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Quando você mata dez milhões de africanos, você não é chamado de “Hitler”

Leopoldo II foi Rei da Bélgica de 1865 a 1909, data de sua morte. Ele comandou o Congo de 1885 a 1908, quando cedeu o controle do país ao parlamento belga, após pressões internas e internacionais.

Olhe para essa foto. Você sabe quem é?

A maioria das pessoas não ouviu falar dele.

Mas você deveria. Quando você vê seu rosto ou ouve seu nome, você deveria sentir um enjoo no estômago assim como quando você lê sobre Mussolini ou Hitler, ou vê uma de suas fotos. Sabe, ele matou mais de 10 milhões de pessoas no Congo.

Seu nome é Rei Leopoldo II da Bélgica.

Ele foi “dono” do Congo durante seu reinado como monarca constitucional da Bélgica. Após várias tentativas coloniais frustradas na Ásia e na África, ele se instalou no Congo. Ele o “comprou” e escravizou seu povo, transformando o país inteiro em sua plantação pessoal com escravos. Ele disfarçou suas transações comerciais como medidas “filantrópicas” e “científicas” sob o nome da Associação Internacional Africana. Ele usou o trabalho escravo para extrair recursos e serviços congoleses. Seu reinado foi mantido através de campos de trabalho, mutilações corporais, torturas, execuções e de seu próprio exército privado.

A maioria de nós não é ensinada sobre ele na escola. Não ouvimos sobre ele na mídia. Ele não é parte da narrativa de opressão repetida amplamente (que inclui coisas como o Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial). Ele é parte da longa história de colonialismo, imperialismo, escravidão e genocídio na África que se chocaria com a construção social da narrativa de supremacia branca em nossas escolas. Isso não se encaixa bem nos currículos escolares em uma sociedade capitalista. Fazer comentários fortemente racistas recebe (geralmente) um olhar de reprovação na sociedade “educada”; mas não falar sobre genocídios na África cometidos por monarcas capitalistas europeus está tudo bem.

Mark Twain escreveu uma sátira sobre Leopoldo chamada “King Leopold’s Soliloquy; A Defense of His Congo Rule” [Solilóquio do Rei Leopoldo; Uma defesa de seu mando no Congo], onde ele ridiculariza a defesa do Rei sobre seu reinado de terror, principalmente através das próprias palavras de Leopoldo. É uma leitura simples de 49 páginas e Mark Twain é um autor popular nas escolas públicas americanas. Mas como acontece com a maioria dos autores politizados, nós geralmente lemos alguns de seus escritos menos políticos ou os lemos sem aprender por que é que o autor os escreveu. A Revolução dos Bichos de Orwell, por exemplo, serve para reforçar a propaganda anti-socialista americana de que sociedades igualitárias estão fadadas a se tornar o seu oposto distópico. Mas Orwell era um revolucionário anti-capitalista de outro tipo – um defensor da democracia operária desde baixo – e isso nunca é lembrado. Nós podemos ler sobre Huck Finn e Tom Sawyer, mas King Leopold’s Soliloquy não faz parte da lista de leituras. Isso não é por acidente. Listas de leitura são criadas por conselhos de educação para preparar estudantes a seguir ordens e suportar o tédio. Do ponto de vista do Departamento de Educação, os africanos não têm história.

Quando aprendemos sobre a África, aprendemos sobre um Egito caricatural, sobre a epidemia de HIV (mas nunca suas causas), sobre os efeitos superficiais do tráfico de escravos, e talvez sobre o apartheid sul-africano (cujos efeitos, nos ensinam, há muito estão superados). Nós também vemos muitas fotos de crianças famintas nos comerciais dos Missionários Cristãos, nós vemos safáris em programas de animais, e vemos imagens de desertos em filmes. Mas nós não aprendemos sobre a Grande Guerra Africana ou o reinado de terror de Leopoldo durante do Genocídio Congolês. Tampouco aprendemos sobre o que os Estados Unidos fizeram no Iraque e Afeganistão, matando milhões de pessoas através de bombas, sanções, doença e fome. Números de mortos são importantes. Mas o governo dos Estados Unidos não conta as pessoas afegãs, iraquianas ou congolesas.

Embora o Genocídio Congolês não esteja incluído na página “Genocídios da História” na Wikipédia, ela ainda menciona o Congo. O que é hoje chamado de República Democrática do Congo é listado em referência à Segunda Guerra do Congo (também chamada de Guerra Mundial Africana e Grande Guerra da África), onde ambos os lados do conflito regional caçaram o povo Bambenga – um grupo étnico local – e os escravizaram e canibalizaram. Canibalismo e escravidão são males terríveis que certamente devem entrar para a história, mas eu não pude deixar de pensar sobre que interesses foram atendidos quando a única menção ao Congo na página era em referência a incidentes regionais, onde uma pequena minoria das pessoas na África estava comendo umas às outras (completamente desprovida das condições que criaram o conflito, e das pessoas e instituições que são responsáveis por essas condições). Histórias que sustentam a narrativa de supremacia branca, sobre a inumanidade das pessoas na África, são permitidas a entrar nos registros históricos. O homem branco que transformou o Congo em sua plantação pessoal, campo de concentração e ministério cristão – matando de 10 a 15 milhões de pessoas congolesas no processo – não entra na seleção.

