Lincoln Gakiya: PCC colocou alvo em Moro por estratégia, não por vingança

Um dos principais investigadores do PCC no País, promotor Lincoln Gakiya, esclareceu o caso à TV GGN Justiça, sob o comando de Luis Nassif e participação de Marcelo Auler.

O nome do senador Sérgio Moro (União-PR) ganhou os holofotes da grande mídia, mais uma vez, esta semana. Desta vez, veio à tona uma operação da Polícia Federal (PF) que pretendia prender criminosos parte da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) por trás de um plano contra autoridades com o objetivo de resgatar o seu principal líder, Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido publicamente como Marcola.

Moro não se absteve, escreveu e falou publicamente sobre o plano que mira – inclusive – sua família. Ele passou a usar o episódio de forma política e deu a entender, em diversas declarações, que o PCC queria vingança. No entanto, o promotor de Justiça de São Paulo e um dos principais investigadores do PCC no País, Lincoln Gakiya, falou com exclusividade à TV GGN Justiça, nesta sexta-feira (24), sobre a real motivação do bando contra o ex-juiz e senador.

Em janeiro deste ano, Marcola foi transferido do presídio federal de Rondônia para o presídio federal de Brasília, por causa da descoberta de um plano “A” do PCC para o seu resgate.

A transferência desmontou a ação inicial da facção que, então, se debruçou sobre o plano “B”, com o objetivo de sequestrar e matar autoridades públicas que poderiam servir como moeda de troca para forçar a libertação ou nova transferência de Marcola.

Conforme explicou o promotor, entre os alvos do Plano “B” – descoberto no final de 2022 – estavam ele próprio, agentes federais, o senador Sérgio Moro e – curiosamente – sua família, já que não é uma prática da facção mirar mulheres e crianças (nos casos de vingança).

“Ele está lá [no plano] identificado, assim como já foi divulgado com o codinome de Tokyo. E outros alvos, que descobrimos depois (…) servidores, autoridades do Mato Grosso do Sul, especificamente de Campo Grande (…) O alvo não era só o ex-ministro Moro, os alvos eram – possivelmente, porque ainda não está identificado – um policial ou dois polícias penais federais de Porto Velho [RO], direitos de unidades prisionais federais, um ex-comandante da Polícia Militar de Campo Grande e um agente policial penal em Campo Grande. Aparentemente, são esses agentes públicos que estavam envolvidos [no plano do PCC]”, explicou o promotor.

Acontece, que após o caso vir a público, Moro voltou a propagar a desinformação de que teria se tornado um alvo do bando por ter atuado, quando ministro da Justiça, no caso da transferência de líderes da facção criminosa para o regime penitenciário federal. Quem pediu a transferência, de fato, foi Gakiya e com isso se tornou o principal alvo dos criminosos.

“O assunto da remoção é muito caro pra mim, pra minha família, porque isso acabou com a minha vida. Não foi com a vida do Moro (…) e por que eu estou dizendo isso? Porque os criminosos têm acesso ao processo de remoção. Por mais que alguém fale que foi responsável, e eu gostaria que eles [os criminosos] acreditassem, porque eu não quero nunca ter esse protagonismo, mas eles têm acesso de tudo o que foi escrito no processo de remoção e eles sabem que foi que tive essa ousadia”, pontuou Gakiya.

*Com GGN

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Promotor caçado pelo PCC culpa Moro por colocar sua vida em risco e acusa-o de “mentir reiteradamente”

O promotor de São Paulo Lincoln Gakiya, um dos alvos do PCC no plano de execução de autoridades nacionais – debelado nesta quarta-feira (22) pela Polícia Federal -, recebe ameaças de morte da organização criminosa desde 2004, quando deu início ao trabalho de investigação e denúncia dos líderes do tráfico de drogas em São Paulo.

Mas, de acordo com ele, foi graças à inação do senador Sergio Moro (União-PR), enquanto era ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, em 2019, que foi criado o último plano concreto do PCC para tirar a sua vida.

