O ex-político indiano Atiq Ahmed, 60, e seu irmão, Ashraf, foram mortos a tiros ao vivo na televisão indiana na noite de ontem.
Atiq conversava com repórteres quando alguém apontou uma arma para a cabeça dele e atirou. O caso aconteceu em Prayagraj, no norte da Índia.
Ele era ex-parlamentar e estava preso desde 2019, condenado por vários crimes, como sequestro e extorsão. Ele estava sendo levado ao hospital algemado e escoltado pela polícia quando atiradores, que se passaram por jornalistas, atiraram à queima-roupa.
Ele era ex-parlamentar e estava preso desde 2019, condenado por vários crimes, como sequestro e extorsão. Ele estava sendo levado ao hospital algemado e escoltado pela polícia quando atiradores, que se passaram por jornalistas, atiraram à queima-roupa.
Três pessoas foram presas, informou o agente de polícia Prashant Kumar, sem informar o nome dos supostos atiradores. “Eles foram detidos e estão sendo interrogados”, disse.
Assassinos gritaram palavras de ódio contra muçulmanos, minoria étnica na Índia a qual pertenciam os irmãos. A polícia ainda não confirmou se o caso foi motivado por intolerância religiosa.
*Com Uol
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Segundo a revista científica Lancet, a infecção viral ainda é considerada rara, está em estado endêmico e não oferece risco de morte.
Um novo vírus, apelidado de “gripe do tomate”, foi identificado em 82 crianças com menos de 5 anos no estado de Kerala e Tamil Nadu, no sul da Índia. Os casos foram registrados entre 6 de maio e 26 de julho deste ano, segundo o artigo “Surto de gripe do tomate na Índia”, publicado na revista científica “The Lancet” nesta semana.
Além disso, o Centro Regional de Pesquisa Médica em Bhubaneswar relatou que 26 crianças de 1 a 9 anos em Odisha também teriam sido infectadas. Segundo o artigo, nenhuma outra região da Índia além de Kerala, Tamil Nadu e Odisha foi afetada pelo vírus.
A “gripe do tomate” ganhou esse nome por conta das erupções vermelhas e bolhas dolorosas que eclodem em todo o corpo e alcançam o tamanho de um tomate. Essas manchas se assemelham àqueles vistos em casos de varíola.
Segundo os pesquisadores, a infecção viral também pode atingir adultos imunossuprimidos, mas ainda é considerada rara, está em estado endêmico e não oferece risco de morte.
Mesmo assim, o Departamento de Saúde de Kerala está tomando medidas de precaução para monitorar a infecção viral e impedir sua propagação em outras regiões da Índia.
Sintomas
Embora o vírus da gripe do tomate apresente sintomas semelhantes aos da covid-19, como febre, fadiga e dores no corpo, o vírus não está relacionado ao SARS- CoV-2. A hipótese dos pesquisadores é de que a gripe do tomate pode ser um efeito posterior de chikungunya ou da dengue em crianças.
Outra hipótese é que o vírus seja uma nova variante da doença viral ‘mão-pé-boca’, uma infecção comum que atinge principalmente crianças com idades entre 1 e 5 anos e adultos imunocomprometidos.
O tratamento da “gripe do tomate” é, por isso, semelhante ao adotado para tratar essas doenças: isolamento, repouso, abundância de líquidos, esponja de água para o alívio da irritação e das erupções cutâneas, e uso de paracetamol para febre e dor no corpo.
*Com G1
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Mais de 6.900 estrangeiros estão sendo utilizados pelas forças de extrema-direita ucranianas como escudo humano, disse Mikhail Mizintsev, diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Defesa da Federação da Rússia, neste sábado (12).
“Mais de 6.900 cidadãos de 16 países estrangeiros ainda estão sendo mantidos reféns como ‘escudo humano’ por neonazistas ucranianos”, disse Mikhail Mizintsev.
Segundo o coronel-general, tripulações estrangeiras de mais de 50 embarcações ficaram retidas em portos marítimos ucranianos. Os estrangeiros vêm do Azerbaijão, Grécia, Geórgia, Egito, Índia, Líbano, Síria, Turquia, Filipinas e Jamaica, entre outros.
A Rússia está em contato com suas respectivas missões diplomáticas para buscar soluções para a situação.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, quase 20.000 mercenários estrangeiros se candidataram para lutar ao lado das fileiras de militares ucranianos contra a Rússia.
Em uma campanha por combatentes estrangeiros para o que classifica como a “defesa da pátria”, o governo ucraniano criou até um site, no último domingo (6), para atrair mercenários ao país.
No dia 4 de março, o Serviço de Inteligência Externa da Rússia havia alertado, em um comunicado, que “os serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido transformaram, nas últimas semanas, o território polonês em um ‘centro logístico’ para fornecer armas e contrabandear combatentes” à Ucrânia – incluindo membros do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), vindos da Síria e supostamente treinados na base militar de Al-Tanf.
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Telegrama diplomático foi enviado dois meses antes do governo brasileiro comprar 20 milhões de doses da vacina.
The Intercept – O embaixador brasileiro na Índia alertou oficialmente o governo Bolsonaro que a vacina Covaxin estava tendo um “processo alegadamente opaco de autorização para uso emergencial” naquele país. A Índia é o fabricante da vacina. O governo ignorou o alerta de André Aranha Corrêa do Lago e continuou com a negociação.
