O ex-presidente da República, candidato do PT a um terceiro mandato, lidera por motivo singelo: tem o que dizer, lembra o que fez.
Luís Costa Pinto – Desnecessário dizer que nada mudou em relação ao cenário das pesquisas pré-eleitorais nos últimos dois meses de 2021. Com chances reais de agregar apoios, de aglutinar contrários e divergentes; começando a ser visto como solução para o fosso em que Bolsonaro, o bolsonarismo e o governo deles enfiou as ruínas do Brasil; o ex-presidente Lula surge em dianteira consolidada com 45% de intenções de voto na Quaest, 44% no Ipespe, 41% da Ideia. Todos os levantamentos foram registrados no TSE (*).
A grande novidade deste janeiro de 2022, mês que marca o verão de um ano de eleições presidenciais, é a larga distância que separa Lula, na liderança isolada das pesquisas, de todo o resto. E a fraqueza, a tibieza, a falta de propósitos e de projetos compreensíveis de todos os demais, que disputam uma “terceira via” que não existe.
Fantasiaram-se para serem vendidos ao mercado como “anti Lula”. Mas, esqueceram que havia um Bolsonaro no meio do caminho. E Bolsonaro os atrapalha, pois segue firme e célere como um candidato atraído para o próprio cadafalso. Em razão disso, incendeia o País e desmoraliza até as pautas “anti Lula” e “anti PT” criadas pelas usinas de fake news deles.
Bolsonaro foi o instrumento usado pelos atuais adeptos da inexistente “terceira via” para tirar Lula, o PT, Dilma e a esquerda do poder. Para sacramentar um golpe jurídico, parlamentar e classista contra governos de esquerda que mudaram a agenda nacional. E como se operou essa mudança? Operou-se pondo o povo no centro do Orçamento. Pondo a inclusão social na pauta. Pondo a redução das injustiças sociais e das diferenças de classe no centro do debate. Foram governos, sobretudo, inclusivos.
O impeachment sem crime de responsabilidade foi golpe, e o golpe se deu justamente para isso: derrubar os governos inclusivos e repor no comando da agenda do Brasil as mesmas cabeças ultraliberais de sempre.
São as mesmas cabeças que se curvaram aos coturnos na ditadura militar. E também as mesmas cabeças que criaram tensão na Assembleia Nacional Constituinte de 1987/88, durante a transição costurada por José Sarney com o Centrão, e urdiram essa geleia política que é o “Centrão” de hoje: polo conservador e reacionário que atrai tudo o que há de podre no Congresso.
São, ainda, as mesmas cabeças que tentaram chegar ao poder com Fernando Collor, e deu errado, há 30 anos. Deu errado pelos mesmos motivos que soem acontecer agora: porque um País da dimensão do Brasil, da complexidade do Brasil, não pode ser governado por tontos sem agenda, por despachantes da elite que joga o jogo da manipulação e da exclusão social.
Tudo isso está dito nas primeiras pesquisas de 2022. “Queremos Lula”, gritam-nos os números de intenções de voto. “Queremos Lula porque ele vendeu esperança – e entregou. Porque vendeu a ideia de um brasileiro comer três vezes por dia, e entregou. Lula vendeu o sonho de um Brasil respeitado no mundo, e entregou. Por fim, vendeu um País com oportunidades, e entregou”. Não se pode deixar de lembrar: em dezembro de 2014, quatro anos depois de Lula ter deixado a Presidência para a sucessora que elegeu, a taxa de desemprego não chegava a 8%”. Era quase uma situação de pleno emprego, inédita na História do País.
No início do ano passado, disse em comentários na TV 247, na Plataforma Brasília, na Revista Fórum, que haviam lançado veneno contra Lula. Porém, sábio, o ex-presidente tinha mastigado as abelhas, bebido o mel, e, agora, soprava flores de primavera. Sim. Flores de Primavera. Os ventos que estufam as velas de Lula rumo a uma possível vitória em primeiro turno são os mesmos ventos que espalham flores para a primavera. E, no Hemisfério Sul, outubro é mês de primavera.
*Publicado no 247
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