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Livro de Ziraldo que aborda o preconceito racial é censurado em escolas de MG

Prefeitura mineira suspendeu ‘O Menino Marrom’, obra de 1989, que foi considerada ‘agressiva’ por alguns pais.

“O Menino Marrom”, livro infantil de Ziraldo, foi retirado temporariamente das escolas municipais da cidade de Conselheiro Lafaiete (MG). Segundo comunicado da prefeitura nas redes sociais nesta quarta-feira (19), a decisão foi tomada após reclamações dos pais sobre o conteúdo da publicação, considerada “agressiva”.

“Diante das diversas manifestações e, divergência de opiniões, procedeu à solicitação de suspensão temporária dos trabalhos realizados sobre o livro ‘O Menino Marrom’, do autor Ziraldo, a fim de melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas”, informou a prefeitura nas redes sociais.

O livro narra a amizade de duas crianças, um menino negro e um menino branco, para entender qual a diferença das cores entre eles. Entre brincadeiras e questoinamentos, o livro discute diversidade racial e aceitação das diferenças. O cartunista, artista gráfico e escritor Ziraldo morreu em abril deste ano, aos 91 anos.

Livro ‘satânico’
Entre as reclamações dos pais acatadas pela prefeitura de Conselheiro Lafaiete, estão acusações de que o livro seria “satânico” e teria cenas violentas. “O livro fala em fazer pacto de sangue. Tem um trecho de uma velhinha atravessando a rua e duas crianças olhando e desejando a sua morte”, reclamou um pai.

Em nota publicada em suas redes sociais, a Secretaria de Educação da prefeitura de Conselheiro Lafaiete afirma que “O Menino Marrom” aborda de “forma sensível e poética temas como diversidade racial, preconceito e amizade” e que é um “recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade”.

livro

No entanto, diz lamentar “interpretações dúbias” e e avisa que vai suspender temporariamente o uso do livro em sala de aula para uma “melhor reflexão”. “A secretaria, em sua função de gestão e articulação entre escola e comunidade compreende ser necessário momento de diálogo junto aos responsáveis para que não sejam estabelecidos pensamentos precipitados e depreciativos em relação às temáticas abordadas”, afirma.

A editora Melhoramentos, responsável pela publicação da obra de Ziraldo, afirmou em nota as qualidades educativas da obra, ressaltando a importância de seu autor. “Ziraldo é um dos autores infantojuvenis de maior expressividade na cultura brasileira. Sua capacidade de equilibrar humor, sensibilidade e temas relevantes como diversidade e inclusão, o destacaram como um mestre na arte de contar histórias.”

*ICL

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Os brasileiros estão de saco cheio de Bolsonaro e de sua família

Não me lembro de ver o país tão à deriva como agora. E não importa se Bolsonaro está ou não no Brasil, o país não tem governo. O que ainda funciona está ligado no automático.

Nem quero aqui discutir a capacidade de Bolsonaro governar o país. O cotidiano do Brasil nesses 10 meses de governo mostra que Bolsonaro não é presidente, ele tem apenas o mandato e a faixa presidencial, mas, ao contrário de presidir, ele afronta o Estado brasileiro porque coloca seus interesses e de sua família acima da vida coletiva do país, sem falar que está totalmente subordinado à economia de mercado, num pensamento herdado do PSDB.

As únicas coisas que cresceram no Brasil foram o preconceito racial, o preconceito contra os nordestinos, contra os gays, contra tudo e todos os que faziam parte do discurso de segregação de Bolsonaro durante a campanha.

Tudo isso se inclui na realidade em que nós brasileiros vivemos. Essa é a forma com que Bolsonaro encara os problemas do Brasil, produzindo polêmicas, tentando utilizar seu mandato para garantir impunidade ao seu clã e ampliando seu campo político com sua antiga fórmula corporativista ligada, sobretudo às polícias e às Forças Armadas.

Em meio à crise que se agrava a cada dia no PSL, Bolsonaro luta para, primeiro, apresentar-se como a grande vítima de seus ex-aliados, universalizando as picuinhas criadas no partido para estabelecer fronteiras para casos estruturais, ou seja, Bolsonaro não quer saber de nada que faça parte do cotidiano da sociedade e, por isso, fermenta polêmicas tolas que não interessam em nada ao cidadão brasileiro e, com isso carrega nos discursos para que sua gestão não seja avaliada, pois é justamente aí que estão os seus maiores problemas.

