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Snowden anuncia vazamento do ano sobre software israelense que clã Bolsonaro quis comprar

Sistema Pegasus, que Carlos Bolsonaro quis trazer ao Brasil, foi usado para espionar jornalistas e autoridades no mundo inteiro

Ativistas de direitos humanos, jornalistas e advogados em todo o mundo têm sido alvos de espionagem através do sistema de software de hacking vendido pela empresa de vigilância israelense NSO Group, segundo investigação sobre um vazamento massivo de dados compartilhado pelo The Guardian.

Houve um abuso generalizado e contínuo do spyware de hacking da NSO, Pegasus, que Carlos Bolsonaro quis trazer ao Brasil. A empresa, no entanto, para se defender, diz que o sistema é destinado apenas para uso contra criminosos e terroristas.

Vazamento

Pegasus é um malware que infecta iPhones e dispositivos Android para permitir que os operadores da ferramenta extraiam mensagens, fotos e e-mails, gravem chamadas e ativem microfones secretamente.

O vazamento contém uma lista de mais de 50.000 números de telefone que, acredita-se, foram identificados como de pessoas de interesse por clientes da NSO desde 2016, segundo o The Guardian.

A Forbidden Stories, uma organização midiática sem fins lucrativos com sede em Paris, e a Anistia Internacional inicialmente tiveram acesso à lista vazada e compartilharam o acesso com parceiros como parte do projeto Pegasus, um consórcio de reportagens.

Edward Snowden, ex-administrador da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, que vazou detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global da agência, anunciou a reportagem do The Guardian na internet.

Clã Bolsonaro

Em maio deste ano, o vereador Carlos Bolsonaro tentou trazer a Pegasus para o Brasil. Apesar de ser apenas vereador, Carlos tem grande influência no governo do pai, Jair Bolsonaro. A proposta, no entanto, gerou uma crise política entre a ala bolsonarista do governo e o alto comando militar.

Como confirma reportagem do The Guardian, o spyware foi usado por governos ao redor do mundo para invadir celulares e monitorar conversas de opositores políticos.

O Pegasus permite rastrear em segredo todas as atividades da pessoa que teve o aparelho infectado. Desde mensagens enviadas e digitadas até informações de acesso a contas bancárias, redes sociais e email.

Também é possível usá-lo para ativar remotamente o microfone do celular espionado para ouvir ligações e tirar fotos com a câmera, além de acessar a localização e monitorar os sites navegados com o tempo de acesso em cada um deles.

*Com informações do 247

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Glenn Greenwald: o mais bombástico ainda será publicado

Dois dias após a prisão dos hackers, jornalista afirma que Moro trabalha sem transparência e ameaça a democracia no Brasil.

As notícias sobre as prisões dos hackers paulistas chegavam a todo instante nas telas dos computadores e celulares, na tarde dessa quinta-feira (25/07/2019), quando o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, recebeu o Metrópoles em sua casa, no Rio de Janeiro, para uma entrevista. Cauteloso, mas sereno, ele falou sobre os últimos fatos relacionados ao vazamento de conversas entre procuradores da Lava Jato e o então juiz Sergio Moro. Também fez previsões.

“Os materiais mais bombásticos e importantes ainda não foram publicados, mas logo serão”, afirmou o jornalista, nascido nos Estados Unidos e há 14 anos residente no Brasil. Desde a segunda semana de junho, Greenwald vive, pela segunda vez, a experiência de se expor em público por divulgar arquivos de grande repercussão pública.

O primeiro foi em 2013, quando o jornalista publicou uma série de reportagens produzidas a partir de um acervo retirado ilegalmente da Agência de Segurança Nacional (NSA), episódio que teve intensa repercussão mundial. Agora, ele se vê de novo imerso em um caso impactante, com desdobramentos imprevisíveis para o cenário político brasileiro.

Desde o início da divulgação dos diálogos, Greenwald se defronta com Moro, atual ministro da Justiça e Segurança Pública. Na opinião do jornalista, o ex-juiz da Lava Jato ultrapassou os limites da lei por ter trabalhado sem transparência. “Qualquer pessoa que pode usar o poder nas sombras, sem transparência na investigação, vai ser corrupto. É da natureza humana”, afirma.

