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As 7 guerras patrocinadas pelos EUA neste século deixaram 3 milhões de mortos

Para vender ideia de que ação russa na Ucrânia é a pior guerra do século 21, meios de comunicação omitem as matanças dos EUA ao redor do mundo.

A imprensa ocidental tem promovido a ideia de que Putin é um ditador sanguinário e que a Rússia está realizando a guerra mais sangrenta, mortífera e cruel desse século.

A imprensa tem falado sobre essa guerra quase 24 horas, deixando de lado, inclusive, o tema preferencial de antes, que era a pandemia de Covid-19.

Ao assistir jornais, tem-se a impressão até de que a pandemia deixou de existir com um estalar de dedos. A imprensa hegemônica brasileira segue esta mesma linha, tratando de reproduzir notícias produzidas pela agência norte-americana Reuters e, com isso, contando uma versão específica da história, que aponta a Otan e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como os mocinhos e a Rússia de Putin como os bandidos.

Os EUA estão por trás de várias Guerras ao redor do mundo

A versão da guerra promovida pela imprensa ocidental não explica as raízes do conflito e muito menos os acontecimentos que a antecederam. Pouco se fala de temas essenciais, como:

– Ucrânia vivia uma crise econômica profunda;

– houve um golpe de Estado em 2014, promovido com o apoio dos EUA na forma de guerra híbrida e revolução colorida;

– na Ucrânia foram criadas células nazistas de inspiração Bandeiristas (ideologia política promovida pelo líder nazista ucraniano na Segunda Guerra Mundial Stepan Bandera), como o batalhão Azov, que queimaram vivos sindicalistas e oponentes políticos;

– o fato de que além de não cumprir os tratados de Minsk, as forças armadas ucranianas atacaram incessantemente as repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk;

– o Estado ucraniano promoveu um ultranacionalismo xenófobo a ponto de perseguir e assassinar russos;

– ao querer entrar na União Europeia e na Otan, Zelensky sinalizou uma ameaça nuclear imediata contra a Rússia.

Outro ponto importante é que essa ação militar na Ucrânia, que Putin denominou como operação especial, tem sido cirúrgica e, ainda que aconteçam arbitrariedades e mortes de civis, o número de mortos e os bombardeios têm sido muito inferiores aos das guerras realizadas ou apoiadas pelos Estados Unidos durante o século 21.

Isso faz com que a guerra da Ucrânia fique ainda muito longe de estar entre as piores guerras do século 21. Esse título ainda é dos confrontos provocados pelos Estados Unidos e é possível comprovar facilmente. Sem considerar outros conflitos que também tiveram o envolvimento direto ou indireto dos EUA, somente as guerras aqui citadas somam em torno de 3 milhões de pessoas mortas.

1. Guerra no Afeganistão (2001)

Em 2001, os EUA iniciaram uma guerra desastrosa que durou 20 anos. A desculpa para o confronto foram os atentados de 11 de setembro.

Os EUA conseguiram fazer toda uma manobra para criar a ideia na mídia de que os culpados por aquele fato estavam relacionados com o regime político afegão da época: o Talibã. São de conhecimento geral as relações íntimas entre o governo dos Estados Unidos e a monarquia saudita, assim como os negócios da família Bush com a família Bin Laden.

Osama Bin Laden pode ter sido um agente da CIA. Foram os EUA de Jimmy Carter e Zbigniew Brzezinski quem criaram a Al-Qaeda e financiaram o fundamentalismo islâmico como estratégia de combate a União Soviética durante a Guerra Fria.

Diversos jornalistas, pesquisadores e investigadores, como o francês Thierry Meyssan defendem que o 11 de setembro foi um trabalho interno do próprio EUA. Nessa guerra morreram quase 200 mil pessoas, dentre as quais 2,5 mil soldados americanos. Os 20 anos de guerra também colocaram o Afeganistão em um estado de miséria e barbárie extrema.

2. Guerra no Iraque (2003)

Se a guerra do Afeganistão já foi uma grande farsa, a guerra do Iraque foi ainda mais descarada. Sem qualquer comprovação lógica ou racional, os EUA realizaram uma conexão infundada entre o Iraque e Saddam Hussein com a Al-Qaeda.

