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Castro estaria no “modo pânico” após Moraes colocar Bacellar na cadeia

Governador do Rio, após operação do morticínio no Alemão, cantou de galo para o Brasil e trucou ministro do STF, relator da ADPF das Favelas. Agora, tudo é medo para o bolsonarista

Numa trama digna das novelas mais lendárias e intrincadas da política brasileira, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), parece ter entrado em um inevitável “modo pânico”, apurou a Fórum com fontes fluminenses no poder. O que começou como uma tentativa de se posicionar como o “xerife implacável” contra o crime organizado culminou, nesta quarta-feira (3), na prisão de um de seus aliados mais próximos: Rodrigo Bacellar (União Brasil), presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a detenção de Bacellar por obstrução de justiça e laços com o Comando Vermelho (CV) não é apenas um golpe no tabuleiro político fluminense, mas sim é um alerta vermelho para Castro, cuja gestão tem sido marcada por uma mistura de inépcia administrativa e proximidade suspeita com as engrenagens do crime que ele jura combater.

Vamos rebobinar essa “novela” desde o início, para entender como um governador sem brilho, que ascendeu ao cargo quase por acidente após o impeachment de Wilson Witzel em 2021, acabou se enredando numa teia que pode custar-lhe não só o mandato, mas a liberdade.

A Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, batizada de “ADPF das Favelas”, foi ajuizada em 2019 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e entidades de direitos humanos. O objetivo? Questionar a violência policial nas comunidades do Rio e impor balizas para reduzir a letalidade em operações. Inicialmente relatada pelo ministro Edson Fachin, a ação ganhou contornos históricos em fevereiro de 2025, quando Fachin votou pelo reconhecimento de um “estado de coisas inconstitucional” na segurança pública fluminense. Ele propôs medidas concretas: câmeras corporais obrigatórias para policiais, assistência à saúde mental dos agentes e restrições a incursões em áreas sensíveis, como escolas e hospitais.

O julgamento foi suspenso para negociações e retomado em abril de 2025, resultando na homologação parcial de um plano apresentado pelo governo Castro. Mas o roteiro complicou-se com mudanças imprevistas no STF: Luís Roberto Barroso aposentou-se antecipadamente em outubro de 2025, e Fachin assumiu a presidência da Corte em setembro, abrindo caminho para que Alexandre de Moraes fosse designado relator da ADPF em 28 de outubro. Moraes, conhecido por sua mão firme em casos de segurança e corrupção, rapidamente transformou a relatoria em um instrumento de escrutínio profundo.

É aí que

Castro entra em cena como o antagonista imprudente. Ignorando anos de decisões do STF que limitavam ações policiais em favelas, justamente para evitar massacres, o governador autorizou, no mesmo dia em que Moraes assumiu a ADPF das Favelas, 28 de outubro, a Operação Contenção nos complexos do Alemão e da Penha. O resultado? Um morticínio sem precedentes: 122 vítimas fatais, incluindo cinco policiais, na operação mais letal da história do Rio.

Castro, em vez de recuar, “cantou de galo” para o Brasil, posando como o homem que combate o crime “sem dó nem piedade”. Ele criticou abertamente a ADPF como uma “medida maldita” que algema a polícia e favorece facções como o CV, o Terceiro Comando Puro (TCP) e as milícias, ignorando cinicamente que seu próprio governo é acusado de ser permeado por essas mesmas quadrilhas.

Moraes não engoliu o desafio. Em novembro, durante uma audiência com entidades envolvidas na ADPF, o ministro converteu uma apuração preliminar (iniciada em agosto sob Fachin) num inquérito formal e sigiloso pela Polícia Federal (PF). O foco é investigar a infiltração do crime organizado no poder público estadual, incluindo esquemas de lavagem de dinheiro e conexões com agentes públicos. O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, prometeu “tantos inquéritos quantos forem necessários”, com ênfase em provas sobre interações entre bandidos e estruturas estatais. Castro foi intimado a prestar esclarecimentos sobre a megaoperação, preservar evidências e colaborar com perícias independentes, um claro sinal de que o STF não toleraria mais bravatas.

Agora, o clímax: a prisão de Bacellar, decretada por Moraes nesta quarta (3), no âmbito da Operação Zargun. A PF acusa o presidente da Alerj de vazar informações sigilosas sobre a prisão de TH Jóias, ex-deputado e operador político do CV, permitindo que ele destruísse provas e fugisse. Moraes destacou “fortes indícios” de que Bacellar integra uma organização criminosa infiltrada no poder fluminense, com influência no Executivo estadual, leia-se o governo Castro.

Bacellar não é qualquer aliado: foi secretário do governo de Castro (2021-2022), relator do impeachment de Witzel (que alçou Castro ao poder) e cotado para disputar o governo em 2026, com apoio explícito de Jair Bolsonaro (PL), de quem é muito próximo. Ele também é réu em um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder nas eleições de 2022, ao lado de Castro, envolvendo saques irregulares de mais de R$ 200 milhões da Fundação Ceperj e da Uerj para cabos eleitorais.

Agora, convenhamos: Num caso desses, Castro peitou o cara errado. Um governador que mal sabe como chegou ao cargo, sem carisma ou legado palpável, resolveu trucar não só o presidente da República, com quem já vivia às turras para agradar a extrema direita, mas também o “poderoso” Moraes, recém-empossado na relatoria.

A partir de hoje, com Bacellar atrás das grades e o inquérito da PF escavando laços profundos entre crime e Estado, Castro vive o pânico de quem sabe acordar dia desses e ser “a bola da vez”. Seu governo, dominado por milícias e facções em favelas inteiras, pode enfrentar intervenção federal, cassação no TSE ou pior: buscas e prisões que exponham conivências. O bolsonarista que posava de durão agora treme, e o Rio, mais uma vez, paga o preço de uma liderança fraca e conivente.

Enquanto o governo fluminense silencia sobre a prisão, o STF sinaliza e não titubeia: ninguém está acima da lei, nem mesmo os que se vendem como salvadores. Castro, outrora desafiador, agora reza para que a novela não termine em tragédia pessoal. O pânico é real. E, sejamos francos, merecido.


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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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