Aos 52 anos e casado com o deputado David Miranda (PSol-RJ), o jornalista vive em uma casa ampla no Rio. Há uma década e meia no Brasil, ele afirma ser otimista em relação ao futuro do jornalismo, com a participação cada vez maior de profissionais independentes. Segue a entrevista:

Quais as consequências das prisões da operação Spoofing, da Polícia Federal, para o trabalho do Intercept?
Poucas. No passado, nós reportamos com materiais fornecidos por fontes que também foram presas. Obviamente, [me refiro] ao caso do [Edward] Snowden. Depois de semanas das reportagens, ele anunciou publicamente que era a fonte e foi processado imediatamente por muitos crimes. Mas, para o governo dos Estados Unidos, isso não mudou nada o nosso jornalismo. Continuamos reportando os documentos que ele nos deu. Nós não sabemos se os caras que eles [Polícia Federal] prenderam eram nossas fontes, e não vamos comentar nada sobre isso. Mas, se eles são ou não, não tem nenhuma consequência para a nossa reportagem.

Você chegou a ter contato pessoal com as fontes?
Pessoal, fisicamente?

Sim.
Eu não vou comentar sobre a comunicação com a nossa fonte.

Quais os próximos passos para o trabalho de vocês?
É difícil comentar o material que ainda não está publicado porque obviamente temos um processo editorial e jornalístico que é muito importante e eu aprendi essa lição várias vezes durante o caso do Snowden, quando as pessoas estão sempre querendo saber: “Ah, por favor, dá uma dica do que está chegando”. E às vezes eu disse alguma coisa que não foi totalmente verdade porque o material não estava pronto jornalisticamente para discutir. Eu aprendi essa lição de que, até estarmos prontos, não vou discutir o material. Mas eu posso falar que tem muitos artigos, muitas discussões e declarações que são graves e muito importantes e que serão publicados logo.

Quanto tempo você ficou reportando no caso do Snowden?
Na realidade, nós continuamos reportando por cinco anos, seis anos, até hoje. Obviamente, o material mais grave, mais importante, foi divulgado nos primeiros 18 meses. Mas, depois disso, quando alguma coisa acontece no mundo e de repente você quer pesquisar o acervo para verificar se tem documentos relevantes para a notícia, muitas vezes isso acontece. O acervo do Snowden fortalece a nossa reportagem. E, também, nós sempre achamos que tínhamos a responsabilidade de divulgar o máximo que nós conseguirmos publicar dentro da nossa obrigação de ser responsável. Eu falaria que as declarações mais graves, mais importantes, foram publicadas nos primeiros 18 meses.

No caso do material de agora, que você destacou ser um acervo muito grande, você tem uma ideia se o mais importante já saiu ou ainda tem muita coisa importante?
Eu tenho certeza, porque eu conheço o material que estamos trabalhando, que os materiais mais bombásticos e importantes ainda não foram publicados, mas serão em breve. Tem muitas revelações graves. Essas seis semanas que começamos a publicar foram muito pouco tempo para um acervo deste tamanho. Então, com certeza, vai ter muito mais revelações graves no futuro.

Qual a diferença do material atual para o do Snowden?
Uma diferença é que o material do Snowden era sobre segurança nacional. Então, por um lado foi um pouco mais sensível, porque com materiais e segredos sobre segurança nacional você pode errar e acabar publicando algo que deixa alguém em perigo sério, perigo de morte. Então, por um lado é mais perigoso. Mas, por outro, o material que estamos trabalhando agora é sobre as pessoas mais poderosas deste país que já mostraram que quebrariam qualquer lei ou código de ética para realizar seus fins. Então, eu acho que a reportagem que estamos fazendo, neste caso, é mais perigosa, com mais risco, que a reportagem que fizemos, pelo fato de a matéria ser sobre o governo atual. Durante a época do Snowden, eu estava no Brasil ou na Alemanha reportando sobre outros governos, com distância. Mas, agora, as pessoas que estamos revelando, divulgando, denunciando, são muito mais próximas e têm mais controle sobre nós. Então, o material é mais perigoso.

Você se sentiu, ou se sente, perseguido em algum momento?
Com certeza. Desde o começo [o ministro da Justiça e Segurança Pública] Sergio Moro está usando a linguagem para criminalizar o nosso jornalismo. Ele nunca usa a palavra jornalistas para falar sobre nós. Sempre nos chama de “os aliados dos hackers”, criando a teoria de que participamos do crime. Ele está fazendo isso de propósito. É uma ameaça grave quando está vindo do ministro da Justiça, que tem o poder para investigar, espionar, monitorar e processar. Obviamente, é uma ameaça séria. Também tem essa reportagem de um site que não é confiável, mas que é bem próximo aos procuradores da Lava Jato, ao Ministério Público, que reportou que eles [autoridades] estão me investigando, usando o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] para investigar as minhas atividades financeiras. Também estamos recebendo o tempo todo ameaças de morte bem detalhadas, bem sérias. Não é o tipo de ameça que se recebe todo dia quando você é figura pública: “Oh, espero que você morra” ou “Vou te matar”, mas com muitos detalhes, com dados pessoais. E também quase todos os dias o número 1 ou número 2 no trending topics do Twitter é alguma coisa como “Glenn na cadeia”, ou algo assim. Obviamente, que são os bolsonaristas fazendo isso. Mas quando você fica três, quatro, cinco ou seis semanas com o seu nome no topo da lista do Twitter, dizendo que você deve ser preso, isso também é um tipo de ameaça.

