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Por que em um ano o conto do vigário chamado Bolsonaro se mostrou muito pior do que se imaginava?

Não é preciso tantos exercícios reflexivos para uma conclusão simples sobre Bolsonaro, ele é um produto da nova elite brasileira.

Pergunta-se como a maioria dos integrantes do sistema judiciário brasileiro apoiou a eleição de Bolsonaro. Todos sabiam que se tratava de um delinquente com impulsos assassinos, ambição desmedida e total ausência de caráter no sentido ético do termo.

Bolsonaro é a pobreza humana, é a miséria intelectual, é tudo aquilo que assistimos ao longo da vida, ser o centro de debates de tudo o que um cidadão não deveria ser.

Bolsonaro é anticonsciência, é a morte da política, é a própria democracia de mercado. E aí começa o processo que dominou a democracia brasileira e pariu esse ornitorrinco absolutamente contraditório diante da cultura do país.

Ninguém espera nada minimamente civilizado vindo de Bolsonaro ou de seu clã. Ele passou a sua vida em busca de oportunidade de enriquecimento, sobretudo ilícito. Este foi o motivo de sua expulsão do exército pela forma desavergonhada de expor sua ambição, o que reforça ainda mais o domínio institucional do mercado em todas as esferas de poder, inclusive do poder militar.

As declarações de Mourão, de joelhos para o deus mercado, revela muito mais das Forças Armadas brasileiras do que se imagina, demonstrando não só despreparo intelectual, mas social e político da caserna, toda ela servil à ideologia da ambição financeira em estado puro.

Então, Bolsonaro, que já existia no Brasil há 28 anos, para o exército, ainda mais tempo que isso, sempre foi o que é. Se de um lado, arrasta consigo o ódio característico dos torturadores da ditadura, do outro, mostra-se extremamente submisso a qualquer força institucional que o freie, ao menos os seus instintos mais animais.

Não importa se ele é um pária internacional, Bolsonaro é uma massa de modelar bastante flexível para ser moldado a moda e gosto pelas classes economicamente dominantes.

Não se pode dizer que ele é cínico, ele é rude, tosco, bronco, cínicos foram os do andar de cima que o elegeram, utilizando todas as formas ornamentais de uma democracia, mas que, na prática, utilizaram dos métodos mais imundos para trançar a chegada de Bolsonaro ao poder.

Essa foi a única solução encontrada pela direita brasileira, assumir a sua mesquinhara, seu egoísmo e ambição a partir de estímulos selvagens golpeando Dilma, encarcerando Lula e elegendo Bolsonaro como sucessor do golpista Temer.

Nada disso aconteceria se as instituições brasileiras não fossem tão apartadas do restante da sociedade. O Brasil tem essa casta informal, não assumida e nem modelada para ter uma fisionomia.

Esse é o país que se eterniza na principal característica de sua elite, a elite boa praça, cordial e, consequentemente patrimonialista que, ao mesmo tempo em que fala em reduzir o Estado para a população, não sobrevive sem ele, sem suas tetas gordas, vide a elite paulista, que viu os investimentos federais praticamente dobrarem durante os anos de chumbo por seu apoio estratégico à ditadura.

A elite brasileira nasceu disso e passou décadas escamoteada numa mal-ajambrada ação indispensável à sua sobrevivência, o domínio institucional, onde a participação popular não define os papeis decisivos da nação.

É difícil saber qual o limite dessas forças, sobretudo qual o limite de sua crueldade, de sua ambição, de sua tolerância com as regras de uma democracia real. Ela nunca assumiu e jamais assumirá que impôs uma ditadura militar ao país ou que utilizou as mais bárbaras formas de manipulação e orquestração para levar essa coisa inclassificável, que é Bolsonaro, ao poder.

Isso não é de agora. Há pouco tempo o PSDB de FHC não assumia seu casamento com o Dem, por classificá-lo como tendo modos rudes, pouco envernizados. E repete a receita com Bolsonaro, porque nada nesse país é mais a cara da elite paulista, que é a elite hegemônica do país, do que o PSDB. É só observar quem de verdade foi o timoneiro da reforma da Previdência, que é o mesmo que quer privatizar a água brasileira, o senador Coca-Cola, como bem disse Glauber Braga, do Psol, o senador milionarísssimo Tasso Jereissati, um dos mais destacados quadros do comando tucano.

Bolsonaro arrasta consigo a covardia do PSDB contra a população, e o faz sem qualquer problema de consciência. Daí o apoio do PSDB a todos os projetos do governo contra os mais pobres, não precisando fazer parecer que, na verdade, Guedes é apenas um sujeito que decalcou rigorosamente o projeto do PSDB que não deu tempo de FHC impor ao país, pois em oito anos, quebrou o Brasil três vezes e teve uma das piores avaliações como Presidente da República.

É difícil estabelecer até quando Bolsonaro ficará no poder, até quando as Forças Armadas e o sistema judiciário sustentarão o moribundo, até quando ele será útil para fazer a segunda parte do serviço sujo iniciado por Temer de autoria do PSDB.

Bolsonaro por Bolsonaro não aguenta um dia de Jornal Nacional. Rede social nenhuma o segura. Basta que o mercado não o queira mais para que, num estalar de dedos, ele não se sustente um mísero dia na cadeira da Presidência da República.

Resta saber como será o duelo entre o povo e a elite econômica, porque na realidade, o embate que se trava é o povo vivendo cada dia pior, enquanto o Brasil é devolvido ao mapa da fome, mas a bolsa de valores deu a banqueiros e rentistas um lucro de 32% em 2019, mostrando que a elite brasileira nunca foi tão decidida a esmagar, torcer e picar os pobres para saciar sua ambição.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas