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Política

Jeferson Miola: Lula balizou o debate mundial sobre o genocídio palestino

Lula é um dos raros estadistas da atualidade e um dos maiores líderes populares do mundo contemporâneo.

A voz do Lula tem enorme ressonância na geopolítica mundial. Além da respeitabilidade e autoridade política conquistadas na cena internacional, Lula é o chefe de Estado de um país com a relevância do Brasil que atualmente exerce a presidência rotativa do G20 e integra o grupo fundador dos BRICS.

A posição expressa por Lula, dando o nome real à tragédia terrível que vive o povo palestino, similar à vivida por judeus sob o nazismo de Hitler, se tornou uma baliza mundial sobre o extermínio do povo palestino.

Aliás, no veredito provisório de 26 de janeiro, a Corte Internacional de Justiça [CIJ] da ONU reconheceu as graves violações da Convenção sobre a prevenção e punição do crime de genocídio por parte de Israel – ou seja, confirmou o extermínio em curso.

Apesar da decisão da CIJ, os EUA e outros países mantiveram-se inertes diante do agravamento da situação.

É uma trágica ironia da história Israel desrespeitar a Convenção do direito internacional criada pelas Nações Unidas em 1948 justamente em resposta ao Holocausto de judeus pela Alemanha nazista.

Lula colocou no centro da agenda da ONU a responsabilidade ética de o mundo interromper urgentemente a matança israelense nos territórios palestinos, onde pelo menos uma criança palestina é exterminada a cada 13 minutos e outra é aleijada a cada 2 horas e meia.

Nenhum líder mundial, nem mesmo dos EUA e de Taiwan, caninos defensores de Israel, se solidarizaram com Bibi Netanyahu, o comandante-em-chefe da limpeza étnica, pela declaração do Lula.

E, por outro lado, a caracterização do Lula sobre a natureza do regime nazi-sionista não foi contestada por nenhum líder mundial, porque sabem que Lula tem razão.

Há um reconhecimento tácito da pertinência da denúncia do presidente brasileiro.

É inevitável a analogia relativa entre a realidade das vítimas de Netanyahu no Gueto de Rafah com a realidade dos judeus na Alemanha nazista dos anos 1933/1945.

É urgente a necessidade de intervenção para deter a fúria de Israel antes da “solução final”; ou seja, antes de se consumar o extermínio total dos palestinos.

Este é o significado do apelo humanitário feito por Lula, e que o Conselho de Segurança da ONU finalmente poderá escutar.

Pela primeira vez os EUA, depois de vetaram todas as resoluções anteriores de cessar-fogo na Faixa de Gaza, finalmente agora propuseram a medida. E também a proibição de Israel seguir a agressão terrestre em Rafah, que pode causar a carnificina de 1,5 milhão de palestinos.

A aprovação, nesta terça-feira, 20/2, da resolução do Conselho de Segurança da ONU, se confirmada, consagra a política externa brasileira e confirma o acerto da posição perseverantemente defendida por Lula.

Lula fincou uma baliza no debate mundial sobre a monstruosidade do governo israelense.

O mundo inteiro, até mesmo o grupo de governos cúmplices de Israel, tem consciência sobre os horrores nazi-sionistas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada.

É urgente deter essa infâmia.

*Jeferson Miola/Viomundo

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Mundo

Palestina: a falsa equivalência entre o colonizado e o colonizador

Concentrar-se na denúncia da violência palestina é o mesmo que pedir a eles que aceitem passivamente o seu destino: morrer em silêncio e não resistir.

“Sob qual padrão de moralidade a violência utilizada por um escravo para romper suas correntes pode ser considerada o mesmo que a violência de um senhor de escravos?” – Walter Rodney

Na sequência dos ataques do Hamas a Israel, ocorridos no dia 7 de outubro, que causaram mais de 1,2 mil mortes, houve uma enxurrada de injunções da mídia ocidental, políticos e especialistas, insistindo para que qualquer pessoa que desejasse expressar uma opinião sobre os acontecimentos e os consequentes crimes de guerra e genocídio israelenses em Gaza, denunciasse primeiro o Hamas antes de expressar qualquer outra opinião. Não fazer isso explicitamente, ou qualquer tentativa de interpretar os eventos em seu contexto histórico ou enfatizar as causas fundamentais do conflito eram interpretadas como condescendência com as ações do Hamas (que o interlocutor era um simpatizante do Hamas) e relacionadas com antissemitismo.

Era como se a história do que chamamos conflito palestino-israelense tivesse começado no dia 7 de outubro e não com a Declaração Balfour de 1917, em que o governo colonial britânico anunciou o seu apoio ao estabelecimento de um “lar nacional para o povo judeu” na Palestina. Esse anúncio culminou naquilo a que os palestinos e os árabes chamam de Nakba (a Catástrofe), em 1948, em simultâneo com a fundação do Estado de Israel por meio da limpeza étnica generalizada, dos massacres e do deslocamento de centenas de milhares de palestinos. Mais guerras se seguiram, mais violência, mais assassinatos e mais ocupação de novos territórios. Isso levou a ainda mais deslocamentos, mais assentamentos ilegais e mais bombardeios, que custaram a vida de centenas de milhares de palestinos e forçaram milhões a viver como refugiados. Não me deterei nesta história, pois inúmeras fontes já o fizeram brilhantemente. Em vez disso, o meu objetivo aqui é estabelecer alguns paralelos com a história da luta anticolonial argelina para mostrar a vacuidade, a miopia e a injustiça de denunciar a violência do oprimido/colonizado e do opressor/colonizador em termos equivalentes. Os dilemas morais, os debates sobre a violência e os desacordos em torno da forma como as pessoas oprimidas ou colonizadas devem resistir, e o que podem ou não fazer, não são novos.

