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Sob Cláudio Castro, Rio registra duas das três operações mais letais da história

No início do mês, a Polícia Civil foi ao Jacarezinho e destruiu um monumento que lembrava os 28 mortos da operação mais letal da história do Rio. Dias depois, o governador Cláudio Castro visitou a favela e festejou o ato de truculência. Declarou que o memorial, erguido por ativistas de direitos humanos, fazia “apologia ao crime”.

Castro era vice de Wilson Witzel, um governador que fazia apologia da matança policial. O ex-juiz se elegeu na onda bolsonarista de 2018. A pretexto de combater o tráfico, lançou a doutrina do “tiro na cabecinha”.

O atual governador não se fantasia de Rambo, mas também confunde política de segurança com incentivo ao bangue-bangue. Seu chefe de polícia, Allan Turnowski, disse que gostaria de ocupar as favelas com tanques de guerra. O discurso tinha fins eleitoreiros: o delegado acaba de deixar o cargo para se candidatar a deputado pelo partido de Castro e Bolsonaro.

Ontem a necropolítica produziu outro banho de sangue no Rio. Uma operação liderada pelo Bope deixou ao menos 22 mortos na Vila Cruzeiro. A favela ficou tristemente famosa pela execução do jornalista Tim Lopes por traficantes, em 2002. Vinte anos depois, é palco de mais uma calamidade carioca.

Como costuma acontecer, a megaoperação aterrorizou a comunidade e deixou milhares de crianças sem aula. Ontem também matou ao menos uma inocente: a cabeleireira Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, atingida dentro de casa por uma bala perdida.

Antes de fechar a conta das vítimas, o secretário da Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, buscou politizar a ação. Culpou o Supremo Tribunal Federal por uma suposta migração de bandidos para o Rio. A fala combina com a retórica de Bolsonaro, que transformou os ataques à Corte em arma eleitoral.

Castro assumiu a cadeira de Witzel em agosto de 2020. Em 21 meses, sua gestão já é responsável por duas das três maiores chacinas policiais registradas no Rio. Em campanha à reeleição, o bolsonarista parece buscar dividendos políticos no incentivo à violência fardada.

*Bernardo Mello Franco/O Globo

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Vídeo: Jornalista da GloboNews chora ao comentar morte de grávida em ação no RJ

A comentarista Flávia Oliveira não conteve as lágrimas na transmissão ao vivo da GloboNews de hoje ao comentar a morte de Kathlen Romeu, de 24 anos, que estava grávida e foi atingida ontem por uma bala perdida em uma ação policial na comunidade do Lins, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Durante o “Estúdio i”, a jornalista pediu desculpas ao começar seu comentário enxugando algumas lágrimas.

Muito difícil, peço desculpas a você [Maria Beltrão] e aos meus colegas, mas é muito difícil ouvir o que a gente está ouvindo, assistir o que a gente tem assistido no Rio de Janeiro, esse lugar que é o cenário, o ambiente de uma ‘necropolítica de segurança pública.’ Diariamente a gente chora mortes de crianças, jovens, policiais e agora também de mulheres e bebês.

Flávia citou dados do Instituto Fogo Cruzado, que acompanha ocorrências violentas no Rio de Janeiro, para justificar sua indignação e mostrar que a morte de Kathlen não é um caso isolado. Segundo a plataforma, nos últimos cinco anos, 15 mulheres grávidas foram baleadas na região metropolitana da cidade — oito morreram.

É impossível não se emocionar com essa história, a Kathlen era o projeto de vida de uma família, de uma avó, de um pai, de uma mãe. Tinha a mesma idade da minha filha, ela faria 25 anos, minha filha já completou. Eu sei o que é ser uma mãe negra, botar uma filha negra no mundo, e lutar pela educação delas. Eu sou filha também de uma mulher negra. É muito difícil lidar com uma situação tão dramática, tão desnecessária, uma violência gratuita que não tem produzido melhora na sensação de segurança, não tem produzido ressocialização de criminosos, redução do crime organizado. Ela só tem produzido luto em famílias negras de favelas, principalmente, mas também em famílias negras de policiais.

Nas redes sociais, famosos como Ícaro Silva, Elza Soares, Paulo Vieira, Preta Gil, Thelma, Thiaguinho e outros nomes também pediram justiça em relação ao caso.