Sem provas, os EUA acusaram o Iraque de possuir armas de destruição em massa, armas químicas e produção de antraz. A consequência disso foi a destruição de um conjunto de patrimônios históricos e culturais de importância singular para a humanidade (sumério, babilônico e mesopotâmico), o fim de um do estado que apresentava um dos melhores níveis de indicadores sociais, estabilidade política e justiça social de todo o Oriente Médio e a criação de condições para o surgimento de mais uma organização fundamentalista islâmica: O Estado Islâmico do Iraque (DAESH).

Com a estratégia de shock and awe, baseada em bombardeios incessantes e indiscriminados, foi possível tomar a capital do país em alguns dias ao custo de muita destruição e mortes de civis.

Os números oficiais dizem que em 10 anos de guerra morreram em torno de 200 mil pessoas, no entanto, cálculos alternativos apontam que o número de mortos pode ser superior a 600 mil pessoas.

Além das mortes, houve a destruição completa da infraestrutura, do patrimônio cultural e do tecido social do país. O número de refugiados iraquianos foi enorme após essa guerra.

3. Guerra na Síria (2011)

A guerra na Síria foi consequência das revoluções coloridas patrocinadas pelos EUA e pela CIA que ficaram conhecidas como primavera árabe. Washington quis derrubar o governo sírio de Bashar al-Assad a todo custo e, para isso, financiou quintas-colunas — grupos dissidentes e o fundamentalismo islâmico via Estado Islâmico.

Em meio a bombardeios e sabotagens dos Estados Unidos, os sírios realizaram uma heroica resistência que contou com o apoio da Rússia, na figura de Vladimir Putin.

A Rússia elaborou uma importante estratégia de defesa que inibiu os americanos e quase eliminou totalmente os membros do Estado Islâmico.

Com a conquista da cidade de Aleppo, em 2016, foi sacramentada a aliança síria-russa e a vitória de Assad nessa guerra. Ainda assim, tropas dos EUA, turcas e do Estado Islâmico permanecem em determinadas regiões do país, onde roubam o petróleo sírio.

Estima-se que nessa guerra morreram por volta de 500 mil pessoas. De acordo com a Acnur, agência da ONU para os refugiados, 6,6 milhões de sírios se tornaram refugiados, sem contar que 6,7 milhões de pessoas estão deslocadas dentro da própria Síria.

4. Guerra no Sudão (2013)

A guerra do Sudão se iniciou por razões internas e levou à separação do país em outros dois: Sudão do Norte e Sudão do Sul.

Os EUA atuaram indiretamente nesse conflito, sob a acusação de que o Sudão do Norte estava atrelado ao fundamentalismo islâmico.

O governo de Barack Obama impôs sanções econômicas ao Sudão e ainda manteve a classificação do país como patrocinador do terrorismo internacional.

Estima-se que em torno de 400 mil pessoas morreram nessa guerra.

5. Guerra na Líbia (2014)

Em meio à primavera árabe, o imperialismo via EUA e Otan contribuíram para a queda de um conjunto de governos em países árabes.

A grande gerente dessas ações foi a então secretária de Estado democrata Hillary Clinton. Diante da resistência do povo Líbio e do apoio ao Presidente Muammar al-Gaddafi, a Otan e os EUA decidiram bombardear indiscriminadamente o país fazendo milhares de vítimas civis.

A Líbia foi totalmente destruída e o corpo de Gaddafi foi arrastado em praça pública. Antes dessa guerra, a Líbia era o país com o melhor IDH de toda a África, com indicadores sociais de dar inveja a países ricos.

Gaddafi tinha uma quantidade extraordinária de reservas de ouro e pretendia criar uma moeda para a realização de empréstimos sem juros para projetos de irrigação, moradia, infraestrutura e desenvolvimento para todos os países da África subsaariana: o Dinar Africano.

Tal ação colocaria em cheque o poderio mundial do dólar e o atual sistema financeiro internacional. Essa guerra gerou refugiados e desabrigados e matou em torno de 500 mil pessoas.

6. Guerra no Iêmen (2014)

A Guerra do Iêmen também foi consequência da ingerência dos EUA e da CIA nas revoluções coloridas. Neste caso, os EUA terceirizaram a guerra à sua aliada Arábia Saudita.

