineficazes, a médica foi taxativa: “Ele teria um castigo. Ficaria sem os plantões uma semana, duas semanas, dependendo do que ele fez. O castigo dele seria isso: não teria o dinheiro dele planejado no fim do mês”, disse Andressa.
“Não era necessário que fosse feito uma ameaça aos médicos. O ambiente hostil já fazia isso por si só. A gente já sabia que existe uma sugestão de um protocolo, se você não segui-lo, você vai sofrer sanções. O máximo que acontecia era alguém prescrever e orientar a não usar”, declarou Walter Correa, que trabalhou oito anos como plantonista do Pronto Socorro da Prevent Senior.
Ele foi demitido em fevereiro deste ano e acha que o motivo do desligamento foi justamente por ter deixado de prescrever o “kit Covid” por algum tempo.
“Apesar de ter ficado muito tempo lá, eu acho que nunca me adequei muito bem às práticas da Prevent Senior. É curioso até eu ter ficado tanto tempo, mas acho que a gota d’água foi no final, a questão de eu ter ficado sem prescrever o kit”.
*Com informações do G1
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No site de reclamações de consumidores “Reclame Aqui” pacientes afirmam terem sido tratados como cobaias.
O perfil da Prevent Senior no site de reclamações de consumidores “Reclame Aqui” tem denúncias, desde 2020, de pacientes que afirmam terem sido tratadas como cobaias do plano de saúde ao procurarem tratamento para Covid-19 e receberem medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença. Há relatos ainda de recusa de pacientes e falso diagnóstico.
Em maio de 2020, uma paciente de 52 anos alega que, mesmo sem diagnóstico fechado para Covid-19, uma médica pediu para que ela assinasse um termo de autorização para prescrição do combo “cloroquina + azitromicina”, o mesmo usado no estudo que ocultou mortes. Ela recusou alegando que não queria ser uma “cobaia”.
“Não aceito tomar cloroquina, até porque não se tem comprovação científica de sua eficácia e eu seria mais uma cobaia”, escreveu a paciente, que após uma piora, conta que teve que retornar ao hospital da Prevent Senior e o uso dos remédios lhe foi recomendado mais uma vez.
A conduta da Prevent Senior de recomendar o “kit covid” continuou ao longo de 2020 e 2021. Em março deste ano, uma paciente afirmou que passou por uma consulta virtual com uma enfermeira que lhe receitou o “kit Covid” antes de ter um diagnóstico da doença. Ela afirma ter rejeitado os medicamentos e conta que buscou atendimento fora do plano de saúde. Após um teste, a paciente descobriu que não estava com Covid-19.
Em abril, uma cliente afirmou que médicos de um dos hospitais da Prevent Senior se recusaram, por quatro vezes, a internar seu pai, que estava com um diagnóstico positivo para Covid-19 e saturação abaixo de 90. Ela também diz na reclamação que tinha receitas prescritas pelos médicos para cloroquina e ivermectina.
Em maio, outra paciente denunciou a prática. “Dei positivo para Covid e eles [Prevent Senior] me ofereceram o kit de tratamento precoce com cloroquina, ivermectina, azitromicina, vitamina D e C, já comprovadamente ineficazes e que ainda podem acarretar danos. […] Não quero ser cobaia deles, ainda mais com tratamentos ineficazes e perigosos”, escreveu a paciente.
*Com informações do Metrópoles
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Advogada de ex-médicos da operadora relatou encontros de representantes da empresa com membros da equipe econômica.
O recente envolvimento da equipe econômica do governo federal nas denúncias acerca da Prevent Senior voltou o radar da CPI da Covid-19 ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Nesta terça-feira (28/9), o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), defendeu a convocação do chefe da pasta.
“Senhor relator, eu acredito que, a partir do depoimento da doutora Bruna, é inevitável, pelo menos, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, se não o ministro Paulo Guedes, estar presente nesta Comissão Parlamentar de Inquérito na semana que vem”, apelou o senador ao relator Renan Calheiros (MDB-AL).
