Numa democracia, não é sacrilégio algum que jornalistas tenham preferências políticas, Isso faz parte da atividade, do processo e da própria formação da história sempre que o interesse comum e não os particulares se sobreponham.
Para isso, não é preciso ter um padrão de pensamento ou buscar um modelo constituído em determinada regra.
Não é nenhuma novidade que Vera Magalhães tem um problema com Lula, assim como com o PT. É uma espécie de código das águas que naturalmente correm para o mar nas redações da mídia nativa.
Na dificuldade de se achar carvão para manter uma fogueira acesa contra Lula, sobretudo em um histórico inédito terceiro mandato, tudo o que tiver ao alcance especulativo ganha uma adaptação especial para dar fisionomia própria a um jornalista.
Essa é uma forma de se produzir combustível em que fatos são substituídos por fatores para embaraçar o entendimento da sociedade, melhor dizendo, dos leitores.
Vera Magalhães, como se sabe, é aquela protagonista de um vídeo na Jovem Pan, que, falando de Moro em tom de elogio, o tratava como juiz parcial, quando dizia que ele tinha oponente na hora de fazer seus julgamentos.
Esse é o tipo de elogio às avessas, porque peca pelo sincericídio, mas também pelo deslumbramento de quem solta essa lapada inacreditável de boca própria.
Para piorar, a moça grifou que, quando juiz, Moro era um grande enxadrista, ou seja, ele jogava com quem ele deveria apenas se limitar a julgar a partir de provas colhidas pelo Ministério Público, coisa que ela sabe que Moro nunca teve contra Lula, porque simplesmente Dallagnol, representante do MPF na Lava Jato e chefe da Força-tarefa, nunca as apresentou.
Por óbvio, fica esclarecido o seguinte, Dallagnol jamais apresentou qualquer prova contra Lula. Por isso Moro sapecou na condenação do, então, ex-presidente, o termo vazio, “ato de ofício indeterminado”.
Isso escancarou que Moro não tinha nada em mãos que pudesse comprometer a honra de Lula. Aliás, Reinaldo Azevedo vive desafiando Moro a apresentar provas que incriminem Lula, mas até hoje, nada.
Vera Magalhães sempre soube disso, mas insiste na premissa fundamental de que, se eu não posso provar nada contra Lula, provado está, já que, segundo a teoria introduzida por Dallagnol no debate público, numa instância estranha, o grande corrupto produz uma situação cega aos olhos da justiça, admitindo que jamais teve qualquer prova contra Lula.
Essa abstração verborrágica ganhou cultura própria no vocabulário mimético que Vera pinçou no ar da graça da Lava Jato, como se estivesse falando de uma excelência e, consequentemente, de um grande escândalo de corrupção.
E é a partir dessa ilimitada eficiência de transformar nada em carvão, que Vera Magalhães usa as chamas de sua fogueira para dar forma e rendimento a uma narrativa fácil de algo vindo de uma grande mentira, com fonte totalmente queimada, diante da comunidade jurídica nacional e internacional na insistência de convencer a população que uma mentira tem lá suas verdades. Tudo para não perder a última chance que lhe resta de sapecar em Lula a pecha que convém à jornalista, que segue absolutamente deslumbrada com Sergio Moro que parece coincidir com o restante da grande mídia, salvo algumas honrosas exceções.
O fato é que ao menos uma matéria grotesca publicada no Globo de hoje, como a de Vera, com a volta de Lula e, consequentemente, com a volta da democracia no Brasil, a jornalista pôde se lambuzar em sandices sem que seja acossada por um ditador estatutário, como Bolsonaro, como foi o caso de sua participação no debate da Band, porque, como foi cantado hoje no Egito pela plateia que assistiu Lula falar na COP27, o Brasil voltou, e Vera Magalhães, também.
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