Inicialmente chegaram a dizer que você teria contratado um hacker da Rússia, que teria conseguido as informações por lá e enviado para cá. Agora, descobriram que é um amador de Araraquara que invadiu os celulares. Como é a sensação de ser Araraquara o epicentro desse vazamento?
As mesmas pessoas que estavam promovendo essas teorias da conspiração totalmente loucas, como o pavão misterioso, por exemplo – que estava falando que eu paguei um hacker na Rússia – ou o artigo totalmente maluco na revista Isto É dizendo que era Edward Snowden que fez o hackeamento, usando o argumento que ele teria amizade com os fundadores do Telegram, de repente, abandonaram essa teoria e mudaram para outra: que eu paguei esse hacker no interior de São Paulo. Isso mostra como o movimento do Bolsonaro funciona no Brasil. Eles simplesmente criam fake news e teorias da conspiração sem base nenhuma e usam YouTube, Twitter e redes sociais para espalhar. E eles estão pegando muitas pessoas. Tenho amigos que não são bolsonaristas dizendo que seus amigos e seus pais receberam essas mensagens forjadas do pavão e perguntam se é verdade, porque ninguém vai analisar se é verdade ou não. Essa campanha é muito séria. É assim que o Bolsonaro ganhou.

Mas você pagou pelas informações?
Não, obviamente não pagamos nada. Até mesmo o suspeito, que a PF prendeu ontem e acusou de ser nossa fonte – e nós não estamos confirmando – mesmo no depoimento dele, ele confirmou o que estamos falando o tempo todo. Que a fonte passou a informação de forma anônima, sendo que, antes disso, nunca falou comigo e que a informação foi obtida sem qualquer pagamento, sem nada. Simplesmente passaram a informação e recebemos. É o que temos sempre falado.

Na minha opinião, depois de muitas semanas lendo como Sergio Moro funciona nas sombras e também observando como ele está reagindo nesse caso, eu acho que é o contrário, que ele é a ameaça mais extrema, mais severa à democracia brasileira no governo Bolsonaro. Glenn Greenwald

Você notou alguma diferença do comportamento do Moro e outras autoridades nos últimos dias ou é o mesmo, a mesma postura?
Eu não entendo como Sergio Moro pode estar envolvido nessa investigação. Sobretudo comandando uma investigação quando ele tem um óbvio conflito de interesses, visto que ele era o principal alvo da nossa reportagem e, ao mesmo tempo, está investigando. Nenhuma democracia permitiria isso. É incrível que ele não tenha dito que não vai ter envolvimento. Ele é uma pessoa extrema. Acho que as pessoas estavam esperando que Moro iria amenizar as coisas mais severas de Bolsonaro contra a democracia. Na minha opinião, depois de muitas semanas lendo como Sergio Moro funciona nas sombras e também observando como ele está reagindo nesse caso, eu acho que é o contrário, que ele é a ameaça mais extrema, mais severa à democracia brasileira no governo Bolsonaro.

No passado, como advogado, você defendeu supremacistas brancos nos Estados Unidos. Isso contrasta, por exemplo, com a foto de seu perfil no Twitter, que questiona: “Quem mandou matar Marielle”. O que o levou a defender um grupo tão diferente de você?
Eu acho que é totalmente consistente. É impossível afirmar que você acredita em princípios e em direitos se você só defende esses princípios de direito quando é sobre pessoas que têm a mesma ideologia e as mesmas opiniões políticas que você tem. Por causa disso, nos Estados Unidos, tem uma tradição que é muito nobre, muito importante, que eu acredito muito, de advogados que querem defender a liberdade de expressão e não defenderem essa liberdade para pessoas que têm a mesma ideologia que eles, porque isso é muito fácil de fazer. Mas para defender liberdade de expressão de pessoas que têm ideologia diferente de você. Tem um caso muito famoso, da organização das liberdades civis nos Estados Unidos, composto por muitos advogados judeus e, em 1977, eles defenderam o direito dos nazistas se manifestarem e protestarem em uma cidade com muitos judeus que sobreviveram ao Holocausto. Foi uma polêmica enorme, como pode, um judeu defender o direito de nazistas de protestar na cidade onde tem judeus que sobreviveram ao Holocausto? Eles responderam que era impossível defender liberdade de expressão se você só defende liberdade de expressão para pessoas com as quais você concorda. Eu concordo totalmente com essa ideia, esses princípios. Vou dar um exemplo muito mais recente, de seis ou oito semanas atrás. O Antagonista e a revista Crusoé foram censurados pelo STF. Fui uma das primeiras pessoas que saiu em defesa do Antagonista denunciando essa censura. Nós achamos que esse tipo de jornalismo que eles praticam é totalmente ruim e não publicaríamos esse artigo [censurado] porque foi só uma fonte anônima acusando outra pessoa. Mas nós publicamos esse artigo censurado em defesa e em solidariedade à liberdade de imprensa de um site que nós odiamos, que tem uma ideologia que nós achamos que é totalmente ruim. Acho que é assim que você defende liberdade, direitos e princípios.

