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The Washington Post: A Amazônia está queimando. Bolsonaro diz que seus críticos estão ateando fogo para fazê-lo parecer ruim; assista ao vídeo

Os sinais de crise estão por toda parte. São Paulo, a maior cidade do hemisfério ocidental, foi coberta por um manto de fumaça esta semana que transformou o dia em noite. A campanha viral #PrayfortheAmazon está cruzando as mídias sociais. E uma das principais agências de pesquisa do governo apontou que as taxas de desmatamento na Amazônia estão disparando – juntamente com a taxa de incêndios florestais.

Mas o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o homem capaz de estancar a crise que se desdobra na Amazônia, não apenas ignora o problema. Ele está sugerindo que está sendo encenado para fazê-lo parecer mal.

Perguntado esta semana sobre os incêndios na floresta mais preciosa do mundo – a área

queimada mais do que dobrou nos últimos dois anos –, ele acusou organizações não-governamentais de promovê-las, para “chamar a atenção” contra seu governo.

“O incêndio foi iniciado, aparentemente, em locais estratégicos”, disse ele. “Existem imagens de toda a Amazônia. Como pode ser? Tudo indica que as pessoas foram lá filmar e depois atear fogo. Esse é o meu sentimento”.

Isso acontece semanas depois de ele acusar o diretor de uma agência do governo que monitora a Amazônia de mentir sobre o aumento do desmatamento – e demiti-lo. Ele também se envolveu em uma discussão pública com a Alemanha e a Noruega , que cortaram a ajuda à Amazônia devido às suas políticas.

As controvérsias se tornaram não apenas uma grande distração política, sendo criticadas por alguns dos mais proeminentes cientistas do país. Eles também representam uma ameaça mortal à posição do Brasil como líder global no meio ambiente.

E por causa do que está acontecendo lá.

Bolsonaro concorreu ao cargo no ano passado, em parte, com a promessa de abrir a Amazônia para os negócios. O desmatamento aumentou desde que ele assumiu o cargo, no início do ano. Só em julho, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Amazônia perdeu 2.253 quilômetros quadrados de floresta – mais da metade do tamanho de Rhode Island.

destruição e o contato humano dentro da floresta estão tornando o que antes parecia impossível – incêndios na floresta tropical – agora é possível. A área nas regiões amazônicas do Brasil, destruída pelo fogo, mais do que dobrou em dois anos, de 8.250 quilômetros quadrados nos primeiros sete meses de 2017 para 18.627 quilômetros quadrados no mesmo período deste ano, informou o instituto espacial.

A floresta amazônica serve como pulmão do planeta, absorvendo dióxido de carbono, armazenando-o nos solos e produzindo oxigênio. Os cientistas concordam que é uma das maiores defesas do mundo contra as mudanças climáticas.

No Brasil, a Amazônia sofreu 74.155 incêndios desde janeiro, informou o instituto de pesquisa espacial. Isso é 85% maior do que em 2018 e significativamente maior do que os 67.790 em chamas em 2016, quando houve severas condições de seca na região associadas ao forte evento El Niño.

Fazendeiros e outros queimam a floresta para limpar a terra e manter o espaço aberto. Bolsonaro, tentando tirar o país de anos de estagnação econômica, está incentivando o desenvolvimento da região.

Mas Carlos Nobre, um dos principais cientistas do Brasil, diz que a atividade causará ainda mais danos.

“Nós fazemos uma brincadeira que a floresta está se tornando como queijo suíço, com (…) estradas e coisas atravessando na floresta ”, disse ele. “E isso se torna mais vulnerável e degradado (…) E quanto mais a floresta se torna degradada, mais se tornará vulnerável a incêndios florestais”.

Esses incêndios, alimentados por ventos vindos de uma frente fria, produziram cenas nesta semana que foram ao mesmo tempo surpreendentes e ameaçadoras: a fumaça escurecendo os céus do meio-dia sobre São Paulo e outras cidades. O dia se tornou noite, levando a confusão difusa – e muitas piadas.

“Apocalipse!”, chorou uma pessoa no Twitter.

“O julgamento final está chegando!”, acrescentou outro.

“Mordor!”, disse uma pessoa.

O humor desmentia uma realidade sombria: a centenas de quilômetros de distância, a Amazônia estava queimando.

“É preocupante que os incêndios florestais tenham sido evidenciados em um ano que não é de seca extrema”, disse Philip Fearnside, ecologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

Incêndios florestais são comuns no Brasil – mas não a esse ritmo, disse Vitor Gomes, cientista ambiental da Universidade Federal do Pará.

“Não me lembro de nenhum outro grande incêndio como este”, disse ele. “Também está sobreposta com o aumento do desmatamento. Atribuir todo o episódio a causas naturais é praticamente impossível ”.

O contraste entre as alegações de Bolsonaro e o que a ciência diz tem pesquisadores preocupados em como proteger um dos recursos mais importantes do mundo. Cientistas alertam que a Amazônia está se aproximando de um ponto crítico, no qual o dano causado à floresta pode se tornar irreversível.

“Qualquer um pode ir ao [instituto de pesquisa espacial] e ver os alertas de incêndio por toda parte”, diz Ricardo Mello, chefe do Programa Amazônia do Fundo Mundial para a Natureza. “Você pode ver que eles são reais – eles são vistos por câmeras infravermelhas. Não há como negar isso. É muito ingênuo para ele dizer que isso não está acontecendo”.

Marina Lopes, em São Paulo, e Andrew Freedman, em Washington, contribuíram para este texto.

Terrence McCoy é correspondente do The Washington Post no Brasil

*Publicado originalmente no The Washington Post | Tradução de Olimpio Cruz

 

*Da Carta Maior

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