As forças sauditas são muito superiores às iemenitas e contam com armas fornecidas pelos EUA. Até por meio de vídeos do YouTube é possível ver o uso de bombas nucleares táticas sauditas no Iêmen.

Muito provavelmente essas bombas, que representam um grave crime, são fornecidas pelos EUA e Israel.

Estimativas da própria ONU indicam que já morreram em torno de 400 mil pessoas no país.

7. Guerra na Palestina (2021)

Este conflito iniciou-se em meados do século 20 e se estende por todo o século 21, mas teve um momento importante no ano de 2021, quando houve um conjunto de ataques israelenses com apoio militar e político dos EUA em lugares como Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental, Cisjordânia e na fronteira israelense-libanesa.

O poderio militar israelense foi muito superior ao palestino, de modo que mais de 200 palestinos foram mortos e 72 mil palestinos foram removidos arbitrariamente de suas casas.

O sadismo das forças neonazistas israelense pode ser comprovado pelo fato de terem invadido o terceiro mais importante local da religião islâmica do mundo: a mesquita de Al-Aqsa. Em Al-Aqsa, a polícia israelense agrediu pessoas que praticavam seu culto religioso pacificamente.

*Com Diálogos do Sul

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A lógica macabra do império americano

Nos últimos 20 anos, EUA e suas coalizões mantêm uma média de 46 ataques por dia.

Somente nos últimos 5 anos, os EUA realizaram mais de 30 mil bombardeios contra 7 países.

Os EUA estiveram em guerra durante 229 de seus 246 anos de existência como nação independente.

O governo dos EUA tornou-se o gestor das estratégias formuladas pela aliança entre forças armadas, indústria bélica, setor financeiro e setor energético, tendo a indústria do entretenimento e a mídia como aparelhos ideológicos para que naturalizem e mascarem a militarização.

Os Estados Unidos se tornaram dependentes de fazer guerra para sustentar seu padrão de vida.

É por isso que há um esforço enorme de militarização da sociedade estadunidense, de glorificação do individualismo e da competitividade e de naturalização da sociopatia institucional.

Os EUA criaram o que se chama de “economia de guerra permanente”. Mais do que um meio de impor sua vontade política e fazer avançar seus interesses estratégicos, a guerra é o principal instrumento estadunidense para fazer dinheiro.

Através das guerras, o país se apodera de contratos para gerir de recursos energéticos como gás natural e petróleo, impõe regimes favoráveis, injeta dinheiro no setor industrial com a renovação de arsenais, aquecendo o mercado interno e o consumo e gerando empregos.

O pseudo-pacifismo cínico de Joe Biden, de condenar a operação militar da Rússia na Ucrânia pela manhã e mandar bombardear a Somália à tarde, apenas ecoa o que já é uma tradição da mídia estadunidense.

Quando os EUA invadiram o Iraque, o SNL festejou a tomada de Candaar.

Durante a Guerra do Kosovo, o semanário estadunidense Time festejou o bombardeio dos EUA contra a Sérvia. “Forçando os sérvios a se curvarem. Um bombardeio massivo abre a porta para a paz”, dizia a manchete na capa.

Em 2001, a The Economist defendeu enfaticamente a invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão. “Uma guerra triste, mas necessária” dizia a manchete.

Dois anos depois, a revista apoiaria a invasão dos Estados Unidos ao Iraque. “Caso para guerra”, asseverava a manchete de capa, ilustrada com uma foto de Saddam Hussein em segundo plano.

Em 2012, o The New York Times defendeu os ataques com drones efetuados pelo governo de Barack Obama contra o Paquistão e a Síria. “Drones em favor dos direitos humanos”, dizia a manchete.

Tão grande é a glamourização da indústria bélica que o país — o único a utilizar armas nucleares contra outra nação na história — chegou a criar um concurso de Miss Bomba Atômica nos anos 50.

Umbilicalmente ligada ao complexo militar industrial, Hollywood tem papel central na condução da percepção do público, convertendo psicopatas e mercenários em heróis virtuosos e demonizando o inimigo da vez – de vietnamitas aos russos, passando por comunistas e árabes.

