Só Bolsonaro não sabia do golpe surpresa para mantê-lo no poder

Presente de amigos ocultos

Por que golpe surpresa, a ser deflagrado em dezembro de 2022 para impedir a posse de Lula e dispensar Bolsonaro de transferir a faixa presidencial em 1º de janeiro? Porque muita gente em torno de Bolsonaro estava envolvida na trama do golpe, menos ele que de nada, nadinha sabia. Seria uma enorme surpresa.

O então ministro da Justiça, Anderson Torres, por exemplo, sabia, e a Polícia Federal apreendeu em sua casa uma minuta do golpe. O ajudante de ordem de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, homem de total confiança do presidente, sabia. Outra minuta de golpe foi encontrada na memória do seu celular.

Mauro Cid é filho do general Mauro Cesar Lourena Cid, colega de turma de Bolsonaro na Academia Militar de Agulhas Negras, nos anos 70. O general passou à reserva em 2019 para chefiar em Miami o escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. Indicado por quem? Por Bolsonaro.

É provável, mas não é certo, que o general também soubesse do golpe por meio do filho que ele indicou para assessorar o amigo recém-alçado à Presidência. Dificilmente o filho esconderia uma coisa dessas do pai. Mauro Cid, o filho, trocou mensagens sobre o golpe com militares da reserva, não fazia segredo disso.

O deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado à prisão e à perda de mandato por atacar ministros do Supremo Tribunal Federal, e em seguida indultado por Bolsonaro, sabia do golpe. O senador Marcos do Val (Podemos-ES) contou que foi chamado por Silveira para uma reunião em que o golpe seria discutido.

Reunião com quem? Segundo Do Val, com ninguém menos do que Bolsonaro no início de dezembro. Ela aconteceu? Sim. Onde? Na Granja do Torto, uma das residências oficiais do presidente, há pouca distância do Palácio da Alvorada. E o golpe foi discutido? Ao ministro Alexandre de Moraes, Do Val afirmou que sim.

Mas como afirmou ao ministro Moraes, considerado por Bolsonaro seu maior inimigo, a ponto de tê-lo chamado de canalha no dia 7 de setembro de 2021? Do Val fez jogo duplo. Dizia-se eleitor e partidário de Bolsonaro, merecedor de sua confiança, e o traía em conversas face a face ou por celular com Moraes.

Ao ministro, o senador relatou que o golpe passaria pela obtenção de alguma declaração de Moraes que pudesse incriminá-lo ou deixá-lo em maus lençóis. E que queriam que ele, Do Val, com equipamentos de escuta cedidos pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, gravasse conversas com Moraes.

E o que disse Bolsonaro a Do Val durante o encontro na Granja do Torto? Limitou-se a ouvir a exposição sobre o golpe feita por Silveira. Do Val teria pedido tempo para refletir sobre sua participação no golpe; obteve, mas dias depois desistiu de desempenhar seu papel no golpe porque seria arriscado.

À Polícia Federal, em depoimento prestado ontem (o quarto desde que voltou do autoexílio em Orlando, nos Estados Unidos), Bolsonaro confirmou a reunião que teve com Silveira e Do Val, mas disse que não se discutiu o golpe. Perguntado sobre a data e o local da reunião, Bolsonaro respondeu que não se lembrava.

Se Bolsonaro falou a verdade à Polícia Federal, o golpe, se aplicado com êxito, teria sido uma surpresa para ele – e que surpresa, convenhamos. Um belo presente de Natal dado por amigos ocultos. Aguardem os próximos capítulos dessa história mirabolante. Como novela turca, ela não tem data para terminar.

*Blog do Noblat

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Áudio: Do Val revela aval de Bolsonaro para armar contra Moraes

Em áudio enviado a grupo no WhatsApp, o senador Marcos do Val disse que Bolsonaro deu o “ok” para armação contra Alexandre de Moraes

O senador Marcos do Val, do Podemos do Espírito Santo, enviou um áudio a um grupo no WhatsApp em que afirma que Jair Bolsonaro deu o “ok” para ele tramar contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Do Val também alega que os filhos do ex-presidente tinha conhecimento sobre a armação.

“Para esclarecer, porque tem algumas pessoas que não entenderam aquele movimento que fiz em fevereiro, eu fiz um contato com o ex-presidente, o nosso presidente Bolsonaro, dizendo que eu precisava blindá-lo, por conta do desejo do ministro do STF em prendê-lo assim que ele retornasse dos EUA. Eu disse que usaria aquela reunião que tivemos, que não configura crime nenhum. Não tem nada que configurasse crime ali. Ele, então, deu o “ok”, e eu segui fazendo a estratégia de manter a imprensa colada. Toda hora eu estava falando uma coisa diferente da outra”, disse Do Val.

