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O fundo do poço não é logo ali: Piora fiscal é maior do que se previa: após alta dos juros, dólar volta a subir

Segundo analistas, movimento da autoridade monetária sinaliza que piora fiscal é maior do que se previa.

Um dia após o Banco Central elevar a taxa básica em 1,5 ponto percentual, para 7,75% ao ano — e sinalizar uma alta da mesma grandeza na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, que levaria os juros para 9,25% —, a reação dos mercados foi negativa. Para analistas, com a forte deterioração do quadro fiscal, que entrou no radar após o governo admitir o descumprimento do teto de gastos para bancar programas sociais em 2022, a alta dos juros deve ser mais intensa do que o sinalizado pelo BC. As apostas são de que a Selic deve alcançar, pelo menos, 10%, no fim do ano. Para o fim do ciclo de ajuste monetário, que pode se estender até maio de 2022, as previsões variam de 11% a 14,50%.

Diante desse cenário pouco animador para a economia, o dólar comercial, ontem, voltou a ficar acima de R$ 5,60 e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) praticamente andou de lado. Fechou no vermelho, apesar da divulgação de balanços positivos, como o da Ambev, que registrou aumento de 57,4% no lucro do terceiro trimestre, para R$ 3,7 bilhões. A divisa norte-americana subiu 1,26%, para R$ 5,62. Enquanto isso, o Ibovespa, principal indicador da B3, recuou 0,62%, para 105.705 pontos.

Especialistas avaliaram que o BC foi forçado a reconhecer a piora nas expectativas com a deterioração do arcabouço fiscal depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar que será preciso alterar a regra do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à variação da inflação — para viabilizar o pagamento de um benefício de R$ 400 por meio do programa Auxílio Brasil. Para analistas, o governo passou a fazer a chamada contabilidade criativa, em níveis até mesmo acima do que ocorreu no período da então presidente Dilma Rousseff. Para Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), em vez de cortar gastos ineficientes e emendas parlamentares, o governo quer uma licença para gastar mais em pleno ano eleitoral.

O principal mecanismo para isso é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que está com dificuldades para tramitar no Congresso. A PEC, além dar calote em dívidas judiciais, muda o indexador do teto, manobra que pode abrir um espaço fiscal de quase R$ 100 bilhões.

“O fato de o Copom sinalizar uma preocupação maior com o fiscal do que em outras reuniões fez o mercado perceber que a deterioração das contas públicas é grave, e o mercado está reagindo a isso. O BC apenas solidifica uma percepção de deterioração grande. Uma parte do mercado, claro, está frustrada, porque esperava uma alta maior na Selic, mas o principal motivo do mau humor é que o risco fiscal voltou para o radar”, avaliou a economista Juliana Inhasz, professora do Insper. Para ela, a tendência, agora, é de muita volatilidade na Bolsa, pelo menos, até as eleições.

As incertezas devem aumentar no ano que vem, e, com isso, o real deverá ficar cada vez mais fraco, o que continuará pressionando a inflação, que não deverá dar trégua tão cedo, de acordo com os especialistas. “A reação do mercado não foi porque o BC errou na intensidade do choque. Foi dentro do que esperava a maioria. Havia pouca gente prevendo uma alta acima de 1,5 ponto percentual na Selic. O problema é que a expectativa de piora no fiscal é uma realidade e, com isso, o dólar ainda poderá subir e chegar a R$ 6, com o governo abdicando da capacidade de fazer política econômica” afirmou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, um dos primeiros analistas a alertar que o dólar não deveria ficar abaixo de R$ 5 tão cedo. Segundo ele, a Selic deverá chegar ao início de 2022 entre 11% e 12% ao ano.

*Com informações do Correio Braziliense

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Luis Nassif: O fake news do boom no setor imobiliário

Depois do entusiasmo com o fake News da Alshop (Associação dos Lojistas de Supermercados), O Globo se entusiasma, agora, com as perspectivas da construção civil: “Construção civil deve crescer 3% e gerar 150 mil postos de trabalho em 2020 ”. Imediatamente a manchete foi repercutida em 69 veículos.

Quais as indicações de crescimento, segundo O Globo?

1 – Um caso de consumidor que resolveu reformas sua casa, cobriu parte da garagem e ampliou a área de lazer.
2 – Apostas da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) de crescimento de 3% em 2020, com potencial de criação de 150 mil postos de trabalho formais.
3 – Declaração da coordenadora de Estudos da Construção da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de que “há expectativa de melhora na economia de modo geral, o que tende a elevar os investimentos”.
4 – No Rio de Janeiro, por exemplo, o número de lançamentos cresceu 30,6% entre janeiro e setembro do ano passado, segundo o Índice de Atividade da Construção Imobiliária (IACI-L). Em São Paulo, no mesmo período, o índice teve expansão de 22,8%.