A Covaxin está no centro de um escândalo político que pagaria antecipadamente 45 milhões de dólares a uma empresa de Singapura. Os senadores da CPI da Pandemia disseram que a empresa é de fachada. O governo já havia empenhado o dinheiro em uma negociação atípica: em vez de negociar direto entre Ministério da Saúde e laboratório, os contatos estavam sendo feitos com intermediários. O pagamento foi bloqueado no último minuto pelo servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, que disse ter desconfiado de um esquema de corrupção.
Ele e seu irmão, o deputado federal Luis Miranda, estarão na CPI amanhã e dizem que apresentarão provas de que o próprio presidente Jair Bolsonaro foi avisado do esquema. Bolsonaro, segundo Miranda, teria prometido levar o caso à Polícia Federal. Ontem, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, não apresentou provas de que Bolsonaro tenha encaminhado a denúncia à PF. De acordo com a Folha de S.Paulo, a PF não encontrou nenhum inquérito sobre a Covaxin.
O governo chegou a empenhar R$ 1,6 bilhão para a compra das vacinas no final de fevereiro. Mas, como as doses não foram entregues ainda e a vacina não recebeu aprovação definitiva da Anvisa, o pagamento não foi feito. No entanto, Bolsonaro sabia de possíveis problemas com ela e permitiu o empenho bilionário mesmo assim.
O telegrama que contém o alerta diplomático sobre o processo opaco da Covaxin foi enviado em 18 de janeiro de 2021 e está disponível no portal de acesso à informação do governo federal. Nele, o embaixador brasileiro em Nova Déli, André Aranha Corrêa do Lago, informou Bolsonaro que havia baixa adesão à campanha de vacinação com Covaxin na Índia. Segundo ele, devido ao processo opaco de autorização – que havia sido relatado por ele em um telegrama anterior –, a vacina foi alvo de críticas dos partidos de oposição.
Segundo o relato do diplomata, os indianos que receberiam a Covaxin precisavam assinar um termo de responsabilidade que “alertava para o status de testes clínicos da vacina e dados sobre sua eficácia”. Em casos de reações adversas graves, haveria compensação da fabricante da vacina, a Bharat Biotech.
Lago deu detalhes dos problemas. Segundo o diplomata, em ao menos três estados em que a vacina foi administrada, “autoridades relataram relutância nos receptores das doses em assinar o termo de responsabilidade”. Isso levou, segundo ele, a índices abaixo de 50% de cumprimento das metas nos centros em que essa vacina era oferecida.
Telegrama de 18 de janeiro de 2021 relata os problemas que a vacina estava tendo na Índia.
Pouco mais de dois meses depois, em 25 de março, o governo assinou o contrato com a Precisa Medicamentos, representante no Brasil da Bharat Biotech, para comprar 20 milhões de doses da Covaxin a R$ 1,6 bilhão, mesmo sem o aval da Anvisa. No começo de junho, a agência brasileira autorizou apenas a importação de um lote específico de 4 milhões de doses, que só poderão ser aplicadas em condições controladas. A negociação foi diferente, por exemplo, da Coronavac. O contrato está sendo investigado pelo Ministério Público Federal e pela CPI da Pandemia.
– Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem.
– Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina.
O servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, ex-chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, relatou uma “pressão incomum” da pasta para assinatura do contrato. Ele é irmão do deputado Luís Miranda, do Democratas do Distrito Federal, que afirmou ter encaminhado a desconfiança para Jair Bolsonaro.
PR @jairbolsonaro você fala tanto em Deus e permite que eu e meu irmão, sejamos atacados por tentarmos ajudar o seu governo, denunciando para o Senhor indícios de corrupção em um contrato do @minsaude ! Sempre te defendi e essa é a recompensa?
Cobramos no dia 20/03, 22/03, 23/03 e 24/03, e tenho certeza que tomou a melhor decisão para travar, tanto que até hoje não efetuou nenhum negócio. Então porque me atacar com Fake News através do @onyxlorenzoni ???? Só tentei combater uma possível corrupção. Deus sabe da verdade!
Entre os contratos já firmados para compra de vacinas, o da Covaxin é o único que tem outra empresa como intermediária. O presidente da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano, que fazia a negociação no Brasil, iria depor à CPI da Covid na quarta-feira, 23, mas não compareceu. Sua defesa afirmou que ele estava em quarentena.
O contrato previa que as vacinas indianas seriam entregues em quatro parcelas – duas em março, duas em abril e uma em maio. Nenhuma chegou até agora.
‘Irresponsável e irrealista’
Em julho de 2020, em outro telegrama, o diplomata já havia avisado Bolsonaro sobre a desconfiança na pesquisa da Covaxin. Em uma mensagem eletrônica vazada, o diretor do Indian Council of Medical Research, centro responsável por financiar e coordenar pesquisas na medicina indiana, pressionava administradores de hospitais para “concederem rapidamente as aprovações necessárias” para aplicação da vacina em profissionais de saúde.
