Categorias
Brasil

Relatos sobre o melhor emprego do mundo: a doce vida do General Heleno nos 6 anos como diretor do COB

Agência Sport Ligth – R$ 58.581,00. Por extenso: cinquenta e oito mil, quinhentos e oitenta e um reais.

Era o salário do general Heleno no Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em outubro de 2017, mês de seu último contracheque. Corrigidos, são nada modestos atuais R$ 86.791,03 (IGP-M). A maior parte vinda de dinheiro público.

O nome do cargo era pomposo: “diretor de comunicação e educação corporativa do COB”.

No entanto, os relatos colhidos pela reportagem sobre sua verdadeira atuação e função no comitê onde estava tão próximo a Carlos Arthur Nuzman, que depois viria a ser preso por escândalos na Rio 2016, não condizem em nada com a solenidade do título e estão em total desencontro com o protagonismo que o cargo traduz.

“Nos 6 anos que ficou lá, não fez absolutamente nada”, lembra funcionário que estava muito próximo e acompanhou de perto a atuação do general e que prefere não se identificar, assim como outros escutados pela reportagem. Que são unânimes e coincidentes no que contam sobre o general e sua missão no COB: uma verdadeira Batalha de Itararé.

A batalha que foi sem nunca ter sido.

O combate militar mais anunciado em território brasileiro mas que jamais aconteceu.

E que por fim virou sinônimo de algo que na verdade não se confirmou.

Décadas depois, as olimpíadas do Rio em 2016 ainda escondem, entre os tantos segredos de uma caixa-preta ainda por ser totalmente revelada, algumas “Batalhas de Itararé”. Como um alegado protagonismo de alguns generais na organização daquela competição.

O protagonismo olímpico do general Augusto Heleno é uma dessas “Batalhas de Itararé” dos novos tempos. Como mostra apuração da Agência Sportlight em diferentes frentes.

R$ 47.024,00 do salário do general no COB vinha de verba pública

Dos R$ 58.581,00 acima citados do salário do general Heleno como “diretor de comunicação e educação corporativa do COB”, R$ 47.024,00 vinham de fonte pública, como mostram os registros públicos contendo os salários dos funcionários do COB. A sigla “LAP” que acompanha a descrição dos vencimentos ao lado dessa quantia quer dizer que ela era vinda dos recursos oriundos da Lei Agnelo Piva, fruto de arrecadação pública.

Valor que ele recebeu em outubro de 2017. No mês seguinte, em novembro, atropelado pela prisão do seu par no comitê, Carlos Arthur Nuzman, por envolvimento em malfeitos durante sua jornada olímpica, o general Heleno discretamente pediu para sair, tentando se desvincular de qualquer relação no comitê e com Nuzman. Depois de seis anos no COB.

O general Augusto Heleno entrou no COB assim que foi para a reserva do exército, exatamente no mês seguinte, e lá ficou entre 1º de agosto de 2011 e 9 de novembro de 2017, quando a bomba se abateu sobre o mundo olímpico. E sobre o gordo contracheque, então interrompido.

R$ 6.248.955,79. Leia bem: seis milhões, duzentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinquenta e cinco reais e setenta e nove centavos nos 6 anos no COB

Em um cálculo amplo, usando um fator de correção a soma final e bruta dos vencimentos e não a maior exatidão da correção mês a mês, recebeu, ao longo dos seis anos no COB, um total de R$ 4.217,833 (quatro milhões, duzentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinquenta e cinco reais e setenta e nove centavos), que reajustados pelo IGP-M dariam hoje o equivalente a R$ 6.248.955,79. Por extenso: seis milhões, duzentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinquenta e cinco reais e setenta e nove centavos. Para uma função na qual não era qualificado e, de acordo com os funcionários do COB, para “não fazer nada”.

Se nenhum profissional de jornalismo que cobriu a área ao longo daqueles anos sequer chegou a ter algum contato ou mesmo saber de ação do general nas demandas com o comitê ou menção sobre formulação de estratégias ou diretrizes da comunicação da entidade, ou ainda participação em simples resposta para eventual pedido, o mesmo é dito por quem estava dentro da trincheira do COB.

Nos anos do general Heleno no COB, período contido dentro da gestão Nuzman, o “diretor de comunicação” ficou na figuração. As decisões e execução se davam por uma estrutura profissional, que tinha um “gerente executivo”, abaixo dele um “gerente” e demais “assessores”. Assim como a comunicação do Comitê Rio 2016, feita por estrutura formada por profissionais da área.

Os depoimentos quanto a presença e participação do general Heleno na área tem todos o mesmo tom. E coincidem no tom incisivo e definitivo sem qualquer margem quanto ao mínimo traço de participação do atual ministro.
“São todos uns filhos da p…”.

Uma única frase dita de 15 em 15 dias é a lembrança da presença do general no COB

“O general Heleno ia de 15 em 15 dias em uma reunião da comunicação do Comitê. Era a única função dele. Entrava mudo e saia calado”.

O silêncio do general, de acordo com os relatos, só era rompido nos encontros de trabalho em uma situação que hoje, quando se vê a forma de atuação dele como ministro do GSI e a proximidade e afinidade com Jair Bolsonaro, parece bem familiar aos ouvidos. Um comentário monocórdio e repetitivo, sistemático que a cada aparição quinzenal do general no comitê soava na sala de reunião.

De tempos em tempos ouvia-se a frase mais dita pelo general em seus anos em que o trabalho se limitava a visita quinzenal, referindo-se a cobertura da imprensa e jornalistas:

“São todos uns filhos da p…”. E assim marcava sua participação quinzenal.

Além do generoso salário vindo de fonte pública em sua maior parte, o general Heleno ainda teve uma das mais invejadas recompensas em tempos olímpicos: duas credenciais universais com acesso para todas as competições realizadas no Rio de Janeiro. Assim, no que deveria ser o auge do trabalho de um diretor de comunicação do Comitê Olímpico Brasileiro em tempos de jogos, virou um lazer acompanhado da cônjuge.