Para que serve o tipo de jornalismo que vocês fazem no atual contexto político do Brasil?
É bem conhecido que o Brasil foi o tipo de país, por muitos anos, dominado por dois ou três veículos grandes, controlados por famílias bem ricas, com a mesma perspectiva. Então, foi muito difícil criar espaço para o jornalismo independente. Eu sabia disso, mas percebi, pela primeira vez, no impeachment da Dilma, quando quase todos os jornais defenderam o processo. Foi incrível para mim, porque impeachment é o caso mais extremo que uma democracia pode viver. Você pode assistir GloboNews, pode ler a Folha (de S. Paulo), pode ler Época, Veja, O Globo e quase não tinha diferença nenhuma sobre o impeachment.

Qualquer pessoa que pode usar o poder nas sombras, sem transparência na investigação, vai ser corrupto. É da natureza humana. Glenn Greenwald

Foi nessa época que eu percebi que o país estava precisando muito de jornalismo independente, para dar voz a outras pessoas que não estavam sendo ouvidas. E também tem blogueiros, jornalistas independentes muito bons aqui, com muita energia. Os blogueiros aqui no Brasil são melhores do que em qualquer país, mas não são muito financiados. Então, nossa ideia, quando criamos o The Intercept Brasil foi fazer jornalismo independente, sem prioridade para qualquer partido para o governo nem Polícia Federal, establishment, mas bem financiado. Então, criamos uma equipe que pode fazer jornalismo investigativo, profissional. Nossa ideia era exatamente o que estamos fazendo agora, levando transparência para as facções que estavam sendo protegidas pela grande mídia. Acho que isso é muito perigoso e muito importante, pois nos últimos quatro ou cinco anos, Sergio Moro e a Lava Jato fizeram um trabalho bom por um lado, mas com consequências muito graves para o país. Não tinha quase nenhuma transparência, nenhuma investigação, nenhum questionamento. Tem jornalista fazendo isso, mas muito pouco. E eu acho que foi exatamente por causa disso que eles conseguiram fazer tudo sem transparência, que ele [Moro] se tornou corrupto, pois qualquer pessoa que pode usar o poder nas sombras, sem transparência na investigação, vai ser corrupto. É da natureza humana.

O que você acha que vai ser o futuro do jornalismo?
Eu acho que esse caso e outros estão mostrando que os grandes veículos de mídia estão perdendo o controle do discurso e do debate político. Tem muitos sites que estão fazendo jornalismo com qualidade alta, inclusive o seu (Metrópoles), e outros. Isso está me dando mais otimismo. Agora, por exemplo, quando estamos procurando parceiros com quem podemos trabalhar com esse acervo, temos opções além de Veja e Folha. Temos sites pequenos, mas muitos profissionais que fazem jornalismo bom, com quem podemos trabalhar. Isso está mostrando que, finalmente, no Brasil, o jornalismo independente está crescendo. Esse espaço está abrindo por causa da Internet e porque as pessoas perderam a fé na grande mídia. Tudo isso está me dando muito otimismo.

Que critérios vocês usam para fazer as parcerias para a publicação deste acervo da Lava Jato?
É o mesmo que usamos no caso do Snowden, que usamos em todos os casos quando recebemos. Por exemplo, a primeira coisa que nós conseguimos fazer no acervo que recebemos foi achar conversas entre nossos repórteres e os procuradores da Lava Jato. Nós conseguimos comparar o que estava no acervo com o que estava ali e conseguimos concluir que o acervo é autêntico, palavra por palavra. Obviamente, seria impossível para um hacker, uma fonte, ou outra pessoa forjar isso. Conseguimos consultar também informações que não são públicas e conseguimos confirmar que o que está no acervo estava totalmente autêntico.

Por que, na sua opinião, eles escolheram o The Intercept para vazar esses documentos?
É difícil para falar, por que eu não falei muito com nossa fonte sobre o motivo. Mas posso especular que essa fonte queria que grande parte do arquivo fosse publicado e sabia que qualquer pessoa que publicasse sofreria ameaça. Eu também presumo que pelo fato de eu ter trabalhado com um acervo muito parecido, eu publiquei e tive ameaças.

 

 

*Do Metrópoles

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Glenn avisa: hoje tem mais vazamento e põe nua a hipocrisia da Globo

Em uma sequência de tuítes, Glen Greenwald detona a Rede Globo e diz que terá.

O jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept, usou o Twitter para criticar o “moralismo” da Globo, que já fez uso de documentos “roubados” anteriormente sem nenhum tipo de problema; “Quando moralizando sobre #VazaJato, algumas estrelas da Globo esquecem de mencionar que eles constantemente reportam documentos roubados”

Após a prisão de “hackers” suspeitos de invadir o celular do ministro Sérgio Moro (Justiça), o jornalista Glenn Greenwald afirmou que a resposta do Intercept “para todas essas fofocas e distrações hoje será simples: mais reportagens desse arquivo, em conjunto com nossos parceiros e com novos”; “As ações de Moro e Deltan foram obscurecidas hoje; não será para sempre”

“Todas as possíveis teorias da conspiração foram divulgadas hoje. Nenhuma alteração 3 pontos-chave: 1) Mesmo no Brasil de Bolsonaro, as evidências são necessárias para provar crimes; hashtags e tweets bazófia de Moro não são suficientes”, escreveu Greenwald no Twitter.

Sobre Snowden

Glenn: Globo publicou comigo documentos roubados na NSA e agora posa de “Moralista”.

“Esse trabalho em 2013 usando documentos roubados por nossa fonte – não apenas com Globo, mas jornais e revistas em todo o mundo – foi o episódio mais orgulhoso da minha carreira jornalística: até agora. #VazaJato é ainda mais importante devido à quantidade de corrupção ocultada.”

“Na verdade, a @RedeGlobo ficou tão orgulhosa que dedicaram uma hora inteira à noite para uma entrevista com a fonte que roubou os documentos, Edward Snowden, de Moscou, para explicar por que os documentos roubados são necessários para o jornalismo.”

“Os principais chefes da @RedeGlobo – incluindo João Roberto Marinho e Ali Kamel – estiveram pessoalmente envolvidos. Eles estavam gratos pela oportunidade de usar esses documentos roubados. Ninguém da Globo chegou a sugerir que era errado usar documentos roubados para reportart.”

“O jornalismo mais importante é freqüentemente feito com fontes que ilegalmente obtêm informações (veja ‘Papéis do Pentágono’) e todas as maneiras pelas quais jornalistas revelaram crimes de guerra nos EUA durante o Vietnã, Watergate e a Guerra ao Terror”, continua.

“Quando moralizando sobre #VazaJato, algumas estrelas da Globo esquecem de mencionar que eles constantemente reportam documentos roubados – não só com LJ mas tb em 2013, quando o @JornalOGlobo, o @RevistaEpoca e o @ShowDavida usaram os documentos roubados de Snowden. Vamos lembrar:”

“O uso de documentos roubados pela Globo para reportar começou com a @JornalOGlobo, que colocou 2 vezes em sua primeira página reportagem comigo baseado exclusivamente em documentos que eles sabiam terem sido roubados da NSA. Eu não ouvi ninguém na Globo se opor a fazer isso.”

 

 

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Glenn Greenwald: “Moro sabe que eu sei tudo que ele disse e fez. E sabe que vamos contar tudo”

Ele liderou a equipe que revelou o escândalo que sacode o Brasil e pôs contra a parede o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que condenou o ex-presidente Lula à prisão.

Nos últimos seis anos, o advogado Glenn Greenwald (Nova York, 1967) se tornou uma figura fundamental do jornalismo investigativo. Instalado no Rio de Janeiro há 15 anos, foi a ele que o analista Edward Snowden recorreu em 2012 com os documentos que revelavam os programas de vigilância em massa do Governo dos Estados Unidos, porque tinha lido seu blog e suas colunas no site Salon. A publicação daquela história lhe rendeu um prêmio Pulitzer e levou à criação do jornal digital The Intercept. É nele que o jornalista publica há um mês, em conjunto com outros jornalistas da equipe, sua mais recente grande história: as mensagens trocadas entre Sérgio Moro, o então juiz que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão e é um símbolo da luta contra a corrupção, e os procuradores da operação Lava Jato. Moro pendurou a toga para ser ministro da Justiça no Governo do presidente Jair Bolsonaro e anunciou recentemente que tiraria cinco dias de licença sem salário a partir desta segunda-feira para resolver “assuntos particulares”. Desde que publicou sua revelação exclusiva, Greenwald é considerado um vilão por quem vê Moro como um herói. E vice-versa.

