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Presidente da Turquia afirma que Israel é um ‘Estado terrorista’

Em discurso, Erdogan mandou recado ao premiê israelense Benjamin Netanyahu: ‘seu fim está próximo, quer você tenha armas nucleares ou não’.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, realizou discurso nesta quarta-feira (15/11) um discurso marcado por fortes acusações contra o Estado de Israel e seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

Segundo o jornal turco Sabah, Erdogan realizou um pronunciamento para explicar a recente denúncia que seu país promove contra o premiê israelense Benjamin Netanyahu no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. “É preciso dizer isso claramente: Israel é um Estado terrorista. Israel está cometendo crimes de guerra na Faixa de Gaza”.

A Turquia acusa Netanyahu de cometer um genocídio contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza. O documento enviado ao TPI foi divulgado nesta terça-feira (14/11) pelo partido governista turco Justiça e Desenvolvimento (de direita).

Além da ação apresentada em Haia, o governo de Erdogan também tenta articular com líderes de países que se abstiveram na votação de uma resolução da Assembleia Geral da ONU por um cessar-fogo em Gaza, para aumentar o bloco que busca pressionar Israel a retroceder em sua ofensiva contra o território palestino.

*Opera Mundi

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Peter Oborne: Apoiados por militares de Israel, colonos ilegais impõem reinado de terror a palestinos na Cisjordânia

Por Peter Oborne*, em A Terra é Redonda

É a mesma história em todas as aldeias das colinas do sul de Hebron.

Os colonos israelenses confiscam o gado, destroem tanques de água e painéis solares, demolem casas e olivais dos quais os agricultores palestinos dependem para a sua subsistência.

Como as antigas tropas das SS nazistas, eles chegam sem avisar, armados com metralhadoras M16 – que costumam usar com imensa alegria –, espancam os aldeões com barras de ferro, com paus, com os punhos e com as coronhas das suas armas.

Agridem mulheres e idosos. Entram nas casas palestinas, arrancando utensílios e acessórios, roubando dinheiro, destruindo papéis, derrubando móveis. Atiram para matar. Muitos usam uniformes militares. Eles impuseram um reinado de terror. E são apoiados pelo exército de Israel.

A sua mensagem aos palestinos é sempre a mesma: saiam ou serão mortos. E enquanto os colonos estão armados e atuam impunemente, os palestinos ficam indefesos.

Acompanhado por um guia, cheguei no início de uma tarde à comunidade agrícola de She’b Al-Butom, de 300 habitantes. Dali pode-se ver o assentamento israelense vizinho de Avigay.

Dois “postos avançados” de Avigay controlam tanto essa aldeia quanto a vizinha, Mitzbeh.

Estão ambos cercados. A aldeia sitiada está situada no final de uma longa trilha pedregosa, que quase venceu nosso carro de tração nas quatro rodas. Fui recebido por uma criança traumatizada que fez uma careta. Ela tinha medo de estranhos, depois do que testemunhou nas últimas semanas.

Um grupo de agricultores serviu-nos chá. Disseram que pouco depois do dia 7 de outubro quatro colonos armados entraram na aldeia, causando pequenos danos e partiram.

Durante alguns dias, os colonos concentraram-se em propriedades periféricas, demolindo casas e destruindo edificações agrícolas, obrigando os habitantes a fugir. Três dias depois, os colonos, todos vestindo uniformes militares, retornaram. Desta vez, espancaram vários aldeões e saquearam suas antigas casas construídas com barro.

Na noite de sexta-feira passada eles voltaram e atacaram os aldeões de novo, incluindo um homem de 72 anos. Cada vez que os colonos chegam, eles dizem aos aldeões para irem embora.

O agricultor local Khalid Jibril relatou: “Eles apontaram uma arma para a minha mulher, bateram-me, roubaram o meu telefone e apontaram armas para as crianças”.

Jibril, que usa um keffiyeh na cabeça, acrescentou: “basta mencionar os soldados para as crianças que elas começam a tremer”.

Repetição da Nakba
Para os palestinos, isso tudo parece uma repetição da Nakba de 1948, quando 750 mil pessoas foram expulsas das suas casas, para nunca mais regressarem. Como hoje, eles foram forçados a sair em meio à violência massiva.

Quando saíamos das colinas do sul de Hebron, os colonos já estavam impondo prazos. Em Um Al-Khair, uma pequena aldeia flanqueada por todos os lados por colonos israelenses, disseram aos aldeões que deveriam hastear uma bandeira de Israel até às 19 horas da noite anterior, ou enfrentariam a destruição.

No dia anterior, os colonos tinham incendiado a casa de um agricultor. Quando as vítimas chamaram a polícia, disseram-lhes: “vocês são mentirosos e vamos prendê-los”.

Nas proximidades de Tuwani, os moradores foram instruídos a partir. “Vão para a cidade!” ― dizem os colonos israelenses. O patriarca local, Hafez Hureini, reagiu: “Não, nunca. Nada me fará sair da minha casa”.

Algumas aldeias já cederam à pressão. A comunidade de 250 pessoas de Khirbet Zanufah, nas colinas do sul de Hebron teve que fugir. De acordo com o grupo israelita de direitos humanos B’Tselem, 13 comunidades de pastores foram evacuadas no último mês.

Os ocupantes israelenses estão trabalhando de acordo com um plano e não há nada de secreto nisso.

