Ano: 2019

Rosângela Moro, esposa de Moro, agora é parceira de Michelle Bolsonaro, aderindo ao clã Bolsonaro

Rosângela abraça o projeto de Michelle Bolsonaro como forma de sobrevivência. A presença dela no conselho do programa Pátria Voluntária reforça a aproximação do “morismo” com o “bolsonarismo” em um momento de crise pela Vaza Jato.

Rosângela Moro, esposa do ministro da Justiça licenciado Sérgio Moro, está confirmada como integrante do Conselho do Programa Nacional de Incentivo ao Voluntariado Governo Federal, que será encabeçado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro. A presença de Rosângela reforçou uma aproximação do “morismo” com o “bolsonarismo”.

O conselho faz parte do programa Pátria Voluntária, que busca aumentar o trabalho voluntário no país e surge como sucessor do Viva Voluntário, de Michel Temer, que teve participação da então primeira-dama, Marcela. Com 12 ministros e 12 representantes da sociedade civil, o conselho é formado apenas por escolhidos de Bolsonaro.

A entrada de Rosângela no conselho como “representante da sociedade civil” demonstra que a estratégia de Sérgio Moro de se afastar do eixo mais conservador do bolsonarismo foi derrubada após a divulgação do Vaza Jato, que o deixou na corda-bamba. Rosângela abraça o projeto de Michelle como forma de sobrevivência. Pelas redes sociais, ela postou uma foto dos conselheiros, sem grandes comentários.

Além de Rosângela e Michelle, integram o conselho a cantora Elba Ramalho, o velejador Lars Grael e a irmã de Paulo Guedes, Elisabeth Guedes. Elisabeth ocupa a vice-presidência da Associação Nacional das Universidades Particulares e é vista como uma forte lobista das universidades pagas no governo.

Lista com todos os membros:

Ministros

Damares Alves – Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
Abraham Weintraub – Educação
Fernando Azevedo e Silva – Defesa
Luiz Eduardo Ramos – Secretaria de Governo
Luiz Henrique Mandetta – Saúde
Marcos César Pontes – Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
Onyx Lorenzoni – Casa Civil
Osmar Terra – Cidadania
Paulo Guedes – Economia
Ricardo Salles – Meio Ambiente
Sergio Moro – Justiça e Segurança Pública
Wagner Rosário – CGU

Sociedade Civil

Elba Ramalho – cantora
Elizabeth Guedes – ANUP
Fabio Silva – Plataforma Transforma Brasil
Israel Aron – Cyrella
James José Martins de Souza – Instituto Legado
Maria Helena Johannpeter – Parceiros Voluntários
Miguel Tortelli – Amor Exigente
Raul Cutait – Fiesp
Ricardo Paes de Barros – Instituto Ayrton Senna
Rosângela Moro

 

*Com informações da Forum

Ações de Moro na “lava jato” são “maré de ilegalidades”, defendem magistrados

Ex-presidentes da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) divulgaram nota pública criticando a relação entre Sergio Moro e os procuradores da operação “lava jato” em Curitiba.

Segundo os signatários da carta, os diálogos revelados pela imprensa entre o então juiz e os acusadores são uma “verdadeira maré montante de ilegalidades” que atinge a honorabilidade e a imparcialidade da magistratura.

“Magistrados comprometidos com os deveres do cargo, com o devido processo legal, com a ética e com a democracia têm a obrigação de não aceitar condutas como as traduzidas nas conversas reveladas por esses órgãos de imprensa — cujos teores, convém registrar, são de elevadíssima verossimilhança”, afirmam.

Para os juízes, trata-se de atitudes que constrangem “qualquer pessoa medianamente bem informada” e que colocam na berlinda todo o Poder Judiciário e o Ministério Público como instituições fundamentais à democracia e ao Estado de Direito.

A manifestação é assinada por Germano Siqueira (juiz da 3ª Vara do Trabalho de Fortaleza e ex-presidente da Anamatra), João Ricardo Costa (juiz da 16ª Vara Cível de Porto Alegre e ex-presidente da AMB), Grijalbo Fernandes Coutinho (desembargador do TRT-10 e ex-presidente da Anamatra), José Nilton Ferreira Pandelot (juiz da 1ª Vara do Trabalho de Juiz de Fora e ex-presidente da Anamatra), Gustavo Tadeu Alkmim (desembargador do TRT-1 e ex-presidente da Anamatra) e Hugo Cavalcanti Melo Filho (juiz da 12ª Vara do Trabalho do Recife e ex-presidente da Anamatra).