Quando penso na Palestina, não posso deixar de estabelecer paralelos com o caso do meu país, a Argélia, durante a era colonial (1830-1962). Não é por acaso que as classes populares e trabalhadoras argelinas apoiem fortemente a causa palestina, uma vez que ambos os países vivenciaram/vivenciam um colonialismo violento e racista. Para compreender o porquê, vale a pena visitar os escritos e as análises de Frantz Fanon sobre aquilo que chamou de “violência revolucionária” na sua obra-prima Os condenados da Terra, que escreveu com base nas suas experiências na Argélia e na África Ocidental nos anos 1950 e no início dos anos 1960. Os condenados da Terra é um texto canônico sobre a luta anticolonial e serviu como uma espécie de bíblia para as lutas de libertação da Argélia à Guiné-Bissau, África do Sul, Palestina e o movimento de libertação negra nos EUA.

Fanon descreveu minuciosamente os mecanismos de violência postos em prática pelo colonialismo para subjugar os povos oprimidos. “O colonialismo não é uma máquina de pensar, nem um corpo dotado de faculdades de raciocínio. É a violência no seu estado natural e só cederá quando confrontado com uma violência maior”, escreveu. Segundo Fanon, o mundo colonial é um mundo maniqueísta que, no limite, “desumaniza o nativo, ou, para falar claramente, transforma-o em animal”. Para ele, “a libertação nacional, o renascimento nacional, a restituição da nacionalidade ao povo, a comunidade: quaisquer que sejam os títulos utilizados ou as novas fórmulas introduzidas, a descolonização é sempre um fenômeno violento”.

A luta de independência da Argélia contra os colonizadores franceses foi uma das revoluções anti-imperialistas mais inspiradoras do século XX. Parte da onda de descolonização iniciada após a Segunda Guerra Mundial (na Índia, na China, em Cuba, no Vietnã e em muitos países africanos), a Conferência de Bandung declarou que estes movimentos faziam parte do “despertar do Sul” – um Sul que esteve sujeito durante décadas (em alguns casos, mais de um século) à dominação imperialista.

Após a declaração de guerra na Argélia em 1 de novembro de 1954, atrocidades impiedosas foram cometidas por ambos os lados (1,5 milhão de mortes, com milhões de deslocados no lado argelino, e dezenas de milhares de mortos no lado francês). A liderança da Frente de Libertação Nacional (FLN) tinha uma avaliação realista do equilíbrio de poder militar, que pendia fortemente a favor da França, que na época possuía o quarto maior exército do mundo. A estratégia da FLN foi inspirada no ditado do líder nacionalista vietnamita Ho Chi Minh: “Para cada nove de nós mortos, mataremos um; no final, vocês irão embora”. A FLN buscava criar um clima de violência e insegurança que acabaria por se tornar intolerável para os franceses, internacionalizar o conflito e chamar a atenção do mundo para a luta da Argélia.

Seguindo essa lógica, Abane Ramdane e Larbi Ben M’hidi decidiram levar a guerra de guerrilha para as áreas urbanas e lançar a Batalha de Argel em setembro de 1956. Talvez não haja melhor maneira de apreciar esse momento chave e dramático de sacrifício do que através do clássico filme realista de 1966 de Gillo Pontecorvo: “A Batalha de Argel”. No filme, há um momento marcante em que o coronel Mathieu, uma discreta referência ao general Massu na vida real, conduz o líder da FLN capturado, Larbi Ben M’Hidi, a uma coletiva de imprensa na qual um jornalista questiona a moralidade de esconder bombas em cestas de compras de mulheres. “Você não acha um pouco covarde usar cestas e bolsas de mulheres para transportar dispositivos explosivos que matam tantas pessoas?” Pergunta o repórter. Ben M’hidi responde: “E não lhe parece ainda mais covarde lançar bombas napalm em vilarejos indefesos, de modo que há mil vezes mais vítimas inocentes? Dê-nos seus bombardeiros, e você pode ficar com nossas cestas.”

Através de uma cobertura favorável generalizada da revolução argelina na imprensa afro-americana, muitas exibições locais de A Batalha de Argel, assim como os escritos de Fanon, a Argélia passou a ocupar um lugar seminal na iconografia, retórica e ideologia dos principais ramos do movimento afro-americano pelos direitos civis, que passou a ver sua luta associada às lutas das nações africanas por independência.

Depois de visitar a Argélia em 1964 e Casbah, local da Batalha de Argel contra os franceses em 1956-1957, Malcolm X declarou:

“As mesmas condições que prevaleceram na Argélia e forçaram o povo, o nobre povo da Argélia, a recorrer eventualmente a táticas de tipo terrorista que eram necessárias para ‘tirar o peso das costas’; essas mesmas condições prevalecem hoje na América em cada comunidade negra.”

Alguns meses depois, em 1965, ele disse:

“Eu não sou a favor da violência. Se pudermos obter o reconhecimento e o respeito de nosso povo por meios pacíficos, ótimo. Todos gostariam de alcançar seus objetivos pacificamente. Mas eu também sou um realista. As únicas pessoas neste país que são instadas a serem não violentas são as pessoas negras.”

E ao saber do assassinato de Martin Luther King, Jr. em 1968, o líder do Partido dos Panteras Negras, Eldridge Cleaver, proclamou:

“A guerra começou. A fase violenta da luta pela libertação negra está aqui, e se espalhará. A partir desse tiro, a partir desse sangue. A América será pintada de vermelho. Corpos encherão as ruas e as cenas lembrarão os relatos nojentos, aterrorizantes e oníricos vindos da Argélia durante o auge da violência geral pouco antes do colapso final do regime colonial francês.”