Para Lincoln Gakiya, Sergio Moro é um mentiroso (“mentiu mais de uma vez e é mal informado”), fez uso político das ações dele, Gakiya, para tomar para si os méritos da transferência de Marcola (Marcos Camacho) para um presídio federal em Rondônia e não se preocupou com a segurança dos agentes da lei envolvidos na operação.

As mentiras de Moro e a transformação do promotor em alvo prioritário do PCC

No dia 13 de fevereiro de 2019, as manchetes dos principais veículos da mídia comercial estampavam, com pequenas variações, a seguinte manchete: “João Doria transfere Marcola com ajuda de Sergio Moro”.

Alguns sites e jornais foram além, celebrando a transferência do traficante como o primeiro golpe do então ministro da Justiça contra o crime organizado no Brasil. “Informou”, por exemplo, um grande portal:

O ministro da Justiça, Sergio Moro, deu hoje seu primeiro grande passo no combate ao crime organizado com a transferência de líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital). Marcos Henrique Camacho, o Marcola, e mais 21 suspeitos de integrar o grupo foram removidos para presídios federais.

A verdade, porém, não assiste à imprensa, pelo menos de acordo com Lincoln Gakiya, o responsável pelo pedido à Justiça de São Paulo pela remoção de Marcola e outros líderes da facção.

Crítico há anos de Sergio Moro e seus métodos de atuação política, o promotor explicou, no dia 30 de junho de 2020, em entrevista ao jornal “El País”, que o então ministro da Justiça nada teve a ver com a transferência.

Pelo contrário: por motivos políticos, Moro teria inclusive se afastado da operação, contrariando compromisso assumido por ele e por Jair Bolsonaro de dar suporte ao promotor no combate ao PCC, deixando-o como alvo prioritário da organização criminosa. Leia abaixo o que disse o promotor ao periódico espanhol em junho de 2020:

“Existe uma ordem da cúpula do PCC para que me matem. Acabei sendo o único responsável pela transferência, no começo de 2019, dos líderes para o sistema penitenciário federal. Era uma questão de segurança, porque havia um plano iminente de resgate.

Houve um acordo inicial para que a solicitação fosse coletiva, dos secretários estaduais de Segurança, das administrações carcerárias (Ministério da Justiça), do Ministério Público e minha, mas coincidiu com uma época de transição política muito difícil, desistiram, e me vi compelido a fazer sozinho.

Portanto a solicitação não foi feita, com todo respeito, nem pelo (então) ministro da Justiça, Sergio Moro, nem pelo (então) governador de São Paulo, João Doria. Eu assinei o pedido e o juiz tomou a decisão. Para o PCC, acabei como a figura pública que pediu historicamente sua transferência para fora do Estado de São Paulo, e ficou como uma coisa pessoal. E isso é ruim.”

Acostumado a mentir, Jair Bolsonaro, durante sua campanha à reeleição, em outubro de 2022, repetiu mais duas vezes a mesma inverdade, sendo a segunda vez auxiliado pelo então candidato ao Senado Sergio Moro, durante debate realizado pela TV Globo. Assim mentiu o então candidato:

“Teve que eu chegar em 2019, juntamente com o ministro Sergio Moro, para que nós então tirássemos o Marcola de presídio estadual aqui em São Paulo e mandasse para um presídio federal.”

Novamente, coube ao promotor Lincoln Gakiya desmentir a dupla, o que fez em mais de uma oportunidade. No dia 29 de outubro de 2022, em entrevista ao site Metrópoles, o promotor explicou de novo que o governo federal nada teve a ver com a transferência da cúpula do PCC para fora do Estado de São Paulo.

Também aproveitou para desmentir outra fake news muito repetida pelo então presidente em campanha pela reeleição, de que os líderes do PCC mantinham um diálogo frequente com lideranças do Partido dos Trabalhadores no ano de 2006, e que, por causa disso, os traficantes não teriam sido transferidos naquela época para presídios fora de São Paulo.