Partidos de extrema direita
No final do ano passado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, salvou sua pele ao formar uma coligação com dois partidos políticos de extrema-direita.

O primeiro foi Otzma Yehudit (“Poder Judaico”), liderado por Itamar Ben Gvir, um racista declarado que, ao embarcar na carreira política em 2020, pendurou em seu gabinete um retrato de Baruch Goldstein ― o assassino em massa que executou o massacre de 29 palestinos em 1994 na Mesquita Ibrahim, em Hebron.

Ben Gvir está agora encarregado do policiamento da Cisjordânia, como ministro da Segurança Nacional de Benjamin Netanyahu, posição por meio da qual providenciou a distribuição de fuzis de assalto às “equipes de segurança civil”. Quando pode, ele supervisiona pessoalmente a distribuição.

Benjamin Netanyahu também abraçou o Partido Religioso Sionista, liderado pelo incendiário de extrema direita Bezalel Smotrich.

Ele deu a Bezalel Smotrich o cobiçado cargo de ministro das finanças, mas Bezalel Smotrich buscou um prêmio ainda mais significativo. A cláusula 21 do acordo da coligação de dezembro passado atribuiu a Bezalel Smotrich “total responsabilidade” sobre a Área C da Cisjordânia.

A Área C é mantida sob controle militar e civil israelense, de acordo com o Acordo de Oslo, de 1993.

Isso abarca cerca de 60% da área terrestre da Cisjordânia, incluindo as aldeias isoladas nas colinas do sul de Hebron. Aproximadamente 350 mil palestinos vivem na Área C, juntamente com 500 mil colonos israelenses. Estes últimos, nos termos daquele Acordo e do direito internacional, são completamente ilegais.

O acordo da coligação fez nominalmente de Bezalel Smotrich – que descreve a si mesmo como um “homófobo fascista” – o comandante da chamada “administração civil” da Cisjordânia.

Direito militar
“Administração civil” é, da sua parte, um termo orwelliano.

Enquanto os colonos ilegais israelenses gozam de plenos direitos como cidadãos, os palestinos são governados pela lei militar israelense. Na melhor das hipóteses, estão sujeitos a julgamentos arbitrários, feitos pelas autoridades militares de Israel.

No entanto, com Bezalel Smotrich no comando, tal como num gueto nazista, passaram a não ter quaisquer direitos.

A “administração civil” dirigida por Bezalel Smotrich outorga-lhe o controle total sobre quase todos os aspectos da vida palestina.

Bezalel Smotrich e Ben Gvir têm a Cisjordânia como seu playground. Seus planos nunca foram secretos. Eles estão definidos de forma bastante explícita nos princípios fundadores do acordo de coligação do atual governo, que afirma que “o povo judeu tem o direito exclusivo e indiscutível a todas as partes da terra de Israel”.

Em outras palavras, isso significa a anexação cabal da Cisjordânia ocupada, contrariando até mesmo as posições britânicas e americanas de apoio a uma “solução de dois Estados”.

Muito antes de 7 de outubro, Ben Gvir e Bezalel Smotrich, já tinham defendido o “extermínio” da cidade palestina de Howara, local onde os colonos israelenses realizaram um pogrom contra os palestinos e operaram incansavelmente para pôr aquelas ideias em prática.

Agora, a posição de ambos lhes permite patrocinar um ataque em grande escala dos colonos. Mais uma vez, a mensagem aos palestinos é simples: saiam ou morrerão.

“Espere pela grande Nakba”
Os residentes da aldeia de Deir Istiya, na Cisjordânia, receberam cartas de advertência afirmando: “vocês queriam a guerra, agora esperem pela grande Nakba”. A isso se acrescia a ordem para que fugissem para a Jordânia.

Viajei de ônibus até esta vila, nas colinas acima da antiga cidade palestina de Nablus, para encontrar Faraz Diab, chefe do município. Ele me contou que um grupo da rede Telegram chamado “caçadores de nazistas” está fazendo circular ameaçadoramente seus dados, incluindo sua foto. “Eles deveriam ser presos”, diz ele, mas há poucas chances de isso acontecer.

A agência humanitária da ONU, OCHA, declarou em 6 de novembro que, desde 7 de outubro, 147 palestinos, incluindo 44 crianças, foram mortos pelas forças militares israelenses na Cisjordânia (ou seja, fora de Gaza), com mais oito, incluindo uma criança, mortos por colonos.

Acrescenta: “Desde 7 de outubro, pelo menos 111 famílias palestinas, compreendendo 905 pessoas, incluindo 356 crianças, foram deslocadas, por força da violência dos colonos israelenses e das restrições de acesso”.

“Você tem que sair!”
Além da tragédia humana, este é um desastre global. Agricultores, pastores e tribos beduínas nômades vivem nas colinas e vales escarpados da Cisjordânia desde tempos imemoriais. Eles estão ali desde muito antes que quaisquer israelenses, sobretudo os importados dos últimos 50 anos.

Se forem forçados a abandonar seu antigo modo de vida, sua história, literatura e canções irão embora com ele. Seus meios de subsistência baseiam-se na terra e no ciclo anual, à medida que os pastores passam das pastagens de verão nas colinas para as pastagens de inverno no agora fechado Vale do Jordão.

