A partir da Revolução de 1930, surgem traços fortes de identidade do povo brasileiro. Antes, diversas manchas, mais tentativas do que realidades.
A implantação dos direitos trabalhistas, em especial salário mínimo e férias, Previdência Social, as aposentadorias, os sindicatos, a Justiça do Trabalho; a ideia da soberania e defesa das nossas riquezas; o Estado capaz de defender direitos e enfrentar grupos econômicos; a ideia do desenvolvimentismo como capaz de superar o atraso, tudo a plasmar a identidade do povo brasileiro.
Salário mínimo razoável e aposentadorias foram ideias forças tão poderosas que marcaram toda uma época para toda a humanidade e que inspiraram muitos países. Tão forte como agora a superação da pobreza e da miséria em tempos recentes com Lula.
A par disso, vamos aí carregando contingentes conservadores, essa elite perversa de que nos fala Darcy Ribeiro, os que teimam em seguir a marca terrível da escravidão e do colonialismo, sócios menores dos grupos econômicos internacionais, domínio fácil dos meios de comunicação e áreas culturais.
Mas desde que o povo se firmou como tal, o sentimento de gente brasileira e de nacionalidade tem prevalecido. Podemos traçar uma linha bem definida desde as primeiras manifestações políticas eleitorais: derrubaram Getúlio em 1945, mas o povo elegeu Getúlio em 1950; arrasaram com Getúlio em 1954, o povo elegeu Juscelino e Jango no ano seguinte. E tudo tendo forças poderosas do outro lado, carregadas de grupos de interesse daqui e de fora. Foi preciso um golpe para barrar os avanços.
Com golpes de outra natureza, procuraram enganar nosso povo com o caçador de Marajás e o Plano Real. Mas o povo brasileiro se recuperou, devotou desprezo a eles e elegeu Lula duas vezes e Dilma duas vezes. Fizeram o que fizeram com derrubada da Dilma, golpe judiciário contra Lula, a ponto de tirá-lo da eleição, e elegeram Bolsonaro. Mas o povo brasileiro já se recuperou mais uma vez e está mostrando a sua presença de novo.
Não obstante a força reiterada do povo brasileiro, o conservadorismo, a herança da escravidão e do colonialismo e o direitismo que persegue as sociedades de matriz europeia estão sempre a mostrar poderio e força política. Embora com muitas variações ao longo do tempo, é razoável estimar que essas forças expressam em torno de 35%, ou um terço, dos brasileiros, um pouco mais, um pouco menos.
Isto se vê através de resultados de eleições, pesquisas eleitorais e análises bem apuradas, desde as eleições que uniram o conservadorismo, de Eduardo Gomes, Juarez Távora aos quatro tucanos que disputaram eleições mais recentes. E até mesmo com situações anômalas como Collor, Fernando Henrique e Bolsonaro.
Agora, desenha-se este novo quadro. Lula, com ampla preferência, representando as forças populares desde 1930, beirando entre os 40 a 50%. Do lado conservador e do direitismo, estão aí Bolsonaro e outros atores menores. Bolsonaro e sua direita mais extremada, policiais, áreas militares, classe média e uma pequena burguesia radicalizada, deve contar com pelo menos de 15 a 20%. Juntando seu poder de tomar algumas ações de governo e algumas áreas evangélicas ainda não libertadas, Bolsonaro pode chegar a 25%, outros dirão a 30%.
Lançado agora, mas já candidato há muito, surge Sergio Moro, bafejado por áreas dos meios de comunicação, de maneira muito descarada pelo sistema Globo. Moro e Bolsonaro se equivalem, ambos de um direitismo extremado, estarão a disputar a mesma parcela do eleitorado. Bolsonaro, de maneira mais tosca, mais grosseira, e Moro a receber apoio de áreas de comunicação, elites que querem parecer mais refinada, gente do sistema financeiro e grupos econômicos internacionais que se incomodam com os primarismos mais grotescos do Bolsonaro. Mas ninguém se eludirá: Moro é igualmente extremado de direita, com capacidade de agir em áreas do judiciário, mídia, capital estrangeiro, grupos internacionais, gente que sente certo incômodo com Bolsonaro.
Brizola nunca deixava dúvidas: são novas caras da direita. Mas o cinismo é tamanho que estão tentando apresentar Moro como terceira via. A campanha de Mora tende a ser muito raivosa, acirrada, de muitas disputas, a provocar irritações, por tudo que o envolveu até aqui.
Outras áreas que se apresentaram até aqui, vão se dissolver, como os tucanos, arrebanhados mais por Moro, e Ciro Gomes, que se reduzirá a áreas com proximidade com Lula e outras mais raivosas que se acertarão com Moro, certamente.
Embora Moro abocanhe algumas áreas, como é previsível, nada chegará aos 10, 12, 15%, se muito.
A luta política se exacerbou muito, devido a todos os acontecimentos. A área da direita se estreitou, não há muito mais espaço. As vias são só duas: de um lado, Lula, com o setor popular; de outro, a direita extremada, com Bolsonaro e Moro.
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