Segundo o relato de Lago, comunidade científica indiana apontou o prazo como “irresponsável e irrealista”. O instituto de pesquisas se defendeu, afirmando que o intuito era apenas de remover burocracias. “Alguns analistas interpretaram o vazamento como uma manobra política do governo do primeiro ministro Narendra Modi de conter as críticas contra medidas sanitárias tomadas no país”, relatou o diplomata.
Em julho de 2020, embaixador Lago relatou como a Covaxin vinha passando por um processo apressado de aprovação.
Ainda assim, o governo brasileiro aceitou pagar por cerca de 16 dólares a dose pela vacina. É o preço praticado pela Bharat para vender o imunizante para outros países, considerado exorbitante na própria Índia. Na época do anúncio da vacina, o fundador da Bharat, Krishna Ella, havia prometido que a dose custaria “menos que uma garrafa de água”.
Esse valor é o mesmo das vacinas mais caras do mercado – Pfizer e Moderna, baseadas em mRNA. Coronavac, Janssen e Sputnik custam cerca de 10 dólares a dose. A AstraZeneca chega a 5 dólares.
Por que o governo brasileiro aceitou pagar caro por uma vacina não aprovada pela Anvisa e com baixa credibilidade no país de origem é uma das linhas de investigação sobre o contrato. O tratamento de Bolsonaro à Covaxin destoou muito das outras vacinas.
Em outubro do ano passado, o presidente bradou no Twitter que o povo brasileiro “não seria cobaia” da Coronavac, que estava em fase de testes. O próprio Bolsonaro afirmou que não compraria a vacina antes que ela estivesse certificada pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa. Também afirmou que não aceitaria dar um “aporte financeiro” em uma vacina que não tinha sequer ultrapassado a fase de testes – exatamente o que fez com a Covaxin meses depois.
Em fevereiro deste ano, Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro na Câmara, apresentou uma emenda para flexibilizar uma medida provisória sobre a compra de vacinas, facilitando a aquisição da Covaxin com uma autorização temporária para imunizantes já aprovados na agência regulatória indiana. Barros também propôs um projeto de decreto legislativo para derrubar a exigência da fase 3 de ensaios clínicos no Brasil, condição para autorização emergencial de imunizantes.
Na sequência, em questão de poucos dias, ainda em fevereiro:
Para que se concretizasse, no entanto, o esquema dependia da assinatura do servidor Luis Ricardo Miranda. Em meados de março, ele e o irmão, o deputado Luis Miranda, alegam que alertaram Bolsonaro pessoalmente sobre as pressões que o funcionário do Ministério da Saúde estava sofrendo para liberar o pagamento de 45 milhões de dólares a uma empresa suspeita em Singapura.
A insistência do Ministério da Saúde pela aprovação da Covaxin também foi muito diferente do tratamento dado pelo governo à Pfizer, que teve dezenas de e-mails com ofertas ignorados. O governo alegou haver cláusulas abusivas nos contratos – mas acabou assinando mesmo assim, três meses depois.
A demora fez com que o processo de vacinação no Brasil atrasasse – pesquisadores já estimaram que 90 mil vidas teriam sido salvas se o governo tivesse comprado as vacinas na primeira oferta.
Por conta de sua crise sanitária, a Índia impediu a entrega ao Brasil de 8 milhões de doses da vacina da Astrazeneca, o equivalente a dois terços de todo o volume que havia sido adquirido pelo Ministério da Saúde em relação ao acordo com a empresa. O imunizante é produzido nos laboratórios do Instituto Serum, em Nova Déli.
O polo farmacêutico indiano é um dos parceiros da AstraZeneca na fabricação das doses e era a grande esperança de abastecimento no mercado internacional. Mas a explosão de contaminações na Índia levou o governo de Narendra Modi e suspender toda a exportação de vacinas.
O resultado foi uma escassez ainda mais dramática no mercado internacional, principalmente no fornecimento de doses para os países mais pobres.
De acordo com o governo brasileiro, um primeiro lote de vacinas indianas foi enviado ao Ministério da Saúde ainda no começo da campanha de imunização, no início do ano. Mas das 12 milhões de doses previstas no acordo, apenas 4 milhões embarcaram para o país. O restante acabou sendo prejudicado pela decisão do governo indiano de priorizar a vacinação local.
Nesta quinta-feira, o chanceler Carlos França teria uma reunião por vídeo conferência com o Ministério das Relações Exteriores da Índia e um dos temas seria a liberação das vacinas que já tinham sido contratadas. Mas o Itamaraty informou à coluna que encontro acabou sendo adiado. Não foi informado qual seria a nova data da reunião.
A avaliação do governo brasileiro é de que a crise indiana precisa ser considerada no debate sobre o acesso às vacinas. Mas as autoridades em Brasília consideram que Nova Déli também precisa dar uma sinalização sobre o destino das 8 milhões de doses bloqueadas.
No início de maio, os indianos indicaram que apenas voltarão a permitir a exportação de doses de vacinas a partir do último trimestre de 2021.
O impacto, porém, não se limita ao Brasil. O Instituto Serum também era um dos principais fornecedores para o mecanismo Covax, criado pela OMS para permitir a vacinação na África, América Latina e Ásia.
Mas, desde a suspensão das exportações, a Covax passou a viver o que negociadores chamam de “pesadelo”. Até o final de maio, a OMS esperava distribuir 140 milhões de doses aos países mais pobres. Mas conseguiu enviar apenas 65 milhões.