Muitos não irão. Na sexta-feira passada, diz Khalid Jibril, os colonos emitiram um ultimato. “Você deve ir embora, ou vamos matá-lo. E mataremos seus filhos também, tal como fizemos com as crianças de Gaza”.

Khalid Jibril já foi espancado pelos colonos israelenses. Ele lhes disse: “nossos filhos não são diferentes das crianças de Gaza. Se é isso que querem, venham e façam! Nós não vamos sair”.

Para o movimento de colonos de Israel, com as Forças de Defesa Israelenses (FDI) ao seu lado, este é o seu momento.

A transferência forçada de um povo ocupado é um crime de guerra, mas não consigo encontrar mais que o habitual “apelo” a Israel, por parte do governo do Reino Unido, para “responsabilizar os culpados”.

Esse silêncio é interessante. Em tempos normais, Diane Corner, a cônsul geral britânica em Jerusalém, emite condenações fortes, mesmo que impotentes, à violência dos colonos.

Mas à medida que os ataques começaram a se transformar num reinado de terror em toda a Cisjordânia, ela passou a não ter mais nada a dizer.

Busquei contato com a Sra. Diane Corner através do Twitter, explicando que estava preparando uma matéria sobre as atrocidades dos colonos, incluindo transferências forçadas, em toda a Cisjordânia.

Também é notável que, em tempos normais, o cônsul britânico tem sido rápido em condenar tais atrocidades. Perguntei-lhe por que ela havia ficado em silêncio.

Enquanto o Declassified UK preparava este artigo para publicação, não houve qualquer resposta. Na ausência dela, imagino que Diana Corner, uma mulher decente e bem informada, recebeu ordens de manter a boca fechada, dadas por um governo britânico que prometeu seu apoio “inequívoco” ao Israel de Benjamin Netanyahu.

*Peter Oborne é jornalista. Autor, entre outros livros, de The assault on truth: Boris Johnson and the emergence of a new moral barbarism (Simon & Schuster)

 

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Lula sobe tom contra Israel porque EUA não conseguem parar Netanyahu, diz mídia brasileira

A diplomacia tem seus limites e vai usar as palavras que lhe são permitidas, mas Lula como líder político tem a chance de falar mais francamente, analisa jornalista brasileiro. Para presidente, o premiê israelense está “fora de controle” e nem mesmo Washington consegue controlá-lo, diz portal de notícias.

Em meio às tratativas para repatriação do grupo de 34 brasileiros que estavam na Faixa de Gaza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu algumas declarações sobre a guerra entre Israel e Hamas, no entanto, com um tom mais suave. Após a chegada dos brasileiros, o mandatário passou a dizer mais o que pensa.
Ontem (14), Lula disse que “é verdade que houve ataque terrorista do Hamas, mas o comportamento de Israel é igual ao terrorismo”.

“A atitude de Israel é igual terrorismo, não tem como dizer outra coisa. Israel, para atacar o monstro, está jogando bombas em crianças. Temos que matar o monstro sem matar as crianças”, afirmou o presidente durante o programa Conversa com o Presidente no qual é entrevistado pelo jornalista Marcos Uchôa.

A campanha israelense está sendo apoiada pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais, não só na mídia, como através do envio de armas. Na visão do colunista do UOL, Kennedy Alencar, “Lula sobe o tom contra Israel porque os Estados Unidos não conseguem parar Netanyahu e isso só agrava o conflito”.

Para o jornalista, Benjamin Netanyahu não dá ouvidos aos democratas norte-americanos e pelo fato de o premiê não ouvir seu maior aliado, Lula pensa que a situação tende a piorar, uma vez que o líder israelense “está fora de controle”.

“Netanyahu não ouve [o presidente] Joe Biden, e o [secretário de Estado] Antony Blinken já pediu há alguns dias para Israel dar uma aliviada, mas o governo de Israel não alivia. Isso significa que o maior aliado de Israel não consegue interromper a escalada da guerra […] Netanyahu não está nem aí para os democratas […]”, afirmou o jornalista.

“A diplomacia tem os limites dela e o Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, vai usar as palavras que a diplomacia permite. Lula é um líder político e tem que ter uma posição política […]”, continuou.

Com esse contexto, o líder brasileiro acredita que a pressão internacional sobre Netanyahu deve aumentar, e por isso, tem elevado o tom sobre as declarações.

“Lula acha que há uma captura do governo pela extrema direita. Netanyahu é o Bolsonaro de Israel e ele falou Estado de Israel porque o Judiciário e o Legislativo não param o massacre que está acontecendo em Gaza. Então, Lula fez a mais grave e mais forte declaração sobre o conflito quando falou da equivalência entre o que o Hamas fez e o que Israel está fazendo”, escreve o colunista.

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Forças Armadas de Israel invadem maior hospital de Gaza a procura de combatentes do Hamas

Hospital Al-Shifa, que sofre com cortes de eletricidade e água, está abrigando além do corpo médico e feridos, nove mil pessoas que fogem dos bombardeios.

As Forças Armadas israelenses realizam nesta quarta-feira (15/11), 40° dia de guerra, uma operação no hospital Al-Shifa, no norte da Faixa de Gaza, onde se abrigam milhares de pessoas, entre doentes, corpo médico e moradores que fugiram dos bombardeios. Em um comunicado, Israel afirma que o objetivo é capturar membros do grupo Hamas que, segundo o exército israelense, estariam escondidos em um setor específico do hospital.