A convocação decorre de informação trazida ao colegiado pela advogada Bruna Morato, que representa ex-médicos da operadora de saúde. Aos senadores, ela narrou ter conhecimento que a direção da empresa buscou aproximação com o chamado “gabinete paralelo”, suposto grupo de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia de Covid-19.
Bruna Morato, todavia, destacou que em momento algum ouviu o nome do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas que as propostas do gabinete estavam alinhadas aos interesses do Ministério da Economia, no sentido de “não deixar o país parar”.
“Existia um plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo”, afirmou a depoente, acrescentando que o grupo propunha como solução a administração de hidroxicloroquina.
*Com informações do Metrópoles
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Ao propagar a ideia falsa de que havia remédio para a covid-19, o objetivo era dar “esperança” para que as pessoas saíssem de casa, já que o lockdown prejudicaria a economia.
A advogada de 12 médicos que denunciaram a Prevent Senior, Bruna Morato, disse à CPI da Covid nesta terça-feira, 28, que a operadora de plano de saúde prescrevia medicamentos sem eficácia para covid-19 como parte de um acordo feito com o governo federal para validar a tese de que a doença era tratável e que a economia não precisava parar.
Ao propagar a ideia falsa de que havia remédio para a covid-19, o objetivo era dar “esperança” para que as pessoas saíssem de casa, já que o lockdown prejudicaria a economia, disse Morato.
“O que falaram era de alinhamento ideológico. A economia não podia parar, e o que eles tinham que fazer era conceder esperança para que as pessoas fossem à rua. E a esperança tinha um nome: hidroxicloroquina.”
“A informação que me foi passada: havia um interesse inicial, vinculado ao governo federal, de que o Brasil não podia parar. Estavam preocupados com um lockdown”, disse Morato.
“Pediram uma colaboração da Prevent na produção de informações que convergissem com essa teoria, que é possível você utilizar um determinado tratamento como proteção”, continuou a advogada.
Segundo Morato, ao buscar proximidade com o Ministério da Saúde, em 2020, a diretoria da Prevent foi informada que, no governo federal, havia médicos fazendo assessoria “totalmente alinhados com os interesses do Ministério da Economia” — o chamado “gabinete paralelo” do presidente Jair Bolsonaro.
Morato afirmou que tem sofrido ameaças desde que o dossiê veio à tona. “Sim, sofri ameaça. Não posso afirmar que as ameaças que recebi foram por conta da Prevent, de responsabilidade da Prevent, porque ninguém se identificou ou foi responsabilizado”, ponderou.
Segundo o dossiê elaborado pelos médicos, a Prevent Senior teria indicado sistematicamente o uso de medicamentos sem eficácia para a covid-19, como hidroxicloroquina e azitromicina, e ocultado mortes de pacientes em um estudo para testar os remédios. O plano de saúde teria feito experimentos com pacientes sem a autorização das famílias.
Ainda de acordo com o dossiê, o protocolo de uso do “kit covid” teria sido conversado com integrantes do gabinete paralelo do governo Jair Bolsonaro, como forma de comprovar a tese de que os medicamentos eram eficientes contra a covid-19.
À CPI, o diretor da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior, disse que os médicos não eram obrigados a prescrever o “kit covid” e negou ter ocultado óbitos. Mas confirmou que a rede alterava o diagnóstico de covid em pacientes depois de duas ou três semanas de internação, a depender do caso.
*Com informações da Exame
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Em depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira (28), a advogada Bruna Mendes Morato, responsável por ajudar médicos a elaborar um dossiê sobre Prevent Senior, afirmou que os médicos contrários ao chamado “tratamento precoce” eram demitidos pelo plano de saúde. A operadora ocultou mortes de pacientes com a doença durante estudo para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina.
“Os plantonistas entregavam o kit [Covid] e falavam para os pacientes: ‘Se eu não te entregar, eu posso ser demitido’. Os médicos até recomendavam as vitaminas, mas os outros medicamentos, além de não terem eficácia, eles são muito perigosos para aquele público”, disse Morato.
“Os pacientes que recebiam esses kits eles já utilizavam vários medicamentos. Para aquele grupo, entretanto, esse kit se tornava potencialmente letal”, complementou.