Greenwald, que já escreveu meia dúzia de livros e é conhecido por ser um crítico feroz e heterodoxo do poder e das elites, não teme a polêmica, e apontou enfaticamente os erros dos democratas e da imprensa dos EUA depois da eleição de Donald Trump. Também denunciou que o movimento anti-Trump é “a primeira #resistência na história que venera as agências de segurança estatais”.

No Brasil, o jornalista é, além disso, o marido de um deputado de esquerda, David Miranda, com quem adotou dois meninos e formou uma família. Desde que revelou as mensagens de Moro, anda com escolta armada. O som da chuva torrencial pontuado por latidos − eles vivem com cerca de 20 cachorros − é o pano de fundo desta entrevista na casa da família, no Rio de Janeiro.

Pergunta. Como foi o instante em que recebeu o vazamento sobre Sérgio Moro?

Resposta. Foi algo muito parecido com o que senti ao receber os arquivos de Snowden. Incredulidade. No jornalismo você consegue boas histórias, mas elas raramente são disruptivas. Desta vez, eu sabia que isto ia ser uma bomba no Brasil, porque o que eu estava lendo era não apenas chocante, como também implicava aquela que provavelmente é a pessoa mais respeitada e poderosa do país, mais até do que o presidente. Eu sabia que seria muito polêmico. Ele [Moro] é provavelmente quem dá credibilidade e legitimidade ao Governo de Bolsonaro.

P. Os documentos foram enviados por correio eletrônico ao seu site? Foi à redação? Ligaram?

R. Não posso contar nada, para proteger a fonte, não posso contar nada sobre como nos chegou o material.

P. Dizem que a equipe se reuniu em um hotel porque o arquivo é enorme e precisavam de segredo e de muito cuidado.

R. A primeira coisa é sempre a segurança. Somos uma agência de notícias com sede nos Estados Unidos. No The Intercept, antes dos jornalistas, contratamos especialistas em segurança tecnológica. Mesmo que a polícia brasileira viesse até minha casa e levasse meu computador e meus telefones, nunca seria capaz de chegar ao arquivo, porque ele está seguro, fora do Brasil, em muitos lugares diferentes. Vendo o tamanho, entendemos que era necessário trabalhar em equipe e que era necessário que nos associássemos a outros veículos de comunicação, também para garantir nossa própria proteção.

P. Vocês se associaram ao maior jornal, a Folha de S. Paulo, e à maior revista semanal, a Veja.

R. Sim, e eles têm equipes grandes que cobrem a operação Lava Jato há anos, que cobriram Moro. Eles têm um conhecimento que nós não temos necessariamente. Temos jornalistas espertos em Lava Jato, Leandro [Demori], Rafael [Moro Martins], Amanda [Audi]. Quanto mais jornalistas você envolve em um assunto, mais profundo é o jornalismo que você faz.

P. O senhor conseguiu os arquivos?

R. Sim.

P. O The Intercept inclui em seu site instruções detalhadas para que as fontes possam lhes enviar vazamentos.

R. Sim, mas enfatizamos que não existe a segurança absoluta, o 100%. Isso é algo que Sergio Moro acaba de descobrir. Ele usava o sistema de mensagens por celular Telegram porque pensava que era totalmente seguro.

P. O ministro Moro se defendeu dizendo que o comportamento dele como juiz pode ser surpreendente em outros países, mas que é comum, tradicional, no Brasil.

R. Essa tradição que ele diz existir é rejeitada pelo código de conduta judicial, que exige que um juiz seja imparcial. É proibido explicitamente o que ele diz que é comum e tradicional: basicamente, juízes colaborando com uma das partes. Mas mais significativo ainda é que durante os últimos quatro ou cinco anos houve suspeitas, sem provas, de que Moro estava colaborando com os procuradores e ele nunca disse que era “uma tradição”. Ele negou veementemente.

P. Você teme que sua imparcialidade como jornalista seja questionada porque seu marido é político?

R. Nunca acreditei que os jornalistas deveriam fingir não ter opiniões. Até certo ponto, é mais honesto ser aberto sobre seus pontos de vista. E algo que acho engraçado é que no Brasil as pessoas me associam com a esquerda, enquanto nos EUA às vezes acreditam que sou de direita porque apareço na rede Fox.