*Com informações de Pensar a História

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Covid no Brasil supera guerras e ameaça estabilidade e democracia no país

“Vocês sabem que estão em guerra, não é?”

A frase me foi dita por um experiente representante da ONU que, ao longo dos últimos 30 anos, foi deslocado para algumas das principais crises sanitárias no planeta para ajudar a vacinar a população, estabelecer protocolos ou simplesmente buscar uma saída para o drama humano.

A guerra que ele citava era a do Brasil, com 500 mil mortos por covid-19 e um futuro adiado para milhões de outros que sobreviveram. Uma guerra que não perde intensidade e que vai no sentido contrário da média mundial nas últimas seis semanas. Uma guerra que já matou cinco vezes a guerra da Bósnia, mais que as duas bombas nucleares sobre o Japão em 1945, mais que a primeira guerra do Iraque nos anos 90, supera a guerra civil em Sierra Leoa ou o conflito em Darfur.

Uma guerra que é dez mais letal que a ação do Boko Haram (grupo terrorista que surgiu na Nigéria), se aproxima da Guerra da Síria e é duas vezes mais intensa em mortes que a guerra no Iêmen.

Por qualquer comparação que se faça, a situação da pandemia no Brasil supera a das mortes violentas pelo mundo. Dados da entidade Small Arms Survey indicam que, em 2018, 105 mil pessoas foram mortas em conflitos armados em todo o mundo, um quinto dos óbitos no Brasil pela covid-19.

Considerando todos os homicídios em todos os países do mundo, os números de 2018 também são inferiores ao impacto da pandemia nas famílias brasileiras. No planeta, cerca de 409 mil pessoas morreram como resultado de homicídios naquele ano, considerando uma população de quase 8 bilhões de pessoas.

Mas a história da guerra do Brasil não é apenas a do colapso do direito à vida. Ela é também a da destruição de 20 anos de avanços sociais, quase ininterruptos, e da reabertura de uma ameaça institucional.

Trata-se de uma guerra sem bombas, sem trincheiras, sem um objetivo militar por parte do adversário e, talvez, por isso ainda mais difícil de ser freada.

Ao longo da pandemia, o Brasil passou de um país pária para uma ameaça internacional. Criticado por governos estrangeiros, atores da sociedade civil, religiosos e empresários estrangeiros, o presidente Jair Bolsonaro se transformou num dos principais símbolos do negacionismo. Hoje, sua imagem está associada ao fracasso de um país em frear a crise.

Aos brasileiros que vivem fora do país, a nova realidade diária é a de ser questionado por todos.

Da porta da escola primária de meus filhos, passando por seguranças de entidades internacionais, jornalistas, amigos, vizinhos, políticos locais, taxistas, faxineira da ONU, palavras como “louco”, “alucinado” e “assassino” são repetidas para designar o presidente brasileiro. Elas são completadas por perguntas enfáticas: “Não há como retirá-lo?” ou “Quem votaria ainda por ele?”.

Se o Brasil assumiu o papel incômodo de um dos “doentes do mundo”, entidades internacionais e especialistas estão preocupados com o impacto que a pandemia terá para os próximos anos no país.

Reconstruir um país exigirá, porém, reconhecer que a guerra existe, que não perdeu força e que suas consequências não se limitam aos mortos.

Ao contrário do que foi a narrativa usada no início da pandemia, o vírus deixou claro que não é democrático. Se ele não distingue classe social, os números revelam que os bairros mais pobres que mais sofreram. Seja por falta de condições nos hospitais, por moradias onde famílias inteiras dividem colchões, por transportes públicos superlotados ou cadeias desumanas.

Nesta guerra, descobriu-se que uma enorme parcela da população não tinha acesso à água e sabão nas escolas, ou latrinas em suas casas.

Ninguém —e nem o vírus— se surpreendeu diante da constatação de que a desigualdade mata.

Hoje, a América Latina soma 20% de todos os óbitos no planeta por causa do coronavírus, apesar de representar apenas 8% da população. Por diversos dias no pico da crise, o Brasil tinha um quarto dos mortos, representando menos de 3% do planeta.

O vírus não é mais letal na região. O que mata é a ausência de políticas públicas, de coesão social e de democracia.

*Jamil Chade/Uol

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