Testemunhas afirmam que dezenas de soldados israelenses entraram encapuzados e atirando para o alto no local, exigindo que todos os cidadãos acima de 16 anos se entregassem. Um jornalista da AFP indica que as pessoas no interior do Al-Shifa, entre pacientes, refugiados e integrantes da equipe médica, são interrogados até mesmo dentro do serviço de emergência do local.

Os hospitais do norte da Faixa de Gaza são palco de uma situação catastrófica, sem eletricidade, água e alimentos. Em entrevista à rádio Monte Carlo Doualiya, do mesmo grupo da RFI, Mostapha Khaalout, diretor do hospital pediátrico de Rantissi, a cerca de 2 quilômetros do Al-Shifa, revelou que o hospital onde trabalha também não funciona mais em plena capacidade e que “milhares de crianças” não podem continuar o tratamento delas: “Algumas sofrem de problemas cardíacos, outras têm câncer; há também casos de doenças renais”.

“Já no hospital Al-Shifa a situação é dramática. Ele está cercado pelas forças israelenses e mortos são empilhados nos corredores. Os corpos não podem ser enterrados porque quando se tenta sair do hospital, os soldados atiram contra as pessoas. Cachorros de rua estão comendo os cadáveres”, detalhou.

Al-Shifa: o maior hospital de Gaza
O Al-Shifa, que é o maior hospital de Gaza está localizado no distrito de Rimal, no oeste litorâneo da cidade. De acordo com o governo do Hamas, ele foi construído em 1946 durante o mandato britânico e, desde então, foi ampliado várias vezes.

Ainda na noite de terça-feira (14/11), o exército israelense lançou uma “operação direcionada” dentro do hospital. Uma porta-voz da OMS em Genebra disse que havia 400 equipes médicas no hospital e que 3 mil civis haviam se refugiado no local para se proteger dos bombardeios. O vice-ministro da Saúde do governo do Hamas disse à agência AFP no domingo (12/11) que um ataque aéreo israelense havia “destruído completamente” o prédio do departamento de cardiologia.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês) disse no domingo que a “infraestrutura essencial”, incluindo tanques de água, equipamentos da maternidade e o centro de armazenamento de oxigênio médico, havia sido danificada desde o início da guerra, acrescentando que três enfermeiras haviam sido mortas.

Uma ambulância que saía do hospital foi o alvo de um ataque aéreo israelense que matou 15 pessoas no início de novembro. O exército israelense acusou o Hamas de “usar” esse veículo.

Hospital al-Rantissi
O hospital pediátrico al-Rantissi fica próximo ao hospital Al-Shifa, no oeste da cidade de Gaza. Na segunda-feira, o exército israelense entrou no hospital e disse que havia descoberto um porão seguro usado como um “centro de comando e controle do Hamas”. Ele acrescentou que havia encontrado várias armas.

O exército também suspeita que esse porão tenha sido usado para manter os reféns sequestrados durante o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro. O Hamas denunciou o ataque como “um evento encenado”.

No sábado, o exército israelense anunciou que havia matado Ahmed Siam, “um comandante do Hamas”, que, segundo ele, “mantinha cerca de mil habitantes de Gaza como reféns no hospital al-Rantissi”.

O diretor de hospitais na Faixa de Gaza, Mohammed Zaqout, falou de pacientes “nas ruas sem atendimento” após as “evacuações forçadas” de dois hospitais pediátricos, al-Nasr e al-Rantissi.

Em 2019, o hospital al-Rantissi foi equipado com um departamento de oncologia pediátrica – o único na Faixa de Gaza – parcialmente financiado por uma organização humanitária americana. Ele compartilha algumas de suas atividades com o outro hospital pediátrico de Gaza, o al-Nasr, localizado nas proximidades.

Hospital al-Quds
Inaugurado no início dos anos 2000, esse hospital tem cerca de cem leitos. De acordo com o Crescente Vermelho Palestino, que o administra, ele parou de funcionar no domingo. As reservas de combustível, que são essenciais para o funcionamento dos geradores que produzem eletricidade, estavam esgotadas na ocasião.

Na noite de terça-feira, o Crescente Vermelho anunciou que havia evacuado o hospital, que estava “sob cerco há mais de dez dias”, publicando imagens de pacientes e médicos chegando à cidade de Khan Yunes, mais ao sul.

No início da semana, o exército israelense relatou trocas de tiros entre seus soldados e homens armados posicionados na entrada do hospital, afirmando que “21 terroristas foram mortos”. De acordo com o Ocha, desde o início da guerra, cerca de 14 mil pessoas se refugiaram no hospital.

O hospital foi atingido por ataques aéreos durante a ofensiva israelense em dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Seu departamento de emergência e outros foram reconstruídos, principalmente graças ao financiamento francês.

Hospital financiado pela Indonésia
Inaugurado em 2015, esse hospital, cuja construção foi financiada pela Indonésia, está localizado em Jabaliya, um enorme campo de refugiados no norte da Faixa de Gaza, e tem capacidade para 110 leitos, de acordo com seu diretor Atef al-Kahlot, citado por vários meios de comunicação.

De acordo com o governo do Hamas, 30 pessoas foram mortas nesse hospital após os bombardeios israelenses. Em 28 e 29 de outubro, após avisos de evacuação do exército israelense, a área ao redor do hospital foi bombardeada, de acordo com o Ocha.