A repulsa por jornalistas e o trabalho da imprensa é traço relevante e notório de alguém forjado em sua formação no seio de uma ditadura militar antidemocrática e que censurava a imprensa, com absoluto desprezo pelo contraponto e pelo papel fiscalizador dos órgãos e profissionais de jornalismo.

A carreira militar do general Heleno é desde suas origens construída ao lado da ala de linhagem antidemocrática das forças armadas. Ainda capitão esteve no governo Geisel, quando foi ajudante de ordens do então ministro do exército, o general Sylvio Frota, o mesmo que se opôs ao processo de abertura política e redemocratização. E ao ver que tal processo não podia ser detido em razão da mobilização popular, o mentor do hoje general Heleno procurou em 12 de outubro de 1977 dar um golpe dentro do golpe militar e o triunfo da linha mais radical do exército. O general foi exonerado naquele dia, assim como seu ajudante, o capitão Augusto Heleno.

Mas o desprezo pela função da imprensa hoje tão notório pode ter seu nascedouro identificado ali e curiosamente, numa ironia da história e contradição marcante das instituições, culminou com ele sendo “diretor de comunicação” de um órgão sustentado em sua maior parte com verba pública. Que financiava inclusive os vencimentos de quem estava nessa função. O “diretor de comunicação” do COB não fazia por menos em sua vaga e espaçada agenda de trabalho ao falar sobre a imprensa. Trazendo os mesmos traços da linha mais dura da ditadura e que hoje moram no governo Bolsonaro.

Um outro funcionário que viveu aqueles anos pré-olimpíadas e muito pouco viu o general Heleno nas dependências do COB se lembra de uma outra participação dele no comitê além da reunião quinzenal onde xingava toda a imprensa e os jornalistas. Somente essa e não mais.

“A cúpula do comitê tinha um almoço todas as sextas-feiras. Ele participava também desse almoço. Eram horas de almoço. Muito mais de amenidades, piadas e coisas do tipo. E só”, conta.

Em uma oportunidade foi possível conhecer as ideias e formulações do general Heleno sobre sua missão como diretor de comunicação do COB. Em entrevista para a edição 13 da revista Alterjor, da Escola de Comunicação da USP, publicada no primeiro semestre de 2016, o atual ministro do GSI não faz por menos e evoca para si a responsabilidade de ser quem decidiu como seria a política de comunicação do COB e sobre como foi formulado o que, segundo ele, foi o plano estratégico base de tudo no quadriênio das olimpíadas do Rio, com os três objetivos principais (ver arte reproduzindo a revista Alterjor abaixo).

Mesmo que isso jamais tenha sido implementado e sequer tenha sido visto pelos corredores no dia a dia, como tampouco sua atuação além dos xingamentos quinzenais dirigidos aos jornalistas na reunião interna e dos almoços de toda sexta-feira, o que chama atenção é o teor das ideias rudimentares e e um tanto quanto primárias sobre a tarefa e papel da comunicação da maior instituição de esportes do país em seu momento mais crucial e de destaque diante do mundo.

Conheça as ideias do general Heleno sobre como comunicação:

As formulações rasas dos objetivos lembram um pouco um catado de autoajuda desses tão em voga. Está lá praticamente uma ordem unida lida às 6h da manhã numa alvorada da caserna. Falando em elevação da autoestima e do orgulho dos integrantes do COB, quase um prenúncio do “Brasil acima de tudo” que viria nos anos seguintes. Há também a descoberta quase como quem comunica a revelação da pólvora sobre a importância e relevância das redes sociais na atualidade. Na descoberta do general, “um revolucionário instrumento na interação entre o público interno e externo”:

Houve um momento em que efetivamente o general Heleno participou da formulação da estratégia do comitê, segundo os relatos.

Talvez tivesse sido melhor que os seis anos do general Heleno como diretor de comunicação do COB e seu lauto vencimento mensal tivessem sido cem por cento e integralmente da mais absoluta inépcia e imobilismo como contam os diversos relatos ouvidos pela reportagem. Teria poupado a todos de um momentos trágico, um dos piores nos anos que antecederam os jogos. Uma mistura de tragédia e do grotesco. E que terminou em desastre. Literal e com danos irreversíveis de imagem.

Em junho de 2016, o evento de revezamento da tocha olímpica passou por Manaus. Na ocasião, o general Heleno, de acordo com diferentes fontes ouvidas pela reportagem, tomou à frente de organizar alguns aspectos do que era para ser uma celebração. Acabou sendo uma operação digna do padrão de competência de outro general do exército, assemelhada em seus êxitos a uma missão de logística comandada pelo general Pazuello.

Em sua missão, o general Heleno fez a ponte entre o COB e o exército para organização e ficou responsável pela parte militar da festa. E eis que na celebração, aparece a onça Juma, exibida durante horas como grande atração da passagem.

Os relatos dão conta que, após as horas de exibição ao público e centenas de pessoas tirando foto com a onça durante a cerimônia, na qual dois militares se mantiveram permanentemente segurando Juma em uma corrente, o animal, estressado pelas horas de exibição e multidão, conseguiu fugir. Veterinários tentaram conter a corrida com disparos de tranquilizante mas, sem êxito, militares deram um tiro de pistola na cabeça da onça.

O sacrifício do animal, que de acordo com o Ibama está ameaçado de extinção no Brasil desde 2003, eclodiu como uma bomba, com repercussão mundial. E, às vésperas dos jogos, numa crise de imagem e reputação do comitê dos jogos.

“Foi o único momento em que o general Heleno realmente operou. E foi uma trapalhada sem igual”.

