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Elite empresarial fala de terceira via, de futuro e renovação com discurso de um século atrás

Bolsonaro não tem como seguir golpeando a democracia, como fizeram os chacais da 3ª via e congêneres contra Dilma e Lula.

Bolsonaro é filho de dois golpes seguidos pelos que hoje se dizem defensores da democracia. E só não tem apoio para dar um golpe militar porque a oligarquia já foi avisada que o primeiro coturno que botar o pé na rua pra dar golpe, o Brasil fica imediatamente isolado no planeta.

Ninguém é suficientemente idiota de acreditar que esse empresariado e a banqueirada que apoiou o golpe em Dilma e a prisão de Lula, sem crime, não apoiariam um golpe militar para manter seus astronômicos ganhos enquanto o povo brasileiro vai pra fila do osso.

Basta ler o cínico e caricato artigo escrito por três pesos pesados do empresariado nativo, Horácio Lafer Piva, Pedro Wongtschowski e Pedro Passos, publicado no Estadão, o mais conservador da mídia conservadora nacional.

O mesmo jornalão que, através de Vera Magalhães, soltou às vésperas da eleição de 2018, o épico editorial “Uma escolha difícil” entre Haddad e Bolsonaro. Artigo esse que até hoje custa caro a Vera Magalhães e ao próprio jornal.

Mas agora é repetida a receita não com Bolsonaro que eles apoiaram junto esse empresariado burlesco, inculto, quatrocentão.

Na verdade, se olharmos o poema “Ode ao Burguês”, de Mário de Andrade, lido durante a Semana de Arte Moderna de 1922, que fará cem anos em 2022, ou seja, no ano da próxima eleição, observamos uma fotografia bastante fidedigna da elite empresarial brasileira que, em cem anos, não mudou um vírgula. Isso nada tem a ver com o PT. Esse anacronismo de pedra que é uma das piores heranças da escravidão no Brasil, foi denunciado nas escadarias do teatro Municipal em São Paulo, quando Mário de Andrade leu o referido poema que é parte do livro “Pauliceia Desvairada”. E prova que um século se passou e essa burguesia brasileira segue marcando passo no mesmo lugar com o pé direito no bumbo.

É impressionante como pode ser lido abaixo:

Ode ao burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
“– Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
– Um colar… – Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burgês!…

De Paulicéia desvairada (1922)
Mário de Andrade

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Por Carlos Henrique Machado

Compositor, bandolinista e pesquisador da música brasileira

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