Também devemos desafiar a narrativa de culpabilização da vítima que se fixa nos palestinos como vítimas imperfeitas, o que, nas palavras da pesquisadora americano-palestina Noura Erakat, equivale a uma “absolvição e cumplicidade com a dominação colonial de Israel”. Ao destacar a violência palestina, nossa mensagem para eles “não é que eles devem resistir de maneira mais pacífica, mas que não podem resistir à ocupação e agressão israelenses de forma alguma”.

Denunciar e destacar a violência dos oprimidos e colonizados não é apenas imoral, mas racista. Os povos colonizados têm o direito de resistir com quaisquer meios necessários, especialmente quando todas as vias políticas e pacíficas foram bloqueadas ou obstruídas. Nos últimos 75 anos, todas as tentativas palestinas de negociar um acordo de paz foram rejeitadas e minadas. Todo meio não violento foi bloqueado, incluindo a “Marcha do Retorno” promovida pelo Hamas em 2018 (brutalmente reprimida, com mais de 200 mortos e dezenas de milhares feridos e mutilados), assim como a campanha internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que foi tornada ilegal em vários países ocidentais sob a pressão do lobby sionista.

Em meio a uma ocupação colonial bárbara e condições de apartheid, seria apropriado que qualquer discussão sobre justiça e a responsabilidade pela violência contra civis começasse pelo opressor. Como a racionalidade de revolta e rebelião de Fanon coloca, os oprimidos se revoltam simplesmente porque não conseguem respirar.

Optar por focar na denúncia da violência palestina é semelhante a pedir a eles que aceitem passivamente seu destino – morrer em silêncio e não resistir. Em vez disso, vamos nos concentrar em um cessar-fogo imediato, interromper o desenrolar da segunda Nakba e encerrar o cerco e a ocupação, mostrando nossa solidariedade aos palestinos em sua luta por liberdade, justiça e autodeterminação.

As vidas palestinas importam!

(*) Hamza Hamouchene é um pesquisador e ativista argelino que vive em Londres. Atualmente, é coordenador do programa do Norte da África no Transnational Institute (TNI).

*Opera Mundi

 

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Mundo

Mais de 50 mil pessoas protestam na Espanha contra guerra na Faixa de Gaza

Mais de 70 cidades da Espanha registraram protestos neste sábado (20) contra a guerra promovida por Israel na Faixa de Gaza, que já deixou mais de 25 mil palestinos mortos. Os atos foram convocados pela Rede Solidária contra a Ocupação da Palestina.

Só em Madri, mais de 50 mil pessoas foram às ruas com faixas pedindo “fim ao genocídio na Palestina”, “justiça” e “S.O.S. Palestina”.

Mais de 83% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão desabrigados por conta dos bombardeios constantes e pelo menos 92% vivem em situação de insegurança alimentar, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

Os manifestantes acusaram o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de genocídio e também criticaram o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, por não tomar medidas para conseguir um cessar-fogo no enclave palestino.

Saímos às ruas de Madrid para exigir o fim do genocídio em Gaza. Depois de cem dias, Ayuso não conseguiu dizer uma única palavra de solidariedade para com as vítimas palestinas. Não está à altura do povo de Madrid.

Em Bilbao, manifestantes estenderam uma faixa que pedia o “fim ao comércio de armas e às relações com Israel”, ao lado de uma grande bandeira palestina. As mobilizações também ocorreram em Málaga, Toledo, Canárias e outras partes do país.

Os atos também contaram com a participação de figuras públicas como a porta-voz do partido Mais Madrid, Manuela Bergerot. Os deputados Enrique Santiago e Sumar Tesh Sidi e o deputado Enrique Santiago também foram às ruas da capital espanhola, conforme relatado pela imprensa local.

*Sputnik

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Opinião

Em discurso que causa repulsa em qualquer ser humano, Netanyahu assume que o objetivo de Israel é exterminar palestinos e roubar-lhes as terras

A autoridade máxima do Estado terrorista de Israel, Benjamin Netanyahu, pôs na mesa as cartas para o fim do massacre na Palestina,, exterminar uma população inteira pra lhe tomar as terras.

Por ironia do destino ou da arrogância sionista, vem no mesmo dia em que a Conib, que não tem qualquer relevância no Brasil, para 99,9% dos brasileiros, usa empresários pelegos e sionistas contumazes para tentar emparedar Lula contra a posição do Brasil de apoiar a África do Sul na denúncia em Haia contra o genocídio promovido por Israel na Palestina.

A “honestidade” de Netanyahu, que antes aparecia vestido de tafetá, esbravejou sem rodeios ou censuras e, de forma sarcástica, foi direto ao ponto confirmando o que nunca foi segredo para ninguém. No entanto, enquanto avisa que o objetivo é roubar as terras e exterminar a população civil da Palestina, que já conta com mais de 16 mil crianças assassinadas, e não deixar pedra sobre pedra.

Assim, fica clara a hipocrisia ocidental que, histericamente, berrava contra um suposto ataque do Hamas, para justificar o apoio a Israel contra a Palestina. Ao menos essa gente admite que, sem biombos, apoia os neonazistas de Israel.

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Mundo

Fepal: Genocídio na Palestina é maior do que o da 2ª Guerra Mundial; são quase 11 mil crianças assassinadas — 230 por dia

Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal)*

Em 50 dias de matança na Palestina, a palavra genocídio saiu da masmorra dos especialistas no assunto ou dos solidários ao povo palestino e ganhou noticiários massivos, esteve nas locuções de líderes mundiais, de presidentes de países relevantes, dentre estes o brasileiro, do secretário-geral da ONU e do Papa Francisco.

Era vetado falar em genocídio quando o tema é a ocupação colonial israelense e sua limpeza étnica sistemática e continuada na Palestina.