O comitê tentou por diversas formas gerenciar a crise de imagem e, conforme relatos, por iniciativa de quem efetivamente operava a comunicação, fez alguns comunicados se desculpando pelo desastre indesculpável, além de um mea culpa nas redes sociais.

Um outro fato também tem as digitais do general Heleno no comitê organizador dos jogos. E também não muito abonador quanto a competência e capacidade gestora. Uma indicação para um cargo dentro do comitê organizador. Com a voracidade fardada vista entre os que hoje ocupam mais de seis mil cargos no governo Bolsonaro, o general Heleno operou para emplacar um par de quatro estrelas no efetivo do comitê. E emplacou.

Um ano depois de assumir seu posto no COB, o general Heleno, depois de trabalho silencioso nos bastidores, teve a assinatura por trás de uma nomeação no Comitê Rio 2016. É dele todo o trabalho para emplacar outro fardado, o general Marco Aurélio Costa Vieira. Em cargo altamente estratégico na operação do Corio. Ao contrário do cargo de Augusto Heleno, no qual era possível não desempenhar e limitar o ofício a uma reunião quinzenal, o general Marco Aurélio é nomeado como “diretor de operações do comitê organizador”.

A vitória na indicação do general Heleno se materializa em 20 de julho de 2012, quando o outro general é anunciado com pompa em comunicado de Carlos Arthur Nuzman.

“Ao nos aproximarmos dos quatro anos para o início dos Jogos Rio 2016, estamos satisfeitos de ver Marco Aurélio se juntar a nós como o novo diretor-executivo de Operações. Ele traz uma rica experiência multidisciplinar de gerenciamento de grandes eventos e estou certo que terá um forte impacto positivo agora que o Rio 2016 dá um novo passo na sua jornada para receber os Jogos”.

Uma fonte ouvida nessa área de operações pela reportagem conta como seu deu.

“Heleno botou o grupo deles. É o grupo que eles chamam de o ‘grupo do Haiti’. Os mesmos que estiveram juntos à frente da operação do Brasil no Haiti seguiram juntos. E o Marco Aurélio era da turma”, diz.

A nomeação se mostrou um fracasso.

“Foi péssimo, deu tudo errado. O general Marco Aurélio se mostrou totalmente inoperante para a função e sem preparo para tal. Foi caindo de função por não dar conta e acabou como 1º secretário”.

A atuação do indicado do general Heleno resultou numa necessária correção de rota.

Sem poder melindrar o ‘grupo do Haiti’ e o general Heleno porque eram necessárias boas relações com as forças armadas, o que explica a manutenção do entre aspas responsável pela comunicação do COB, a organização faz uma intervenção na área de operações para botar o general Marco Aurélio de lado.

Um efetivo novo diretor de operações é contratado. Rodrigo Tostes, então vice presidente de finanças do Flamengo, assume efetivamente o cargo e a função de diretor de operações do Corio.

No papel, a inusitada situação bate estranha ao olhar. Dois diretores de operação passam a assinar pelo comitê: Rodrigo Tostes e o general Marco Aurélio.

Diretor de Operações do Comitê Rio 2016:

General Marco Aurélio Costa Vieira assume em julho de 2012

Rodrigo Tostes assume em agosto de 2013

Os dois aparecem assinando documentos pelo comitê na mesma função.

Se no papel a solução encontrada pelo Comitê Rio 2016 para não melindrar os quarteis foi manter o general Marco Aurélio no cargo, deixando ele seguir assinando como diretor de operações, na vida real, no organograma do Rio 2016, o militar “caiu pra cima”. Enquanto Tostes fica como o único efetivamente diretor de operações, Marco Aurélio já aparece no organograma como o responsável pela operação do “revezamento de tocha”, algo bem menor na estrutura e praticamente simbólico. E Rodrigo Tostes efetivamente como “diretor de operações”.

No governo Bolsonaro, o general Marco Aurélio reaparece como titular da secretaria especial de esporte de Bolsonaro mas a coisa também não vai muito longe e fica apenas por 107 dias.

Prisão de Nuzman e saída à francesa do general Heleno

Eram exatas seis horas da manhã no dia 5 de outubro de 2017 quando uma ação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro entrou na casa de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador Rio 2016 (CORIO) e prendeu o todo poderoso do esporte brasileiro. Sob denúncia de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Sem alarde, nesse mesmo outubro o general Heleno se desliga do cargo de diretor de comunicação. Em novembro recebe o que tem direito pelos seis anos.

Seis milhões, duzentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinquenta e cinco reais e setenta e nove centavos (R$ 6.248.955,79) a mais na conta ao longo desses anos. Tendo, de acordo com os relatos, ido a um almoço semanal nas sextas-feiras e duas vezes por mês a uma reunião do comitê, na qual sua participação se limitava, dito em vários relatos, a chamar os jornalistas de “filhos da p…”.

Doze meses depois da saída do COB estava de volta a um cargo muito bem remunerado com dinheiro público somado aos vencimentos de general da reserva. O desligamento oficial do COB foi 9 de novembro de 2017. Em 5 de novembro de 2018, foi nomeado no apagar das luzes do governo Michel Temer para o gabinete presidencial, num aparente acordo entre ex e futuro presidentes, já que, menos de um mês depois, Jair Bolsonaro tomaria posse.

Como ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Heleno recebeu R$ 30.934,70 em dezembro último, fora os vencimentos como militar. Ao contrário da atuação no COB nos seis anos, agora aqui revelados, ainda não se sabe muito sobre a efetiva atuação do ministro no GSI. E se a frase mais marcante do que foi sua atuação ao longo desses seis anos, na qual comenta sua ideia de liberdade de expressão, segue sendo mais marcante do que o próprio trabalho.

Outro lado:

General Heleno:

A reportagem tentou contato com o General Augusto Heleno através da assessoria de imprensa do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mas não obteve resposta.

