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Isolado e sob pressão de olavistas, Bolsonaro faz viagem de alto risco

Sem destino e sem ser recebido pelos principais líderes do mundo democrático, o presidente Jair Bolsonaro se lança em uma viagem internacional de alto risco. O trajeto e a agenda, porém, foram em parte resultados de uma forte pressão por parte da ala olavista dentro do governo e cumpre uma lógica eleitoral.

Nesta segunda-feira, contra as recomendações do próprio Gabinete de Segurança Institucional e alertado por governos estrangeiros, Bolsonaro embarca para Moscou, onde se reúne com Vladimir Putin.

O presidente é visto como um pária internacional, criticado entre delegações estrangeiras e evitado por líderes democráticos. Mesmo dentro do Itamaraty, uma ala ciente da hesitação internacional que vive o país tenta evitar pedir reuniões bilaterais com chefes-de-estado estrangeiros em reuniões de cúpula, como no G20.

Em três anos de governo Bolsonaro, não foram poucas as ocasiões de falas constrangedoras do presidente em conversas com líderes estrangeiros. Uma delas, com o ex-primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, beirou ao machismo e indiscrição. Quem acompanhou o encontro afirma que o japonês, depois de uns segundos de silêncio, gargalhou. Mas o incidente levantou o alerta no protocolo sobre a necessidade de adotar uma política de contenção de danos.

Já em novembro de 2021, em Roma, a agenda de Bolsonaro sem encontros com os demais líderes do G20 escancarou o isolamento.

Putin, que já elogiou a masculinidade de Bolsonaro, seria uma saída para tentar desfazer a imagem de pária. Tanto em termos de negócios, no campo militar e na aliança de valores ultraconservadores.

O russo, há uma década, também saiu ao resgate do ex-primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, acusado em um escândalo sexual, contratação de prostitutas e até uma menor de idade. Na época, ele afirmou que o italiano não seria acusado se fosse gay, que Berlusconi tinha uma “atitude especial com o sexo bonito” e que os ataques ocorriam por “inveja”.

Mas Bolsonaro desembarca num momento de elevado risco. Fontes em Moscou revelaram à coluna que o foco do Kremlin nesta semana não é Bolsonaro. Um dia antes do encontro entre os dois líderes, Putin receberá a visita de Olaf Scholz, o novo chanceler alemão e que tentará convencer o russo a negociar uma saída pacífica para a crise envolvendo a Ucrânia.

Bolsonaro já foi orientado pelo Itamaraty e seus assessores mais próximos a ser apenas “superficial” ao debater eventualmente a crise ucraniana. O foco da viagem será o de dar sinais claros à sua base, em meio à campanha eleitoral, que o presidente não está isolado no mundo.

Nos últimos meses, longe dos holofotes, russos e brasileiros têm agido com muita sintonia em votações e debates na ONU relacionados com o papel das mulheres, LGBT e questões culturais e de gênero.

O governo também espera fechar um abastecimento de fertilizantes com os russos. De acordo com a FAO, há uma escassez do produto no mercado internacional e que pode acabar afetando a agricultura brasileira. De olho em costurar o apoio do agronegócio para a eleição no segundo semestre, Bolsonaro usará a viagem para deixar Moscou com vantagens concretas para o setor.

Dentro do Itamaraty, o temor de parte da diplomacia é que Bolsonaro amplie seu isolamento internacional com a viagem. O problema não seria visitar Moscou, um parceiro importante em governos anteriores. A dúvida é sobre a mensagem que a viagem mandaria, neste momento.

Militares que defendem uma aproximação maior do país à Otan também manifestaram preocupação, o que levou o governo a proliferar mensagens de apoio às autoridades ucranianas nos últimos dias.

Há também o temor de que Putin, sob pressão do Ocidente, transforme Bolsonaro em um instrumento de sua propaganda. Sem experiência internacional, o brasileiro poderia acabar servindo o Kremlin.

Olavistas pressionam por parada em Budapeste

Depois de Moscou, Bolsonaro chega no dia 17 à capital húngara, Budapeste. Até 2019, nenhum chanceler tinha sequer feito uma visita oficial aos húngaros, um país insignificante nas relações diplomáticas brasileiras. O comércio é também mínimo, enquanto os investimentos sequer fazem parte da agenda bilateral.

