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Lula chora ao falar de Gaza e volta a defender mudanças no Conselho de Segurança da ONU

Presidente criticou ‘insensibilidade dos governantes’ e afirmou que trégua seria antecipada se a resolução brasileira não fosse vetada, mas não lembrou que EUA foram responsáveis por único voto contrário.

“Às vezes tenho a impressão de que estamos deixando de ser humanistas, de que estamos abrindo mão da fraternidade, abrindo mão da solidariedade, esquecendo que o ser humano nasceu para viver em paz”, foram as palavras de Lula enquanto continha as lágrimas, durante a cerimônia de declaração conjunta de intenções e acordos com a Alemanha, em Berlim, nesta segunda-feira (04/12).

Atendendo a questionamentos da imprensa, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou a se pronunciar a respeito do conflito entre Israel e Gaza, intensificado desde 7 de outubro, quando Hamas lançou a primeira ofensiva contra o território israelense.

Comparado às últimas declarações a respeito do cenário, concedidas em entrevista à emissora catari Al Jazeera, desta vez, seu discurso teve um tom mais passivo e emotivo. O líder derramou lágrimas quando mencionou a falta de “fraternidade” e “solidariedade” entre governantes, princípios tidos como básicos para o petista: “Sou de um país com uma grande comunidade judaica e árabe. E a gente fica em paz. É esse modelo de paz que gostaria que tivesse em Israel”.

Lula reforçou que a posição do Brasil é, primordialmente, do respeito à Carta das Nações Unidas, que consiste que “nenhum país tem o direito de invadir a integridade territorial do outro”.

‘Ser do Conselho de Segurança da ONU não é um privilégio de apenas cinco países’
Embora tenha confirmado ter conversado com pelo menos 12 líderes do mundo sobre o cenário na Faixa de Gaza e reforçado que todas os países devem respeitar integralmente as Nações Unidas, voltou a criticar o próprio sistema do órgão ao citar a resolução que o Brasil apresentou enquanto presidia o Conselho da ONU, no mês de outubro, mas que acabou sendo vetada:

“A ONU deveria intervir para que encontrasse uma solução. O Brasil era presidente do Conselho de Segurança, o Brasil apresentou uma proposta para que houvesse uma trégua humanitária, para que poupasse tempo, para que retirasse as crianças”, disse Lula, lembrando que a decisão apresentada pelo Itamaraty contou com 12 votos a favor, duas abstenções (Reino Unido e Rússia) e um voto contra, sendo este último dos Estados Unidos – um país com poder de veto.

“Quem sabe se tivesse votado na posição do Brasil teria tido uma trégua bem antes, morrido bem menos gente”, lamentou o presidente, sem citar diretamente os Estados Unidos, acrescentando que o órgão tem que “mudar sua representação” com a entrada de outras nações, como Alemanha, Japão, Índia, países da África e da América Latina.

“Ser do Conselho de Segurança da ONU não é um privilégio de apenas cinco países. A geopolítica de 1945 não é a geopolítica de 2023”, ressaltou Lula.

102 brasileiros na Faixa de Gaza
Lula lembrou que o Brasil logrou a repatriação de 34 brasileiros e afirmou brevemente que o país ainda está atrás de 102 cidadãos que permanecem na Faixa de Gaza.

Com relação a uma possível solução para a guerra, o líder voltou a defender a consolidação de duas nações: “Respeito a posição de cada país e continuo defendendo historicamente desde que assumi algum entendimento. Tenho certeza que a única solução é a consolidação de dois países para viver pacificamente e harmonicamente”.

O que na prática parece estar “longe do fim”, de acordo com o petista, uma vez que confirmou ter se reunido e discutido com autoridades israelenses e palestinas, mas que “parece que tem gente que não quer paz”.

Pelo fim do discurso, o presidente declarou que o conflito entre Israel e a Palestina será uma pauta discutida na reunião do G20: “A gente não pode abrir mão de assuntos assim”.

*Opera Mundi

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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