Joaquim de Carvalho – O debate na Band mostrou que Bolsonaro e Ciro Gomes têm muito mais em comum do que eleitores como Fábio Porchat imaginam ou desejariam.
Depois de rir quando Bolsonaro, com argumento machista, atacava a jornalista Vera Magalhães — “dorme pensando em mim” —, Ciro agrediu Lula na manhã desta segunda-feira.
“Será que não entendem que Lula está cada dia mais fraco — fisicamente, psicologicamente e teoricamente — para enfrentar a direita sanguinária?”.
O tuíte de Ciro repercutiu muito mal. “Estratégia de Trump com Biden? Que decadência, candidato. Achei que era melhor que isso”, reagiu um internauta.
“Esse foi um dos posts mais lamentáveis da sua campanha (olhe que foram muitos). Lula merece respeito”, disse outro.
O candidato do PDT apagou o tuíte, mas muitos já tinham tirado o print, que agora circula na internet.
A agressividade de Ciro Gomes contrasta com o tratamento respeitoso (até exageradamente) que Lula lhe dispensou ontem.
O ex-presidente o comparou a figuras como Mário Covas, o que, a meu ver, não tem cabimento.
No debate da Band, Ciro Gomes deu indícios de que faz o jogo de Bolsonaro. Só o atacou quando este o lembrou do que disse na campanha de 2002 sobre o papel de Patrícia Pilar na sua vida.
“A minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo. Dormir comigo é um papel fundamental”, declarou.
Ontem, ele disse que foi uma frase infeliz de vinte anos atrás, pela qual se desculpou. Mas faz pouco tempo demonstrou que vê as mulheres de uma maneira nada equilibrada.
Ao se irritar com um eleitor bolsonarista que o criticou num evento do agronegócio no interior de São Paulo, respondeu:
“Ele comeu tua mãe?”
Ciro é um político de uma agressividade parecida com a de Bolsonaro. A diferença é que ele circulou por meios mais sofisticados que o do ocupante do Planalto.
E parte desses meios sofisticados o acolheu, como se não fosse o político que começou sua trajetória pelo partido que sustentava a ditadura, o PDS.
Os políticos podem mudar, é fato.
Mas não é o caso de Ciro Gomes. Na terceira idade, ele age como o jovem que, em 1979, defendeu em um congresso estudantil em São Paulo anistia que incluísse os torturadores.
A ditadura militar acabou, mas corremos o risco de que algo parecido volte, por meio de um projeto autoritário de Bolsonaro.
Em vez de se somar às forças que combatem esse movimento extremista, atitude que até Simone Tebet e Soraya Tronicke tomaram, Ciro elegeu Lula como seu principal alvo.
E contra ele usa expedientes baixos, como este de associar a idade de Lula a uma suposta fraqueza. Ou de lembrar de sua prisão, como se fosse algo normal e não uma das maiores injustiças da história.
Ciro ataca justamente Lula, que reúne as melhores condições de derrotar esse movimento extremista e que coloca em risco não o futuro do Brasil nos próximos quatro anos, mas o de gerações.
Ciro merece o desprezo, que Lula não consegue lhe dar, pela grandeza de seu caráter.
E talvez também por uma equivocada tática eleitoral, que precisa ser revista, até para proteger os eleitores de Ciro Gomes, que acreditam num personagem inexistente.
Ciro é machista, desequilibrado e covarde. E os eleitores de Ciro Gomes são capazes de entender isso. Basta apenas que alguém lhes mostre e jamais o compare a políticos decentes como foi Covas.
*Com 247