O buraco deve se aprofundar ainda mais em junho, chegando a 190 milhões.
No caso da Covax, as vacinas que são destinadas ao Brasil vêm de um laboratório sul-coreano que também fez parceria com a AstraZeneca, o que impediu uma escassez ainda maior.
Em Genebra, os indianos também estão sendo alvo de pressão e a OMS quer garantias de que o abastecimento voltará a ocorrer. “Uma vez que o surto devastador ceda na Índia, também precisamos que o Instituto Serum volte ao cronograma e cumpra os compromissos de entregas para a Covax”, disse Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
A Unicef também confirmou que a crise na Índia afetou a distribuição de doses pelo mundo. “Entre as consequências globais da situação na Índia está a severa redução de fornecimento de vacinas para a Covax”, admitiu a agência da ONU.
Sob pressão, o governo da Índia abandonou seu discurso triunfante adotado no início do ano de que iria abastecer o mundo com vacinas. Nova Déli esperava usar sua produção de doses para ampliar a influência política na região asiática e frear a hegemonia chinesa. Mas, diante de mais de 2 milhões de novos casos por semana, os indianos passaram a evitar as últimas cúpulas de chefes-de-estado.
Já o CEO do Instituto Serum, Adar Poonawalla, chegou a alertar que não era possível ampliar a produção da noite para o dia.
Segundo médicos indianos, casos dessa infecção estão se tornando mais numerosos no país, especialmente entre mais jovens.
Segundo matéria publicada no G1, Na manhã de sábado, Akshay Nair, um cirurgião de olhos de Mumbai, na Índia, estava esperando para operar uma mulher de 25 anos que havia se recuperado de Covid-19 três semanas antes.
Dentro da sala de cirurgia, a paciente diabética já estava sendo submetida a outro procedimento, por um otorrinolaringologista.
Ele havia inserido uma cânula em seu nariz e estava removendo tecidos infectados com mucormicose, uma infecção fúngica rara, mas perigosa. Essa doença agressiva afeta o nariz, os olhos e, às vezes, o cérebro.
Depois que seu colega terminasse, Nair realizaria uma cirurgia de três horas para remover o olho do paciente.
“Vou remover o olho para salvar a vida dela”, explica ele à BBC.
Mesmo com uma segunda onda mortal de Covid-19 arrasando a Índia, os médicos agora estão relatando uma série de casos envolvendo uma infecção rara – também chamada de “fungo negro” – entre pacientes com Covid-19 em recuperação e recuperados.
O que é mucormicose?
A mucormicose é uma infecção muito rara, causada pela exposição a um tipo de mofo comumente encontrado no solo, plantas, esterco e frutas e vegetais em decomposição.
“É onipresente e encontrado no solo e no ar e até mesmo no nariz e no muco de pessoas saudáveis”, explica Nair.
A doença afeta os seios da face, o cérebro e os pulmões e pode ser fatal em diabéticos ou em indivíduos gravemente imunodeprimidos, como pacientes com câncer ou pessoas com HIV/AIDS.
O médico diz acreditar que a mucormicose, que tem uma taxa de mortalidade geral de 50%, pode ser desencadeada pelo uso de esteroides, um tratamento que salva vidas para pacientes graves com Covid-19 e criticamente doentes.
Os esteroides reduzem a inflamação nos pulmões e parecem ajudar a interromper alguns dos danos que podem ocorrer quando o sistema imunológico do corpo entra em atividade para combater o novo coronavírus.
Mas acabam por reduzir a imunidade e aumentam os níveis de açúcar no sangue em pacientes diabéticos e não diabéticos com Covid-19.
Acredita-se que essa queda na imunidade possa estar desencadeando esses casos de mucormicose.
“O diabetes diminui as defesas imunológicas do corpo, o coronavírus o agrava e, em seguida, os esteroides que ajudam a combater a Covid-19 agem como se estivéssemos jogando gasolina no fogo”, explica Nair.
O cirurgião ocular – que trabalha em três hospitais em Mumbai, uma das cidades mais afetadas pela segunda onda – diz que já atendeu cerca de 40 pacientes com infecção fúngica em abril. Muitos deles eram diabéticos que se recuperaram da Covid-19 em casa. Onze deles tiveram um olho removido cirurgicamente.
Entre dezembro e fevereiro, seis de seus colegas em cinco cidades – Mumbai, Bangalore, Hyderabad, Delhi e Pune – relataram 58 casos da infecção. A maioria dos pacientes a contraiu entre 12 a 15 dias após a recuperação da Covid-19.
O movimentado Hospital Sion de Mumbai relatou 24 casos dessa infecção fúngica nos últimos dois meses, ante seis casos por ano, de acordo com Renuka Bradoo, chefe do departamento de otorrinolaringologia do hospital.
Onze deles perderam um olho e seis morreram.
Grande parte dos pacientes era diabética de meia-idade que foi infectada pelo fungo duas semanas após se recuperar da Covid-19.
“Já estamos vendo de dois a três casos por semana aqui. É um pesadelo dentro de uma pandemia”, diz ela à BBC.
Na cidade de Bengaluru, ao sul, Raghuraj Hegde, cirurgiã oftalmologista, conta uma história parecida.
