Lula precisa conquistar menos votos do que Jair Bolsonaro.
De acordo com o Valor Econômico, diante do retrato apresentado pelas urnas no domingo (2), o Eurasia Group reduziu as apostas na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República, de 70% para 65%. É que a distância entre o petista e o segundo colocado, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição, foi menor que o esperado na disputa do primeiro turno das eleições.
Lula teve 48,4% dos votos e Bolsonaro, 43,2%, uma distância de cinco pontos em comparação à média dos levantamentos de intenção de votos, que mostravam o petista com média de 8 a 10 pontos à frente. Apesar disso, a consultoria reafirma Lula como favorito numa corrida eleitoral mais “apertada” no segundo turno.
Ademais, em caso de vitória, o petista terá menos “margem de manobra” no Congresso Nacional após os resultados das urnas para senadores e deputados.
“[Lula é favorito] Não apenas porque ele superou Bolsonaro em cinco pontos e estava perto da maioria absoluta, mas porque sua liderança no segundo turno provavelmente crescerá em 1 a 2 pontos, dada a divisão dos candidatos restantes”, diz a análise assinada por Christopher Garman, diretor para as Américas do Eurasia Group, e outros executivos da empresa.
Lula continua como favorito na avaliação da Eurasia, porque, embora as pesquisas subestimassem o apoio a Bolsonaro, elas não estavam tão erradas quanto à parcela de votos do candidato da esquerda. O percentual obtido pelo PT dos votos válidos está próximo do que a maioria das pesquisas previam (a média foi de 47% – 48%).
Segundo a análise, a campanha de Lula terá de buscar apenas 1,6% dos 8% de eleitores que apoiam candidatos da chamada terceira via para empurrá-lo para mais de 50%. Na leitura do Eurasia Group, 8% do eleitorado que votou em outros candidatos vão “rachar” um pouco a favor de Lula.
Herança de votos
“Simone Tebet, que recebeu pouco mais de 4% dos votos, por exemplo, deve ser favorável a Lula”, diz o texto, sobre a candidata do MDB. Já os apoiadores de Ciro Gomes (PDT), que encerrou a noite com 3% dos votos, podem se dividir uniformemente, e os 1% restantes de Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D’Avila (Novo) tendem a migrar para Bolsonaro, avaliam os especialistas.
Assumindo uma divisão de 60/40 desta votação a favor de Lula, reitera a análise, o quadro pode indicar que as pesquisas de segundo turno publicadas no início desta semana mostrem Lula com 53% dos votos contra 47% para Bolsonaro, projeta o Eurasia. “Mesmo que Bolsonaro consiga 70% dos votos restantes dos outros candidatos — uma suposição otimista — ele ainda ficaria aquém de uma vitória no segundo turno, pois chegaria a 49%”.
O cenário sugere, dizem os analistas, que, para vencer, Bolsonaro terá que convencer os eleitores que apoiaram Lula no primeiro turno a mudar seus votos. “Lula parece mais forte na questão principal desta eleição, uma mistura de preocupações sociais e econômicas”, diz ainda a análise.
Uma das razões pelas quais o Eurasia Group nunca reduziu as chances de Bolsonaro vencer para muito abaixo de 30% vem da aprovação do governo. De acordo com dados de mais de 300 eleições coletadas pela Ipsos Public Affairs, governantes com 40% de aprovação antes da campanha — foi caso de Bolsonaro — tendem a ganhar pouco mais da metade das eleições.
Ademais, é positivo para o atual presidente que a economia esteja melhorando, e ele terá mais quatro semanas para tornar mais eficaz sua mensagem na campanha, apresentando um conjunto mais robusto de propostas para combater a desigualdade social e o alto custo de vida. Lula também teria que cometer alguns erros, o que é “improvável, mas possível”, diz a análise.
Um desempenho melhor do que era esperado dos partidos de direita que apoiam Bolsonaro nos Estados e no Congresso terá repercussões políticas a um eventual governo Lula. Segundo a consultoria, é fator que trará mais dificuldades para a aprovação de medidas que aumentem impostos — o que já seria difícil —, o que, por sua vez, acaba por moderar algumas das ambições políticas de eventual governo petista.
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