Sabe, quando você mata dez milhões de africanos, você não é chamado de “Hitler”. Isto é, seu nome não passa a simbolizar a encarnação viva do mal. Seu nome e sua imagem não produzem medo, ódio ou remorso. Não se fala sobre suas vítimas e seu nome não é lembrado.

Leopoldo foi apenas uma das milhares de coisas que ajudaram a construir a supremacia branca, tanto como uma narrativa ideológica quanto como uma realidade material. Eu não pretendo dizer que ele foi a fonte de todo o mal no Congo. Ele teve generais, soldados rasos e gerentes que fizeram sua vontade e reforçaram suas leis. Ele era a cabeça de um sistema. Mas isso não nega a necessidade de falar sobre os indivíduos que são simbólicos do sistema. Mas nós nem mesmo chegamos a isso. E como isso não é mencionado, o que o capitalismo fez à África e todo o privilégio que as pessoas brancas ricas receberam do genocídio congolês permanecem escondidos. As vítimas do imperialismo, como costuma acontecer, são invizibilizadas.

 

*Geledés – Instituto da Mulher Negra

*O seguinte texto foi escrito por Liam O’Ceallaigh para a página Diary of a Walking Butterfly, em dezembro de 2010.

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Flip, a feira de indústria de livros, terá Bolsonaro na abertura e escritora americana entusiasta do golpe de 1964

Enfim, cai a máscara da indústria livreira. A Flip nunca foi feira literária coisa nenhuma, sempre foi mercantilista, elitista e rasa.

Na verdade, a Flip sempre foi a cara das excrescências chamadas “leis de incentivo à cultura”. E ganhou muito dinheiro com isso.

Se alguém quer entender o que é projeto de cultura neoliberal, estude o sistema montado pela Flip em todos esses anos.

O convescote de Paraty não resistiu ao charme sangrento da milícia bolsonarista.

Isso seria fatal.

Essa gente nunca teve compromisso com literatura, sempre trabalhou com a cabeça em best-seller.

E não me venham falar dos escritores brasileiros medalhonados que ela “promoveu”.

Eles sempre promoveram a indústria do livro e não o oposto.

Por isso, a grana que vai entrar para os produtores do evento e para a indústria do livro com Bolsonaro sendo o paraninfo, não será pouca não, porque será marcada pela abertura de um idiota de fama mundial e dará destaque ao panfleto fascista da estadunidense Elizabeth Bishop, que já descreveu o golpe militar de 1964 no Brasil como “uma revolução rápida e bonita”

A coisa será nesse nível.

A figura que terá papel de destaque na Flip, diz que a suspensão dos direitos no Brasil, a cassação de boa parte do Congresso, torturas e assassinatos produzidos pelo golpe de 1964, segundo a esperta, “tinha de ser feito, por mais sinistro que pareça”

Espero que o banquete bolsonarista signifique o fim daquele piquenique “cultural” feito com grana pública há anos para encher as burras do mercado privado do livro e produzir furúnculos conceituais e outras futilidades.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Porteiro está sumido há 27 dias

Com os antecedentes que Bolsonaro seus filhos têm e tentam descaracterizar, inclusive a cena do crime, numa clara violação para obstruir a justiça, como confessou Bolsonaro sobre a secretária eletrônica da portaria do seu condomínio, saber que o porteiro está sumido há 27 dias, dá um frio na espinha, principalmente porque se trata de uma história que envolve assassinos frios que mataram Marielle.

A coluna de Lauro Jardim desta segunda-feira (4) deu o alerta:

“Há 27 dias o porteiro — personagem relevante, mas ainda sem nome — do condomínio Vivendas da Barra, onde Jair Bolsonaro morou até 31 de dezembro e onde mora um dos filhos do presidente — deu o primeiro de dois depoimentos polêmicos no caso Marielle.

Em seguida, o porteiro entrou de férias. E, sabe-se lá o porquê, ainda não prestou um novo depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Cadê o porteiro?”

O que mais assombra nisso é que na semana passada, Bolsonaro citou a “ponta da praia” para se referir aos servidores públicos de órgãos federais ambientais:

“Eu tenho ascendência, porque os diretores, o presidente têm mandato, porque se não tivessem, eu cortava a cabeça mesmo. Quem quer atrapalhar o progresso vai atrapalhar na ponta da praia, aqui não”, disse o presidente durante transmissão feita em suas redes sociais.

Ponta da praia, para quem não sabe, era um local de execução da ditadura militar no Rio de Janeiro.

E quem não sente calafrios pensando no porteiro, sumido há 27 dias, depois dessa declaração de Bolsonaro, se o sujeito se mostra um fanático por torturas e assassinatos durante a ditadura militar.

Não vamos apressar os passos para chegar a conclusões ou mesmo acender fogueira para queimar as bruxas, mas o tom agressivo de Bolsonaro faz temer pela vida do porteiro.

Bolsonaro vem de uma cultura perturbada que produziu muito sangue nesse país. Vai que ele acha que o porteiro quis atrapalhar o progresso do Brasil.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

*Foto: DepositPhotos