Em 5 de novembro, o exército israelense alegou que o hospital havia sido usado para esconder um centro de comando e controle subterrâneo do Hamas. O movimento islâmico palestino negou o fato.

*Opera Mundi

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Astro de série israelense, Matan Meir morre durante ação em Gaza

Matan Meir, oriundo de Odem, na parte norte dos Montes Golã, um dos astros do elenco de Fauda, foi morto em Gaza, anunciou a equipe da série no sábado (11/11). O ator, 38 anos, foi sargento reservista das Forças de Defesa de Israel (IDF). Seu nome apareceu na lista de soldados que morreram no enclave, de acordo com o The Jerusalem Post.

Transmitida na Netflix, Fauda ganhou os holofotes internacionais, tendo sido premiada como melhor roteiro original no Festival International des Programmes Audiovisuels (FIPA) e indicada pelo The New York Times como a 8ª melhor série internacional da década. Em contraponto, vozes de organizações e ativistas denunciaram o racismo e a islamofobia presentes na obra, assim como a exaltação de crimes de guerra cometidos por Israel e o apagamento da perspectiva palestina.

A Campanha Palestina pelo Boicote Acadêmico e Cultural à Israel (CPBAC), parceira do Movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), manifestou à Netflix repúdio e apelou para que o streaming interrompesse a transmissão.

Fauda, que é um código usado pelos soldados das forças israelenses quando são pegos pelos árabes, tem incontáveis cenas permeadas de propaganda de guerra, como, por exemplo, imagens de bases militares do Hamas no subsolo de hospitais. Uma clara mensagem ao telespectador de que é justificável bombardear unidades de saúde. Os dois escritores da série, Avi Issachorof e Lior Raz, assim como o então ator principal, são ex-soldados do esquadrão Dudevan, que aterroriza a Palestina ocupada.

O pai de Raz é um ex-Shin Bet (serviço de segurança secreta interna). Dito isso, é possível perceber que a produção audiovisual israelense também são utilizadas como campos de batalha, o poder simbólico no discurso transmitido e recodificando a realidade da opressão contra os palestinos. Em geral, filmes e séries israelenses, sejam “cults” ou comerciais, sempre serviram à propaganda dominante acerca do apartheid.

Portanto, a posição política de Fauda não é original. A arrogância colonial e apropriação da história palestina são derivadas do domínio militar sobre os palestinos. Tal como os soldados, muitos diretores, roteiristas e criadores não respeitam as fronteiras. Alguns expropriam terras palestinas, outros a sua história

Na série, não há dominantes ou dominados, não há ocupação, não há contexto histórico, não há demolições, nem despejos, não há colonos ou soldados violentos. Também não há prisões políticas sem julgamento e não há tribunais que condenam crianças e adolescentes por jogarem pedras em soldados fortemente armados. De acordo com o que vemos em Fauda, os palestinos são movidos por uma paixão por vingança, uma sede insaciável de sangue, como algo próprio de seu DNA árabe.

Em relação aos árabes e muçulmanos, quase sempre são retratados na mídia ocidental como exóticos, desconhecidos, com estereótipos e romantizações, visto como violentos, retrógrados e maus. A influência de Israel na indústria audiovisual, com esta lente ocidentalizada, levou diretores e produtores renomados a fazerem parceria com israelenses. A veiculação de ideias sionistas por plataformas de entretenimento, como a Netflix, tem contribuído para o sucesso estrondoso delas, já que esses espaços têm cada vez mais relevância no cenário artístico.

O sucesso de audiência de peças de propaganda como Fauda – que se tornou orgulho nacional em Israel e recebeu vivas por parte de norte-americanos da American Israel Public Affairs Committee (AIPAC) – também é sintomático diante da censura de obras palestinas. Depois da Nakba, entre 1968 e 1982, o cinema palestino foi feito grande parte no exílio.

Independente do mérito artístico e qualidade técnica das obras israelenses, Israel não é um Estado-nação como qualquer outro e suas obras são encomendas sofisticadas das Forças de Defesa de Israel.

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Hamas nega que perdeu controle em Gaza: ‘Batalha apenas começou’, diz liderança

Após o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, garantir que o Hamas perdeu o controle da região norte da Faixa de Gaza, o movimento rebateu as afirmações nesta terça-feira (14). Segundo o oficial do braço armado do Hamas, as Brigadas Al-Qassam, Osama Hamdan, a situação no campo de batalha contra o Exército israelense está controlada.

“Garantimos ao nosso povo e a todas as pessoas livres que a resistência e as Brigadas Al-Qassam estão no controle da situação na Faixa de Gaza. A batalha apenas começou, haverá mais por vir”, declarou Hamdan durante entrevista coletiva em Beirute.

O grupo também divulgou que foram lançados diversos foguetes contra Tel Aviv em resposta ao massacre promovido por Israel contra a população palestina. A guerra já deixou mais de 11,5 mil palestinos mortos só na Faixa de Gaza, segundo autoridades locais, além de quase 30 mil pessoas feridas.

Na segunda-feira (13), Gallant revelou que militantes do Hamas tentavam fugir para o sul de Gaza depois que as Forças de Defesa de Israel (FDI) conseguiram destruir a estrutura militar do grupo. O conflito se concentra na parte norte, que já teve mais de 1,6 milhão de palestinos forçados a deixarem suas casas.