De acordo com a advogada, o lema da Prevent Senior “lealdade e obediência” é incompatível com a autonomia dos médicos. “O kit vinha lacrado, com instrução de uso, eu não tenho como falar para meu cliente que está exercendo a função de forma autônoma”, disse. “A Prevent Senior tem uma política de coerção. Todos os clientes que resistiram foram demitidos”.
A advogada afirmou que “a principal estratégia era confirmar o projeto, de que havia tratamento e que ele era eficaz”.
*Com informações do 247
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A direção da operadora de saúde Prevent Senior induziu uma competição entre médicos para impulsionar a prescrição do kit covid, segundo dossiê com supostas irregularidades praticadas pela empresa entregue à CPI da Covid. O documento foi elaborado por 12 profissionais da empresa, seis ainda na rede e seis ex-funcionários. Os fatos ocorreram durante o ano de 2020, no auge da pandemia, indicam as acusações.
O kit covid é composto por uma série de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da doença, podendo até causar efeitos colaterais graves em determinadas pessoas a depender de comorbidades e do quadro de saúde em geral.
Na Prevent, o kit era prescrito a pacientes com sintomas gripais, ainda que sem diagnóstico de covid-19, segundo os médicos que elaboraram o dossiê. Os relatos indicam que a metodologia consistia em prescrever os remédios sem o consentimento dos pacientes, fato que é investigado pela CPI.
De acordo com a denúncia, os profissionais da Prevent eram “controlados por gráficos que demonstravam o desempenho, induzindo a competitividade entre os médicos, que passaram a ter ‘metas’ de prescrição de medicamentos”. Esses gráficos eram distribuídos internamente em grupos no WhatsApp por um dos diretores da Prevent, o cardiologista Rodrigo Esper, como forma de tentar engajar a equipe, aponta.
Além da política de estímulo, a direção ainda fazia cobranças aos médicos quando os resultados não estavam agradando, afirma.
Por exemplo, em mensagem de WhatsApp identificada como sendo de 10 de maio de 2020, Esper encaminha gráfico intitulado “Inclusão Protocolo: Tele x PS”. “Tele” se refere à teletriagem (atendimento virtual) enquanto PS se refere ao Pronto-Socorro do hospital Sancta Maggiore, pertencente à rede.
Em mensagem, posteriormente, escreveu: “Pessoal, não podemos perder o foco. Voltamos a ter rendimentos ruins. Não podemos perder o tônus. Ainda não atingimos o pico da epidemia e caímos o rendimento. Peço que imediatamente todos os tutores de plantão conversem com suas equipes e salientem a importância do tratamento precoce. Isso é muito importante! Obrigado.”
Em 11 de junho do ano passado, segundo o dossiê, Esper enviou outro gráfico de teor semelhante com a mensagem: “Boa tarde, estamos com tendência a (sic) queda nas prescrições. Vamos reforçar com o grupo. Obrigado”.
Nos “dias de pico”, mais de 250 kits eram entregues a pacientes, afirma o documento.
O dossiê não deixa claro para quais grupos de WhatsApp essas mensagens foram enviadas. Kit inicial teria sido ampliado depois
Inicialmente, o kit covid da Prevent era formado por 400 mg de hidroxicloroquina (indicada para algumas doenças reumatológicas e malária) em conjunto com 500 mg de azitromicina (antibiótico), afirma a denúncia.
Depois, com a suspensão de uma pesquisa promovida pela Prevent sobre a eficácia do uso de hidroxicloroquina em associação com a azitromicina, os médicos teriam passado a ser obrigados a promover o “kit Prevent”. Este teria sido uma espécie de kit covid ampliado.
De acordo com fotos dos saquinhos distribuídos a pacientes às quais a reportagem obteve acesso, um exemplar do kit ainda contava com azitromicina e hidroxicloroquina, mas também ivermectina (antiparasitário), corticoide, vitaminas e suplemento alimentar de proteína em pó.
Tentativa de convencer médicos
Os diálogos reproduzidos pelo dossiê mostram que a cúpula da Prevent Senior supostamente buscava, com uma abordagem motivacional, convencer os profissionais de saúde a prescrever os remédios do kit covid.
