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Jamil Chade narra as mazelas de Eduardo Bolsonaro

O senhor sabe, assim como seu pai, de que lado estão.

Nos últimos dias, o senhor zombou de alguém que foi alvo de tortura promovida pelo Estado numa prisão durante a ditadura militar. Não foi a primeira vez que sentimos nojo das obscenidades de seu clã.

Mas, muito além de provocar repúdio ou asco, o que o senhor fez foi uma violação das obrigações internacionais assumidas pelo Brasil e, muitas delas, ratificadas pelo Congresso do qual o senhor faz parte.

Uma das obrigações que o Estado assumiu foi dar garantias de que atos como o dos Anos de Chumbo não voltem a ocorrer. O seu discurso, porém, legitima e habilita aqueles que desejam cometer novas violações.

Mas ela não é a única obrigação violada. Com tal postura, o senhor sinaliza que o Estado deve renunciar ao dever de prevenir futuras violações de direitos humanos, entre elas a tortura.

Uma terceira obrigação violada é o compromisso do Estado de preservar a memória dos períodos mais sombrios vividos pela sociedade.

E, por fim, em cada frase do senhor ou de seu pai, há uma nova violação dos direitos humanos das vítimas, submetendo cada uma delas a um tratamento desumano.

Tudo isso está documentado internacionalmente, como o senhor sabe. Afinal, já presidiu a Comissão de Relações Exteriores da Câmara e sabe fritar hambúrguer.

Mas não custa repetir. O item 2 dos Princípios para a Proteção e Promoção dos Direitos Humanos através de Ações de Combate à Impunidade estabelece o direito inalienável de todas as pessoas de conhecerem a verdade sobre eventos passados relativos à perpetração de crimes hediondos e sobre as circunstâncias e razões que levaram a eles.

Já o princípio 3 estabelece o dever dos Estados de preservar a memória sobre essas violações e sua responsabilidade na transmissão de tal história.

Ele ressalta que “o conhecimento do povo sobre a história de sua opressão faz parte de seu patrimônio e, como tal, deve ser assegurado por medidas apropriadas no cumprimento do dever do Estado de preservar arquivos e outras evidências relativas às violações dos direitos humanos […] e de facilitar o conhecimento dessas violações”.

Tais medidas devem visar “preservar a memória coletiva da extinção e, em particular, proteger-se contra o desenvolvimento de argumentos revisionistas e negacionistas”.

O senhor obviamente deve estar pensando que passará impune, já que tanto o senhor seu pai como seus lacaios ministros seguem a mesma mentira sobre os acontecimentos de 1964.

Cada vez que os senhores optam por condecorar um torturador, emprestam a bandeira nacional para que esses criminosos limpem as mãos repletas de sangue. É isso que chamam de patriotismo?

Cada vez que usam seus cargos e imunidades para fazer apologia à dor, vemos em nossas almas o verde e amarelo se transformar nas cores do luto e da angústia.

Cada vez que os senhores tentam reescrever o passado, sabemos que é o nosso futuro que está ameaçado.

Nestes últimos três anos, as lágrimas que vocês nos deram foram engolidas com a força de algo que os senhores desconhecem: dignidade.

Com uma arma que vocês não terão onde comprar: o respeito.

Não tememos seu exército de robôs e nem as milícias que patrulham nossas esperanças.

Insisto: entre o humano e desumano, o mundo e a história sabem de que lado vocês estão.

O desprezo que regimes democráticos têm por vocês não se mede apenas pela indecência de celebrar a dor e a morte alheia. O gesto imoral foi também uma violação das obrigações internacionais assumidas pelo país.

Não, o presidente de uma democracia não tem o direito de prestar homenagem a um ditador ou a um torturador. O que pensar de um presidente que olha para aqueles que suprimiram a democracia com admiração?

Não, o senhor não tem o direito de zombar de uma vítima da tortura do estado.

Num governo que profana a República, seu clã amplia e traduz em política, quase cem anos depois, o poema teatralizado no qual o general Millán Astray bradaria em uma cena o lema “Viva a Morte!”.