No dia seguinte, o promotor deu nova entrevista, desta vez para a agência de notícias “Estadão Conteúdo”, dizendo com todas as letras que Sergio Moro era “mal informado” e que contava reiteradas mentiras. Leia trechos abaixo:

“Não há e nem poderia haver nenhuma ingerência do governo federal, seja através do presidente Bolsonaro, seja através do ministro Moro nessa remoção, até porque, como já mencionei, não lhes cumpria fazê-lo, portanto é mentirosa a afirmação do Moro que após dois meses de governo eles ‘determinaram’ a remoção do Marcola para o sistema federal.

(…)

Pode consultar o processo de remoção e verá que não há lá uma linha sequer com assinatura de nenhum desses políticos.

(…)

Nos entristece saber que políticos e até um ex-juiz alterem a verdade para tentar obter algum ganho político dessa história. No final dessa história fiquei com o ônus da operação, pois o PCC sabe que sou o ‘único’ responsável por ela e os políticos com o bônus.”

Na mesma entrevista, o promotor ainda desmentiu novamente a história de que o PT teria agido, no ano de 2006, para que Marcola e seus comparsas permanecessem presos em São Paulo:

“Moro, de maneira deliberada e intencional, inverte a verdade. Mente outra vez o Moro ou está mal informado porque, em 2006, nunca se cogitou, seja pelo governo do Estado de SP, seja pelo Ministério Público, pedir a remoção dos presos para o sistema penitenciário federal.”

*Com DCM

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Promotor, principal investigador sobre o PCC no país, desmonta farsa que liga PCC ao PT

O promotor de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), Lincoln Gakiya, responsável por pedir, no fim do ano passado, as transferências dos chefes da facção de presídios paulistas para o sistema penitenciário federal, negou, em entrevista exclusiva ao UOL, que Pereira integre a cúpula da facção.

Atualmente, ele é considerado como o principal investigador do país contra o PCC.

“Não há nenhum indicativo de negociação do governo PT com o PCC. Aliás, é bom que se diga que os presos não foram transferidos em décadas de governo PSDB em São Paulo”, afirmou Gakiya.

“Não é integrante da cúpula. Apenas traduziu o que tanto os presos em geral, quanto a própria população pensam. Ou seja, que a remoção dos líderes do PCC foi obra do governo Bolsonaro e do ministro Moro. Informação distorcida. A investigação sobre o plano de resgate e o pedido de remoção de Marcola foi feito por mim, ou seja, pelo MP, e deferido pelo juiz da 5ª VEC (Vara de Execução Criminal) de São Paulo”, afirmou.

O promotor disse que “o governo federal teve o papel somente de disponibilizar vagas através do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) e de organizar a ‘logística da transferência’. Apenas isso, o mesmo se diz do governo Doria, que também apenas auxiliou na logística. O que houve foi apenas cumprimento de ordem judicial. Não cabia ao governo federal ‘determinar’ ou ‘negar’ as transferências”.

Portanto a percepção do preso de que o Moro determinou a remoção e endureceu para o PCC não é verdadeira, porque, como disse, as tratativas começaram quando o governo era do Temer.

O procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino, que investigou o PCC no início dos anos 2000, endossa o promotor. “O envolvimento do PCC com partidos políticos sempre foi a aventada e nunca comprovada. As lideranças sempre evitaram este tipo de ligação, porque só tem a perder, eis que se expõem a situações que estão além de seu controle. A organização busca dinheiro, fora isto não tem outros interesses”, disse à reportagem.

Segundo a PF, Pereira é um dos integrantes da facção que trabalham na arrecadação de fundos para a organização criminosa. Esse braço, conhecido como “resumo da rifa”, foi um dos alvos da Operação Cravada, que mirou gerentes financeiros do PCC com 30 mandados de prisão em sete estados. “Rifa” é como são chamadas as colaborações financeiras feitas para a facção. Os integrantes em questão estão no terceiro escalão da facção.

Por meio de nota, o PT afirmou que esta é “mais uma armação como tantas outras forjadas” contra a legenda. Informou, também, que a Polícia Federal está subordinada ao ministro Sergio Moro, que estaria “acuado”. “É Moro que deve se explicar à Justiça e ao país pelas graves acusações que pesam contra ele”, diz a nota do PT.

 

*com informações do Falando Verdades