General Marco Aurélio Costa Vieira

A reportagem não obteve contato com o general Marco Aurélio Costa Vieira.
Share.

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica

Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450.139.937-68

PIX: 45013993768

 

Categorias
Brasil

Auditoria da CGU aponta que 800 militares receberam salário acima do teto

Segundo levantamento da Controladoria, pagamento além do limite permitido teve custo de R$ 5,7 milhões em um mês.

Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que pouco mais de 800 militares ou pensionistas de militares que ocupam cargos públicos civis podem ter recebido salários acima do teto no ano passado. Em apenas um mês, o valor extra chegaria a R$ 5,7 milhões — que podem ter que ser ressarcidos aos cofres públicos, segundo reportagem de O Globo.

O levantamento da CGU indicou que, em dezembro de 2020, 729 militares ou pensionistas com vínculos civis não tiveram nenhum tipo de abatimento no seu salário (o chamado “abate-teto”), o que teria levado a um pagamento indevido de R$ 5,1 milhões. Além disso, outros 110 tiveram abate-teto, mas no valor inferior ao necessário, o que teria custado R$ 657 mil, no mesmo mês.

O relatório diz que “o montante envolvido é bastante expressivo” e destaca que o achado pode levar à “possível recuperação de valores pagos indevidamente nos casos irregulares que forem confirmados, com consequente reparação do dano ao erário”.

O relatório da CGU destaca que os fatos apresentados são “indícios de irregularidades”, que ainda precisam ser confirmados pelos órgãos envolvidos, como os ministérios da Defesa e da Economia, além da Secretaria Federal de Controle Interno (SFC), vinculada à própria controladoria.

Procurado, o Ministério da Economia respondeu que “as recomendações serão avaliadas, tratadas e respondidas dentro do prazo fixado pela Controladoria Geral da União”. As outras duas pastas ainda não retornaram.

Portaria permitiu acúmulo

O teto constitucional é calculado a partir do salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal, atualmente R$ 39,2 mil. Quando as duas remunerações ultrapassam esse valor, o excedente é descontado.

Em abril, o Ministério da Economia publicou uma portaria autorizando o acúmulo de dois salários por parte de militares da reserva que ocupam cargos civis, sem a necessidade do abate-teto. Na época, o vice-presidente Hamilton Mourão, um dos beneficiados, disse que a medida poderia ser “legal”, mas não era “ética”.

No relatório, a CGU afirma que as análises foram efetuadas antes da publicação da portaria, mas ressalta que “isso não invalida os resultados obtidos, uma vez que a portaria possui data de vigência posterior à sua publicação, o que indica que os valores pagos indevidamente em data anterior, e confirmados, permanecem irregulares, devendo observar o procedimento de devolução e reposição ao erário”.

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica

Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Brasil

Acredite, Guedes se recusa a revelar seus ganhos com offshore por “medo de ser assaltado”

É exatamente isso que disse o Ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, que não revela seus lucros com a offshore nas Ilhas Britânicas porque tem medo de sofrer um assalto.

Nesta terça-feira (23/11), o chefe da equipe econômica participou de uma audiência em comissão especial da Câmara dos Deputados para dar explicações sobre um possível conflito de interesses diante do caso, que foi revelado pelo Pandora Papers, uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.

Na ocasião, porém, Guedes se recusou a descrever seus lucros. “Você pode ser perseguido por um vizinho, assaltado por um vizinho. Não posso chegar aqui e falar: ‘Brasil, olha tudo que eu tenho. Não pode ser assim”, argumentou o ministro.

Ele destacou que esses recursos estão à disposição das instâncias pertinentes, por meio de declaração do Imposto de Renda. “Se parlamentares me pedirem, a resposta é não. Agora, se me disserem ‘uma instância pertinente pediu’, será entregue, como sempre foi. Os números estão todos disponíveis. Mas os senhores precisam entender que existe uma coisa chamada privacidade”, disse.

“Offshore é um veículo de investimento absolutamente legal. É absolutamente legal. Por razões sucessórias, se comprar ações de empresas, se tiver uma conta em nome da pessoa física, se você falecer, 46%, 47% são expropriados pelo governo americano. Tendo uma conta em pessoa física, todo seu trabalho de vida, em vez de deixar para herdeiros, vira imposto sobre herança. Então, o melhor é usar offshore, que está fora do continente”, sustentou.

*Com informações do Metrópoles

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica

Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Brasil

Democracia no Brasil foi a que mais sofreu no mundo em 2020, diz entidade

O Brasil foi o país que mais sofreu uma deterioração no que se refere aos “atributos democráticos” em seu regime político em 2020 e, na década, foi um dos cinco que mais regrediu no aspecto das garantias democráticas, informa reportagem de Jamil Chade, no Uol.

Um informe publicado nesta segunda-feira pelo Instituto International IDEA, com sede em Estocolmo, constata que a situação do país é uma das que mais preocupam no mundo. A entidade é considerada como uma das principais referências no mundo na avaliação sobre a saúde das democracias.

“O Brasil foi a democracia com o maior número de atributos em declínio em 2020”, diz o estudo. “A gestão da pandemia tem sido atormentada por escândalos e protestos de corrupção, enquanto o Presidente Jair Bolsonaro minimizou a pandemia e deu mensagens mistas”, afirma.

“O presidente testou abertamente as instituições democráticas do Brasil, acusando os magistrados do Tribunal Superior Eleitoral de se prepararem para conduzir atividades fraudulentas em relação às eleições de 2022 e atacando a mídia”, afirmou.

“O presidente também declarou que não obedecerá às decisões do Supremo Tribunal Federal, que o está investigando por divulgar falsas notícias sobre o sistema eleitoral no país”, completou.