No Brasil foram necessários alguns dias até que a menção ao genocídio tomasse corpo. O empurrão final veio do Presidente Lula.

Em 7 de outubro e nos dias seguintes, talvez só a Federação Árabe Palestina do Brasil tenha mencionado o genocídio em curso e, seguramente, até mesmo com a divergência de muitos dos solidários à Palestina.

A dimensão da barbárie israelense, entretanto, não podia mais ser escondida e passamos a ter companhia. Diante disso, os defensores do regime israelense se viram obrigados a lidar com esta nova e inesperada realidade.

Como sempre, EUA e seu tutelado agressor negaram o genocídio e, para variar, acusaram de “antissemitismo” (antijudaísmo) os locutores deste novo “inconveniente” aos “eleitos” e alegadamente herdeiros da “terra prometida”.

A grandiosidade da atual carnificina humana, que não escapa nem mesmo a entendimentos anêmicos sobre o tema, impôs à Comunidade Internacional esta constatação e a ousadia de dizê-lo: é genocídio monumental, equivalente – e até superior – aos grandes da história, dentre eles o havido durante a 2ª Guerra Mundial.

Em Gaza e na Cisjordânia, em menos de 50 dias, foram assassinados mais 15 mil palestinos.

Considerando os 7 mil desaparecidos sob os escombros, temos mais de 22 mil mortos.

Os apressados se aterão à ordem de grandeza dos 22 mil mortos, insignificantes perto dos 70 milhões de mortos para a 2ªGM. Mas a conta é diferente e parte dos 465 mortos ao dia numa população de apenas 2,2 milhões, encarcerada num campo de concentração de 365 km².

Como hoje, 29 de novembro, é o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, instituído pela ONU em 1977 como mea-culpa por ter aprovado, na mesma data, mas em 1947, a recomendação da partilha da Palestina, origem dos crimes de lesa-humanidade que duram até os dias atuais, vale a pena uma comparação entre os dois momentos históricos.

Naquela quadra histórica, em 4 anos de limpeza étnica na Palestina, iniciada em 18 de dezembro de 1947, que levou os colonos euro-judeus a tomarem pela força 78% do território palestino e dele expulsarem mais de 85% da população palestina originária, formam mortos, conforme dados oficiais, 15 mil palestinos. Algo ao redor de 10 mortos ao dia, em média. Agora foram 468 mortos ao dia, isto é, quase 47 vezes mais.

Numa comparação com a 2ª GM, novamente o horror na Palestina é maior.

Durante os 6 anos que durou esta guerra planetária, se na Europa (e apenas na Europa) de hoje, cuja população é de 752 milhões de habitantes, fosse aplicada a escala genocida israelense atual na Palestina, haveria 158 mil mortes ao dia. Nos quase 50 dias de orgia assassina israelense na Palestina, seriam 7,5 milhões os europeus assassinados.

E se a duração desta matança fossem os 6 anos que durou a 2ª GM, os cadáveres europeus seriam contados em 347 milhões, 46% da população europeia atual, ou 5 vezes mais que as vidas eliminadas entre 1939 e 1945.

Naqueles 6 anos, os mortos representaram 3% da população mundial. Em eventual repetição desta guerra em nossos dias, e na escala de mortes havida na Palestina atualmente, teríamos ceifadas 4,5% das vidas do planeta.

GENOCÍDIO DE CRIANÇAS

A atual matança na Palestina já é descrita como o genocídio das crianças, e não sem razão.

Conforme os dados oficiais disponíveis, as crianças assassinadas na Palestina são 6.150, enquanto as desaparecidas sob os escombros, quase nenhuma com vida, somam 4.700. Ou seja: quase 11 mil crianças assassinadas.

São monumentais 230 crianças palestinas assassinadas ao dia! Quase o dobro das 127 mortas ao dia durante a 2ª Guerra Mundial. Ou 81% mais crianças palestinas mortas hoje, por Israel e EUA, do que foram assassinadas na 2ª GM.

Se o genocídio da infância palestina atualmente em curso ocorresse na Europa destes dias, teríamos 70 mil crianças europeias mortas ao dia, que se tornariam 3,3 milhões nos quase 50 dias do genocídio da infância palestina.

Em um ano, passariam a 25 milhões e, em eventual repetição da 2ª GM hoje, teríamos 153 milhões de crianças assassinadas na Europa.

Só para termos um dado comparativo com outro evento bélico em curso, a guerra entre Rússia e Ucrânia, países que que somam quase 200 milhões de habitantes (100 vezes a de Gaza), não morreram ainda 100 crianças em quase 2 anos de conflito armado entre dois grandes exércitos.

Tão assustador quanto são os números da ONG Save the Children, que informa que desde 2019 morreram, anualmente, em todos os conflitos armados em todo o mundo (8 bilhões de habitantes, 3.600 vezes a população de Gaza), menos que 3 mil crianças, em média, anualmente.

ESTERILIZAÇÃO MASSIVA

Além da inédita matança de crianças palestinas, a indústria sionista da morte também mirou as mulheres palestinas: foram 4.500, considerando as desaparecidas sob os escombros, assassinadas, ou 96 ao dia.

Nesta escala, para a Europa, teríamos 33,1 mil mulheres assassinadas ao dia, que alcançaria 1,6 milhão no curso do mesmo período genocida das mulheres palestinas. Em um ano, 12,1 milhões europeias teriam sido eliminadas. E numa eventual reprise dos horrores da 2ª GM nestes dias, os corpos de 72,5 milhões de mulheres inundariam as ruas das metrópoles europeias em ruínas.

A combinação macabra da eliminação em escala industrial das vidas das crianças e das mulheres palestinas, como nunca registrado, indica algo claro: a intenção de Israel e EUA de exterminar o povo palestino.

