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PF descobriu elo de grupo de extermínio com tentativa de golpe de Bolsonaro

Execução de advogado, que está na origem do caso, foi acertada por bolsonarista radical com coronel colega de Bolsonaro, que comanda o grupo de caça aos comunistas, em ato de “patriotas” que acampavam em frente a quartel general do Exército.

A execução do Roberto Zampieri, de 57 anos, dentro do próprio carro com 10 tiros em uma emboscada armada em frente ao escritório em Cuiabá (MT) no dia 5 de dezembro de 2023 foi apenas a ponta do iceberg, agora investigado pela Polícia Federal, de um grande esquema de vendas de sentenças no Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJ-MT) e no Superior Tribunal de Justiça.

No entanto, além desse grande esquema de vendas de sentenças, a operação Sisamnes – referência ao juiz que aceitava subornos para proferir sentenças injustas na mitologia persa – em sua 7ª etapa, desencadeada nesta quarta-feira (28), descobriu o elo entre um grupo de extermínio que se autodenominava “Comando C4”, sigla para “Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos”, que tem ligação estreita com o bolsonarismo a tentativa de golpe conduzida por Jair Bolsonaro (PL), que culminou no 8 de Janeiro de 2023.

O grupo, cujo nome faz referência à organização paramilitar de extrema direita que atuava como braço direito da Ditadura, foi contratado, segundo a PF, pelo ruralista Aníbal Manoel Laurindo, um bolsonarista radical, para assassinar Roberto Zampieri que advogava para um adversário e venceu uma disputa judicial por duas fazendas em Paranatinga, a 411 km de Cuiabá, avaliadas em cerca de R$ 100 milhões.

O bolsonarista acreditava que o advogado fazia parte do esquema de sentenças. Na verdade, o esquema era comandado pelo empresário Andreson Gonçalves, o “lobista dos tribunais”, que foi preso na primeira fase da operação.

Na investigação sobre o assassinato, a polícia descobriu que Laurindo encomendou o crime ao coronel da reserva Etevaldo Luiz Caçadini, que segundo as investigações é o financiador e principal articulador do grupo de extermínio C4, formado por civis e militares que atuava como uma milícia paralela.

Em março de 2024, o fazendeiro foi preso, solto e posteriormente retornou à prisão nesta quarta-feira. De acordo com a Polícia Civil de Mato Grosso, ele e um coronel teriam se conhecido por meio da “Frente Ampla Patriota”, um grupo que acampava em frente aos quartéis do Exército após a vitória de Lula em 2022, demandando um golpe militar para manter Jair Bolsonaro no poder.

O delegado Nilson Farias, encarregado das investigações, afirmou que essa conexão entre o coronel e o fazendeiro se formou a partir das atividades do grupo, que clamava por uma ação mais firme do Exército em defesa do conservadorismo.O coronel Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, que é um dos financiadores e organizadores do grupo Caça-Comunistas, possui vínculos diretos com Bolsonaro, sendo da mesma turma de 1977 da Academia Militar das Agulhas Negras.

Em 2020, Caçadini uniu-se a outros ex-alunos para assinar uma carta de apoio ao ex-presidente. Ele foi aposentado em novembro de 2019 e trabalhou anteriormente no Ministério da Justiça, sob a gestão do ex-juiz e atual senador Sergio Moro.

Em janeiro de 2024, Caçadini foi preso acusado do assassinato de Zampieri. Nesse mesmo período, ele recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM) em uma ação onde era acusado de envolvimento com os atos golpistas de 8 de janeiro, por incitar a “animosidade entre as Forças Armadas e os Poderes Constitucionais”.

Seu pedido foi negado pela Justiça Militar e ele foi incluído no inquérito relacionado aos eventos de 8 de janeiro, que está em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria de Alexandre de Moraes.Na acusação formal feita pela Procuradoria Militar, Caçadini foi acusado de incitar “desobediência e indisciplina militar”, ao disseminar informações que ofenderiam a dignidade das Forças Armadas e ao dirigir comentários desabonadores ao comandante do Exército.

A Procuradoria destacou que o coronel, insatisfeito com a postura das Forças Armadas – especialmente do Exército Brasileiro, que teria minimizado os eventos ocorridos no final de 2022 com a eleição de Lula – sugeriu que os manuais militares deveriam ser desconsiderados, argumentando que a hierarquia e a disciplina poderiam ser desrespeitadas em certas circunstâncias, incitando, assim, a indisciplina militar.

Em uma declaração polêmica, um militar expressou suas convicções patrióticas, referindo-se a eventos como a “traição das FFAA” e marcando duas datas importantes para os brasileiros: a virada de ano de 2023 e o Dia 8 de Janeiro. Ele fez um apelo à mobilização popular, enfatizando que o povo é quem realmente detém o poder no país.

O texto foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) porque os crimes mencionados estariam relacionados aos eventos de 8 de janeiro de 2023, ocorridos após a eleição de 2022, apresentando uma clara conotação político-ideológica.A defesa de Caçadini, o militar em questão, entrou com um recurso para tentar transferir o processo de volta para a justiça militar.

Contudo, as novas informações surgidas no caso podem inviabilizar qualquer tentativa de contestar a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Analisando o histórico de viagens e atividades do coronel, dados do Portal Transparência indicam que, entre março e setembro de 2019, Caçadini fez quatro deslocamentos a serviço do Ministério da Justiça.

Sua última viagem foi de Belo Horizonte a Vitória, onde treinou outros militares para garantir a segurança do Mundial Sub-17 da FIFA. Durante esse período, ele também atuou como Subsecretário de Integração de Segurança Pública em Minas Gerais, facilitando a comunicação entre os governos de Romeu Zema, estado de Minas Gerais, e Jair Bolsonaro, a nível federal.

Atualmente, Caçadini está entre os alvos de uma investigação lançada pela Polícia Federal, a qual foi autorizada pelo ministro Cristiano Zanin. Esta semana, Zanin prorrogou o prazo das investigações em mais 60 dias, um prazo que coincide com o julgamento do núcleo central sobre o golpe de Estado, que está sendo examinado pela primeira turma do STF, também presidida por Zanin.

Essa situação torna ainda mais difícil a posição de Bolsonaro, que enfrenta crescentes ameaças legais e se aproxima de possíveis consequências criminais.

Assim, o emaranhado de ações judiciais, as implicações das manifestações de Caçadini e a interligação entre os governos estadual e federal destacam a tensão política atual e as repercussões dos eventos de janeiro, bem como as investigações em curso que podem impactar significativamente o futuro de figuras proeminentes da política brasileira.

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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