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Empresas que invadiram Esplanada têm histórico de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos agrários

Empresários do agronegócio ajudaram a arquitetar — e a financiar — a invasão da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e demais ações golpistas do feriado. No Dia da Independência, a presença de caminhões de suas empresas no local mostrava a participação delas na invasão antidemocrática da véspera. Os manifestantes pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).

Por trás dos logotipos nas laterais das carretas, De Olho nos Ruralistas identificou histórias de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos com camponeses — além de lobbies junto a congressistas.

Vários caminhões entraram na área destinada apenas ao público. E não somente o caminhão de som. Entre eles estavam os da Dez Alimentos, de Morrinhos (GO), uma das maiores processadoras de tomate do Brasil. Pelo menos dois caminhões dela ocuparam as primeiras filas. O dono Paulo César Chiari e seus sócios foram processados há nove anos por submeterem trabalhadores rurais à condição análoga à de escravidão.

Quem também esteve na Esplanada foi a ID Agronegócio, de Itaúna (MG), especialista em feno. Ao menos dois caminhões dela estavam na área invadida. A Sidersa é uma das siderúrgicas apontadas como responsáveis pela desestruturação do Cerrado na região Norte de Minas Gerais e pela expropriação de terras das comunidades tradicionais.

Em que pese já terem apresentado plano de recuperação judicial, os sócios do Grupo Grão Dourado, produtor de arroz, feijão, milho e soja em Piracanjuba (GO), foram outros que não se furtaram de participar dos atos, com cerca de uma dezena de caminhões. A marca da empresa era a que mais se destacava na área invadida.

Em agosto de 2012, Nilton Pinheiro de Melo, que é membro da Associação Goiana de Suinocultores, Jonas Pinheiro de Melo e Ivan Pinheiro de Melo alegaram que os prejuízos refletiam na capacidade de pagamento de credores, inclusive trabalhistas. A reportagem enviou mensagens para o número fornecido na página da companhia, mas não obteve resposta.

DEZ ALIMENTOS FOI ACUSADA DE EXPLORAR 143 TRABALHADORES RURAIS

A empresa goiana Dez Alimentos se vangloria de dominar toda a cadeia de produção, do plantio às gôndolas. Mas essa cadeia nem sempre segue configurações republicanas. Conforme o Ministério Público do Trabalho (MPT), trabalhadores rurais da empresa eram arregimentados na região de Centralina (MG) e administrados nas lavouras por agenciadores de mão de obra, comumente chamados de “gatos”.

A Dez comercializa molhos, doces, geleias, condimentos e vegetais. Segundo o MPT, depois de transitada a decisão, em abril de 2012, os 143 trabalhadores rurais entregaram aos réus seus documentos para serem registrados. “No entanto, sempre se utilizando de manifestações judiciais protelatórias, recusaram-se a fazer as anotações e devolver” as carteiras.

Com isso, completa o órgão, eles “passaram a ser vitimados por danos materiais e morais”. Alguns perderam e outros deixaram de conseguir empregos ou ficaram impossibilitados de resgatar os benefícios previdenciários e do programa Bolsa Família.

Em 2018, Chiari foi acusado de utilizar pivôs sem licenciamento ambiental. O caso ocorreu nas Fazendas Capão Comprido do Muquém e Lambari, em Santa Cruz de Goiás. Segundo o Ministério Público de Goiás, também respondem ao processo os fazendeiros José Chiari, Emílio Okamura e Lincoln Kashima.

De acordo com a ação civil pública, acatada pelo juiz Nivaldo Pereira, a fiscalização verificou a construção de uma barragem para irrigação de lavoura, de forma irregular. Dois meses depois, nova vistoria comprovou a continuidade da obra de instalação do sistema de bombeamento, gerando mais um auto de infração e denúncia criminal pela destruição de área de preservação permanente.

Contatado pela reportagem nesta quarta-feira (08), o gerente comercial da empresa, Kleiton Machado, informou, por telefone, que os caminhões identificados são de comodato e que foram locados para outras pessoas. Ele não contou quem fez o frete, nem deu mais detalhes. “Não estamos financiando nada não”, limitou-se a dizer. “Somos uma empresa de alimentos”. Machado falou ainda que a Dez não se manifestará sobre um ato do qual “não participou”.

DONOS DA ID AGRONEGÓCIO E DA SIDERSA VIAJARAM EM COMBOIO

A partida dos caminhões da ID Agronegócio de Minas para Brasília foi noticiada por O Estado de Minas, que registrou a fala ufanista de um dos caminhoneiros: “Pode preparar aí, Bolsonaro, estamos chegando em Brasília, e tá firme aí com o senhor”, afirmou. “Dia 7 de Setembro a onça vai beber água, pode preparar aí, Supremo”.

Os bovinos, equinos e muares da empresa são criados na Fazenda Pito Aceso, no município do centro-oeste de Minas Gerais. O comboio partiu no sábado (04), da Sidersa Siderurgia Santo Antônio, do mesmo dono: Igor Dornas Andrade.

Os geraizeiros (descendentes de indígenas e quilombolas que habitam regiões de transição para a Caatinga) são os principais atingidos pela monocultura de eucalipto. O conflito socioambiental envolvendo a Sidersa foi retratado em artigo da cientista social e pesquisadora Isabel Cristina Barbosa de Brito, da Universidade Nacional de Brasília (UnB).

Este observatório conseguiu contato com um representante da ID identificado somente como Bráulio, que confirmou a participação nas manifestações antidemocráticas. “A empresa não ajudou a financiar os atos, mas arcou com todas as suas despesas”, justificou.

Segundo ele, estiveram na capital federal os donos, funcionários e “vários amigos”, sendo que cada um pagou os próprios custos da viagem. Bráulio contou que os funcionários dirigiram os caminhões. Questionado sobre o número de pessoas presentes, as remunerações dos trabalhadores e o valor gasto em combustível e alimentação, ele não respondeu mais às solicitações.

*Com informações no De Olho nos Ruralistas

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