A história não os perdoará. E nem a Justiça.

Saudações democráticas,

Jamil Chade

*Com Uol

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Bolsonaro quer vetar “omissão” de lista de violações internacionais

O governo de Jair Bolsonaro tenta retirar de um novo tratado internacional o termo “omissão” da lista de violações. O UOL obteve com exclusividade documentos internos do processo negociador de um novo acordo que define o conceito de vítimas de abusos de direitos humanos cometidos por empresas.

Trata-se da elaboração de um tratado sobre a responsabilização de empresas, num processo que já entra em sua sétima rodada de negociações na ONU a partir desta semana. O processo tem como meta criar um acordo com um poder legalmente vinculante.

O gesto brasileiro ocorre no momento em que o governo é acusado de omissão na gestão da pandemia da covid-19.

Até 2016, os diferentes governos brasileiros apoiavam o projeto. Já no governo de Michel Temer, o Itamaraty deixou de ser um dos promotores do projeto. Mas, agora, optou por minar a força do tratado.

Num dos trechos, o rascunho da proposta original previa a definição de quem pode ser considerado como vítima de abusos e violações de direitos humanos cometidos por empresas. Pelo texto de base apresentado pela presidência da negociação, entendia-se vítima como aquele que “sofre danos que constituem abusos de direitos humanos, por meio de atos ou omissões no contexto de atividades de empresas”.

Numa emenda apresentada pelo Brasil, porém, a palavra “omissão” foi vetada. O texto proposto pelo governo Bolsonaro, assim, sugere que vítima seja apenas aquele “sofre danos que constituem abusos de direitos humanos, por meio de atos no contexto de atividades de empresas”.

Observadores interpretaram o veto como um esforço do governo em esvaziar qualquer tipo de pressão que possa ser feita contra empresas por omissão, seja em acidentes de barragens ou pandemia.

Uma segunda proposta brasileira ainda limita o conceito de vítima. O texto original apresentado pela ONU sugere que “vítima significa qualquer pessoa ou grupos de pessoas que individualmente ou coletivamente tenha sofrido dano que constitui abusos de direitos humanos”.

Com isso, povos indígenas ou comunidades afetadas não podem se apresentar como sujeitos ou como vítimas.

Ao lado ainda de México, Chile e Panamá, o governo brasileiro sugere que não se fale que empresas tenham a “obrigação de respeitar direitos humanos internacionalmente reconhecidos”. No lugar da palavra “obrigação”, o grupo sugere apenas que empresas tenham a “responsabilidade de respeitar direitos humanos”.

Ainda num outro trecho da negociação, o Brasil sugere a retirada de uma referência à Convenção 190 da OIT sobre a eliminação de violência e assédio no mundo do trabalho.

Procurado, o Itamaraty não respondeu aos pedidos do UOL por esclarecimentos sobre a postura adotada nas negociações.

“As intervenções do Brasil na 7ª sessão parecem ser de um advogado das grandes corporações e não de um pais que perdeu 270 vidas por responsabilidade da Vale, uma transnacional)”, disse a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e que viajou até Genebra para acompanhar as negociações.

“Ora para desidratar completamente o tratado tirando a omissão das empresas e a expressão vítimas coletivas, ou seja, comunidades inteiras atingidas pelos impactos, ora pedindo para tirar referências de gênero”, disse.

“O ponto mais gritante foi a tentativa de retirar no artigo 2 as obrigações para as empresas transnacionais. Na prática, a posição do Brasil sob gestão do governo Bolsonaro é acabar com o tratado. Indigna, mas não surpreende, vindo de um governo que tem o presidente indicado por 9 crimes na gestão da pandemia, incluindo crimes contra a humanidade”, completou.

*Jamil Chade/Uol

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Vídeo: Relatório diz que norte-americanos financiam violações dos direitos indígenas na Amazônia

Um relatório da APIB e Amazon Watch revela que existe uma rede internacional diretamente ligada a empresas implicadas em violações de direitos humanos no Brasil.