“As forças terrestres das FDI estão lutando nas áreas onde estão localizados vários batalhões da organização terrorista. A capacidade de combate foi seriamente desestruturada, e de fato as estruturas militares do Hamas na parte norte da Faixa de Gaza deixaram de funcionar de forma organizada”, informou um comunicado na data.

Sob a justificativa de que as estruturas eram usadas para coordenar ataques e também como esconderijo, Israel não poupou sequer hospitais, o que levou todas as unidades a deixarem de funcionar no norte. Só o hospital Al-Shifa, o maior de Gaza, tem cerca de 7 mil pessoas abrigadas, além de 1,5 mil pacientes e extensa equipe médica, que atua em situação de total colapso.

Também nesta segunda, o governo israelense confirmou que o chefe da área de mísseis antitanque do Hamas foi morto pelas Forças Armadas durante um ataque. O lançamento de foguetes contra Israel no dia 7 de outubro pelo movimento, que conseguiram driblar o sistema de defesa, foi o responsável por Israel declarar guerra, além da incursão terrestre de militantes do grupo, que provocou cerca de 1,2 mil mortes.

 

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Em Gaza, hospitais parecem “necrotérios”, diz imprensa francesa

Sem água ou energia, pacientes estão morrendo nos hospitais de Gaza pela impossibilidade de receberem cuidados médicos ou serem retirados.

“Um alvo impensável” é a manchete do jornal Libération que estampa sua capa com uma foto da fachada Al-Shifa, alvo de bombardeios israelenses nos últimos dias na Faixa de Gaza. A matéria explica que Tel Aviv alega que o hospital serve de base para o grupo Hamas, supostamente armazenando material bélico e servindo de abrigo a terroristas.

Ao mesmo tempo, além de doentes, o estabelecimento acolhe cerca de 8 mil pessoas que se refugiaram no local, no norte do enclave, além de 3 mil pacientes, funcionários e médicos.

“Hospitais da cidade de Gaza se transformam em necrotérios” é o título de uma reportagem do jornal Le Figaro. Segundo o Ministério da Saúde palestino, é insuportável o cheiro de putrefação no hospital Al-Shifa, onde centenas de corpos de vítimas estariam apodrecendo pela impossibilidade de serem sepultados.

O diário destaca que esse não é o único hospital a sofrer as consequências da guerra: o Al-Qods, da organização humanitária Crescente Vermelho palestino, parou de funcionar no último domingo (12/11).

Outros centros de saúde, como a Clínica Sueca, dentro do Centro de Refugiados de Al-Shati, e o hospital Al-Mahdi, foram bombardeados. Além do comprometimento de suas estruturas, médicos e enfermeiros também morreram nos ataques, reitera o texto.

“Em Gaza, o direito à vida foi extinto” é a manchete do jornal La Croix, que reproduz o testemunho do jornalista Mohamed Mhawish, correspondente do canal Al-Jazeera na capital do enclave.

Apesar da dificuldade de contato com moradores do local, o diário conseguiu reunir relatos enviados por aplicativo de conversa WhatsApp que retratam o horror da guerra e a falta de perspectiva das pessoas.

O fotógrafo Motaz Azaiza diz ao La Croix ter visto corpos enrolados em cobertores e empilhados no hospital Al-Shifa, pela impossibilidade das famílias realizarem funerais. Uma família que partiu em direção ao sul do enclave preferiu levar consigo o cadáver do seu bebê que morreu no trajeto.

“A morte ronda e chega a cada instante”, diz o impresso, salientando o cálculo da médica palestina Samah Jaber, segundo o qual, uma pessoa morre a cada cinco minutos na Faixa de Gaza.

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Hamas negocia libertação de 70 reféns em troca de trégua de 5 dias

Um porta-voz do Hamas afirmou que o grupo negocia a libertação de reféns em troca de uma trégua de cinco dias nos ataques contra a Faixa de Gaza. A informação, conforme o portal Sky News, foi divulgada pelas Brigadas al-Qassam, braço armado do grupo extremista.

A proposta teria sido repassadas a mediadores do Catar. O grupo afirmou estar pronto para libertar 70 pessoas, entre mulheres e crianças. “A trégua deve incluir um completo cessar-fogo e permitir ajuda e alívio humanitário em qualquer lugar da Faixa de Gaza”, disse o porta-voz Abu Ubaida.

Israel estimou que o Hamas capturou 242 reféns no ataque surpresa de 7 de outubro. A ação do grupo desencadeou uma escalada histórica no conflito entre Israel e o grupo extremista. Até o momento, a guerra contabiliza mais de 12 mil mortos, diz o Metrópoles.

A retaliação do governo de Israel aos extremistas tem ocorrido por meio de bombardeios e incursões terrestres à Faixa de Gaza. Diante do alto número de civis mortos e considerando a crise humanitária que atinge os palestinos, o governo de Israel passou a ser pressionado pela implementação de pausas no conflito.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou, na última sexta-feira (10/11), que “morreram palestinos demais” no conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas. “Muitos sofreram nas últimas semanas”, disse a jornalistas, na Índia.

Em 23 de outubro, o grupo libertou outras duas mulheres, de nacionalidade israelense, que foram identificadas como Nurit Yitzhak, 79 anos, e Yochved Lifshitz, 85, e teriam sido liberadas pelo grupo por razões humanitárias. Ambas saíram da Faixa de Gaza para o Egito.

