“‘A verdade vencerá, custe o que custar’, disse Lula, em entrevista ao jornal Página 12 na prisão em Curitiba. Com suas convicções intactas, ele ressaltou que já provou sua inocência, que confia na vitória de Alberto Fernández porque ‘o povo argentino deve recuperar o direito de ser feliz’ e denunciou que ‘eles não estão governando, estão vendendo o Brasil’. ‘Não é porque um juiz tenha sido um canalha, que você deve julgar toda a justiça por causa desse erro’, disse ele. (Página 12, Argentina)
O jornal argentino Pagina 12 publica hoje uma entrevista com o Lula, na qual o ex-presidente
– O que lhe dá forças para começar todos os dias?
– Primeiro, quero viver muito. Não sei por que, mas acho que vou viver 120 anos, então alguém que vai viver muito precisa ter muita força porque, caso contrário, a vida se tornaria chata. E eu sei porque estou aqui. Estou aqui condenado por um ex-juiz mentiroso (Sergio Moro); por um promotor mentiroso e desonesto (Deltan Dallagnol) e por alguns comissários que me armavam com causas mentirosas contra mim. Eu posso não estar aqui, eu poderia ter deixado o Brasil. Mas vim aqui porque tenho quatro pessoas que sabem a verdade sobre esses processos contra mim: eu, Deus, o juiz e os promotores. Eles sabem que mentem. E Deus e eu sabemos que estou com a verdade. É por isso que estou aqui. Estou aqui para provar minha inocência. Além disso, eu provei minha inocência, o que eu quero é que eles provem minha culpa. Quero e continuo esperando que alguém me culpe por alguma coisa. Estou esperando mostrem um dólar ganho desonestamente na minha vida. Na verdade, esse é o crime que cometi neste país, o de provar a uma elite brasileira politicamente desonesta, que é possível que as pessoas comam lombo e chouriço, que é possível que os pobres viajem para Bariloche, para Buenos Aires , para Miami de avião, que é possível que uma pessoa tenha uma casa, que seja possível que uma pessoa entre em uma universidade, que é possível que uma pessoa vá para uma escola técnica e que é possível que uma pessoa tenha acesso à cultura , à recreação, ao teatro, ao cinema, a um restaurante. Esse foi o crime que cometi. Gerar 22 milhões de empregos em branco. Aumentar o salário mínimo em 75%. Disponibilizar 52 milhões de hectares de terra para fazer a reforma agrária. Fazer o maior programa de história nacional do Brasil e fazer amizade com todos os países da América do Sul. Foi o momento de cordialidade. Foi o momento em que não tivemos disputas. Foi o momento em que sonhamos: Kirchner, Lula, Chávez, Rafael Correa, Tabaré, Pepe Mujica e sonhamos em construir um forte bloco econômico, tecnologicamente desenvolvido para poder promover a exportação de produtos de valor agregado e não apenas de mercadorias.
– E o que aconteceu com esse sonho?
– E ainda tenho esse sonho e é por isso que tenho força. Porque ainda quero estar vivo e quero ajudar a derrotar todas essas pessoas más, que não gostam dos pobres, que apenas governam para o mercado. Aqui no Brasil, há um ano, não se fala em emprego, não se fala em salários, não se fala em renda. Fala-se apenas de privatização e redução da máquina pública. Então, minha vontade de lutar é como se eu tivesse 20 anos. Aqui e fora do país. E acho que eles têm medo de me deixar ir, porque sabem que quando me deixam ir, vou para a rua. Eu vou para a rua Eu quero ir até a porta da Rede Globo de Televisão e negar. Há dez anos, ele conta mentiras sobre mim. Quero fazer um debate com o canalha do juiz que me julgou e o promotor que me acusou. Então é por isso que tenho força.
– Sua liberdade depende da justiça, você confia na justiça e nas instituições brasileiras em geral?