Vamos aos dados reais, agora, com uma visão geral do setor em relação aos últimos anos.

1 – Consumo de cimento no Brasil, comparado com o acumulado de 12 meses de janeiro de 2014. Pouco mais de 20% do consumo de 2014. Trata-se de um indicador essencial para medir o desempenho da construção civil.

2. Consumo de São Paulo, comparado com janeiro de 2014. Praticamente 20% do consumo de 2014.

3. O PIB trimestral da construção civil, levantado pelo Observatório de Construção da FIESP, mostrando o setor ainda no fundo do poço.

 

 

 

 

 

 

 

4. Sondagem da construção civil em São Paulo.

Menos contratação de empregados (indicadores abaixo de 50 indicam maioria das empresas contratando menos)

Novos empreendimentos e serviços: abaixo de novembro de 2018

Compra de insumos e matérias primas: levemente acima de novembro de 2018.

 

 

*Luis Nassif/GGN

 

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Paulo Guedes admite: “Estamos no fundo do poço”, mas quem cavou o buraco?

O falso profeta admite o fracasso atual, mas o mergulho depressivo começa com Dilma e atende ao recado popular: quanto mais cai, mais afunda.

Anunciam os analistas do mercado em seus boletins: o Ministério da Fazenda reduz projeção do PIB de 2019 de 2% para 1,5%. No mesmo diapasão, o ministro Paulo Guedes encerrou seu depoimento na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional com uma angustiada proclamação: “A realidade é que estamos no fundo do poço”.

Paulo Guedes joga todas as fichas na reforma da Previdência. Feita a reforma, nos moldes propostos pelo governo, o Brasil retoma o crescimento. Digo, sem ironia: no crepúsculo dos 76 anos, auguro que o sonho do ministro alcance a felicidade dos meus filhos. Dos meus, dos seus, dos nossos.

Desde os anos 80 do século passado, os governos do mundo e seus súditos estão empenhados em reformar os sistemas de proteção social para conter os efeitos indesejáveis sobre os déficits e a dívidas públicas. Solapadas pelas transformações geoeconômicas, tecnológicas e laborais, as reformas são reformadas de tempos em tempos. A experiência do capitalismo internacional deveria ter ensinado que não há bala de prata para derrotar o irrequieto dragão que ameaça deglutir as finanças públicas.

O poço de Paulo Guedes começou a ser cavado com esmero e persistência na posteridade das eleições de 2014. A presidenta eleita convocou Joaquim Levy para os trabalhos de perfuração com as ferramentas, pás, enxadas e picaretas, oferecidas pelos operadores do mercado financeiro e recomendadas pelos senhoritos da mídia e da academia.

O mergulho depressivo iniciado entre os estertores de 2014 e a crisálida de 2015 pode ser apresentado como um exemplo do fenômeno que as teorias da complexidade chamam de “realimentação positiva” ou, no popular, “quanto mais cai, mais afunda”.

A interação entre a subida da taxa de juros, a desvalorização do real, o corte dos investimentos públicos e o choque de tarifas determinaram a elevação da inflação em simultâneo à contração do nível de atividade e daí à restrição do crédito. O encolhimento do circuito de formação da renda levou, inexoravelmente, à derrocada da arrecadação pública.

A combinação entre choques negativos de oferta e seus efeitos sobre a renda agregada da economia suscitou um processo de “realimentação positiva” decorrente das reações de autoproteção das empresas, bancos e consumidores, estes ameaçados pelo desemprego.

As fábricas se encharcam de capacidade ociosa. Endividadas, as empresas são constrangidas a ajustar seus balanços diante das perspectivas de queda da demanda e do salto do serviço da dívida. Para cada uma delas era racional dispensar trabalhadores, funcionários, assim como, diante da sobra de capacidade, procrastinar investimentos que geram demanda e empregos em outras empresas. Para cada banco individualmente era recomendável subir o custo do crédito e racionar a oferta de novos empréstimos.

Os consumidores, bem, os consumidores reduzem os gastos. Uns estão desempregados e outros com medo do desemprego. Assim, o comércio capota, não vende e reduz as encomendas aos fornecedores que acumulam estoques e cortam ainda mais a produção. As demissões disparam. A arrecadação míngua, sugada pelo redemoinho da atividade econômica em declínio. Isso enquanto a dívida pública cresce sob o impacto dos juros reais em queda, mas ainda mais elevados que a taxa de crescimento da economia.

 

 

 

 

*Com informações da Carta Capital