Esta escala genocida em termos totais, com mais de 22 mil mortes, em poucas semanas, numa população de apenas 2,2 milhões, já é suficiente para, quando pouco, evidenciar um genocídio.

Mas quando falamos dos assassinatos massivos de crianças e mulheres, estamos diante da intencionalidade de atingir esta parte da demografia palestina para que esta sociedade perca sua capacidade reprodutiva.

Ou seja: colapsem suas possibilidades se seguir se reproduzindo e, com isso, entre num processo de declínio populacional. É uma espécie de esterilização coletiva da sociedade palestina.

Ao eliminarem-se os ventres dos quais virão à luz as gerações futuras, bem como a geração já saída deles, estamos diante de uma ação claramente genocida.

Se todas as ações na Palestina são claramente genocidas, desde ao menos dezembro de 1947 – para não falar dos planos sionistas remontados ao menos a 1896, quando do lançamento da obra O Estado Judeu, em que Theodor Herzl, o pai do sionismo político, preconiza um estado exclusivamente judeu em alguma parte do mundo, considerando a Palestina dentre eles, espaço no qual a população originária teria que ser eliminada para ser substituída por nova demografia euro-judaica –, isto ganha novas tonalidades nestes dias.

À luz disso, estamos diante de um regime – e sua elite dirigente, estatal e social – que promove genocídio, o primeiro televisionado da história, ofendendo ainda mais nossas consciências.

Não há lugar para este regime na Comunidade Internacional, razão pela qual Israel deve ser excluído da ONU, bem como deve o mundo civilizado romper todas as relações com este estado, ademais acusado, em relatórios robustos, de promover o Apartheid em toda a Palestina. O mundo civilizado exige isso.

Antes que seja tarde demais para a Palestina e para a humanidade.

 

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Enfim, a cobertura da nossa gloriosa mídia sobre o massacre de Israel na Palestina, é o escárnio do escárnio.

A dita mídia brasileira tem feito um dos trabalhos mais sujos contra a população da Palestina em homenagem ao terrorismo do exército de Israel.

De cara, a mídia cita os palestinos como os próprios terroristas, além da islamofobia racista que martela todas as vezes que pode.

A manipulação da mídia sobre o massacre de Israel, que assassinou mais de seis mil crianças, é um caso a parte. Nenhuma criança palestina morre nas notícias do JN e nas manchetes dos jornalões. Quando muito, os folhetins sionistas dispensam duas palavras protocolares sobre.

É um festival de manipulação de tripla ação. Desinforma a população brasileira, vitimiza os sionistas e reconhece o “direito de autodeterminação” do colonialismo de Israel.

Tudo junto e misturado. Aliás essa é a técnica. Dar informação confusa para ser confusamente entendida.

Para a mídia, o povo da Palestina, não é gente, é bicho selvagem. Portanto, não tem cultura, culinária, família. Não tem nada de uma sociedade normal. Já Israel, é a própria imagem do céu na terra.

Tudo é mostrado como o paraíso sionista e, quem não acha o mesmo, é islamofóbico.

Enfim, a cobertura da nossa gloriosa mídia sobre o massacre de Israel na Palestina, é o escárnio do escárnio.

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Lula condecora embaixador da Palestina no Brasil com o mais alto grau da Ordem do Rio Branco

Ibrahim Mohamed Alzeben recebeu homenagem concedida a quem presta serviços ao país ou tem méritos por feitos excepcionais.

Em um gesto de reconhecimento diplomático, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condecorou, nesta terça-feira (21/11), o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Mohamed Alzeben, com o mais alto grau da Ordem do Rio Branco, a Grã-Cruz.

A cerimônia de entrega da honraria ocorreu em um momento marcado pela intensificação do conflito no Oriente Médio, com Israel promovendo ataques contra a população palestina na Faixa de Gaza.

Após a conclusão da repatriação de um grupo de 32 brasileiros vindos de Gaza, Lula subiu o tom das críticas contra Israel. O mandatário brasileiro declarou, nos últimos dias, que as forças israelenses estão matando inocentes “sem critério nenhum” e que ele nunca soube que “crianças fossem vítimas preferenciais numa guerra”.

O governo brasileiro também já identificou o conflito como “genocídio contra os palestinos” e defendeu a criação do Estado Palestino no Conselho de Segurança da ONU.

Além de condecorar Alzeben, Lula também entregou a honraria a diversas outras figuras de destaque, como os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin, a primeira-dama, Janja, e o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips.

Este ano também receberam homenagens o ativista indígena Raoni Metuktire, o cantor Chico César, o padre Júlio Lancellotti e a escritora Conceição Evaristo.

Criada em 1963, a Ordem de Rio Branco é concedida a quem presta serviços ao país ou tem méritos por feitos excepcionais.

*Opera Mundi

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Líderes de países árabes e muçulmanos acusam Israel de crimes contra palestinos, em cúpula na Arábia Saudita

Líderes rejeitaram o argumento israelense de ‘autodefesa’ na Faixa de Gaza e exigiram a interrupção imediata das operações militares no local.

Os líderes árabes e o presidente iraniano estão reunidos em Riad, na Arábia Saudita, neste sábado (11/11) para uma cúpula conjunta que deve enfatizar a urgência de acabar com a guerra entre Israel e o movimento islâmico palestino Hamas na Faixa de Gaza, um conflito que ameaça engolir a região.

As reuniões de emergência da Liga Árabe e da Organização de Cooperação Islâmica (OIC) estão sendo realizadas em Riad, cinco semanas após o início da guerra desencadeada pelo ataque sangrento do movimento islâmico palestino Hamas em solo israelense, em 7 de outubro.