O áudio foi enviado em um grupo de WhatsApp que conta com parlamentares e apoiadores. Do Val inicia a gravação dizendo que estava enviando a mensagem na terça-feira (4/4).

Segundo o senador, os filhos do ex-presidente sabiam sobre a armação. “Muita gente não percebeu, mas em nenhum momento vocês viram os Bolsonaro, tanto o pai quanto os filhos, entrarem em confronto comigo. Só nisso já dá para perceber que eles tinham conhecimento do que eu ia fazer e mergulharam. Vocês não viram nenhum deles me atacando, ninguém percebeu isso. Também fiz questão de não falar na hora, durante esses dois dias, porque poderia dar errado a estratégia que eu estava usando”, afirmou.

O que Alexandre de Moraes pensa sobre punir Marcos do Val no STF
Do Val afirmou que Bolsonaro “abriu um sorrisão e agradeceu” ao encontrá-lo na sede nacional do PL, em Brasília, na semana passada.

O senador também celebrou o fato de sua trama contra Moraes ter deixado “todo mundo mais motivado com a assinatura da CPMI [do dia 8 de janeiro], que estava quase morrendo”. “Todos os objetivos foram alcançados”, disse.

Na semana passada, o repórter Gustavo Zucchi flagrou Do Val dizendo a apoiadores de Bolsonaro que tramou contra Moraes para tirá-lo da relatoria do Inquérito dos Atos Antidemocráticos, que tem o ex-presidente entre os alvos.

*Com Metrópoles

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Moraes abre investigação sobre Do Val e manda apurar falso testemunho

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) tomou a decisão hoje em razão das diferentes versões sobre a reunião com teor golpista que disse com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).

O Senador Marcos Do Val apresentou, à Polícia Federal, uma quarta versão dos fatos por ele divulgados, todas entre si antagônicas, de modo que se verifica a pertinência e necessidade de diligências para o seu completo esclarecimento, bem como para a apuração dos crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo.”

Moraes quer:

  • Receber a íntegra do depoimento de Marcos Do Val à Polícia Federal;
  • Que a revista Veja envie os áudios na íntegra da entrevista de Do Val;
  • Que os canais CNN Brasil e GloboNews enviem a íntegra de quaisquer entrevistas concedidas pelo senador;
  • Que a Meta, dona do Instagram, encaminhe o inteiro teor da transmissão ao vivo feita pelo senador, em que ele afirma que Bolsonaro o coagiu.

Confira a íntegra da decisão de Moraes
Diferentes versões

O senador acumula contradições em seus relatos sobre um suposto plano golpista que envolveria Bolsonaro e Silveira.

Desde que afirmou ter sido coagido a tentar incriminar Alexandre de Moraes, o parlamentar mudou sua versão sobre os seguintes pontos:

  • O papel de Bolsonaro na trama;
  • As conversas com o ministro do STF;
  • As atitudes que tomou no caso;
  • O local do encontro que teve com Bolsonaro e Silveira.

Do Val baixou o tom das acusações contra Bolsonaro. Durante uma transmissão ao vivo no Instagram na madrugada de ontem, com líderes do MBL (Movimento Brasil Livre), o senador capixaba anunciou ter uma “bomba” que seria revelada pela revista Veja no dia seguinte.

Em declarações dadas ontem, todavia, Do Val negou ter sido coagido por Bolsonaro. Em entrevista à GloboNews, ele disse que usou “uma palavra que não deveria ter usado” ao fazer essa afirmação durante a live com o MBL.
Aval de Moraes

À revista Veja, o senador do Podemos mencionou que mandou mensagem a Moraes em 12 de dezembro, três dias após o encontro com Bolsonaro e Silveira, e só reuniu-se pessoalmente com o ministro do STF no dia 14, para narrar como havia sido a reunião.

Ontem, contudo, Do Val afirmou que se reuniu com Moraes antes da conversa com Bolsonaro. Em entrevista coletiva, o senador disse que foi abordado por Silveira no dia 7 e convidado a encontrar Bolsonaro, mas só aceitou após o aval de Moraes.

Local da reunião com Bolsonaro

Inicialmente, Do Val disse que o encontro com o então presidente foi no Palácio da Alvorada, residência oficial.

Ao longo da quinta-feira (2), porém, ele afirmou que a reunião com Bolsonaro e Silveira foi na Granja do Torto, a segunda residência oficial da Presidência.

Já em entrevista à Folha de S. Paulo, ele afirmou que estava em dúvida e que o encontro poderia ter ocorrido no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência.

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