De acordo com a Polícia Civil, com base na perícia do IML (Instituto Médico-Legal), um tiro de fuzil atravessou o corpo de Kathlen. Moradores contestam a versão da PM, que diz ter reagido a uma ação criminosa. Testemunhas afirmam que os agentes estavam escondidos em uma casa e abriram fogo contra um ponto de venda de drogas, atingindo a jovem.

Eu não sei mais quantas lágrimas a gente vai ter que derramar em razão dessa tragédia cotidiana, é muito duro.

*Com informações do Uol

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É necropolítica que chama

Não faltam denúncias, imagens nem números a confirmar a escalada da violência de Estado nas favelas

Não há outra palavra para denominar o cotidiano de brutalidade ao qual as favelas do Rio de Janeiro estão expostas desde que Wilson Witzel aportou no Palácio Guanabara. O pensamento de Achille Mbembe, filósofo e pensador camaronês, é o que melhor resume a banalização de operações com blindados em terra, rasantes e disparos de helicópteros do céu. São ações que produzem pânico e morte nos morros — onde vive predominantemente a população negra e de baixa renda — sem traço de melhora na percepção de segurança no Estado do Rio. O nome é necropolítica.

“É basicamente uma política de morte, o poder de ditar quem deve viver e quem deve morrer. Ocorre cotidianamente em diversos territórios negros e periféricos, caso das favelas, identificados como territórios de inimigos que precisam ser combatidos. Fica estabelecido que aqueles corpos são matáveis, que essas vidas têm menos valor e são, portanto, descartáveis”, define Juliana Borges, pesquisadora em antropologia e autora de “O que é encarceramento em massa” (Pólen Livros).

A autora tratou do tema em artigo sobre as ações do então prefeito de São Paulo, João Doria, para dispersar frequentadores da cena de consumo de drogas na região central da capital paulista, a chamada Cracolândia. O raciocínio serve agora às intervenções que, no Rio, ganharam força como discurso eleitoral de um candidato desconhecido e materializaram-se no dia a dia das comunidades com a posse do governador.

Em agosto, seis jovens inocentes, cinco rapazes e uma moça, perderam a vida por bala perdida no Grande Rio. Esta semana, confrontos da polícia com traficantes interromperam por uma hora a circulação de trens e deixaram quatro mortos no Jacarezinho. Anteontem, no Complexo do Alemão, seis pessoas morreram, um policial ficou gravemente ferido e centenas de crianças não puderam ir à escola; na Maré, alunos tiveram de se abrigar no corredor de uma unidade de ensino.

De tão grave o cenário, membros da sociedade civil e representantes das comunidades estão recorrendo ao Ministério Público estadual e à Defensoria Pública. O Ministério Público Federal, por sua vez, está cobrando da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a fiscalização dos helicópteros das forças de segurança do Rio. Seria atribuição do órgão monitorar estrutura, operação, gestão, treinamento, instalação da plataforma de tiros, transporte de armas, disparos a bordo e lançamentos de objetos.

Os números também confirmam a escalada da violência pela multiplicação dos confrontos. De janeiro a julho, houve 1.075 homicídios decorrentes de intervenções policiais no estado, informou o Instituto de Segurança Pública (ISP). Foi recorde histórico. Até agosto, a Rede de Observatórios da Segurança contou 1.697 operações com trocas de tiros.

Este ano, a plataforma Fogo Cruzado, que mapeia troca de tiros na Região Metropolitana, contabilizou 63 episódios de violência com três ou mais civis mortos; em 49 havia presença de policiais. As chacinas deixaram 235 vítimas fatais. Em relação ao mesmo período de 2018, houve aumento de 31% no total de casos, 58% na participação de agentes de segurança e 21% no número de mortos.

A partir das violências perpetradas no Rio, podemos enxergar uma política racista de extermínio e instrumentalização da vida, mobilizada pelo aparato estatal que impõe à população negra a morte e reforça a ideia de que a possibilidade de vida plena é atributo exclusivo da branquitude. A necropolítica não foi inventada no governo Witzel, mas tem na atual gestão uma exacerbação que não pode ser negligenciada ou simplificada”, resume Thula Pires, professora de Direito Constitucional da PUC-Rio.

 

*Flávia Oliveira/O Globo