Ela viu 19 casos de mucormicose nas últimas duas semanas, a maioria deles pacientes jovens. “Alguns estavam tão doentes que não podíamos nem mesmo operá-los.”
Os médicos dizem que estão surpresos com a gravidade e a frequência dessa infecção fúngica durante a segunda onda, em comparação com apenas alguns casos durante a primeira onda no ano passado.
Nair diz que só atendeu 10 casos dessa doença em Mumbai nos últimos dois anos. “Este ano é algo diferente”, diz.
Em Bengaluru, Hegde nunca tinha visto mais de um ou dois casos por ano em mais de uma década como médica.
Os pacientes que sofrem dessa infecção fúngica geralmente apresentam sintomas de nariz entupido e sangramento; inchaço e dor nos olhos; pálpebras caídas; visão turva e, finalmente, perda de visão. Pode haver manchas pretas de pele ao redor do nariz.
Os médicos dizem que a maioria de seus pacientes busca tratamento médico tarde demais, quando já está perdendo a visão. Como resultado, eles precisam remover cirurgicamente o olho para impedir que a infecção alcance o cérebro.
Em alguns casos, contam, os pacientes perderam a visão em ambos os olhos.
E, em casos raros, os médicos precisam remover cirurgicamente o osso da mandíbula para impedir que a doença se espalhe.
Uma injeção intravenosa antifúngica que custa 3,5 mil rúpias (R$ 250) a dose e tem que ser administrada todos os dias por até oito semanas é o único medicamento eficaz contra a doença.
Uma forma de impedir a possibilidade de infecção fúngica é garantir que os pacientes com covid-19 – tanto no tratamento quanto após a recuperação – recebam a dose e a duração corretas de esteroides, diz Rahul Baxi, diabetologista de Mumbai.
Ele conta que tratou cerca de 800 pacientes diabéticos com covid-19 no ano passado, e nenhum deles contraiu a infecção fúngica.
“Os médicos devem cuidar dos níveis de açúcar após a alta dos pacientes”, diz Baxi à BBC.
Segundo um funcionário do alto escalão do governo indiano, “não há grande surto” de mucormicose no país.
No entanto, é difícil dizer por que mais casos dessa infecção estão sendo notificados na Índia.
“A cepa do vírus parece ser virulenta, elevando o açúcar no sangue a níveis muito altos. E, estranhamente, a infecção fúngica está afetando muitos jovens”, diz Hegde.
Seu paciente mais novo no mês passado era um homem de 27 anos, que nem era diabético.
“Tivemos que operá-lo durante sua segunda semana de covid-19 e remover seu olho. É muito devastador.”
As cenas na televisão estavam tão impressionantes que a enfermeira Márcia Alexandrina Carvalho Kumar, moradora de Lucknow, na Índia, precisou ver com os próprios olhos para acreditar.
“Passamos de carro na área do crematório e a visão é indescritível. São piras e mais piras [de corpos]. É uma coisa surreal. Se me contassem, eu não acreditaria”, descreve a brasileira, que vive há mais de 20 anos no país, novo epicentro da pandemia de covid-19.
O aparecimento de variantes mais contagiosas no território indiano fez o número de vítimas disparar de maneira descontrolada. Dia após dia novos recordes de mortes são batidos, chegando a 3.689 no último sábado (1°). Os crematórios das grandes cidades não conseguem dar conta da alta da demanda.
“Os governantes tentam esconder o número de pessoas cremadas. Mas como você faz para encobrir uma pira enorme que está queimando? São centenas por dia. As pessoas fazem filas com os seus mortos na rua, sentadas no chão, debaixo de um calor de 40 graus”, conta Marcia, de 52 anos.
“Os mortos não poderiam estar expostos ao calor porque estão apodrecendo. Eu não tenho nem palavras para descrever.
A situação está fora de controle”, declarou. A situação mais crítica encontra-se em Nova Délhi e Mumbai, onde faltam leitos, medicamentos e os cilindros de oxigênio são vendidos a preço de ouro nos hospitais.
“A pandemia é uma lente de aumento para problemas que sempre existiram aqui, só que agora, a coisa explodiu.” Márcia interrompe o depoimento para conter a emoção. “O sistema de saúde indiano entrou em colapso total. As pessoas estão desesperadas. Quando elas conseguem oxigênio, ouvem um ‘boa sorte’ porque quando acabar aquele cilindro, não terá mais – e não tem mais para onde correr para conseguir.”
Distanciamento social na Índia “é impossível”
Do outro lado do país, a tradutora Layla Correa Mishra, de 43 anos, percebe que a segunda onda avassaladora de covid-19 está se aproximando de Kota, na região do Rajastão, noroeste da Índia. Os hospitais ainda têm vagas e o governo regional adotou um lockdown parcial, partir das 11h, para tentar evitar o pior.
“Tudo fecha e você só encontra vendedores de legumes ou de leite nas ruas. Isso gera aglomerações. O distanciamento aqui na Índia é impossível: é muito populoso, tudo tem muita gente”, afirma a carioca, que trocou o Rio de Janeiro pelo país asiático há cinco anos.
“Os trens, metrôs e templos estão sempre lotados, com muita gente sem máscara. É um caos. No Brasil, os meus pais nem querem ver televisão porque estão apavorados com a situação aqui. Mas se você parar para pensar na proporção de pessoas que tem aqui e no Brasil, a situação das mortes lá está muito pior”, compara Layla.