Clique aqui para ler a manifestação

*Do Conjur

Filho de Fux advoga para o clã Bolsonaro

A empresários, próximo presidente do STF fez discurso com tom político e pró-agenda bolsonarista.

Em abril de 2016, Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), falou com o procurador Deltan Dallagnol e prometeu apoio à Operação Lava Jato. “In Fux we trust”, comemorou na época o então juiz Sérgio Moro, em mensagem a Dallagnol. Chefe do hoje ministro da Justiça, Jair Bolsonaro pode dizer o mesmo que Moro daquele que assumirá o comando do STF em setembro de 2020.

Em palestra a investidores e analistas do mercado financeiro em 5 de julho, Fux defendeu a agenda econômica do governo como se fosse um militante bolsonarista, não alguém que poderá ter de julgar ações judiciais contra essa agenda. Reformas da Previdência e tributária, mais mudanças nas leis trabalhistas e privatizações foram ideias que professou diante da plateia patronal.

Um setor patronal financiador da eleição ao Senado de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o primogênito do presidente, está na lista de clientes do advogado Rodrigo Fux, um dos filhos do juiz do STF. Rodrigo é advogado do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), que defende os práticos, categoria que é uma espécie de guia para navio “estacionar” em portos.

Na eleição de 2018, vários dirigentes de empresas ou entidades de praticagem doaram dinheiro para Flávio. Gustavo Martins, presidente do Conapra, deu 10 mil reais. Idem Evandro Simas Abi Saab, da Praticagem da Barra, e Dhyogo Henryque Scholz dos Santos, da Baía do Marajó Serviços de Praticagem. Moacyr Antonio Moreira Bezerra, da Federação dos Práticos, deu 55 mil reais.

Há no Superior Tribunal de Justiça (STJ) uma ação de interesse do setor, movida por empresas contratantes de praticagem que acham que pagam preços abusivos. Essa ação pode um dia chegar ao STF, para julgamento por Fux e os outros dez juízes.

“É possível que alguns temas da reforma da Previdência tenham sua constitucionalidade submetida ao julgamento perante a Corte máxima do país. Isso revela que não se deve assumir publicamente compromissos com uma reforma de tal porte.” Palavras da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), em nota no fim de maio, a criticar a intenção do atual presidente do STF, Dias Toffoli, de selar um pacto com Bolsonaro e o Congresso, até hoje não assinado, do qual a reforma fazia parte.

Fux, o sucesso de Toffoli, não quer nem saber. Já tem opinião formada a respeito da reforma. “Ela tem de passar”, afirmou no discurso a investidores, um evento promovido pela XP Investimentos. “As pessoas têm que ter amor ao Brasil, amor à coisa pública, não fazer oposição que seja prejudicial ao País.”

Sobre mexer nos impostos, Fux disse: “Tributos não podem derrotar as empresas”. Bolsonaro acha um inferno ser patrão no Brasil, devido a custos com impostos e funcionários. Fux bateu nas leis trabalhistas também.

Para o juiz, a agenda bolsonarista levará o País ao paraíso. “O Brasil vai crescer muito depois das privatizações, das reformas, da abertura do mercado de gás, dessa junção Mercosul-União Europeia.”

O futuro presidente do STF é judeu, outro tema a aproximá-lo de Bolsonaro. Seu filho Rodrigo é diretor jurídico da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj). É dele uma ação movida pela entidade contra um chargista do jornal carioca O Dia. Motivo da ação: Aroeira desenhou Bolsonaro e o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, de braços dados em formato da suástica nazista.

No discurso aos empresários em 5 de julho, Fux garantiu que a Lava Jato continuará. “E essa palavra não é só de um brasileiro que ama o Brasil. Essa palavra é de quem no ano que vem assume a presidência do Supremo Tribunal Federal. Os senhores podem me cobrar.”

O governo está certo: “In Fux we trust”.

 

*Da Carta Capital

Morre o jornalista Paulo Henrique Amorim; último vídeo

O jornalista Paulo Henrique Amorim morreu na manhã desta quarta-feira (10) aos 77 anos após um infarto no Rio de Janeiro.