Desde a posse de Bolsonaro, porém, Budapeste se transformou em um destino privilegiado da ala radical do governo, incluindo o ex-chanceler Ernesto Araújo, a ministra Damares Alves e o deputado Eduardo Bolsonaro.

Agora, a parada do mais alto escalão do governo em Budapeste é resultado da pressão direta da ala olavista dentro do Executivo. O primeiro-ministro Viktor Orban representa o símbolo de um projeto da extrema-direita que vingou. Em uma década no poder, ele controlou a imprensa, o Judiciário, o Parlamento, as universidades, rescreveu a história do país, limitou as ações das ongs, atacou minorias e minou a democracia.

Fontes no Itamaraty indicam que a parada no aliado de extrema-direita foi um pedido liderado por Filipe Martins, assessor da Presidência e alvo de polêmicas por suas referências ao movimento extremista.

Bolsonaristas fervorosos e discípulos radicais de Olavo de Carvalho no governo também poderão acompanhar o presidente. Vários deles receberam autorização para afastamento de suas funções entre 13 a 23 de fevereiro, já publicada no Diário Oficial da União e assinada pelo ministro Gilson Machado, do Turismo.

Um grupo ligado ao setor do audiovisual e fomento à cultura também fará parte da viagem.

No mesmo dia em que Bolsonaro estará em Budapeste, entidades locais realizam, um encontro sobre propostas para modificar a educação das crianças, com alguns dos principais nomes internacionais do pensamento reacionária.

Na pauta da conferência estão temas como “Feminismo x Mulheres”, um questionamento sobre o papel das escolas em temas de gênero e orientação sexual e o papel da educação formando a identidade nacional. Outro tema é ainda um ataque contra o multiculturalismo, apontando como o modelo francês de integração levou a uma crise na sociedade.

Não falta nem mesmo um debate sobre os valores que o seriado “Sex and the City” trazem à sociedade.

Entre diplomatas brasileiros, porém, a aproximação de Bolsonaro a Orban também representa riscos ao país. O húngaro enfrenta uma eleição em abril e, pela primeira vez, corre o sério risco de ser derrotado. O endosso de Bolsonaro ao líder húngaro, portanto, é visto na Europa como um “enorme erro de cálculo”.

Jamil Chade/Uol

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Globo critica Bolsonaro, mas trata Moro como filigrana

É curioso esse comportamento da Globo que critica cada vez mais o governo Bolsonaro, esquecendo-se que está falando de um governo em que Moro ocupa o Ministério da Justiça e Segurança Pública. A ideia que se tem é de que Moro é um ambulante, um empreendedor individual que se inspira nos heróis de revista em quadrinhos para, como vingador, combater os vilões que põem em risco o planeta. Ou seja, para a Globo, Moro é um terceirizado não tem nada a ver com o governo que ele, praticamente, colocou no poder e desse mesmo poder se servir.

É admirável essa cara de pau dos Marinho com a própria cria que não param de lamber.

A cena pintada pelo jornalismo da Globo com críticas aos horrores promovidos por Bolsonaro e alguns dos seus ministros mais fascistas, não inclui Moro. Na verdade, Moro, nessa hora nem faz parte do elenco de apoio, e a tradição da Globo de ser mais nefasta sobre o que não noticia do que o que inventa, mantém-se firme, fixando como marca o jornalismo de filigranas.

Ora, se a Globo mostra que Bolsonaro protege o filho Flávio para proteger Queiroz e, consequentemente a si próprio, de uma fieira de crimes, a mesma Globo, descaradamente, suprime a informação ou a lembrança de que Moro é o Ministro da Justiça e Segurança Pública dessa organização criminosa. Esse processo criminoso em que Bolsonaro destrói as instituições brasileiras para aparelhá-las a modo e gosto para que não chegue a seus crimes, tem logicamente o aval de seu Ministro da Justiça e Segurança Pública sistematizadamente formando duas vozes no mesmo soneto.