Os crematórios estão tão cheios de corpos que é como se uma guerra tivesse acontecido. O fogo das cremações queima o tempo todo. Muitos lugares estão realizando cremações em massa, dezenas de cada vez, e à noite, em certas áreas de Nova Délhi, o céu chega a arder.
Doença e morte estão por toda parte. Dezenas de casas no meu bairro têm pessoas doentes. Um dos meus colegas está doente. Um dos professores do meu filho está doente. O vizinho duas portas abaixo, à nossa direita: doente. Duas portas à esquerda: doente.
— Não tenho ideia de como peguei isso — disse um bom amigo que agora está no hospital, antes de sua voz sumir, doente demais para terminar a frase.
Ele mal conseguiu um leito. E o remédio que seus médicos dizem que ele precisa não é encontrado em nenhum lugar da Índia.
Estou sentado no meu apartamento esperando chegar a minha vez de ser infectado pela doença. É assim que a gente se sente agora em Nova Délhi, com a pior crise de coronavírus do mundo avançando ao nosso redor. O vírus está lá fora, eu estou aqui dentro e sinto que é apenas uma questão de tempo antes que eu também fique doente.
A Índia agora está registrando mais infecções por dia — cerca de 350 mil — do que qualquer outro país desde o início da pandemia, e esse é apenas o número oficial, que a maioria dos especialistas acredita ser subnotificado.
Nova Délhi, a extensa capital de 20 milhões de habitantes da Índia, está sofrendo um aumento desastroso do número de novos casos. Há alguns dias, a taxa de diagnósticos positivos de Covid-19 atingiu impressionantes 36% — o que significa que mais de uma em cada três pessoas testadas estava infectada. Há um mês, era menos de 3%.
As infecções se espalharam tão rápido que os hospitais ficaram completamente lotados. Pessoas são rejeitadas aos milhares. Os remédios estão acabando. O oxigênio que salva vidas também. Os doentes ficaram presos em filas intermináveis nos portões dos hospitais ou em casa, literalmente com falta de ar.
Embora Nova Délhi esteja sob quarentena, a doença ainda está se alastrando. Médicos em toda a cidade e alguns dos principais políticos da capital têm feito pedidos desesperados de socorro ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, nas redes sociais e na TV, implorando por oxigênio, remédios e ajuda.
Especialistas sempre alertaram que a Covid-19 poderia causar um verdadeiro caos na Índia. Este país é enorme — tem 1,4 bilhão de pessoas —, é densamente povoado e, em muitas regiões, é muito pobre.
O que estamos testemunhando é muito diferente do ano passado, durante a primeira onda de coronavírus na Índia. Antes, era o medo do desconhecido. Agora sabemos do que se trata. Conhecemos a totalidade da doença, sua escala e velocidade. Conhecemos a força terrível desta segunda onda, atingindo todos ao mesmo tempo.
O que temíamos durante a primeira onda do ano passado, e que nunca realmente se materializou, agora está acontecendo diante de nossos olhos: uma pane, um colapso, uma percepção de que muitas pessoas morrerão.
Como correspondente estrangeiro há quase 20 anos, cobri zonas de combate, fui sequestrado no Iraque e jogado na prisão em diversos lugares.
Isso é perturbador de uma maneira diferente. Não há como saber se meus dois filhos, minha esposa ou eu estaremos entre aqueles que terão um caso leve e depois recuperarão a saúde ou se ficaremos realmente doentes. E se ficarmos realmente doentes, para onde iremos? As UTIs estão cheias. Os portões de muitos hospitais foram fechados.
Uma nova variante conhecida aqui como “o mutante duplo” pode estar causando muitos danos. A ciência ainda é incipiente, mas pelo que sabemos, essa variante contém uma mutação que pode tornar o vírus mais contagioso e outra que pode torná-lo parcialmente resistente às vacinas. Os médicos estão muito assustados. Alguns com quem falamos disseram que haviam sido vacinados duas vezes e ainda estavam gravemente doentes, um péssimo sinal.
Então o que se pode fazer?
Tento ser positivo, acreditando que é um dos melhores impulsionadores da imunidade, mas me vejo vagando atordoado pelos cômodos do nosso apartamento, abrindo latas de comida e preparando refeições para meus filhos, sentindo como se meu corpo e minha mente estivessem virando mingau. Tenho medo de verificar meu telefone e receber outra mensagem sobre um amigo que está piorando. Ou pior. Tenho certeza de que milhões de pessoas já se sentiram assim, mas comecei a imaginar os sintomas: Minha garganta está doendo? E aquela dor de cabeça lá no fundo? Está pior hoje?
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu nesta sexta-feira à corte a “imediata suspensão” do contrato assinado na véspera pelo Ministério da Saúde com a Precisa Medicamentos, fabricante do imunizante indiano Covaxin no Brasil, que prevê a compra de 20 milhões de doses da vacina contra Covid-19 entre março e maio.
Em representação enviada ao TCU, o subprocurador-geral do TCU Lucas Furtado contestou o fato de que, mesmo sem autorização da Anvisa para realizar estudos clínicos de fase 3 no Brasil, o governo firmou um contrato de 1,614 bilhão de reais para a compra de uma vacina que não têm eficácia comprovada para aplicação no país. O MP junto ao TCU é uma carreira específica dentro da própria corte.
