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Lula diz que ‘Inteligência do governo não existiu’ e manda recado: ‘Quem quiser fazer política que tire a farda’

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ser contra a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os ataques golpistas às sedes dos Poderes. Em entrevista à GloboNews, o petista disse que a iniciativa poderia criar “um tumulto” e que “não vai ajudar” a chegar aos responsáveis pelos atos do dia 8 de janeiro.

— O que nós podemos investigar numa CPI que a gente não possa investigar aqui e agora? Nós estamos investigando, tem mil e trezentas pessoas presas. O que você pensa que a gente vai ganhar com uma CPI? — questionou o presidente. — Nós (governo) temos instrumentos para fiscalizar o que aconteceu nesse país. Uma comissão de inquérito pode não ajudar e ela pode criar uma confusão tremenda, sabe? Nós não precisamos disso agora.

Lula ponderou, porém, que a decisão é do Congresso, mas que, caso seja consultado, recomendará a aliados que não apoiem a iniciativa.

Após um ímpeto inicial, em que parlamentares do PT e de siglas aliados assinaram requerimentos para criar CPI, integrantes da base do governo no Congresso passaram a adotar cautela nos últimos dias ao tratar do assunto. A avaliação de petistas é que a criação da CPI poderia acabar por dar holofote para bolsonaristas radicais, além do risco de não trazer avanços para investigações do caso e servir mais para uma disputa política.

Maior partido da Câmara e do Senado, o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, já avisou que vai tentar enquadrar o governo petista caso uma CPI seja realmente criada. Integrantes da legenda têm falado em omissão dos ministros da Justiça, Flávio Dino, e da Defesa, José Múcio.

— Já nos manifestamos que qualquer CPI tem que ser ampla porque a falha foi geral. A partir da próxima legislatura veremos— disse o senador Carlos Portinho (PL-RJ), ex-líder de Bolsonaro no Senado, ao GLOBO.

Por ter as maiores bancadas nas duas Casas, o PL tem direito a indicar mais parlamentares para um eventual colegiado do que as outras siglas.

Um dos pedidos de CPI partiu da senadora Soraya Thronicke (União-MS), que é adversária tanto de Bolsonaro quanto de Lula. Em uma postagem no Twitter, ela comentou a resistência do governo Lula em apoiar a CPI.

— A CPI não será de um governo, não terá ideologia e nem partido… A CPI será imparcial e investigará atos e fatos. Quem não deve, não precisa tremer — declarou.

Aliados do governo também temem que uma “caça às bruxas” neste momento possa atrapalhar a montagem de uma base ampla de apoio ao governo. Hoje já há uma proximidade com PSD e MDB, mas o Palácio do Planalto procura também agregar o União Brasil e se aproximar de setores do PP, Republicanos e até de uma ala do PL.

Escolhido para liderar a bancada do PT na Câmara em 2023, o deputado Zeca Dirceu (PR) evita se comprometer com o apoio à CPI e põe em dúvida até mesmo a apresentação de representações no Conselho de Ética contra os bolsonaristas radicais ligados aos atos terroristas.

— Não decidimos ainda. Estamos conferindo as denúncias e buscando provas-, disse ao GLOBO sobre a possibilidade de o PT tentar enquadrar o episódio no Conselho de Ética.

Um dia depois dos ataques do dia 8 de janeiro, parlamentares do PT chegaram a apresentar um requerimento para que uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), com deputados e senadores, fosse instalada no Congresso. Agora, o novo líder da bancada prega mais cautela no uso do instrumento.

— Entendo que o Congresso precisa de unidade agora para enfrentar os golpistas e terroristas — afirmou Zeca Dirceu.

Outros parlamentares do PT seguem a mesma linha adotada pelo líder na Câmara.

— Não vejo porque a gente fazer esse embate político quando na

verdade é caso policial —disse o deputado Alencar Santana (PT-SP). Ele acrescenta: — Como está havendo uma ação rápida, precisa e eficiente, eu particularmente entendo que não há necessidade da Câmara avançar eventualmente na apuração. O que mais nós iríamos revelar além daquilo que está sendo revelado?

Na semana passada, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), já havia adotado discurso semelhante ao do deputado do Paraná. O senador da Bahia assinou a CPI proposta por Soraya Thronicke, mas disse que o governo não definiu se irá apoiar a iniciativa.

— Não tem posição de governo nisso. Na verdade, a assinatura é individual. Eu pessoalmente também assinei, acho que a ideia é boa, mas acho que a gente tem que avaliar até porque ela só começaria em fevereiro-, declarou o Wagner sobre um pedido de CPI feito pela senadora Soraya Thronicke (União-MS). -Se até lá a Polícia Federal estiver esclarecido, a Justiça estiver caracterizado os crimes executados, não sei se continua tendo objeto a própria CPI — disse.

O senador chamou a atenção para o fato de que a CPI foi pedida por uma senadora que não é da base. Wagner também afirmou que as assinaturas precisarão ser novamente colhidas após fevereiro, quando começar a nova legislatura do Senado.

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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