P. Houve uma grande campanha de intimidação contra você, da qual participaram dois filhos do presidente, sem que este ou o ministro da Justiça a impedissem. Tem medo?

R. No jornalismo, você sempre corre riscos. E, se enfrenta alguém no poder, podem castigar você ou se vingar. Mas nós decidimos que valia a pena assumir o risco. Acredito que este Governo é repressor e autoritário, e acredito que Moro demonstrou que está disposto a violar todas as leis. Mas o que os torna perigosos é que agora eles se sentem desesperados. Moro sabe que eu sei tudo o que ele disse e fez. E que vamos contar tudo.

P. O que o trouxe para o Brasil?

R. Vim por sete semanas para clarear as ideias. Meu primeiro marido e eu tínhamos nos separado, eu tinha 37 anos, estava cansado de ser advogado… Conheci o David no primeiro dia, nós nos apaixonamos e naquela época os EUA tinham uma lei de [Bill] Clinton que proibia o Governo federal dar qualquer benefício a casais do mesmo sexo. David não podia obter um visto para os EUA. Mas os tribunais do Brasil tinham criado uma norma que dava direito de residência permanente aos casais do mesmo sexo. O Brasil era a única opção para estarmos juntos.

P. O jornalismo investigativo é mais difícil do que nos tempos do Wikileaks ou de Snowden?

R. No sentido tecnológico é mais fácil, mas no legal, mais difícil. Uma das coisas geniais do Wikileaks é que Assange foi o primeiro a ver que, graças ao armazenamento digital, os vazamentos em massa de informações de instituições poderosas seriam o novo motor do jornalismo na era digital. Um de meus heróis da infância era Daniel Ellsberg, que vazou dezenas de milhares de páginas dos papéis do Pentágono. Demorou meses para copiar os documentos secretos. Snowden levou algumas horas. Mas os poderosos, cada vez mais ameaçados por essa facilidade para os vazamentos maciços, estão ficando mais agressivos na hora de criminalizar o jornalismo investigativo.

P. Assange é um jornalista? Este é um ponto central no debate sobre seu caso judicial.

R. Acredito que o que ele fez é jornalismo. Não acho que um jornalista deva ter formação específica como a de um médico ou um advogado. Qualquer cidadão pode revelar informação de interesse público. Assange trabalhou com jornais do mundo todo, The New York Times, The Guardian, EL PAÍS etc., não como uma fonte, mas como um parceiro jornalístico. Não tenho uma relação muito estreita com ele, mas sou uma das poucas pessoas que, apesar de criticá-lo pontualmente, sempre defenderam a importância de seu trabalho. Em 2018, David e eu passamos três dias com ele na embaixada [do Equador em Londres].

P. E com Snowden?

R. Tenho muito relacionamento. Juntamente com Daniel Ellsberg, Laura Poitras e outras pessoas criamos uma organização para a liberdade da informação, com a qual Snowden trabalha. Estive em Moscou há um ano e passamos um dia normal como amigos, fomos ao parque Gorki… Quando o visitei pela primeira vez, estava sob extrema pressão e não se sentia à vontade nem mesmo saindo à rua. Hoje não pode sair da Rússia porque seria preso, mas é a pessoa mais feliz que conheço porque, com coragem e sacrifício, tomou uma decisão corajosa e estava plenamente consciente disso.

P. Quanto do orçamento do The Intercept é coberto pelos leitores e quanto por Pierre Omidyar, o dono do Ebay, que financiou o projeto?

R. Claramente, a maior parte ainda vem do nosso fundador, mas a cada ano que passa isso vai se equilibrando porque cresce o apoio dos leitores. Aqui, no Brasil, disparou.

P. Para seus filhos, como é crescer no Brasil de Bolsonaro com dois pais, que além do mais são conhecidos?

R. Pensamos nisso antes de adotá-los, quando Bolsonaro ainda não era presidente, mas já havia um crescente movimento da direita. No Brasil querem apresentar a comunidade LGBTQI como uma ameaça para as crianças. A família que criamos dinamita essa demonização. É nossa obrigação mostrar que as famílias LGBTQI podem ser completas e felizes.