– Eu poderia fazer uma pergunta e é uma pergunta que faço a mim mesmo todos os dias. No dia em que parar de acreditar na justiça, fico imaginando o que vou fazer. Não é porque um juiz tenha sido um canalha, não é porque um promotor tenha sido um canalha, você deve julgar toda a justiça por causa desse erro. O problema é que espero, com muita calma, que o Supremo Tribunal tome uma decisão. Eu tenho dois habeas corpus que precisam votar. Há uma grande pressão da imprensa brasileira, especialmente da Rede Globo de Televisão, para que o Lula não saia da prisão. Porque o grande problema da operação de Lava Jato é que ela deixou de ser uma operação de investigação de corrupção e se tornou um partido político. Ou seja, existe um pacto entre a mídia e a operação Lava-Jato. Todas as mentiras que Lava-jato conta, Eles são realmente transformados na imprensa brasileira. Nas três revistas nacionais, nos grandes jornais, a Lava-Jato tinha um jornalista em cada jornal, em cada revista que recebia preferencialmente as informações antes dos advogados de defesa. E isso ainda continua. Vocês acompanham na Argentina as revelações do blog Intercept, que descobriu tudo o que está podre na Lava jato. Para a grande imprensa brasileira, não há Intercept. Nenhuma denúncia feita por Glenn (Greenwald, jornalista da Intercept) é relatada na grande imprensa. Agora, no domingo, houve uma denúncia muito séria das mentiras dos promotores, do comissário de polícia, do juiz Moro, sobre o fato de que eu aceitei ser ministro de Dilma. A mentira é a coisa mais séria até agora e a Rede Globo não disse nada. A Record não disse nada. O SBT não disse nada. Ou seja, a imprensa não consegue se destacar do Lava-Jato porque, quando Lula é libertado, uma parte do Lava-Jato perde credibilidade. Porque até agora eles só contavam mentiras. E estou com muita sede, querendo, em liberdade, questionar a credibilidade dessas pessoas. É por isso que acredito na justiça.
-O que você acha que estava errado se tivesse que fazer uma autocrítica à sua gestão? E o que consertaria isso?
– Aqui no Brasil tem algo na moda, todo mundo quer que o PT faça uma autocrítica. É impressionante. Eles governaram por 500 anos, o PT apenas 13 anos, apenas o PT fez mais do que eles. Para se ter uma ideia, em oito anos de governo, fui o presidente que criou mais universidades na história do Brasil. Colocamos mais estudantes na universidade, em 12 anos, mais estudantes do que em um século. Então, se eu tivesse que fazer uma autocrítica, olhava no espelho e dizia: “Lula, por que você não fez mais? Por que você não melhorou mais o salário das pessoas? Por que você não fez mais universidades? Por que você não gerou mais empregos? Por que você não fez mais pela reforma agrária? ”Essa era a autocrítica que eu faria. Faça mais, mais e mais, porque só assim vamos criar um povo com um padrão de vida decente.
– Como pode ser desmontada essa coalizão entre mídia e justiça para gerar tais golpes institucionais?
– Nunca fui almoçar ou tomar café da manhã com o dono de um jornal, uma estação de televisão para pedir um favor. A única coisa que quero e exijo é que elas existam para informar bem a sociedade, para não mentir para você, para não mentir. E no Brasil muitas mentiras foram construídas. Se você levar em consideração que as principais notícias televisivas do Brasil, segundo pesquisa feita por um professor da Universidade Federal de Minas Gerais, em pouco mais de um ano, são 80 horas nas principais notícias desta televisão. , falando mal de Lula. E, ao mesmo tempo, ele tem mais de 100 horas, transformando um juiz mentiroso em um herói. Quero dizer, eles pensaram que a mentira ia ganhar. E estou aqui para lhe dizer: a verdade vencerá, o que for preciso, tarde o que for preciso, Mas o povo brasileiro saberá a verdade e que as pessoas que me acusaram não têm moral. Eles usaram a justiça para fazer política e o objetivo principal era impedir que Lula se tornasse presidente da República deste país. E que o PT não pode mais vencer as eleições. É isso, o mesmo ódio que tiveram com Kirchner e com Cristina.
– Você se vê de novo Presidente?
.- Estou ciente de que meu papel agora é contribuir para que outras pessoas, mais jovens que eu, com mais energia que eu, com mais entusiasmo que eu … Com mais desejo, não acredito. Mas outras pessoas, o Brasil tem pessoas muito boas. Existem vários governantes interessantes, há novas pessoas na política. Espero que o Brasil não precise de mim. Espero que tenhamos novos quadros, novas mulheres, novos homens para participar de um processo eleitoral.
*Do Página 12