O jornalista Paulo Henrique Amorim morreu na manhã desta quarta-feira (10) aos 77 anos no Rio de Janeiro, após um infarto.

PHA estava na Record TV desde 2003. Também foi afastado do Domingo Espetacular da Record, após pressão do governo Jair Bolsonaro. PHA entrou com ação na Comissão de Direitos Humanos da ONU denunciando cerceamento à sua liberdade de expressão.

O jornalista passou por emissoras como TV Manchete, TV Globo, TV Bandeirantes, onde apresentou o Jornal da Band, e TV Cultura.

No último vídeo em seu canal, PHA denunciou o uso político do futebol por Jair Bolsonaro. PHA deixa uma filha e a mulher, Geórgia Pinheiro.

Assista ao seu último vídeo

 

*Com informações do 247

Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao liberar dinheiro para compra de votos, diz Freixo

Na ânsia de comprar votos dos deputados para aprovação da reforma da Previdência, Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao liberar o dinheiro sem a aprovação do Congresso. “O Psol está analisando as medidas que serão adotadas”, é o diz o deputado do Psol-RJ Marcelo Freixo.

O governo liberou quase R$ 1 bilhão em emendas parlamentares vinculadas à área de saúde às vésperas do início da votação da reforma. O desembolso de R$ 920,3 milhões foi publicado em 34 portarias de uma edição extra do Diário Oficial da União.

Em seu twitter, o deputado Marcelo Freixo informou:

 

*Com informações do 247

 

Caso Venezuela: a Lava Jato é uma articulação internacional, por Gilberto Maringoni

“A Lava Jato passa a realizar – tacitamente ou não – um trabalho em linha com quem busca desestabilizar o governo venezuelano”, escreve o colunista Gilberto Maringoni; “Trama-se ali uma diplomacia paralela, violando frontalmente a Constituição”, diz ele, acrescentando que a operação é uma “articulação reacionária sem limites”.

Sob vários aspectos, as revelações feitas pelo Intercept neste domingo, 8, são as mais graves entre todas as trocas de mensagens que vieram à luz até aqui. Paradoxalmente, são as de menor impacto público.

O que desvendam tais diálogos virtuais? Que – ao buscar vazar delações sobre a ação da Odebrecht na Venezuela – a Lava Jato transformou-se numa organização de âmbito internacional, capaz de manipular e influenciar cenários políticos além fronteiras. E exibem, pela segunda vez, a cumplicidade de Fernando Henrique Cardoso com o grupo baseado em Curitiba.

A INTERVENÇÃO DE DELTAN DALLAGNOL, em 6 de agosto de 2017, expressa o que estava em jogo:

“Deltan – (…) Não vejo problema de soberania. E há justificativa para fazer qto à Venezuela e não outros pq destituiu a procuradora geral e é ditadura. (…) O propósito de priorizar seria contribuir com a luta de um povo contra a injustiça, revelando fatos e mostrando que se não há responsabilização lá é pq lá há repressão”.

O procurador evangélico demonstra saber dos problemas diplomáticos que tais decisões – vazar as informações – poderiam acarretar. Mas as justifica para “contribuir com a luta de um povo contra a injustiça”. Quem delegou a Dallagnol e seus comparsas a prerrogativa de agir como um templário togado ao arrepio da Constituição Federal? A Carta, como se sabe define o seguinte sobre o tema:

“Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

III – autodeterminação dos povos;

IV – não-intervenção”.

Os milicianos das araucárias não desconhecem tais cláusulas, que se originam nas formulações do Barão do Rio Branco, há mais de um século. A evidência está no seguinte diálogo de 5 de agosto de 2017, revelado pelo Intercept:

[procurador] Paulo [Galvão]– (…) Vejam que uma guerra civil lá é possível e qq ação nossa pode levar a mais convulsão social e mais mortes (ainda que justa ou correta a ação). Lá não é Brasil.(…) Não estou dizendo que sim ou que não, apenas que precisa ser refletido

Roberson [Pozzobon] – Caraaaaaca

Orlando [Martello] – (…) Não dá para abrir simplesmente o que temos. (…) Não dá para arriscar um descumprimento de acordo, inclusive com consequências cíveis de nossa parte, bem como da União. (…) A solução que vejo é fazer uma comunicação espontânea para o próprio país. No caminho isso certamente vazará em algum lugar, sem qq participação nossa. Isso posso fazer de imediato”.