Furtado disse que tem alertado em oportunidades anteriores que o governo federal e o ministério têm “dado as costas para as recomendações técnicas da comunidade científica e de respeitadas instituições internacionais baseadas em criteriosos estudos”.
“A aquisição de vacinas ainda não testadas atrasa ainda mais a vacinação dos brasileiros e coloca em risco da vida de milhões, no momento em que enfrentamos a pior fase da doença, com o recorde de mortes diárias atingido recentemente. Cabe notar que, no momento, temos opções de vacinas!”, disse.
“Em detrimento da aquisição de imunizantes que não possuem comprovações científicas, o certo é aplicar os recursos públicos de forma eficiente e buscando a efetividade na proteção dos brasileiros”, emendou.
Em nota, o Ministério da Saúde informa que “a aquisição da Covaxin permitirá assegurar e ampliar ainda mais a estratégia de vacinação dos brasileiros contra a covid-19. A aplicação das vacinas, como a de qualquer imunizante incorporado ao Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO), está condicionada à prévia obtenção de registro ou de autorização para uso emergencial pela Anvisa”.
A pasta do governo federal também pontua que “o pagamento pelo Ministério da Saúde a cada fornecedor de vacina também está condicionado à obtenção de autorização da Anvisa para uso do imunizante”.
Desconfiança na Índia
A própria Índia tem enfrentado dificuldades para convencer seus profissionais de saúde e de linha de frente a tomar a Covaxin, cuja aprovação sem dados de eficácia de estágio final foi controversa.
O país tem o segundo maior número de infecções por Covid-19 do mundo, depois dos Estados Unidos, com casos surgindo recentemente à medida que o uso de máscaras diminui e os Estados diminuíram as medidas de distanciamento social. A falta de confiança na vacina do país pode impedir a Índia de cumprir sua meta de vacinar 300 milhões do total de 1,35 bilhão de habitantes até agosto.
A Índia já vacinou mais de 10,5 milhões de profissionais de saúde e de primeira linha desde o início de sua campanha de imunização em 16 de janeiro. Mas apenas 1,2 milhão, ou cerca de 11%, deles tomaram a Covaxin, a vacina desenvolvida localmente pela Bharat Biotech, enquanto os 9,4 milhões restantes usaram a vacina da AstraZeneca, de acordo com a plataforma online Co-Win do governo usada para acompanhar a campanha de vacinação.
Inspeção
Em outra frente, a Anvisa informou nesta sexta que vai inspecionar a partir da próxima semana instalações da empresa Bharat Biotech, na Índia. Os cinco servidores designados para a missão já se encontram em deslocamento para a Índia, onde devem chegar na noite de desta sexta, pelo horário de Brasília.
O pedido de inspeção havia sido apresentado no último dia 13 de fevereiro e a Anvisa e o laboratório acertaram na época a realização da inspeção para os primeiros dias de março.
A inspeção tem por objetivo avaliar e emitir o Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF), que é documento obrigatório para o processo de registro de vacinas e as missões para verificação da linha de produção dos produtos são realizadas a pedido das empresas interessadas na regularização.
“Até o momento não foi apresentado à Anvisa pedido para realização de estudos clínicos nem para autorização de uso emergencial da vacina Covaxin, produzida pela empresa Bharat Biotech”, disse a agência.
Na prática, segundo uma fonte envolvida nas tratativas, o ministério poderia até comprar essas vacinas, mas não poderá administrá-las no momento na população sem o aval da Anvisa.
No Congresso tramitam propostas legislativas que flexibilizam as exigências para imunizantes aprovados fora do Brasil.
O governo tem dito que vai ampliar a oferta de vacinas contra Covid para a população, embora, até o momento, somente a CoronaVac e o imunizantes da AstraZeneca-Oxford estejam autorizados para uso emergencial em grupos prioritários.
A Anvisa concedeu nesta semana o registro para uso amplo da vacina contra Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica norte-americana Pfizer com a alemã BioNTech, mas o governo ainda não conseguiu concluir as negociações para a aquisição desse imunizante.
Entidades nacionais e estrangeiras elevam a pressão contra o governo brasileiro diante da postura do país de rejeitar a quebra de patentes de vacinas contra a covid-19. Nesta semana, o tema voltará à agenda da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra, num momento de acirrado debate sobre o abastecimento de vacinas no mundo.
No Brasil, entidades do setor de saúde alertam que a postura do país impede um maior acesso a remédios e vacinas. Desde o ano passado, os governos da África do Sul e Índia co-patrocinam uma proposta por suspender patentes de vacinas até o final da pandemia. A ideia é de que, com versões genéricas dos produtos, laboratórios em todo o mundo poderiam fabricar o imunizante e acelerar campanhas de vacinação.
Para os países em desenvolvimento, isso também significaria custos mais baixos. Hoje, o Brasil paga mais pela importação das vacinas do Instituto Serum que os europeus.
Mas o projeto de democratizar as vacinas conta com uma forte rejeição por parte dos países ricos, detentores das patentes. O Brasil, desde o começo do projeto, foi um dos únicos países em desenvolvimento a declarar abertamente que era contra a proposta, abandonando anos de liderança internacional para garantir o acesso a remédios aos países mais pobres.