 

 

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Argentina: Candidato governista Sergio Massa se impõe sobre Javier Milei e domina debate presidencial na Argentina

Relações com Brasil e presidente Lula foram ponto de forte discordância entre os candidatos.

O candidato à Presidência e ministro da Economia, Sergio Massa, conseguiu uma vantagem sobre o ultraliberal Javier Milei no debate entre presidenciáveis neste domingo (12/11), a uma semana das eleições. Sergio Massa conseguiu envolver o oponente, determinar o foco dos assuntos e ditar o ritmo do debate. As relações com o Brasil em geral e com o presidente Lula em particular foram um ponto de forte discordância entre os candidatos. A dúvida é se a vantagem de Sergio Massa no debate será suficiente para se refletir nas urnas numa disputa tecnicamente empatada.

Javier Milei até começou bem, dizendo que, “como economista liberal, era um especialista em crescimento econômico, em criar empregos de qualidade e em exterminar a inflação”.

Mas logo no primeiro capítulo do debate, justamente sobre Economia, Sergio Massa usou o seu tempo para fazer perguntas enfáticas a Milei. Em vez de abordar a economia, exigiu respostas afirmativas ou negativas sobre declarações contraditórias de Milei. Com isso, desviou o foco da economia para outros assuntos.

Milei caiu na armadilha e, quando se esperava um ataque à má gestão de Massa como ministro de uma economia em agonia, gastou o tempo tentando explicar sobre declarações polêmicas. Em vez de ganhar por nocaute, Milei passou à defensiva.

Na primeira metade do debate, Javier Milei, claramente, foi dominado. A segunda metade foi mais equilibrada, mas a sensação geral é de que Massa colocou Milei contra as cordas, tentou mostrar que Milei não está preparado para ser presidente e aproveitou a inexperiência do ‘outsider’.

Contradições expostas
Massa confrontou Milei sobre declarações em entrevistas nas quais o libertário disse que eliminaria subsídios às tarifas públicas, que acabaria com a gratuidade na educação e na saúde, que privatizaria a Previdência, que eliminaria o Banco Central, que adotaria o dólar como moeda, em substituição ao peso argentino, e até que privatizaria rios e mares.

Milei confirmou que vai eliminar o Banco Central e ‘dolarizar’ a economia, mas negou o resto da lista, surpreendendo-se com a privatização de rios e mares.

Sobre o aumento de tarifas, disse que primeiro recuperaria a economia. E sobre cobrar pelo ensino universitário, hoje totalmente gratuito, respondeu que “no curto prazo, não cobraria”, dando a entender que depois sim.

“No curto prazo, não vou cobrar. Depois, darei os recursos às pessoas para que decidam a quais universidades querem ir”, explicou.

Javier Milei tinha um “banquete” servido e Sergio Massa era o prato principal. Não apenas pela má administração da economia, mas também por recentes escândalos de corrupção e de espionagem ilegal que envolvem aliados de Massa. Mas Milei manteve um curioso silêncio.

Na única vez em que Milei acusou Massa de fazer negócios com empresários amigos, o candidato governista o convidou a irem os dois juntos a fazerem uma denúncia na Justiça.

“Ou você faz uma denúncia ou você se retrata”, desafiou Massa. Milei calou-se.

Provocar um ataque
Sergio Massa procurou o tempo todo desestabilizar emocionalmente Javier Milei, conhecido por furiosas reações em entrevista nas quais é questionado.

Logo no começo, Milei começou a elevar a voz e a chamar Massa de mentiroso. Quando Massa ironizou, pedindo que Milei ficasse agressivo porque o debate estava apenas começando, o libertário passou a controlar a habitual veemência.

“Não te agredi. Somente expresso com paixão a indignação que o teu governo gera”, defendeu-se.

Massa trouxe à tona uma informação desconhecida: a de que Javier Milei, quando jovem estudante, foi reprovado para renovar um estágio no Banco Central, dando a entender que o motivo da reprovação foi o exame psicotécnico.

“Os argentinos têm de eleger quem tem a sobriedade, o equilíbrio mental e o contato com a realidade para poder conduzir a Argentina”, advertiu Massa.

Sem reuniões pessoais com Lula
Um dos pontos fortes da noite foram as relações com a China, mas sobretudo com o Brasil, principal sócio político e comercial da Argentina.

Ao longo da campanha, Javier Milei disse que não teria relações políticas com líderes comunistas e corruptos. Nessa lista, incluiu o presidente Lula, com quem não pretende reunir-se se eleito.

“Não vamos ter relações com aqueles que não respeitam a liberdade individual e a paz. Os meus aliados serão Estados Unidos, Israel e o mundo livre”, diferenciou o libertário.

Massa alertou que romper relações com o Brasil e com a China implica à Argentina perder dois milhões de empregos. Milei, então, contra-argumentou dizendo que vai permitir que os privados tenham comércio com quem quiserem, mas que ele não terá relações políticas nem pessoais com Lula.

Também disse que, se os exportadores perderem esses mercados, poderão substituí-los por outros.

Milei lembrou a Massa que o atual presidente Alberto Fernández não falava com o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Qual é o problema se eu não falar com Lula?”, questionou Milei.