A Globo, com uma originalidade jornalística formidável, revoluciona e, dentro dos estúdios de sua redação, hipnotiza a sociedade com o comportamento individual de Bolsonaro e de alguns de seus ministros olavistas, fechando a boca na hora de citar que essa maravilha toda só ocorreu porque o atual Ministro da Justiça, Sergio Moro, foi quem prendeu Lula, sem provas, para que Bolsonaro chegasse aonde chegou.

Não se sabe até quando a Globo vai ignorar o que imagina que está conseguindo barrar, que são os vazamentos do Intercept. As evidências de que a Globo quer se manter distanciada da Vaza Jato para não comprometer Moro, ficam cada vez mais escancaradas, o que acaba colocando-a na contramão do que ela diz denunciar na mesma cena, o que torna a natureza de suas críticas a Bolsonaro uma mula manca, sem começo, meio e fim, porque simplesmente Moro, junto com a própria Globo, é responsável por toda a política miliciana praticada por um governo de milicianos.

 

*Por Carlos Henrique Machado Freitas

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Bolsonaro é abandonado também pelo Instituto Millenium, um dos principais articuladores do golpe contra Dilma

Uma das principais instituições articuladoras do golpe contra Dilma Rousseff em 2016, Instituto Millenium também abandonou o presidente Jair Bolsonaro. “Ninguém imaginou que pudesse haver tanto desgoverno em tão pouco tempo de governo”, afirmou o economista Sérvulo Dias, especialista da entidade, que tem entre seus membros o empresário Jorge Gerdau Johannpeter e o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. O instituto é a versão pós-moderna dos institutos empresariais-midiáticos que foram decisivos no golpe militar de 64.

“O início do governo Bolsonaro pegou de surpresa até mesmo os mais pessimistas”, afirmou Dias em análise publicada no site do Millenium. “O presidente sofre de uma falta de foco crônica e está demasiadamente aberto às influências dos grupos com os quais se relaciona: olavistas, militares e o círculo familiar, todos tentando exercer a sua dose de influência ao mesmo tempo”.

Segundo o economista, o Bolsonaro “tem um conhecimento muito raso sobre a realidade em que vivemos, sobre o macroambiente no qual estamos inseridos e sobre como nossa marcante desigualdade nos impede de alcançar um nível mínimo de coesão social que permita que cheguemos a um acordo coletivo sobre o formato e o alcance das reformas que tanto necessitamos”.

“Ao tentar agradar a todos, Bolsonaro não agrada a ninguém. Desmanda, desmente e desqualifica os homens que deveria blindar, apoiar e promover”, complementa. “Também não ajuda em nada a velocidade com a qual o presidente queima capital político com temas secundários e puramente ideológicos, parte de uma agenda exclusivamente sua”, diz. “Aos poucos Bolsonaro se materializa como um autocrata e populista de direita, tão radical quanto aqueles com os quais se aproxima ao redor do mundo, passando por Estados Unidos, Israel, Hungria, etc”.

Pesquisa da consultoria Atlas Político, divulgada pelo jornal El País, apontou que pela primeira vez a desaprovação do governo superou a aprovação (36,2% da população consideram o governo “ruim” ou “péssimo”, e 28,6%, “ótima” ou “bom”.

Vale ressaltar que até o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que apoiaram o golpe contra Dilma, não participarão das manifestações a favor de Bolsonaro no próximo domingo, 26.

Agora o presidente perde mais um apoio de um instituto “símbolo” da direita. Em dezembro de 2012, por exemplo, a revista Carta Capital publicou uma capa intitulada “A velha cara da nova direita”, em que expõe a volta do Brasil do mesmo tipo de organização que fomentou o golpe militar de 1964. Utilizando os mesmos procedimentos de entidades que, na fachada, destinavam-se à produção de estudos e pesquisas sociais, essas organizações uniram-se ao oligopólio que controla os principais veículos de imprensa para derrubar o presidente democraticamente eleito João Goulart, e implantar a ditadura militar, um dos períodos mais obscuros da nossa história.

De acordo com a publicação, o que se chamou de Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), na derrubada de Goulart, atende pelo nome de Instituto Millenium, que funciona em São Paulo.

 

 

 

 

 

*Com informações do 247