Ainda segundo o dossiê, na visão da operadora de saúde os médicos não poderiam “deixar escapar a oportunidade” de tratar a doença “o quanto antes”. Uma espécie de meta foi estabelecida, de acordo com mensagem enviada por um dos diretores da Prevent em 12 de abril de 2020.
“Acerte o alvo. O segundo dia de sintomas é o que queremos. E o melhor: a prescrição está na sua mão. E nós estamos com você”, diz trecho da mensagem.
O segundo dia de início dos sintomas, que seria o ideal para prescrição do kit covid de acordo com os protocolos da Prevent, ganhou até um apelido: “Golden day”. Em inglês, dia dourado. “Indique o tratamento e deixe que o resto nós nos encarregamos de fazer.”
Em seguida, o mesmo diretor fez uma observação. “Pessoal, reforcem com as equipes. Importante não perdermos a chance de tratar. E tratar precocemente. E reforcem também a importância do preenchimento da planilha de TeleAlerta.”
Retaliação
A denúncia entregue à CPI afirma que as diretrizes passadas pela direção-executiva e pela clínica médica deveriam ser interpretadas como ordens, porque, caso fossem descumpridas, a consequência era a demissão. Segundo relatos, diz o dossiê, o ambiente era de “ameaças e hostilidade”.
“Perante a política de pejotização adotada pela empresa, as diretrizes são transmitidas aos médicos pelo aplicativo WhatsApp, uma vez que essa metodologia informal, em tese, reduziria o risco de possíveis demandas judiciais”, cita.
Em depoimento à CPI da Covid na quarta (22), o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, disse que nenhum profissional foi demitido por ter se recusado a aplicar esse “tratamento precoce”. No entanto, em outro momento, ao ser indagado sobre a mesma questão, afirmou que “médicos foram excluídos da empresa por graves falhas éticas e morais, como invasão de prontuários e tratamento inadequado de pacientes, muitos deles com queixas em compliance”.
*Com informações do Uol
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Alexandre Garcia, aquele que presta serviço sujo para o governo Bolsonaro, em participação no quadro da CNN Brasil “Liberdade de opinião”, foi desmentido ao vivo nesta sexta-feira (24) após defender novamente o suposto “tratamento precoce” contra a Covid-19. Garcia ainda saiu em defesa da Prevent Senior, investigada pela CPI da Covid por, de acordo com acusações, manipular números de mortos e internados em decorrência do coronavírus.
O jornalista e comentarista político disse que o “tratamento precoce” e o ‘kit Covid’, utilizados pela Prevent Senior, teriam salvado milhares de vidas.
A jornalista Elisa Veeck, que conduz o quadro, destacou que as alegações de Garcia não têm base científica.
“Reitero sempre para vocês que nos acompanham que as opiniões emitidas pelos comentaristas do quadro não refletem necessariamente a posição da CNN. E mais um acréscimo aqui neste fim do quadro de hoje, a CNN ressalta que não existe um tratamento precoce comprovado cientificamente para prevenir a Covid-19. O que a ciência mostra é que a prevenção, com o uso de máscaras e a vacinação, são as únicas maneiras de combater a pandemia”, disse Elisa.
Na quinta-feira, o nome de Alexandre Garcia se tornou um dos assuntos mais comentados no Twitter. Na ocasião, internautas cobravam a CNN pela demissão do funcionário.
“Reitero sempre para vocês que nos acompanham que as opiniões emitidas pelos comentaristas do quadro não refletem necessariamente a posição da CNN. E mais um acréscimo aqui neste fim do quadro de hoje, a CNN ressalta que não existe um tratamento precoce comprovado cientificamente para prevenir a Covid-19. O que a ciência mostra é que a prevenção, com o uso de máscaras e a vacinação, são as únicas maneiras de combater a pandemia”, disse Elisa.
Na quinta-feira, o nome de Alexandre Garcia se tornou um dos assuntos mais comentados no Twitter. Na ocasião, internautas cobravam a CNN pela demissão do funcionário.
Confira:
E a CNN que teve que desmentir novamente o Alexandre Garcia depois do quadro liberdade de opinião? pic.twitter.com/YlexfodQs7