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Alvos da PF por fraude em intervenção no Rio dizem que Braga Netto prometeu ‘dar uma força’ na retomada do contrato de venda de coletes

Os alvos da Operação Perfídia, que investiga fraude em uma licitação para a compra de coletes balísticos de uma empresa americana durante a intervenção militar no Rio de Janeiro, contrataram um coronel e um general da reserva para tentar reverter o cancelamento do contrato em 2019. A informação é da colunista Malu Gaspar, do GLOBO.

“Estive num almoço na sexta-feira passada com o Gen. Braga Netto e comentei sobre liberação de coletes de proteção balística para a Polícia do Rio, em estudo nesta Casa Civil da PR. Ele me disse que iria dar uma “força” junto ao sr. para atender ao que pleiteamos”, escreveu o general da reserva Paulo Assis a um parecerista da Presidência da República em dezembro de 2019.

A mensagem foi depois encaminhada aos representantes da CTU Securities e acabou interceptada pela PF durante as investigações.

O que o grupo pleiteava era que a Casa Civil reabilitasse o contrato para a compra de 9.360 coletes balísticos no valor de R$ 40 milhões para os agentes da intervenção, que tinha sido cancelado em julho depois de uma denúncia de falsificação de um documento de certificação técnica dos equipamentos.

De acordo com a investigação da PF, a CTU Securities ganhou o contrato em um processo de licitação com indícios de direcionamento, conluio, falsificação de documentos e pagamento de propina a militares com influência na administração da intervenção.

O chefe da intervenção, na época, era Braga Netto, que chegou a pedir autorização ao Tribunal de Contas da União (TCU) para saber se poderia fazer a aquisição sem licitação.

O processo licitatório chegou a ser iniciado, mas o contrato acabou sendo fechado de forma direta.

Na representação à Justiça Federal em que pediu autorização para realizar busca e apreensão nos endereços de 19 alvos e a quebra de sigilo de Walter Braga Netto, a PF disse ter encontrado evidências de fraude em licitação, advocacia administrativa, corrupção passiva e ativa, organização criminosa e evasão de divisas.

Entre os indícios de que houve pagamento de propina para vencer a licitação, está um contrato de R$ 368 mil com o coronel da reserva Diógenes Dantas Filho, que dizia ter influência sobre os generais da intervenção.

Acontece que meses depois de o contrato ter sido fechado, em julho de 2019 uma concorrente derrotada na licitação fez uma denúncia de fraude e os militares que tinham ficado na administração do Gabinete da Intervenção Federal suspenderam o contrato.

De acordo com as mensagens captadas pela Polícia Federal, em setembro Glaucio Octaviano Guerra, dono da empresa que representava a CTU Securities no Brasil, diz ao sócio que identificou o “foco da denúncia” e afirma que vai fazer um “acerto direto” com o General PAULO ASSIS, que representava a concorrente, Glágio.

No relatório da PF, fica muito claro que os sócios na CTU concluem ter sido vítimas de uma armação da Glágio junto com os militares da reserva, e que agora eram alvo de extorsão.

Dias depois, eles fecham um negócio com o general Paulo Assis e seu “parceiro”, o coronel Robson Queiroz Motta: pagariam R$ 300 mil dos quais os primeiros R$ 50 mil de entrada e outros R$ 250 mil em caso de sucesso.

Nos meses seguintes, o general Assis envia aos sócios da CTU uma série de mensagens procurando demonstrar que está trabalhando pelo contrato dos coletes, em visita a assessores do Palácio do Planalto e autoridades de Brasília.

Até que, em 4 de março de 2020, o coronel Queiroz envia uma mensagem pedindo ao irmão de Glaucio Guerra, o também coronel da reserva Glauco Otaviano Guerra, que emita passagens para Brasília, pois eles teriam um jantar com Braga Netto para discutir o contrato na noite do dia 12 de março.

Em áudios captados pela PF, os dois confirmam que o jantar aconteceria. Uma semana depois, porém, começou a pandemia de Covid-19 e a negociação foi interrompida.

Um dos objetivos da PF com a operação desta terça-feira é verificar se o jantar efetivamente aconteceu e que tipo de negociação os lobistas tiveram com Braga Netto, que em 2022 seria candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro à reeleição.

Em nota sobre a operação, o general Braga Netto disse que o contrato dos coletes foi suspenso pela própria intervenção depois de uma “avaliação de supostas irregularidades nos documentos” CTU Securities.

Disse ainda que eles não foram adquiridos, nem entregues, e portanto não teria havido prejuízo à União. “Não houve, portanto, qualquer repasse de recursos à empresa ou irregularidade por parte da Administração Pública”. Na verdade, chegaram a ser feitos pagamentos à empresa, mas foram estornados em setembro de 2019.

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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