Líderes de países árabes e muçulmanos rejeitaram no sábado o argumento israelense de “autodefesa” na Faixa de Gaza e exigiram a interrupção imediata das operações militares israelenses no local. Eles pediram ao Conselho de Segurança da ONU que adotasse “uma resolução decisiva e obrigatória” para pôr fim à “agressão” israelense na Faixa de Gaza.

A declaração final da cúpula realizada na capital saudita diz que os membros da Liga Árabe e os países muçulmanos “se recusam a descrever essa guerra como legítima defesa ou a justificá-la sob qualquer pretexto que seja” e acrescentaram que a abstenção de “uma resolução decisiva” das Nações Unidas “encoraja Israel a continuar sua agressão brutal que está matando pessoas inocentes (…) e reduzindo Gaza a escombros”.

Cerca de 1.200 pessoas foram mortas pelo lado israelense, a maioria civis no dia do ataque do Hamas, de acordo com as autoridades israelenses. E 239 israelenses foram sequestrados e levados para a Faixa de Gaza, segundo as mesmas fontes.

Desde então, Israel tem bombardeado incessantemente o território palestino controlado pelo Hamas. Mais de 11 mil pessoas, incluindo pelo menos 4.500 crianças, foram mortas no enclave, de acordo com o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

“Crimes cometidos contra o povo palestino”
A Arábia Saudita “considera as autoridades de ocupação (israelenses) responsáveis pelos crimes cometidos contra o povo palestino”, declarou o príncipe herdeiro Mohammed bin Salmane na abertura da cúpula.

“Estamos certos de que a única maneira de garantir a segurança, a paz e a estabilidade na região é pôr fim à ocupação [israelense], ao cerco e aos assentamentos”, acrescentou.

O presidente iraniano Ebrahim Raisi, que visita a Arábia Saudita pela primeira vez desde que os dois países estreitaram seus laços em março, conclamou os países islâmicos a classificar o exército israelense como uma “organização terrorista”.

Israel diz que quer destruir o Hamas e culpa o grupo pelo alto número de mortes, acusando-o de usar civis como escudos humanos, o que o Hamas nega.

Diferenças regionais
Inicialmente, a Liga Árabe e a OIC deveriam realizar suas reuniões separadamente, mas o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita anunciou na madrugada deste sábado que as duas cúpulas seriam realizadas em conjunto.

Dois diplomatas árabes disseram que a decisão foi tomada após divergências sobre uma declaração final para a cúpula árabe.

Rompimento dos laços com Israel?
Alguns países, principalmente a Argélia e o Líbano, propuseram o rompimento dos laços econômicos e diplomáticos com Israel e a interrupção do fornecimento de petróleo ao país e seus aliados, de acordo com os diplomatas. No entanto, pelo menos três países, incluindo os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, que normalizaram as relações com Israel em 2020, rejeitaram essa proposta.

As organizações humanitárias internacionais redobraram seus apelos por um cessar-fogo em Gaza, onde a água potável e os medicamentos são extremamente escassos.

A Jihad Islâmica, aliada do Hamas em Gaza, no entanto, disse que não esperava “nada” da cúpula por meio de Mohammad al-Hindi, seu vice-secretário geral. Até o momento, Israel e seu principal aliado, os Estados Unidos, rejeitaram os pedidos de cessar-fogo.

“É vergonhoso que os países ocidentais, que sempre falam sobre direitos humanos e liberdades, permaneçam em silêncio diante dos contínuos massacres na Palestina”, disse o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, enfatizou que Washington tinha “a maior influência sobre Israel” e que “carrega [como resultado] a responsabilidade pela ausência de uma solução política” para o conflito.

O presidente sírio Bashar al-Assad considerou que a ausência de medidas punitivas contra Israel tornaria a cúpula “sem sentido” e defendeu o não envolvimento em um processo político com Israel até que um cessar-fogo fosse alcançado em Gaza.

O Emir do Qatar, Sheikh Tamim bin Hamad Al-Thani, cujo país está envolvido em esforços para garantir a libertação de reféns israelenses e estrangeiros mantidos em Gaza, disse que “são necessárias medidas persuasivas para acabar com os crimes de guerra”.

O presidente da Indonésia, Joko Widodo, e o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, estão entre os participantes da cúpula. O Irã apoia o Hamas, mas também o movimento islâmico libanês Hezbollah e os rebeldes Houthi no Iêmen, que estão aumentando os temores de uma extensão do conflito.

Israel e o Hezbollah trocam tiros diariamente na fronteira entre Israel e Líbano, enquanto os houthis reivindicaram a responsabilidade por vários ataques com drones e mísseis no sul de Israel.

*Opera Mundi

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A guerra de Israel contra os palestinos envolve áreas de petróleo em Gaza e o neoliberalismo em queda

Análise geopolítica sobre a guerra em Israel e suas implicações para o Brasil e o mundo multipolar em desenvolvimento, por Pedro Augusto Pinho no Monitor Mercantil.

A verdade, filha do céu, como a luz não se apaga. No seio da escuridão mais densa jaz a centelha que afinal propaga a chama. Em todos os tempos, quando a corrupção invade a sociedade e o vício contamina as fontes da vida pública, Deus suscita um apóstolo para salvar no meio da geral dissolução a dignidade da razão humana. Às vezes é um historiador, como Tácito, ou um poeta como Juvenal; outras é Demóstenes orador, ou Sêneca filósofo. Através do zumbir da lisonja, do riso aparvalhado das turbas, do resfolgo opresso das consciências, no meio das bacanais públicas, ergue-se vibrante e sonora a voz da verdade, semelhante ao canto do cisne de uma sociedade que sucumbe

José de Alencar, “Cartas de Erasmo”, “Ao Imperador”, 17 de novembro de 1865, em “José de Alencar, Ficção Completa e Outros Escritos”, Aguilar Editora, RJ, 1965, volume III

A guerra que Israel move contra os palestinos se insere no projeto geopolítico de colocar sob domínio anglo-estadunidense e israelense cerca de dois terços das reservas de petróleo do mundo, entre outros interesses políticos, econômicos e, por que não reconhecer, raciais, que levam à formação dessa união.

