Ciro e Dória pregam no antipetismo, mas seus eleitores preferem Lula a Bolsonaro

Mesmo Ciro e Dória, os terceira via, apostando no discurso antipetista, o Datafolha aponta que a tendência de voto do eleitorado em Lula.

Ao assumirem uma estratégia eleitoral com foco no antipetismo, presidenciáveis da chamada terceira via contradizem a tendência de parte do seu eleitorado de convergir para o antibolsonarismo em um eventual segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido).

A tática anti-PT é baseada no cálculo dos presidenciáveis de que uma participação deles no segundo turno só virá à custa do derretimento de Bolsonaro, o que os levaria a um enfrentamento com Lula.

Entre estrategistas do PDT de Ciro Gomes e do PSDB de João Doria e Eduardo Leite, a ideia é cavar a ida à segunda fase do pleito com o argumento de que a terceira via tem chances de vencer Lula, enquanto Bolsonaro perdeu essa capacidade em razão dos recordes de desaprovação e rejeição.

Caso o segundo turno entre Lula e Bolsonaro se confirme, pesquisa Datafolha mostra que, hoje, o antibolsonarismo seria uma força maior do que o antipetismo na segunda etapa da eleição, o que torna a tática de mirar Lula mais arriscada, já que afugentaria uma parcela de ocasionais apoiadores.

Eleitores de Ciro e dos dois tucanos, que disputam as prévias do PSDB para a escolha do candidato presidencial, tendem a preferir o petista, embora a parcela que votaria em Bolsonaro ou em nenhum também seja expressiva a ponto de causar empates dentro da margem de erro com a parte pró-Lula.

A pesquisa Datafolha, realizada nos dias 13 a 15 de setembro, ouviu 3.667 eleitores de forma presencial em 190 cidades. O resultado mostrou Lula mantendo larga vantagem sobre Bolsonaro na dianteira da disputa.

Ciro, que desde 2018 ampliou o descolamento do PT e adotou as críticas mútuas a Bolsonaro e Lula como foco de sua pré-campanha para 2022, deverá manter essa linha, de acordo com aliados, na intenção de se apresentar como uma opção diferente, ou seja, um tipo de governo que ainda não foi experimentado.

Os ataques a Lula, contudo, causam ruído não só em uma parcela dos apoiadores, mas também entre colegas de partido, conforme mostrou a Folha em junho.

Entre quem vota em Ciro no primeiro turno, 58% votam em Lula e 17% escolhem Bolsonaro em um segundo turno sem a presença do pedetista —26% não querem nenhum dos dois. A margem de erro é de cinco pontos para mais ou para menos.

O presidente do PDT em São Paulo, Antonio Neto, afirma que o partido está “convicto em apresentar uma alternativa” que não seja “nem o passado nem o presente”. “Vamos bater no sistema, não no partido ou nas pessoas. Queremos mudar essa política e vamos ter que escancarar isso”, diz.

Questionado sobre Ciro errar ao atacar Lula e Bolsonaro pessoalmente, Neto afirma que não vê equívoco. “Ele tem dados e informações para falar isso, conhece bem os atores. Ciro fala da visão que ele teve de dentro”, segue. O presidenciável foi ministro do governo Lula.

Para o ex-deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), a sobreposição de parte dos eleitorados de Ciro e Lula é algo natural e as críticas à era petista são embasadas. “Independentemente das palavras do Ciro sobre o Lula e do Lula sobre o Ciro, é o eleitorado que faz a aliança, é ele que escolhe”, diz.

Miro afirma ainda que seu trabalho e o da militância “é para que o Ciro esteja no segundo turno” e que a estratégia do pré-candidato para se diferenciar dos atuais líderes das pesquisas é a única possível. “Se o Ciro apoiasse um dos dois [Lula ou Bolsonaro], ele não seria candidato”, sintetiza.

*Com informações da Folha

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Por Celeste Silveira

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