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Mônica de Bolle: Roberto Campos Neto tem visão de ‘tesoureiro de banco’

O presidente do Banco Central justifica a taxa de juros a 13,75% com base na visão que o mercado financeiro tem a respeito do tema, avalia a phd em economia e pesquisadora do PIIE (Instituto Peterson de Economia Internacional) Monica de Bolle.

“É uma pessoa que tem seus méritos, e sem desmerecê-lo de forma alguma, ele é uma pessoa que trabalhou a vida inteira em tesouraria de banco. A visão de mundo, de pais, é de um tesoureiro de banco”, disse De Bolle durante o UOL Entrevista de hoje.

A economista avaliava a entrevista que Campos Neto deu ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de ontem.

Como exemplo, ela citou a resposta do presidente do BC a respeito do risco fiscal brasileiro: ele mencionou taxas de juros de longo prazo consideradas em títulos bancários, como o CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

Porém, segundo a economista, não há uma expectativa de trajetória de juros que seja utilizada de forma “oficial” pelo Banco Central.

“Os mercados de CDI [com vencimentos] de 5 e 10 anos não tem liquidez nenhuma. Qualquer taxa de juros vai estar valendo nesses horizontes para esses mercados.”

A economista também avalia que a presença de Campos Neto no Roda Viva cumpriu com um papel político, que também estaria vinculado ao seu trânsito no mercado financeiro.

Do momento em que se apresentou numa entrevista com objetivos políticos, como fez no Roda Viva, ele não foi lá representando a institucionalidade Banco Central, foi representando seus interesses próprios”

Entre os interesses, ela citou um “abano de bandeira branca” ao presidente Lula (PT) devido a declarações críticas do petista à atual taxa de juros.

Mônica De Bolle também avaliou que Lula está em seu direito de tecer críticas à condução monetária feita pelo Banco Central — considerando especialmente possíveis conflitos entre uma “visão excessivamente rígida” de Campos Neto e interesses econômicos do Brasil, como o crescimento.

“O presidente da República tem o direito de questionar quem quer que seja, ele foi eleito para isso. Faz mais sentido ainda se o que ele tiver questionando for a falta de percepção de institucionalidade que pode estar presente no Banco Central”.

Mônica de Bolle – Doutora em Economia pela London School of Economics (LSE), ela é pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, localizado em Washington, nos EUA, e professora adjunta na Escola de Estudos Avançados Internacionais da Universidade Johns Hopkins.

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#RevogaoTetoJá: Especialistas dizem porque é preciso acabar com a Emenda que retirou verbas do SUS

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recentemente celebrou uma especificidade brasileira ante a necessidade de combate ao novo coronavírus: “Ainda bem que temos o SUS [Sistema Único de Saúde]”, declarou.

Para o médico de família Thiago Henrique Silva, mestre em Saúde Pública e integrante do podcast Medicina em Debate, o SUS – um sistema universal e gratuito, que não existe em outros países com populações de tamanhos similares à brasileira – realmente é uma vantagem nacional no combate à disseminação da doença.

Criado pela Constituição de 1988, o SUS, explica Silva, conta não só com a assistência médica direta, mas também com um “sistema de vigilância capacitado”, dividido nas frentes sanitária e epidemiológicas que podem fazer a diferença.

“A gente tinha um modelo baseado na visão sanitarista de campanhas. Com a construção do SUS, o modelo passa a ser de vigilância e saúde. O grosso do trabalho de vigilância, na vigilância epidemiológica, é evitar que elas ocorram. Você gerencia todos os casos de doenças infecciosas. No Brasil, isso existe muito articulado com a própria assistência”, explica.

Entretanto, ele aponta que o “SUS já opera acima do seu limite” e caso haja a necessidade, bastante provável, de “fortalecer o sistema hospitalar, só o dinheiro emergencial não dará conta”.

Especificamente, Silva aponta que a Emenda Constitucional 95, conhecida como EC do Teto de Gastos, “transformou o piso da saúde em teto” e que “caso a regra anterior tivesse sido mantida”, hoje haveria “muito mais dinheiro para a Saúde”, já que, apesar de aumentos nos investimentos na área, em muitos anos após a aprovação da medida, eles sequer compensaram a inflação.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recentemente celebrou uma especificidade brasileira ante a necessidade de combate ao novo coronavírus: “Ainda bem que temos o SUS [Sistema Único de Saúde]”, declarou.