Um relatório da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e a Amazon Watch revela que existe uma rede internacional diretamente ligada a empresas implicadas em violações de direitos indígenas e conflitos nos seus territórios, no Brasil.

O relatório, intitulado “Cumplicidade na Destruição III- Como corporações globais contribuem para violações de direitos dos povos indígenas da Amazónia Brasileira”, mostra que seis instituições financeiras norte-americanas (BlackRock, Citigroup, JP Morgan Chase, Vanguard, Bank of América e Dimensional Fund Advisors) investiram mais de 18 mil milhões de dólares, entre 2017 e 2020, em empresas cujo objetivo é o envolvimento em invasões, desmatamento e violações dos direitos dos indígenas da Amazónia.

A estratégia foca-se em três setores estratégicos: a mineração, o agronegócio e a energia. Alguns das situações de conflito são as que envolveram as empresas de mineração Vale, Anglo American e Belo Sun; empresas do agronegócio como a Cargill, JBS e a Cosan/Raízen; ou empresas da área energética como a Energisa Mato Grosso, Equatorial Energia Maranhão e Eletronorte. Os estados abrangidos foram o Pará, Maranhão, Mato Grosso, Amazonas e Roraima.

O advogado da APIB, Eloy Terena, refere que “o fluxo de investimentos estrangeiros para empresas que atuam no Brasil se expandiu em uma intrincada rede internacional. Na cadeia desses projetos, os povos indígenas são tratados muitas vezes como um «entrave para o desenvolvimento», e as suas terras são invadidas, ocupadas, saqueadas e destruídas”.

Para Eloy Terena, “esses conflitos materializam-se na pressão pela abertura de novas frentes de exploração nos territórios indígenas, levando a ataques diretos de grileiros e outros invasores, junto com o sistemático desrespeito à legislação que protege as terras e direitos indígenas”.

Segundo dados da APIB e da Amazon Watch, a maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock, possui investimentos em 9 das 11 empresas identificadas no relatório. Só a BlackRock detém 8,2 mil milhões de dólares em ações e títulos de empresas como a Vale, Cargill, JBS ou Energisa.

Mesmo com as medidas adotadas no início do ano para evitar investimentos que ataquem o ambiente e o clima, a BlackRock não tem aplicado estas diretrizes e continua a atacar os povos indígenas do Brasil. A empresa norte-americana também não se tem comprometido a pressionar as empresas brasileiras para acabar com o desmatamento da Amazônia.

A segunda maior gestora de ativos, a Vanguard, detém ações e títulos em 8 das 11 empresas do relatório, num total de 2,7 mil milhões de dólares. Inclusive, o investimento da JP Morgan Chase tem um Marco de Política Socioambiental que inclui um compromisso específico com a proteção dos direitos dos indígenas, mas não é cumprido.

Christian Poirier, diretor de programas da Amazon Watch, refere que “as investigações realizadas apontam que grandes empresas do setor financeiro como a BlackRock, Vanguard ou JP Morgan Chase estão usando o dinheiro dos seus clientes para permitir ações hediondas de empresas ligadas a violações de direitos indígenas e à devastação da floresta amazônica” e acrescenta que “esta cumplicidade do setor financeiro com a destruição contradiz os compromissos com o clima e os direitos humanos apregoados por algumas dessas empresas”.

Em 2019, a Enersiga Mato Grosso foi indiciada pelo Ministério Público Federal por fornecer eletrificação rural a posseiros ilegais que vêm promovendo invasões em território indígena Urubu Branco, desde 1998.

Por sua vez, a empresa de mineração Belo Sun tem 11 processos de pesquisa em análise na Agência Nacional de Mineração que ameaçam diretamente as terras indígenas Arara da Volta Grande do Xingu e Trincheira Bacajá, no Pará. Também a Vale tem centenas de requerimentos para explorar dentro de terras indígenas, como por exemplo no Rio Pindaré, Mãe Maria, Xikrin e Arariboia.

https://youtu.be/nwr002sLVm0?t=145

 

*Com informações do Diálogos do Sul

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