A LAVA JATO PASSA a realizar – tacitamente ou não – um trabalho em linha com quem busca desestabilizar o governo venezuelano. Em português claro,soma-se à conduta do departamento de Estado dos EUA e aos serviços de inteligência daquele país. Repetindo: tacitamente ou não.

De forma explícita, trama-se ali uma diplomacia paralela, violando frontalmente a Constituição. A hesitação é tanta, diante da gravidade da iniciativa, que, a dada altura, os membros da força tarefa consultam o ex-presidente FHC. A tarefa cabe a Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil:

“Bruno – Estou num debate sobre Venezuela na Fundação FHC e queria comentar que a TI está defendendo, junto à FTLJ, que se abram processos extraterritoriais contra autoridades venezuelanas. (…) FHC veio conversar comigo no final e disse que é uma boa ideia”.

A TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL é uma espécie de UDN global, criada em 1993, logo após a queda dos regimes do Leste Europeu, em pleno período de unipolaridade estadunidense. A ONG tem como atividade-fim o combate à corrupção, sem levar em conta – aparentemente – contextos e condicionantes políticos. Em seu site, ela cita sua parceira preferencial por aqui:

“O Brasil assistiu nos últimos anos àquela que vem sendo provavelmente a mais impressionante onda de investigações e denúncias envolvendo corrupção na história do país. A operação Lava Jato ganhou manchetes no mundo inteiro e virou até marchinha de Carnaval (o hit de 2016 “Ai, meu Deus, me dei mal / Bateu à minha porta o japonês da Federal”). Bilhões de reais foram recuperados”.

As investigações sobre Sergio Moro devem ganhar, a partir dessas revelações, novos contornos. Não estamos apenas diante de uma ação que trabalhou em linha com setores da direita – mídia e capital financeiro – e da extrema-direita brasileiras. A Lava Jato é uma organização com ramificações internacionais e sem escrúpulo algum em suas iniciativas.

A Lava Jato mostra-se cada vez mais como o porão do bolsonarismo e ferramenta importante na consolidação de uma articulação reacionária sem limites. Não estamos diante de amadores e nem de caipiras deslumbrados.

 

*Por Gilberto Maringoni/247

Wadih Damous: Fux precisa vir a público esclarecer episódio escabroso

Ex-presidente da OAB-RJ, o ex-deputado federal Wadih Damous destaca que Deltan Dallagnol “tinha informação privilegiada sobre decisão de um ministro do STF, Luiz Fux, que precisa vir a público esclarecer mais esse episódio escabroso”. “E a pergunta que não quer calar: por que Dallagnol ainda não foi afastado?”, questiona Damous.

O ex-deputado federal pelo PT e ex-presidente da OAB-RJ Wadih Damous cobra um posicionamento do ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux após a divulgação do áudio do procurador Deltan Dallagnol pelo site The Intercept.

No áudio, Dallagnol celebra uma decisão de Fux que ainda não havia sido divulgada para ninguém e pede segredo aos colegas. Fux impediu, em setembro de 2018, que o ex-presidente Lula concedesse uma entrevista à jornalista Mônica Bergamo durante a campanha presidencial, para o procurador “uma notícia boa depois de tantas coisas ruins”.

 

*Com informações do 247

 

 

Urgente! Ouça: Intercept publica o áudio em que Dallagnol fala do impedimento por Fux da entrevista de Lula

E agora, Dallagnol, vai dizer que é mentira, que não é sua voz?

Há um mês, o Intercept iniciou uma série de reportagens que mudaram para sempre a história da operação Lava Jato, de seus procuradores e do ex-juiz e atual ministro de Jair Bolsonaro, Sergio Moro. Antes vistos como heróis intocáveis, os monopolistas do combate à corrupção (que tentavam silenciar qualquer voz que se levantasse para expor seus erros, abusos e ilegalidades) hoje são vistos de outra maneira pela população: 58% dos brasileiros acreditam que as conversas de Moro com procuradores são inadequadas. A desconfiança é ainda maior entre os jovens: na faixa etária de 16 a 24 anos, 73% não querem um país guiado pelo espírito justiceiro de Moro.