Por tudo isso, Bolsonaro polariza qualquer bobagem, contanto que a espetacularização sirva de cortina de fumaça para os problemas reais que afligem o país diante de um governo em que o centro é o mercado e não os cidadãos.

Agora mesmo, não se sabe o discurso oficial sobre as manchas de óleo que atingiram o litoral nordestino. Questões laterais são colocadas no centro do debate sobre a tragédia ambiental e, com isso, a condução da crise não produz qualquer tipo de ação ou consciência de sua gravidade, tudo é feito para que os brasileiros aceitem esse estado de coisa sem que uma norma central seja discutida para solucionar a grave situação do Brasil.

Na realidade, e talvez o mais grave, é que Bolsonaro quer matar a ideia de que o Brasil é uma nação. Ele quer limitar o cotidiano dos cidadãos às suas questões individuais para tirá-los do sentido coletivo e despolitizar a sociedade.

É assim que Bolsonaro viveu seus 30 anos como parlamentar, com absoluta ausência sobre as mazelas do país, mas de forma contraditória teve expressiva votação das vítimas dessas mazelas.

Duas coisas precisam ser colocadas: uma é que não se ouve de ninguém nas ruas um único elogio ao governo ou à figura de Bolsonaro. A outra é que consciência de cada um dos brasileiros sobre a precariedade em que o país se encontra é a de que a culpa dessa pasmaceira é de Bolsonaro.

Na verdade, as pessoas atingidas por essa crise permanente em que vive o Brasil, depois do golpe, de uns tempos para cá passaram, e de forma numerosa, a criticar Bolsonaro, principalmente os seus eleitores que não são necessariamente bolsonaristas.

O Brasil ainda não dispõe de um número suficientemente expressivo de descontentes que votaram em Bolsonaro, mas de todo modo, as interpretações de que o Brasil está à deriva vem num crescente, mas não está sendo devidamente explorada pela oposição, produzindo um sentimento de vazio no povo, o que pode ser ainda mais grave para o problema de ausência de governo que o país vive a partir de um presidente em que o que predomina é a gesticulação ritual que festeja a consagração do mercado e a própria hipocrisia nacional.

Resumindo, os brasileiros estão com o saco cheio de Bolsonaro.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

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Vídeo: O racismo no Brasil em tempos distintos por dois baianos, Roger Machado e Milton Santos

No Brasil atual, o racismo não produz mais as tensões entre senhores de escravos que, praticamente, não foram estudadas ou pouco estudadas. Há um código de silêncio inacreditável sobre o racismo no Brasil, sobre a cidadania mutilada dos negros que Roger Machado, técnico do Bahia, em entrevista,  coloca essa questão com muita propriedade, o que faz um link perfeito com a conferência sobre preconceito racial feito pelo brilhante intelectual baiano, Milton Santos, na qual o geógrafo endossa as palavras do técnico:

“O modelo cívico brasileiro é herdado da escravidão, tanto o modelo cívico cultural como o modelo cívico político. A escravidão marcou território, marcou os espíritos e marca ainda hoje as relações sociais desse país. Mas é também um modelo cívico subordinado à economia, uma das desgraças desse país. Há países em que o modelo cívico corre emparelhado com a economia e em muitas manifestações da vida coletiva se coloca acima dela. No Brasil a economia decide o que do modelo cívico é possível instalar. O modelo cívico é residual em relação ao modelo econômico e se agravou durante os anos de regime autoritário e se agrava perigosamente nessa chamada democracia brasileira. A própria territorialização é corporativa, os recursos nacionais sendo utilizados, sobretudo a serviço das corporações, o resto sendo utilizado para o resto da sociedade. O cálculo econômico não mostra como as cidades se organizam para serem utilizadas por algumas empresas, por algumas pessoas. São as corporações que utilizam o essencial dos recursos públicos e essa é uma das razões pelas quais as outras camadas da sociedade não têm acesso às condições essenciais da vida ao chamado serviços sociais. No caso dos negros, é isso que se passa.

Um outro dado a acrescentar é que a situação dos negros no Brasil é uma situação estrutural e cumulativa, o que mostra a diferença com outras minorias (que não minorias).”

https://youtu.be/woeSG9emOwc?t=19

 

*Carlos Henrique Machado Freitas