O depoimento do ex-secretário Especial de Comunicação do governo federal Fabio Wajngarten representou uma virada esta semana para o desempenho da base bolsonarista nas redes sociais, quando o assunto é a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado.
Dados levantados pela consultoria Arquimedes, a pedido do GLOBO, revelam que perfis alinhados ao presidente Jair Bolsonaro perdem espaço no debate digital a partir da sessão que contou com a participação de Wajngarten na última quarta-feira.
Entre os dias 8 e 11 de maio, dia em que o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres depôs à CPI, a base bolsonarista concentrou 43% das menções à CPI no Twitter contra 57% da oposição. No dia 12, quando Wajngarten foi ouvido, esse percentual caiu para 28% ante 72% de perfis antibolsonaristas. Já na última quinta-feira, quando o presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, falou aos senadores, os governistas somaram 29% das menções. Ao todo, foram analisadas pela Arquimedes mais de 900 mil mensagens.
Em seu depoimento, Wajngarten buscou poupar Bolsonaro de críticas pela condução da crise na pandemia, mas fortaleceu o discurso de oposição ao entregar à CPI uma carta enviada pela Pzifer em setembro do ano passado oferecendo vacinas ao Brasil. O documento ficou dois meses sem respostas das autoridades brasileiras.
O pesquisador Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes, explica que o tom adotado pela base bolsonarista diante das revelações da CPI tem perdido fôlego porque se resume a ataques ao senador Renan Calheiros (MDB-AL) e demais parlamentares da comissão, a exemplo da reação de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) ao chamar o relator de “vagabundo”.
A mesma estratégia é observada nos grupos de WhatsApp monitorados pelo professor da Universidade da Virgínia, nos EUA, David Nemer, que estuda o comportamento da base de Bolsonaro na plataforma. Na última quarta-feira, por exemplo, em 37 de 73 grupos analisados, vídeos com o ataque de Flávio a Renan foram amplamente reproduzidos e compartilhados logo após a declaração do senador.
— É fácil trazer ataques ao Renan Calheiros porque ele já foi alvo da base antes mesmo da CPI começar a funcionar. Já há material, inclusive, pronto para isso. Mas ao longo das sessões, o que observamos é uma desorganização dessa base, que não sabe lidar com a velocidade dos acontecimentos na CPI e precisa de tempo para estruturar sua narrativa. Aquela máquina vista nas eleições 2018 está mais fraca e ineficiente — conclui Nemer, que vê um tom mais reativo entre os apoiadores do presidente.
Além de nomes tradicionais do campo bolsonarista, como os filhos do presidente e parlamentares, como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), o senador Marcos Rogério (DEM-RO), membro da CPI, ganhou protagonismo na defesa do governo Bolsonaro no Twitter. Desde 1º de maio, o senador triplicou o número de seguidores no Twitter, de 8,3 mil para 23,7 mil na última sexta-feira.
No Instagram, a alta é de 70%, com 17 mil novos seguidores, nas últimas duas semanas. Uma de suas postagens com maior repercussão é uma resposta ao youtuber Felipe Neto, que o chamou de “vergonha como representante do povo”. Trechos das falas de Marcos Rogério nas sessões também têm circulado entre perfis bolsonaristas e já chegaram a ser compartilhados pelos filhos de Bolsonaro.
Na oposição, postagens do senador Randolfe Rodrigues têm se destacado (Rede-AP). Um dos fatores é o fato de o parlamentar, que é membro da CPI, interagir com usuários da rede e levar temas discutidos nas plataformas digitais para os trabalhos da comissão. Um exemplo foi a revelação da live de Wajngarten e Eduardo Bolsonaro (DEM-SP) sobre a campanha “O Brasil não pode parar”, postada pelo perfil “Jair, Me Arrependi”, que tem 200 mil seguidores no Twitter. Randolfe respondeu ao perfil na rede indicando que passaria o conteúdo aos membros da CPI. O vídeo acabou reproduzido na sessão pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE).
No áudio, de março do ano passado, Wajngarten revela que continuava trabalhando, mesmo após ser diagnosticado com Covid-19, o que contradiz sua versão em depoimento aos senadores de que não acompanhou a campanha publicitária contra o isolamento social porque estava afastado das funções.
— O Twitter está participando ativamente da CPI, municiando os senadores de oposição com informações, e se organiza para além de agrupamentos de partidos políticos. O Renan Calheiros é do MDB, o Omar Aziz é do PSD. Há uma frente ampla se compondo tanto na CPI quanto no Twitter para além de ideologia e partidos políticos — avalia Bruzzi.
*Marlen Couto/O Globo
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