Em seus primeiros capítulos, as histórias dos arquivos secretos da Vaza Jato mostraram Moro atuando como chefe de fato dos procuradores, o que é ilegal; expuseram o coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol apresentando uma denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da qual ele próprio duvidava; e revelaram os procuradores da Lava Jato (incluindo Deltan) operando secretamente para evitar que Lula desse uma entrevista durante a campanha eleitoral por medo que pudesse ajudar a “eleger o Haddad”.

28 de setembro de 2018 – chat privado

Anna Carolina Resende – 11:24:06 – ando muito preocupada com uma possível volta do PT, mas tenho rezado muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve
Deltan Dallagnol – 13:34:22 – Valeu Carol!
Dallagnol – 13:34:27 – Reza sim
Dallagnol – 13:34:32 – Precisamos como país

A propósito disso, nós publicamos agora, pela primeira vez, um áudio da conversa entre os membros da força-tarefa a respeito da guerra jurídica em torno da entrevista. Na manhã do dia 28 de setembro de 2018, a imprensa noticiou que o ministro do STF Ricardo Lewandowski autorizara Lula a conceder uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Em um grupo no Telegram, os procuradores imediatamente se movimentaram, debatendo estratégias para evitar que Lula pudesse falar. Para a procuradora Laura Tessler, o direito do ex-presidente era uma “piada” e “revoltante”, o que ela classificou nos chats como “um verdadeiro circo”. Uma outra procuradora, Isabel Groba, respondeu: “Mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”

Eram 10h11 da manhã. A angústia do grupo – que, mostram claramente os diálogos, agia politicamente, muito distante da imagem pública de isenção e técnica que sempre tentaram passar – só foi dissolvida mais de doze horas depois, quando Dallagnol enviou as seguintes mensagens, seguidas de um áudio.

28 de setembro de 2018 – grupo Filhos do Januario 3

Deltan Dallagnol – 23:32:22 – URGENTE
Dallagnol – 23:32:28 – E SEGREDO
Dallagnol – 23:32:34 – Sobre a entrevista
Dallagnol – 23:32:39 – Quem quer saber ouve o áudio
Dallagnol – 23:33:36 –

Dallagnol – 23:33:36 – Áudio

A comemoração de Dallagnol expõe mais uma vez sua hipocrisia e sua motivação política: antes de serem alvos de vazamentos, os procuradores da força-tarefa enfatizavam – em chats privados com seus colegas – a importância de uma imprensa livre, o direito de jornalistas de publicar materiais obtidos por vias ilegais e que a publicação desses materiais fortalece a democracia.

No passado, Dallagnol era o maior entusiasta das garantias que foram justamente a base para a decisão de Lewandowski autorizar a entrevista de Lula. Em novembro de 2015, como o Intercept publicou, Deltan alertou seus colegas que investigar jornalistas que publicavam material vazado não seria apenas difícil mas “praticamente impossível”, porque “jornalista que vaza não comete crime”. Naquela época, ele era um dos principais defensores da importância de uma imprensa livre em uma democracia, um princípio que abandonou quando poderia, aos seus olhos, ajudar o PT a vencer a eleição.

Apesar do apelo do procurador para que a informação não fosse compartilhada, a notícia já se espalhava pela internet.

Depois do impacto inicial da Vaza Jato, o Intercept e seus parceiros continuaram a publicação de uma sequência de reportagens que mostraram as entranhas da operação, iluminando as conversas secretas que o público brasileiro e mundial precisavam ver.

Em parceria com Folha de S.Paulo, revista Veja e o jornalista Reinaldo Azevedo, mostramos comportamentos antiéticos e transgressões.

O ex-juiz Sergio Moro pediu aos procuradores da Lava Jato uma nota à imprensa para rebater o que chamou de “showzinho” da defesa de Lula, logo após o depoimento do ex-presidente no caso do triplex do Guarujá. A Lava Jato seguiu a sugestão como uma ordem.

Enquanto Lula era o alvo central da operação, o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso era poupado pelos investigadores por ser considerado por Moro um aliado. Quando viu na TV uma notícia sobre uma investigação contra FHC, Moro chamou Dallagnol no Telegram e, mais uma vez, fez uma de suas sugestões: era melhor não seguir a investigação porque ela “melindra alguém cujo apoio é importante”.

