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De olho na rejeição, governo Bolsonaro envia maior parte do orçamento secreto ao Nordeste

De olho na rejeição, governo Bolsonaro envia maior parte do orçamento secreto ao Nordeste.

De olho na região que concentra o segundo maior colégio eleitoral do país – e seus maiores índices de rejeição -, o governo Jair Bolsonaro carimbou 42,4% das emendas do relator, que compõem o chamado orçamento secreto, desde que esse tipo de emenda foi criada, em 2020, segundo Malu Gaspar, O Globo.

Nenhuma outra região do país recebeu tantos recursos do orçamento – R$ 7,7 bilhões, dos R$ 21,7 bilhões enviados pelos parlamentares a suas bases por esse tipo de emenda.

Os dados foram compilados pelo cientista político Bruno Carazza e franqueados à equipe do blog. No total, foram 6.922 pedidos de emendas atendidos.

Quem coordena sua distribuição são o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI). Ambos do PP, os dois comandam o Centrão e estão entre os principais estrategistas de Bolsonaro .

Essa fatia do orçamento não está sujeita a contingenciamento. É chamada de secreta porque não há uma forma de consulta pública sobre o destino desses recursos.

Até o Supremo determinar que o Congresso informasse quanto dinheiro cada parlamentar enviou e para onde, não havia como saber quem estava apadrinhando quais emendas.

O levantamento de Carazza foi feito a partir da consulta de notas de empenho das verbas liberadas.

A estratégia de Bolsonaro, que está na mão do Centrão neste ano, é resgatar o eleitor de 2018 que se desgarrou do presidente e minar as bases de Lula no Nordeste e também no Norte, estados onde o Centrão historicamente tem muita força”, diz Bruno Carazza.

O Nordeste concentra 40,2 milhões de eleitores aptos a votar, ou 26,8% do eleitorado brasileiro, segundo os dados mais atualizados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Fica atrás apenas do Sudeste, com 63,7 milhões.

Já a região Norte, que representa apenas 7,9% do eleitorado brasileiro, recebeu a segunda maior fatia de emendas entre as demais: foram R$ 6,5 bilhões, mais do que o dobro do que o Sudeste (R$ 2,6 bilhões) que, apesar de concentrar 42,5% dos eleitores, recebeu valor próximo do repassado à Bahia e ao Maranhão.

Hoje Lula lidera as pesquisas de intenção de voto com folga no Nordeste – 43% contra 26% de Jair Bolsonaro, segundo projeção do Datafolha divulgada no fim de março.

Mas ninguém menospreza o poder da máquina do governo federal de estreitar a diferença até 2 de outubro, quando os brasileiros irão às urnas.

Um impulso a Bolsonaro na região pode ser determinante em um segundo turno com margem apertada. Mesmo que o presidente não ganhe em estado algum no Nordeste, ele poderia viabilizar a reeleição diminuindo sua diferença em relação a Lula.

Contudo, ainda é cedo para determinar o impacto eleitoral das emendas RP9 no projeto de reeleição de Jair Bolsonaro.

Até aqui, nem mesmo o Auxílio Brasil ensejou uma mudança brusca na sua curva de rejeição no Nordeste.

Quem já está com a vitória precificada são justamente os líderes do Centrão, que, nas projeções de congressistas e de cientistas políticos como Carazza, poderão pavimentar o melhor desempenho do bloco nas urnas desde a eleição presidencial de 1989.

O caso da Bahia, terceiro maior colégio eleitoral do Brasil e principal contemplado por emendas do orçamento secreto, é exemplar.

Bolsonaro fez questão de firmar um palanque próprio no estado, com o ministro João Roma (PL) como candidato ao governo. Mas, embora a legenda esteja alinhada com Jair Bolsonaro a nível nacional, os diretórios nordestinos hoje estão mais próximos de Lula.

Nesse caso, pode acontecer de as emendas beneficiarem parlamentares que apoiam Lula e não Bolsonaro. Mas, para Carazza, ainda assim o Centrão sairia ganhando. Isso porque os parlamentares do bloco, que dominam o envio dos recursos, continuam tendo influência sobre os prefeitos, que recebem as verbas na ponta da linha.

“É um movimento muito importante. Pode não ser decisivo para a eleição (presidencial), mas essas emendas ajudarão a eleger uma super bancada do Centrão que vai tornar a governabilidade ainda mais difícil na próxima legislatura para qualquer presidente”, explica o cientista político.

“Não podemos esquecer que o desempenho destes partidos nas urnas definirão o dinheiro (fundos eleitoral e partidário) que receberão nos próximos anos”.

Há também locais onde as emendas podem desequilibrar as forças políticas, pondera Carazza. Um deles é o Maranhão, que tem forte domínio da esquerda e onde Flávio Dino (PSB) costurou ampla aliança.

O estado é o segundo mais bem aquinhoado com as emendas do orçamento secreto, com R$ 2,1 bilhões. Maranhão também é o estado de André Fufuca (PP), líder da legenda na Câmara que presidiu interinamente o partido entre 2021 e fevereiro deste ano.

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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