Em 31/12/2022, estavam computados 1.535 bilhões de barris de petróleo no mundo.

Nesta conta se excluem o que se poderia obter com o processamento de areias betuminosas e folhelhos de xisto, principalmente no Canadá, nos Estados Unidos da América (EUA) e na Federação Russa.

Aproximadamente 998 bilhões estavam na área ao sul da Turquia, no Irã, no Egito e na Península Arábica.

A perspectiva de desconstruir a importância do petróleo – óleo e gás natural – já tem início ao serem divulgadas estatísticas que separam o óleo, que é denominado petróleo, do gás natural, como se este viesse de outro lugar que não dos reservatórios de hidrocarbonetos.


Esses mapas indicam reservas eventuais de petróleo na região de Gaza. O da esquerda mostra áreas marítimas para exploração. O da direita, as áreas já autorizadas para execução da exploração. Os dois mapas constam do documento ‘’The Economic Costs of the Israeli Occupation for the Palestinian People: The Unrealized Oil and Natural Gas Potential”, de 2019, da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento)

O neoliberalismo, que passou a dominar o mundo ocidental e influenciar o oriental a partir da década de 1980, tem na comunicação uma de suas armas mais importantes. Especialmente quando a comunicação virtual ganha força, como ocorre simultaneamente com as desregulações financeiras e a imposição da ideologia neoliberal, pelo Consenso de Washington.

Este “Consenso” será o instrumento de avaliação dos organismos internacionais de empréstimos e de acompanhamento econômico: Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (WB), Organização Mundial de Comércio (OMC), dentre outros.

Vejamos os 40 anos que vão de 1973 a 2013, com informações da Agência Internacional de Energia (AIE), para o consumo de energia.

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que agrupa o mundo desenvolvido ocidental, caiu de 61,3% para 39,2%.

A China, que percorreu caminho diferente do preconizado pelo Consenso de Washington, cresceu de 5,5% para 12,2%. O Oriente Médio, seguindo o exemplo chinês, passou de 0,8% para 5,1%.As Américas, fora da OCDE, ficaram praticamente estáveis no consumo de energia: 3,5% e 4,6%, início e fim do período.

Neste século 21, constatou-se a decadência na produção e no emprego pelo lado do Atlântico.

Mesmo reduzindo os encargos trabalhistas e previdenciários, com a nova escravidão dos “microempreendedores individuais” e a uberização do trabalho, reduziram-se os empregados com “carteira assinada”, e, simultaneamente, avançaram a fome e a miséria, inclusive nos países industrializados e desenvolvidos.

Há mais um dado para ser analisado com a guerra movida por Israel: a revelação da falácia das energias alternativas que fariam a transição energética.

Hoje, após mais de duas décadas de fechamento de usinas atômicas e da substituição de petróleo por energia eólica e solar fotovoltaica, já não resta dúvida da ineficiência desta substituição, quer pelo preço elevado, quer pelo uso abundante de minerais estratégicos, quer pela intermitência do fornecimento, quer mesmo pelos problemas ambientais que provocam.

Por outro lado, o mundo unipolar, do dólar estadunidense, vê-se superado, em todos aspectos, pelo mundo multipolar, construído em torno da República Popular da China (China), da Federação Russa (Rússia) e de países asiáticos e africanos organizados em instituições internacionais como a Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR), os Brics, agora aumentados para 11 países, a Organização para Cooperação de Xangai e outras.

O cenário de guerra fica cada vez mais possível com a decadência dos EUA, melhor dir-se-ia do Atlântico Norte.

Ao mesmo tempo em que a China e Rússia vão congregando países, mesmo com divergências históricas, como no recente Brics+.

A Iniciativa do Cinturão e Rota, reunida no 3º Fórum para Cooperação Internacional, em outubro de 2023, contava mais de 150 países e 30 organizações internacionais, de uma forma ou de outra, envolvidos na implementação desta iniciativa chinesa.

Único representante brasileiro convidado para o Fórum estava neste evento, o diretor responsável do Monitor Mercantil, jornalista Marcos de Oliveira. Lembrando que a Organização das Nações Unidas (ONU) possui, hoje, 193 países-membros.

Existe, é óbvio, o aspecto cultural nesta virada para o oriente, mas há a nítida decadência do Ocidente, que se envolve em guerras de conquista como se ainda vivêssemos no século 19.

A questão energética é bem um exemplo. Substituir o petróleo pelo vento e pelo sol é retroceder, enquanto a China busca na fusão nuclear o avanço na geração de energia.

Muito poder-se-ia discorrer sobre energia e guerra. Porém, neste artigo, buscamos vincular a guerra de um Estado contra uma população, a falência em menos de meio século de ideologia farsante e suas consequências para o Brasil.

E a tudo isso se soma a dívida imensa e sem lastro que acompanha o dólar estadunidense, presente na guerra das forças armadas, protegidas institucionalmente, contra população organizada pela necessidade de se defender do massacre e do extermínio e o cenário do ocidente em crise contra o oriente em desenvolvimento.

Uma percepção do Brasil neste belicoso cenário

Fundamentalmente, falta soberania ao Estado Nacional brasileiro.

Vive o País muito mais tempo como colônia dos portugueses, ingleses, estadunidenses e dos capitais apátridas do que como Estado independente soberano e altivo.