A postura de Moro, escancarada pelas revelações da série, já eram conhecidas entre os procuradores – que o elogiavam em público, mas criticavam no privado. “Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, disse a procuradora Monique Cheker.

A violação do sistema levou a Lava Jato a conspirar, depois de um comentário de Moro, para além das fronteiras do Brasil. Os procuradores se articularam para vazar informações sigilosas da delação da Odebrecht para a oposição venezuelana, mesmo que isso representasse “mais convulsão social e mais mortes”, como ponderou o procurador Paulo Galvão em um grupo. O colega dele, Athayde Ribeiro Costa, advertiu: “Imagina se ajuizamos e o malucomanda prender todos os brasieliros no territorio venezuelano”. Deltan Dallagnol não se comoveu: “é algo que cabe aos cidadãos venezuelanos ponderarem”.

Como dissemos em nosso editorial, logo no primeiro dia das publicações, “esse escândalo generalizado envolve diversos oligarcas, lideranças políticas, os últimos presidentes e até mesmo líderes internacionais acusados de corrupção”. O combate à corrupção é fundamental em qualquer democracia, por isso a importância de todo esse trabalho: para melhorar a conduta dos agentes escalados pela sociedade para liderar a luta contra os desvios éticos e o roubo do dinheiro público. Nosso parágrafo final, publicado em 9 de junho, serve também para fechar esse primeiro mês – e é um farol para o que ainda está por vir.

“Tendo em vista o imenso poder dos envolvidos e o grau de sigilo com que eles operam– até agora –, a transparência é crucial para que o Brasil tenha um entendimento claro do que eles realmente fizeram. A liberdade de imprensa existe para jogar luz sobre aquilo que as figuras mais poderosas de nossa sociedade fazem às sombras.”

 

*Do Intercept Brasil

 

Na troca de mensagens entre o juiz e procuradores da Lava Jato, sobram provas de crimes contra Moro e faltam contra Lula

É irônico o destino de certas coisas na vida. Com as revelações dos vazamentos feitos pelo Intercept, nos bate papos entre Moro e os procuradores da Lava Jato, o que por si só já é um crime tanto do ex-juiz quanto dos procuradores, nada há contra Lula.

Seria isso um verdadeiro milagre ou obra de picaretagem jurídica que acabou sendo revelada por osmose? Sim, porque as únicas coisas que apareceram sobre provas contra Lula foram no sentido oposto ao que se pode chamar de prova, mais precisamente na forçação de barra confessada por Dallagnol, porque, segundo o próprio, a solução dos carrascos de Lula estava na pressão da opinião pública através da Globo e de outros veículos da mídia na base da pressão publicada.

Dallagnol confessa claramente que o que eles tinha na mão contra Lula é um blefe, o que eles na verdade tinham é o sonho de prender Lula a qualquer custo. Um desrespeito escancarado pela legalidade.

O mesmo pode-se dizer da crueldade do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima que, babando de ódio, falou em utilizar a morte de Marisa Letícia para desestabilizar emocionalmente Lula no depoimento dele a Moro.

O que aparece estampado é o sadismo de Carlos Fernando dizendo que queria ir na jugular de Lula, ou seja, queria plantar uma versão contra a sua vítima num claro estupro à ética para um membro do Ministério Público Federal. Só faltou dizer que queria ver a cabeça de Lula decepada, tal o nível de selvageria do que foi vazado pelo Intercept, uma representação clássica do banditismo estatal e tudo aquilo a que se pode chamar de fascismo.

A coisa é tão séria que não produziu sequer um contraponto de Moro, de Dallagnol sobre esses episódios. Bastaria isso para que Lula obtivesse o habeas corpus instantâneo no STF e esses vigaristas da “lei” fossem imediatamente presos.

Como vimos hoje, há um conluio dentro das instituições de controle do Estado, pois se um chefe da Polícia Federal diz que não vai periciar telefone de nenhum procurador da Lava Jato, o grande xerife está se colocando num único caminho, o de admitir que todos têm culpa no cartório e tudo o que saiu no Intercept é misericordiosamente verdadeiro.

 

*Da Redação