Proteção da privacidade

Glenn Greenwald explica que as agências de inteligência podem transformar um celular em instrumento de vigilância, embora não tão facilmente. Por isso, desde que Edward Snowden o contatou em 2013 para lhe entregar os arquivos que provavam a espionagem em massa de cidadãos americanos pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), o jornalista toma todas as precauções ao se comunicar com seus colegas, com as fontes e com qualquer pessoa com quem troque informações sensíveis. A medida de segurança mais óbvia é retirar os celulares da sala. Seis anos depois daquela reportagem exclusiva de 2013, Greenwald afirma que ela teve tanta repercussão porque “no fim das contas, instintivamente, somos animais que precisam de um espaço privado”. Por isso é que se coloca um ferrolho no banheiro e se usa uma senha no correio eletrônico, diz ele. “Todos sentimos que há coisas que compartilharíamos com um médico, com nosso parceiro ou com nossos melhores amigos, mas que nos dariam vergonha se fossem públicas.”

Greenwald opina que, no entanto, o debate sobre a perda de privacidade não tem a importância que deveria ter entre a população. Se as revelações de Snowden colocaram o foco na intromissão dos Governos, com os EUA à frente, agora são as grandes empresas de tecnologia, como Facebook e Google, que estão no centro das atenções. “A forma como a tecnologia permite que nos vigiemos o tempo todo é mais grave do que o público entende, e o debate sobre isso é insuficiente”, afirma. A vida digital transformou os usuários, muitas vezes de maneira totalmente inconsciente, em fornecedores constantes de informações pessoais valiosas para empresas e entidades de todo tipo.

O advogado e jornalista, que vive em um país tão desigual como o Brasil, tem plena consciência de que para boa parte da população do mundo a defesa da privacidade não é um assunto primordial. Quando você não tem acesso a água potável nem a atendimento de saúde para seus filhos, ou não come o suficiente, pensar sobre o uso que é feito de seus dados pessoais pode parecer algo de menor importância. “Defender a privacidade pode parecer um pouco abstrato e mais remoto do que satisfazer outras necessidades. Mas também acho que existe uma tentativa deliberada de transmitir às pessoas a mensagem de que, se você não for um terrorista ou um pedófilo, se não tiver nada a esconder, não deve se preocupar com que o Governo ou as empresas o vigiem.”

Agora, mergulhado na enorme polêmica do caso Moro, a perda de privacidade sofrida pelo cofundador do The Intercept vai além da vigilância de Governos ou empresas: no Brasil, seu rosto está com o do ex-juiz em toda a mídia desde que começou o vazamento de informações, em 9 de junho. Paralelamente à intimidação, Greenwald sofreu uma campanha de descrédito que, entre outras mentiras, afirma que ele não ganhou o Pulitzer que obteve com o caso Snowden. “Uma das diferenças entre as reportagens sobre a NSA e sobre Moro é que grande parte do ódio que a primeira gerou foi dirigida a Snowden. Eu era simplesmente o jornalista. Agora a fonte é invisível, e eu sou o rosto da história.”

 

*Do El País

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Se a fonte do vazamento for da Rússia, Moro desenterrará o bacamarte?

Numa dessas contradições difíceis de se dar conta no Brasil, a Polícia Federal é comandada por Maurício Valeixo que, por sua vez, está sob o comando do próprio suspeito de ter violado leis da magistratura, o ex-juiz Sergio Moro que, também por sua vez, providenciou uma grande caçada às fontes das informações que estarreceram o país e o mundo nos últimos dias.

“A Polícia Federal articula para, nas próximas semanas, emitir uma resposta “contundente” ao que classifica de “ação orquestrada perpetrada por criminosos de alto calibre”.

A reportagem da revista Istoé destaca que “sob a coordenação do diretor-geral Maurício Valeixo, a PF acredita ter se aproximado dos hackers que invadiram a privacidade dos procuradores e expuseram as vísceras da Lava Jato. Em investigações preliminares, os agentes da Polícia Federal já identificaram conexões no Brasil, em especial em Santa Catarina, e no exterior, com o suposto envolvimento de agentes na Rússia e até em Dubai, nos Emirados Árabes. Segundo agentes ouvidos por ISTOÉ, a PF pode estar perto de alcançar os responsáveis pelo hackeamento ilegal, o que, se confirmado, constituiria uma bomba capaz de provocar uma reviravolta no caso.”

Segundo a matéria, as pistas da linha de investigação levam à Rússia e Edward Snowden reside lá. Greenwald e Snowden são aliados. Em 2013, Snowden se aproximou dos irmãos bilionários Nikolai e Pavel Durov, que criaram o Telegram, um sistema de comunicação por mensagens similar ao Whatsapp. Na Polícia Federal, há quem acredite que o americano refugiado na Rússia possa ter se valido de recentes contatos com os Durov para ter acesso aos diálogos envolvendo as autoridades brasileiras.

 

 

*Da Istoé