A denominada redemocratização se deu com a vitória neoliberal no Ocidente e o desaparecimento da questão nacional no cenário das discussões políticas. Era a globalização em vez dos Estados nacionais e também o identitarismo no lugar da cidadania.

Saído de 21 anos de governos autoritários, os brasileiros não perceberam que a criança estava na bacia de água suja.

Com os militares foi-se também o interesse nacional, muito bem demonstrado pela ação da diplomacia brasileira, voltando seus olhos para a vizinhança sul-americana e para a África, e reconhecendo as vitórias lá ocorridas nas lutas pelas independências políticas.

A bem da verdade, esta virada da diplomacia teve início com o curto governo Jânio Quadro (Afonso Arinos de Melo Francos), sofreu um revés com Castelo Branco (Juracy Magalhães), retomou a autonomia com Médici, Geisel e Figueiredo (Mário Gibson Barbosa, Antônio Azeredo da Silveira, Ramiro Saraiva Guerreiro) e retroagiu ao acompanhamento acrítico e automático dos EUA na Nova República até a volta de Celso Amorim, com Lula, em 2003.

Deve-se recordar o servilismo do Itamaraty no governo de Fernando Henrique Cardoso, sendo chanceler Celso Lafer, ao perseguir o corajoso e digno embaixador José Maurício de Figueiredo Bustani, quando, tendo sido eleito para primeiro diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), já reeleito para novo período, se recusa a participar da farsa das “armas de destruição em massa” no Iraque, para justificar a invasão, a guerra de conquista daquele País, pelos EUA.

Fato imortalizado no filme Sinfonia de um homem comum, de José Joffily. O autor deste artigo se orgulha da amizade, surgida no curso secundário e até hoje mantida, com o diplomata e pianista Bustani.

Hoje, a diplomacia brasileira é pouco afirmativa, hesita na identificação dos interesses nacionais como da multipolaridade, e isso tem reflexo nesta questão da guerra de Israel contra os palestinos.

Um cenário possível, que já é objeto de debate acadêmico, está no reconhecimento da derrota do neoliberalismo globalizante e de sua concentração do quintal estadunidense: as Américas.

Os capitais anglo-israelense-estadunidenses assumiriam o poder pelos países das Américas, derrotando as veleidades brasileiras de governança nacional e procurando submeter Cuba, Venezuela, Nicarágua e Bolívia ao encolhido Império.

Sendo este o desfecho da guerra no Oriente Médio e na Ucrânia sairiam vitoriosos o petróleo, como principal fonte primária de energia, e os Estados Unidos da América, como feitor dos capitais financeiros nas ricas e dominadas Américas, do Alasca à Patagônia.

Porém, o Brasil pode e deve reagir.

A população, em sua maioria, não aplaude o covarde nem o agressor dos mais fracos, ela estará contra ou a favor do governo conforme este a esclareça dos reais acontecimentos, não deixe o brasileiro refém das mídias hegemônicas e antinacionais, dos sites de relacionamento coordenados do exterior, e assuma sua responsabilidade em favor da justiça, da verdade, da paz e, principalmente do Estado e da Nação Brasileira.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, trabalhou por 25 anos na Petrobrás, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) e consultor das Nações Unidas na África (UN/DTCD 1987/1988).

*Viomundo

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Ativista palestina é detida na Cisjordânia sob acusação de incitar terrorismo

Mensagem de ódio que circulou nas redes sociais foi atribuída a Ahed Tamimi; mãe nega que ela seja autora da publicação.

JERUSALÉM | AFP – A palestina Ahed Tamimi, 22, conhecida ativista contra a ocupação israelense da Cisjordânia, foi detida em sua cidade natal de Nabi Saleh sob a acusação de incitar o terrorismo, anunciou o Exército de Israel nesta segunda-feira (6).

Questionada sobre o motivo da detenção, uma autoridade do serviço de segurança de Israel enviou à agência de notícias AFP uma publicação atribuída a Tamimi que circulou nas redes sociais. O texto, em árabe e em hebraico, pede o massacre de israelenses em “todas as cidades da Cisjordânia, Hebron e Jenin”. A mãe da ativista, Narimane Tamimi, nega, porém, que a filha tenha escrito ou divulgado a mensagem.

“Há dezenas de contas [nas redes sociais] com a foto de Ahed com as quais ela não tem vínculo. Quando Ahed tenta abrir uma conta, ela é bloqueada imediatamente”, disse à AFP Narimane. “Eles a acusam de ter publicado uma mensagem que incita a violência, mas Ahed não a escreveu.”

A AFP não conseguiu verificar se a conta usada para divulgar a mensagem de ódio pertence à Tamimi. Ela foi detida durante uma operação do Exército no norte da Cisjordânia que tinha como objetivo “capturar indivíduos suspeitos de participar em atividades terroristas e incitar o ódio”. As autoridades de segurança não informaram o paradeiro da ativista, limitando-se a dizer que ela seria interrogada.

Narimane afirmou ainda que seu marido, Bassem al Tamimi, foi detido em 20 de outubro, quando retornava de uma viagem. Desde então, a família não tem notícias dele.

Ahed Tamimi nasceu em 31 de janeiro de 2001. Ficou conhecida aos 14 anos após ser filmada mordendo um soldado israelense para impedir a detenção de seu irmão mais novo. Em dezembro de 2017, aos 16 anos, deu um tapa em um soldado de Israel no quintal de sua casa. Foi detida pelos militares e depois condenada a oito meses de prisão.

A ativista foi liberada em 29 de julho de 2018. Desde então, tornou-se um símbolo mundial da causa palestina e é considerada um exemplo de coragem diante da repressão israelense nos territórios ocupados. Um retrato dela foi pintado em um dos muros que separam os israelenses dos palestinos da Cisjordânia, situado perto de Belém.