Em seu informe, chamado de “O Estado da Democracia em 2021”, a entidade alerta que “mais países do que nunca sofrem de “erosão democrática” (declínio na qualidade democrática), inclusive nas democracias estabelecidas”.

“O número de países em “retrocesso democrático” (um tipo mais severo e deliberado de erosão democrática) nunca foi tão alto como na última década e inclui potências geopolíticas e econômicas regionais como o Brasil, a Índia e os Estados Unidos”, aponta.

Mesmo no que se refere ao processo eleitoral, as constatações são preocupantes.

“Um total de 10 democracias experimentaram declínios nas Eleições Limpas desde 2015: Bolívia, Botsuana, Brasil, República Tcheca, Hungria, Índia, Ilhas Maurício, Namíbia, Polônia e EUA. Neste período, cinco outros países perderam seu status democrático devido a severas quedas (Benin, Costa do Marfim, Honduras, Sérvia e Turquia)”, disse.

O informe ainda aponta como no México e Brasil, “os presidentes questionaram a integridade das comissões eleitorais antes das eleições”. “No Brasil, o presidente foi ainda mais longe, questionando o sistema eleitoral de 25 anos de idade, e alegando que as eleições poderiam ser canceladas a menos que fosse alterado”, insistiu.

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica

Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Brasil

Canto dos Quilombos: uma homenagem ao dia da consciência negra

Num país que tem uma população de 211 milhões e destes 56% são de negros e pardos, ser necessário um trabalho intenso de conscientização da igualdade racial é, no mínimo, absurdo, pra não dizer chocante.

É preciso lembrar que, no Brasil, os negros são maioria, mas são minorizados.

É preciso lembrar que não por acaso a música brasileira é a mais rica do mundo, porque ela carrega em seu ritmo herdado da África a sua maior beleza e riqueza.

A todos os nossos irmãos negros, fica aqui a nossa carinhosa homenagem.

“Canto dos Quilombos”, uma música de Carlos Henrique Machado Freitas

*Foto destaque: Mãe Terezinha do Quilombo da Fazenda São José, Valença, RJ

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica

Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição

 

Categorias
Brasil

PGR recebe pedido do STF para investigar Campos Neto e dono do BTG

Ministra Rosa Weber, do STF, pede ao órgão que se manifeste sobre pedido de investigação contra o presidente do BC.

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou à Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de investigação contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e contra o dono do BTG Pactual, André Esteves. A suspeita é de uso indevido de informação privilegiada. Caberá ao órgão decidir se há elementos para abrir o inquérito.

O despacho da ministra ocorre em resposta a uma notícia-crime apresentada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). A entidade requer a abertura de inquérito porque Campos Neto teria telefonado para Esteves com o objetivo de discutir política monetária — especificamente a queda na taxa de juros (Selic) e acerca do lower bound dos juros (conceito econômico que descreve a menor taxa de juros possível em uma economia).

“Obviamente, o administrador pode consultar a sociedade sobre determinados temas sob seu cuidado, porém, nunca de maneira informal ou adiantando sua compreensão sobre eles para aqueles cuja atividade está diretamente implicada por suas decisões”, argumenta a ABI. “Da mesma forma, não cabe ao administrador pedir aconselhamentos oficiosos daqueles cujas atividades são frontalmente afetadas por suas decisões. Por isso, entendemos haver indícios de que a conduta dos envolvidos é potencialmente lesiva à confiabilidade do mercado de capitais.

Esteves fez a declaração em palestra para clientes e investidores de seu banco, cujo conteúdo está no YouTube: “Eu me lembro que o juros estava assim em uns 3,5%, e o Roberto me ligou para perguntar: ‘Pô, André, o que você está achando disso, onde você acha que está o lower bound?’. Eu falei assim: ‘Olha, Roberto, eu não sei onde que está, mas eu estou vendo pelo retrovisor, porque a gente já passou por ele. Acho que, em algum momento, a gente se achou inglês demais e levamos esse juros para 2%, o que eu acho que é um pouquinho fora de apreço. Acho que a gente não comporta ainda esse juros”.

Segundo os autos, a suspeita é da prática do crime de utilização de informação, previsto no artigo artigo 27-D da Lei nº 6.385/1976. O item dispõe sobre o crime de “insider trading” ou uso indevido de informação privilegiada. Ilegal no Brasil desde 2001, essa prática envolve a utilização de informação relevante ainda desconhecida do mercado na negociação de papéis, com o objetivo de obter lucro ou evitar perdas. “É quando alguém tem conhecimento de alguma informação que seja capaz de influenciar a decisão de investidores na hora de comprar ou vender ações de determinada empresa”, explicou o advogado Karlos Gad Gomes, especialista em direito público.

Na avaliação de Nauê Bernardo de Azevedo, advogado constitucionalista e cientista político, se o caso ocorreu, é grave. “É um tipo de informação que acaba por dar vantagem exagerada a determinados agentes, em detrimento de outros”, observou.

Procurado, o Banco Central afirmou, por meio de nota, que é comum o órgão manter relacionamento com outras instituições financeiras. “Os membros da Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil mantêm contatos institucionais periódicos com executivos de mercados regulados e não-regulados para monitorar temas prudenciais que possam ameaçar a estabilidade do sistema financeiro e/ou para colher visões sobre a conjuntura econômica”, disse. “Esses contatos incluem dirigentes de instituições financeiras ou de pagamento e seguem rígidas normas legais e de conduta, com destaque para os períodos de silêncio e as regras de exposição pública.” A reportagem também entrou em contato com o BTG Pactual, mas não obteve resposta da instituição.

*Com informações do Correio Braziliense

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica

Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Brasil

Não há surpresa alguma no fato de muitos brasileiros não conhecerem Marília Mendonça

O que de forma nenhuma diminui o sentimento de perda por sua partida tão prematura, principalmente no auge de sua carreira e com um público tão extenso.