Teto de gastos

Grazielle David, doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp e participante do podcast É da Sua Conta, aponta que a EC 95 tem prejudicado continuamente o financiamento da Saúde no Brasil.

“Nos últimos anos, com as medidas de ajuste fiscal, o SUS tem sofrido sérias consequências. Houve uma série de promessas. ‘A saúde não tem teto específico, não será afetada’. Os anos provaram que essa narrativa não era verdadeira. A realidade é que ao longo desses anos, o valor que está se aplicando na saúde é inferior ao valor que poderia ser aplicado se estivesse valendo a regra anterior. Corre-se o risco, agora, de 2020 ter uma execução orçamentária abaixo da que foi feita em 2019”, indica.

Isto está ocorrendo, diz ela, porque, a limitação imposta pela Emenda abarca, mesmo que indiretamente, a Saúde.

“É verdade que não há um teto só para ela, mas existe um teto geral. Isso coloca as várias políticas públicas disputando entre si. Depois de quatro anos de emenda do teto de gastos, as disputas estão em seu limite. O investimento está praticamente zerado e as despesas discricionárias não tem mais espaço. Neste momento, tem recurso saindo da saúde para ir para outra área”.

Prazos

Um debate entre economistas brasileiros tem se desenvolvido, diante dos efeitos da pandemia, sobre a necessidade de revisão da emenda, ou até mesmo de seu fim.

De um lado, por exemplo, Monica de Bolle, que defendeu a Emenda no momento de sua promulgação, aponta que a crise econômica não terá precedentes, e que o Teto deve ser revogado. De outro, Nelson Barbosa afirma que medidas emergenciais são permitidas pelo texto da Emenda Constitucional.

Na visão de Grazielle David, de alguma forma, os dois estão corretos, desde que se tenha em mente que “os efeitos são de curtíssimo, de curto, de médio e, talvez, de longo prazo”.

“A covid-19, que é doença, tem efeitos sanitários e tem efeitos econômicos. Para lidar com esses dois efeitos, temos que pensar qual é o prognóstico dessa doença. E o prognóstico é que os dois efeitos não vão ficar só em 2020. Qualquer planejamento, tem que levar em consideração essas diferentes fases”, afirma.

Ela lembra que, neste momento, o Congresso já tem a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2021 em mãos. Pelo menos formalmente, no ano que vem, não se poderia abrir créditos especiais por conta do coronavírus, o que pode ocorrer este ano.

“Em 2020, o teto não interferiria na abertura de crédito. Mas necessariamente em 2021, ainda vai haver muito efeito. É uma previsão de todos os países. Em 2021, não se poderá mais alegar calamidade pública, por que não há mais novidade. Em 2021 o Teto vai ser um problema enorme. Antes da covid-19 já havia a previsão de que o Teto não seria respeitado”, aponta.

Para ela, o Brasil deve imediatamente modificar a meta do resultado primário, já que deve injetar dinheiro na economia para tentar diminuir os impactos econômicos da doença – medida já tomada por outros governos do mundo –, abrir créditos extraordinários em 2020 e, do ponto de vista mais prolongado, revogar o teto de gastos.

#RevogaoTetoJá

Na última quinta-feira (12), o Conselho Nacional de Saúde (CNS), publicou uma Nota Pública pedindo a revogação imediata da Emenda Constitucional 95/2016, que retirou verba do Sistema Único de Saúde (SUS), congelando investimentos até 2036.

O CNS aponta que “a necessidade se fortalece diante dos casos do Novo Coronavírus (COVID-19) no Brasil” e que, até agora, de acordo com estudo da Comissão de Orçamento e Financiamento (Cofin) do CNS, “o prejuízo ao SUS já chega a R$ 20 bilhões só em 2019. Ao longo de duas décadas, os danos são estimados em R$ 400 bilhões a menos para os cofres públicos”.

 

*Da Intersindical