Desempate
No final do debate, Sergio Massa disse que queria ser presidente “para acabar definitivamente com a polarização política” no país, “para que os jovens continuem com universidades públicas” e para que “as mulheres possam entrar no mercado de trabalho sem medo nem discriminação”, em contraposição implícita a Milei.

Por sua vez, Milei disse que “os argentinos devem perguntar-se se querem continuar neste caminho decadente que só aumenta a quantidade de pobres, condenando o país à miséria e os jovens a irem embora do país” por culpa de “uma casta política corrupta, parasita e inútil”, em alusão ao “modelo empobrecedor de Massa”.

Milei pediu ainda que “os eleitores votem sem medo porque o medo beneficia o status quo”.

No meio desta semana, devem sair novas pesquisas de intenção de voto já com o impacto deste debate. Os números podem confirmar se o domínio de Sergio Massa no debate tende a se traduzir em votos.

Por outro lado, nesta segunda-feira sairá o índice de inflação de outubro que deve rondar os 10%, elevando a inflação a mais de 150% nos últimos 12 meses.

Até agora, a disputa está tecnicamente empatada, a seis dias da eleição do próximo domingo.

*Opera Mundi

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Refugiados ucranianos em Israel voltam ao país natal por medo do conflito na Palestina: “hoje, a situação é mais tranquila em Kiev”

“Se tenho que morrer, pelo menos que seja no meu país”. Assim como Tetiana Kocheva, os ucranianos que encontraram refúgio em Israel após a invasão russa decidiram retornar para seu país, apesar da guerra, para fugir do conflito com o Hamas.

Quando as tropas russas invadiram a Ucrânia, no final de fevereiro de 2022, Tetiana, de 39 anos, e seus três filhos, agora com 14, 10 e 3 anos, viviam em Kharkiv (nordeste), perto da fronteira com a Rússia.

Kharkiv foi um dos primeiros alvos do bombardeio russo na Ucrânia. Tetiana e seus filhos ficaram escondidos durante dez dias em um porão. Em julho de 2022, deixaram a Ucrânia para ir para Israel, onde o marido trabalhava.

— Achei que ficaríamos três meses e depois voltaríamos, mas a guerra não acabou — afirmou.

A família se estabeleceu em Ashkelon, uma cidade no sul de Israel, perto de Gaza.

Em 7 de outubro, dia do ataque do grupo palestino Hamas lançado de Gaza contra o território israelense, “minhas mãos começaram a tremer e tive a mesma sensação que senti no momento em que a guerra começou no meu país”, conta Tetiana.

Ela descreve o barulho “sem fim” das sirenes, “as explosões incessantes”, as noites nos abrigos com as crianças.

— Quando [o conflito] se intensificou […] entrei em pânico, tive medo e me dei conta de que precisava voltar para casa — explica a mulher.

A família foi levada para o centro de Israel, onde permaneceu alguns dias, antes de retornar para a Ucrânia, aonde chegou em 20 de outubro. Voltaram a se estabelecer em Kharkiv.

Kharkiv é, regularmente, alvo de bombardeios russos, mas há pouco menos de um ano já não está sob ameaça de ocupação. Desde 7 de outubro, cerca de quatro mil ucranianos fugiram de Israel, segundo números da embaixada ucraniana.

— É minha pátria, minha bandeira, não sei como expressar. Estou feliz por ter retornado — afirma Tetiana. — Se tiver que morrer, pelo menos que seja meu país.

A cerca de 400 quilômetros de distância, na capital do país, Kiev, Diana, de 8 anos, dança sobre folhas secas em um parque à beira do rio Dnieper. A menina e sua mãe, Anna Lyashko, 28 anos, retornaram de Israel em meados de outubro. Eles fugiram da Ucrânia em março de 2022, diz O Globo.

Naquele momento, eles viviam em uma cidade ocupada pelos russos perto de Kiev, “onde estavam sob bombas, sem eletricidade, sem água, sem comunicações”, enumera Anna.

“Minha filha ficou com muito medo e decidimos ir” para Israel, onde morava um primo seu, pensando que ficariam “um ou dois anos”. Em 7 de outubro, porém, “a guerra estourou lá também”.

“Os sentimentos eram os mesmos de 24 de fevereiro na Ucrânia […] Olhei para minha filha e vi medo em seus olhos”.

“Entendi que não poderíamos ficar lá”. Então, ela e a filha deixaram Tel Aviv em 14 de outubro, com a ajuda da embaixada ucraniana.

Do centro de Kiev, Oksana Sokolovska, de 39 anos, também diz estar “feliz por ter voltado para casa”, embora “seja difícil deixar uma guerra por outra”.

Ela havia partido da Ucrânia com seus três filhos em 16 de março de 2022 e escolheu Israel, porque “achava que era o país mais seguro do mundo”.

A família se estabeleceu em Rishon Le Tzion, perto de Tel Aviv. Quando o ataque do Hamas começou, “as sirenes de alerta aéreo soaram, os bombardeios maciços começaram”, e “ficamos o dia todo no abrigo antiaéreo com as crianças”, completa.

Ela rapidamente decidiu deixar Israel, “para não arriscar a vida dos meus filhos”, e eles embarcaram em um avião em 14 de outubro.

“Hoje, a situação é mais tranquila em Kiev e em sua região do que em Israel […] Esta é a única razão pela qual voltei”, admite.