Na verdade, o fato de muitos brasileiros não a conhecerem não é um caso isolado. A revolução digital promoveu uma reviravolta no mercado musical.

O que antes era comandado inteiramente pela indústria cultural de massa, produção, difusão e distribuição, não existe mais.

Ser mais ouvido em época de revolução digital, não significa ser ouvido por todos.

Essa é a grande armadilha da pulverização cultural, pós-indústria fonográfica.
As grandes gravadoras internacionais não existem mais e o ambiente, naturalmente, fragmentou-se, ficou infinitamente mais plural e, com isso, o “espelho da sociedade” ficou mais amplo, e a oferta é tão grande via Youtube.

Hoje e cada vez mais será assim, a concorrência permite apenas pequenos nichos.

Aqueles “fenômenos”, como Beatles, nunca mais se repetirão, porque os conglomerados que reinavam, faliram e a produção independente será cada vez maior alcançando um público cada vez menor e localizado. É o reverso da globalização cultural.

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica

Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Brasil

Justiça libera manifestações dos caminhoneiros em 9 rodovias e anima categoria

O TRF-1 atendeu pedido da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores) e suspendeu os efeitos das liminares que proibiam greve de caminhoneiros. A decisão não trata do mérito e conclui que a questão deve ser decidida na Justiça do Trabalho.

Após a determinação da desembargadora Ângela Catão, ficam liberadas manifestações em trechos de estradas de nove estados. São eles: Minas Gerais, Goiás, Pará, Tocantins, Bahia, Amazonas, Piauí, Roraima e Maranhão. Líderes de entidades que aderiram à paralisação iniciada na última segunda (1) aguardam decisões judiciais semelhantes para outros estados.

“Os caminhoneiros estavam com medo de fazer manifestações, por causa da liminar que estabelecia multas de até R$ 10 mil para o grevista que desobedecer”, explica o presidente da Abrava, Wallace Landim.

*Com informações do DCM

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica
Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Brasil

Por que algoritmos das redes e dos próprios provedores ficam cada vez mais perigosos para a sociedade brasileira

Desde que o neoliberalismo inventou o produto para, depois, inventar o consumidor, muitos absurdos foram e são praticados por esta seita fundamentalista do consumo. Mas certamente o pior deles são os algoritimos. Isso é a praga capitalista do século 21.

E é aí nesse quesito que o neoliberalismo que é, em última análise, um pensamento de extrema direita, se apropria do fascismo para estabelecer verdades absolutas com uma outra forma de ditadura, a dos algoritmos.

A sociedade ainda não percebeu que tudo isso, junto e misturado, faz parte das estratégias dos negócios do mercado. Quando tudo isso ganha força governamental, como é o caso de Bolsonaro, faz-se a fusão entre os interesses políticos e comerciais no mesmo balaio e, longe de ter um pensamento minimamente refinado, as práticas de Bolsonaro chamam a atenção do planeta e, por isso, o Brasil está cada vez mais fechando portas para o mundo, porque, com Bolsonaro, o país se transformou no pior núcleo do neoliberalismo fascista.

Nós aqui do Antropofagista, temos insistido, e muito, em campanhas de doações para sustentar o blog, porque, assim como tantos outros blogs e canais do Youtube, estamos sofrendo um boicote nada silencioso de tudo o que envolve a suposta inteligência artificial que hoje opera na internet a favor da extrema direita, como confessaram os donos do Facebook e do Twitter.

Então, a senha é, qualquer pensamento progressista, sobretudo dos críticos a essa praga fascista, operar com os algoritmos no sentido oposto para que o debate e as informações se tornem cada vez mais invisíveis nas redes.

E quando isso não é possível, determinados posts ou mesmo vídeos no Youtube são desmonetizados, como ocorre frequentemente com o jornalista Bob Fernandes.

No nosso caso, o do Antropofagista, é muito simples de aferir o que está acontecendo, porque simplesmente, na medida em que aumenta o número de inscritos no blog e no sentido inversamente proporcional, caem os acessos e o trâmite, numa clara tentativa de sufocar financeiramente o nosso trabalho.

Mas para explicar melhor o que está ocorrendo, sugerimos que leiam esta matéria feita da BBC Brasil com Stuart Russell, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley que dedica-se há décadas ao estudo da Inteligência Artificial (IA).

BBC – Russell usa a metáfora de um gênio de lâmpada atendendo aos desejos de seu mestre: “você pede ao gênio que te torne a pessoa mais rica do mundo, e assim acontece – mas só porque o gênio fez o resto das pessoas desaparecerem”, diz.

“(Na IA) construímos máquinas com o que chamo de modelos padrão: elas recebem objetivos que têm de conquistar ou otimizar, (ou seja), para os quais têm de encontrar a melhor solução possível. E aí levam a cabo essa ação.”

Mesmo que essa ação seja, na prática, prejudicial aos humanos, ele argumenta.

“Se construirmos a Inteligência Artificial de modo a otimizar um objetivo fixo dado por nós, elas (máquinas) serão quase como psicopatas – perseguindo esse objetivo e sendo completamente alheias a todo o restante, até mesmo se pedirmos a elas que parem.”

Um exemplo cotidiano disso, opina Russell, são os algoritmos que regem as redes sociais – que ficaram tão em evidência com a pane global que afetou Facebook, Instagram e WhatsApp durante cerca de seis horas em uma segunda-feira no início de outubro.

A tarefa principal desses algoritmos é favorecer a experiência do usuário nas redes sociais – por exemplo, coletando o máximo de informações possível sobre esse usuário e fornecendo a ele conteúdo que se adeque a suas preferências, fazendo com que ele permaneça mais tempo conectado.

Mesmo que isso ocorra às custas do bem-estar desse usuário ou da cidadania global, prossegue o pesquisador.