O argumento do governo é de que o sistema de propriedade intelectual já prevê mecanismos para permitir licenças de produção. Além disso, Brasilia argumenta que quebrar patentes não resolve o desafio da distribuição e minaria os incentivos necessários para que as farmacêuticas invistam em vacinas.
Mas a tensão no mercado internacional diante da ameaça da UE de vetar exportações de vacinas e de anúncios de que países em desenvolvimento sequer iniciaram campanhas promete aumentar a pressão. Nesta semana, a OMS iniciou planos para tentar garantir que todos os países do mundo tenham campanhas iniciadas nos cem primeiros dias de 2021. Enquanto isso, a Pfizer anuncia que prevê vendas de US$ 15 bilhões em vacinas durante o ano.
Para as entidades brasileiras e estrangeiras, a postura do Brasil dificulta o acesso às vacinas para a população.
Numa carta elaborada pelo Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual, 19 entidades da sociedade civil, movimentos sociais, grupos de pacientes, ativistas e pesquisadores pedem uma mudança na diplomacia nacional.
A iniciativa conta com a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, Conectas Direitos Humanos, Federação Nacional dos Farmacêuticos, Médicos Sem Fronteiras, Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS e Universidades Aliadas por Medicamentos Essenciais, além de várias outras.
Para o grupo, o Brasil “contraria sua própria tradição de diplomacia em saúde, bem como os anseios de sua própria população, que sofre desde o início da pandemia com escassez de toda sorte de ferramentas médicas”.
“Nossas organizações, juntamente com dezenas de outras organizações da sociedade civil e mais de mil especialistas, denunciaram esta omissão inaceitável”, afirmam.
“Assim como nossos colegas indianos e sul-africanos, conhecemos bem o impacto que as patentes causaram na resposta ao HIV/Aids, à Hepatite C e à outras tantas doenças, deixando milhões de pessoas ao redor do mundo sem acesso aos medicamentos que poderiam salvar suas vidas”, dizem.
“O tratamento em massa para essas doenças só se tornou possível quando as patentes foram superadas e começaram a surgir novas fontes de abastecimento, especialmente versões genéricas mais baratas”, alertam.
“Numa pandemia, precisamos que o conhecimento circule livremente, e que toda a capacidade de produção existente em todos os países seja ativada. Quando direitos de propriedade intelectual são estabelecidos, isso não acontece, pois surgem barreiras que criam exclusividade para um punhado de empresas, escassez do produto e exclusão de populações inteiras, exatamente como vemos acontecer agora com as vacinas para covid-19”, denunciam.
O grupo alerta que os governos têm diante de si uma “oportunidade histórica” de impedir uma trágica repetição do passado, quando os tratamentos para lidar com o HIV levaram uma década para chegar aos países mais pobres.
“A suspensão das patentes de Covid-19 é possível e recebe cada vez mais apoio de governos, parlamentares, especialistas e da opinião pública. O maior obstáculo são alguns poucos países, dentre eles o Brasil, que estão bloqueando a proposta e impedindo que as vacinas, testes e tratamentos de Covid-19 cheguem para todos que precisam”, dizem.
Não há tempo a perder, diz Médicos Sem Fronteira
Enquanto as entidades nacionais criticam a postura do governo, a organização Médicos Sem Fronteira emitiu um comunicado nesta quarta-feira no qual alertam que a postura do Brasil e dos países ricos ameaçam “arruinar o potencial das vacinas de salvar vidas para bilhões de pessoas no resto do mundo”. “Como os casos da COVID-19 continuam a crescer em todo o mundo, não há mais tempo a perder e os governos precisam tomar a liderança para tornar esta renúncia uma realidade”, dizem.
“Estamos num ponto em que estamos vendo a dura realidade entre os que têm e os que não têm nesta pandemia, e os governos não devem perder mais um minuto para encontrar soluções para acabar com esta desigualdade”, disse Sidney Wong, co-diretor executivo da Campanha de Acesso da MSF.
“O único interesse das empresas farmacêuticas no sistema de patentes sempre foi usá-lo como uma estratégia comercial para bloquear a concorrência, manter o status de monopólio e manter os preços altos”, disse Leena Menghaney, chefe da Campanha de Acesso da MSF no Sul da Ásia.
“Nesta pandemia, os países que tradicionalmente têm apoiado as corporações farmacêuticas devem deixar de proteger seus interesses comerciais”, defendeu.
“O relógio está correndo e tantas vidas estão em jogo”, completou. Já Khosi Mavuso, representante médico para MSF na África do Sul, aponta que o surgimento de variantes tem gerado uma crise ainda maior.
“É evidente que esta renúncia do monopólio (das patentes) procura priorizar vidas humanas em detrimento dos lucros privados. Por isso apelamos aos países para agirem rapidamente e tornarem isso uma realidade”, diz.
Nesta semana, protestos similares já ocorreram na Índia e na África do Sul. Mais de 200 entidades e indivíduos que representam pacientes, médicos, cientistas e movimentos sociais da Índia e da África do Sul submeteram cartas ao Brasil, EUA, Europa e Japão pedindo que não impeçam a suspensão de patentes de vacinas.