“As redes sociais criam vício, depressão, disfunção social, talvez extremismo, polarização da sociedade, talvez contribuam para espalhar desinformação. E está claro que seus algoritmos estão projetados para otimizar um objetivo: que as pessoas cliquem, que passem mais tempo engajadas com o conteúdo”, pontua Russell.

“E, ao otimizar essas quantidades, podem estar causando enormes problemas para a sociedade.”

No entanto, prossegue Russell, esses algoritmos não sofrem escrutínio o bastante para que possam ser verificados ou “consertados” – dessa forma, seguem trabalhando para otimizar seu objetivo, indiferentes ao dano colateral.

“(As redes sociais) não apenas estão otimizando a coisa errada, como também estão manipulando as pessoas, porque ao manipulá-las consegue-se aumentar seu engajamento. Se posso tornar você mais previsível, por exemplo transformando você em uma eco-terrorista extremista, posso te mandar conteúdo eco-terrorista e ter certeza de que você vai clicar, e assim maximizar meus cliques.”

Essas críticas foram reforçadas no início de outubro pela ex-funcionária do Facebook (e atual informante) Frances Haugen, que depôs em audiência no Congresso americano e afirmou que os sites e aplicativos da rede social “trazem danos às crianças, provocam divisões e enfraquecem a democracia”. O Facebook reagiu dizendo que Haugen não tem conhecimento suficiente para fazer tais afirmações.

IA com ‘valores humanos’

Russell, por sua vez, detalhará suas teorias a um público de pesquisadores brasileiros em 13 de outubro, durante a conferência magna do encontro da Academia Brasileira de Ciências, virtualmente.

O pesquisador, autor de Compatibilidade Humana: Inteligência Artificial e o Problema de Controle (sem versão no Brasil), é considerado pioneiro no campo que chama de “Inteligência Artificial compatível com a existência humana”.

“Precisamos de um tipo completamente diferente de sistemas de IA”

Esse tipo de IA, prossegue, teria de “saber” que possui limitações, que não pode cumprir seus objetivos a qualquer custo e que, mesmo sendo uma máquina, pode estar errado.

“Isso faria essa inteligência se comportar de um modo completamente diferente, mais cauteloso, (…) que vai pedir permissão antes de fazer algo quando não tiver certeza de se é o que queremos. E, no caso mais extremo, que queira ser desligada para não fazer algo que vá nos prejudicar. Essa é a minha principal mensagem.”

A teoria defendida por Russell não é consenso: há quem não considere ameaçador esse modelo vigente de Inteligência Artificial.

Um exemplo famoso dos dois lados desse debate ocorreu alguns anos atrás, em uma discordância pública entre os empresários de tecnologia Mark Zuckerberg e Elon Musk.

Uma reportagem do The New York Times contou que, em um jantar ocorrido em 2014, os dois empresários debateram entre si: Musk apontou que “genuinamente acreditava no perigo” de a Inteligência Artificial se tornar superior e subjugar os humanos.

Zuckerberg, porém, opinou que Musk estava sendo alarmista.

Em entrevista no mesmo ano, o criador do Facebook se considerou um “otimista” quanto à Inteligência Artificial e afirmou que críticos, como Musk, “estavam pintando cenários apocalípticos e irresponsáveis”.

“Sempre que ouço gente dizendo que a IA vai prejudicar as pessoas no futuro, penso que a tecnologia geralmente pode ser usada para o bem e para o mal, e você precisa ter cuidado a respeito de como a constrói e como ela vai ser usada. Mas acho questionável que se argumente por reduzir o ritmo do processo de IA. Não consigo entender isso.”

Já Musk argumentou que a IA é “potencialmente mais perigosa do que ogivas nucleares”.

Um lento e invisível ‘desastre nuclear’

Stuart Russell se soma à preocupação de Musk e também traça paralelos com os perigos da corrida nuclear.

“Acho que muitos (especialistas em tecnologia) consideram esse argumento (dos perigos da IA) ameaçador porque ele basicamente diz: ‘a disciplina a que nos dedicamos há diversas décadas é potencialmente um grande risco’. Algumas pessoas veem isso como ser contrário à Inteligência Artificial”, sustenta Russell.

“Mark Zuckerberg acha que os comentários de Elon Musk são anti-IA, mas isso me parece ridículo. É como dizer que a advertência de que uma bomba nuclear pode explodir é um argumento antifísica. Não é antifísica, é um complemento à física, por ter-se criado uma tecnologia tão poderosa que pode destruir o mundo. E de fato tivemos (os acidentes nucleares de) Chernobyl, Fukushima, e a indústria foi dizimada porque não prestou atenção suficiente aos riscos. Então, se você quer obter os benefícios da IA, tem de prestar atenção aos riscos.”

O atual descontrole sobre os algoritmos das redes sociais, argumenta Russell, pode causar “enormes problemas para a sociedade” também em escala global, mas, diferentemente de um desastre nuclear, “lentamente e de modo quase invisível”.

Como, então, reverter esse curso?

Para Russell, talvez seja necessário um redesenho completo dos algoritmos das redes sociais. Mas, antes, é preciso conhecê-los a fundo, opina.

‘Descobrir o que causa a polarização’

Elon Musk

Elon Musk já afirmou considerar a IA ‘potencialmente mais perigosa do que ogivas nucleares’

Russell aponta que no Facebook, por exemplo, nem mesmo o conselho independente encarregado de supervisionar a rede social tem acesso pleno ao algoritmo que faz a curadoria do conteúdo visto pelos usuários.

“Mas há um grupo grande de pesquisadores e um grande projeto em curso na Parceria Global em IA (GPAI, na sigla em inglês), trabalhando com uma grande rede social que não posso identificar, para obter acesso a dados e fazer experimentos”, diz Russell.

“O principal é fazer experimentos com grupos de controle, ver com as pessoas o que está causando a polarização social e a depressão, e (verificar) se mudar o algoritmo melhora isso.”

“Não estou dizendo para as pessoas pararem de usar as redes sociais, nem que elas são inerentemente más”, prossegue Russell. “(O problema) é a forma como os algoritmos funcionam, o uso de likes, de subir conteúdos (com base em preferências) ou de jogá-los para baixo. O modo como o algoritmo escolhe o que colocar no seu feed parece ser baseado em métricas prejudiciais às pessoas. Então precisamos colocar o benefício do usuário como objetivo principal e isso vai fazer as coisas funcionarem melhor e as pessoas ficarão felizes em usar seus sistemas.”

Não haverá uma resposta única sobre o que é “benéfico”. Portanto, argumenta o pesquisador, os algoritmos terão de adaptar esse conceito para cada usuário, individualmente – uma tarefa que, ele próprio admite, não é nada fácil. “Na verdade, essa (área das redes sociais) seria uma das mais difíceis onde se colocar em prática esse novo modelo de IA”, afirma.

“Acho que realmente teriam que começar do zero a coisa toda. É possível que acabemos entendendo a diferença entre manipulação aceitável e inaceitável. Por exemplo, no sistema educacional, manipulamos as crianças para torná-las cidadãos conhecedores, capazes, bem-sucedidos e bem integrados – e consideramos isso aceitável. Mas se o mesmo processo tornasse as crianças terroristas, seria uma manipulação inaceitável. Como, exatamente, diferenciar entre ambos? É uma questão bem difícil. As redes sociais realmente suscitam esses questionamentos bastante difíceis, que até filósofos têm dificuldade em responder.”

 

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica
Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Brasil

Forças Armadas gastaram R$ 5,5 milhões de dinheiro da vacina contra covid

TCU abre processo para apurar indícios de irregularidades em parceria que destravou R$ 95 mi da Saúde para a Defesa.

As Forças Armadas reservaram para suas despesas R$ 21,7 milhões da quantia destinada à compra e à distribuição de vacinas contra a Covid-19. Desse total, R$ 5,5 milhões foram efetivamente gastos até agora, principalmente nos meses de julho e agosto. Os dados são do portal da transparência do governo federal.

Este uso dos recursos da imunização levou o TCU (Tribunal de Contas da União) a abrir um processo para investigar indícios de irregularidades.

O plenário do órgão determinou a abertura do processo na última quarta-feira (13). O relator da proposta foi o ministro Bruno Dantas.

Para usar o dinheiro voltado à vacinação, as Forças Armadas fazem uso de uma parceria estabelecida entre os Ministérios da Saúde e da Defesa. As duas pastas assinaram um TED (termo de execução descentralizada), que permite que a Saúde abra mão de recursos à Defesa, para que os militares auxiliem na logística da imunização.

Indícios de irregularidades no uso desses recursos entraram no radar da CPI da Covid no Senado e do TCU. O TED prevê repasses de R$ 95 milhões à Defesa.

O responsável pela parceria foi o coronel do Exército Elcio Franco Filho, que exercia o cargo de secretário-executivo do Ministério da Saúde. Ele era o braço direito do general da ativa Eduardo Pazuello, ministro da Saúde até março deste ano. Os dois foram demitidos, e hoje estão abrigados em cargos de confiança no Palácio do Planalto.

Elcio assinou o TED pelo Ministério da Saúde, em 19 de janeiro. No mês anterior, em dezembro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) havia assinado uma MP (medida provisória) para liberar R$ 20 bilhões para compra de vacinas contra a Covid-19.

Os R$ 95 milhões do TED são provenientes dos recursos destravados pela MP para compra e distribuição de imunizantes, como confirmou o Ministério da Saúde.

Na atual gestão de Marcelo Queiroga na Saúde, um aditivo prorrogou a parceria até janeiro de 2022 —antes, o prazo previsto era até novembro de 2021. Os termos do TED, porém, permitem que ele funcione por até cinco anos.

Uma reportagem publicada em 1º de maio pela Folha deu detalhes sobre os primeiros gastos das Forças Armadas após a militarização de parte da vacinação contra a Covid-19.

O dinheiro da vacina foi usado principalmente para manutenção e reparação de carros e aeronaves, assim como na compra de combustível. Uma parte dos recursos foi destinada à compra de material aos hospitais militares, de uso exclusivo de integrantes das Forças; à compra de medicamento sem eficácia para Covid-19; e a ações sigilosas de inteligência do Exército.

Na ocasião, o Exército afirmou ter feito atividades de inteligência de reconhecimento de itinerários e levantamento de áreas de risco ao material e ao pessoal empregado na vacinação.

O Ministério da Defesa afirmou, também naquele momento, que os grupos indígenas em localidades de difícil acesso eram os principais atendidos com o suporte à vacinação.

​Diante da abertura de um processo pelo TCU, referente à descentralização de recursos que contempla a Defesa, a Folha voltou a questionar o ministério sobre os gastos feitos. Emails foram enviados na sexta-feira (15), mas não houve resposta.

O Ministério da Saúde diz que o dinheiro não pode ser usado para finalidades não previstas no TED.

*Com informações da Folha

Caros Leitores, precisamos de um pouco mais de sua atenção

Nossos apoiadores estão sendo fundamentais para seguirmos nosso trabalho. Leitores, na medida de suas possibilidades, têm contribuído de forma decisiva para isso. Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental nesse momento crítico que o país atravessa para continuarmos nossa labuta diária para trazer informação de qualidade e independência.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor acima de R$ 1,00

Caixa Econômica
Agência 0197
Operação 1288
Poupança: 772850953-6
Arlinda Celeste Alves da Silveira
CPF: 450. 139.937-68
PIX: 45013993768

Agradecemos imensamente a sua contribuição