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A derrocada a jato do general Walter Braga Netto

Walter Braga Netto tinha a expectativa de ser vice-presidente da República, mas tornou-se um dos nomes mais encrencados na trama golpista.

Foi dura a queda de Walter Braga Netto. O general, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, figura como um dos nomes mais encrencados nas investigações da Polícia Federal contra os golpistas que circundavam o ex-presidente.

Braga Netto chegou a ser cotado como o candidato bolsonarista à Prefeitura do Rio de Janeiro. Descartou a ideia por alimentar o sonho de se lançar na disputa pelo Senado em 2026, mas acabou inelegível, ao ser condenado pelo TSE por instrumentalizar as festividades do 7 de Setembro.

Na quinta-feira (8/2), o general foi alvo de mandados de busca e apreensão e entregou o passaporte às autoridades. Mensagens de WhatsApp mostraram Braga Netto instruindo ataques aos chefes do Exército e da Aeronáutica, que não teriam aderido ao plano golpista formulado com a anuência de Bolsonaro, diz Guilherme Amado, Metrópoles.

Braga Netto tornou-se conhecido da população ao ser nomeado interventor federal na segurança do Rio de Janeiro pelo então presidente, Michel Temer, em fevereiro de 2018. Na época, os feitos do general quatro estrelas ganharam destaque na imprensa, mas a intervenção em nada mudou a situação do Rio.

No governo Bolsonaro, Braga Netto atuou como ministro-chefe da Casa Civil, entre fevereiro de 2020 e março de 2021, e ministro da Defesa, entre março de 2021 e abril de 2022.

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De software a agente infiltrado, PF aponta como governo Bolsonaro buscou vigiar adversários

Investigações revelam que antiga gestão operou estrutura paralela de inteligência com objetivo de manter o ex-presidente no poder.

As operações recentes envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos trouxeram à tona indícios de que o antigo governo lançou mão de uma estrutura paralela de inteligência com monitoramento de viagens de autoridades, infiltração de agentes e uso de programa espião. Todo esse aparato, segundo apontam investigações da Polícia Federal, foi operado para espionar adversários políticos e minar o processo eleitoral em 2022, com o objetivo de manter o ex-mandatário no poder.

Esse núcleo de inteligência paralela, conforme revelam os inquéritos, tinha duas frentes de atuação. A primeira envolvia uma atividade mais informal desempenhada por auxiliares próximos do ex-presidente, responsáveis por levantar informações clandestinas para ajudar na “consumação do golpe de Estado”. A segunda era encabeçada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que coletavam dados do interesse pessoal de Bolsonaro sobre adversários.

A existência de uma “Abin paralela” foi apontada, em março de 2020, pelo ex-secretário geral da Presidência Gustavo Bebianno, que rompeu com Bolsonaro logo no início do governo. Em entrevista ao “Roda Viva”, ele afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, não confiava na agência de Inteligência. A desconfiança foi abordada pelo próprio Bolsonaro em uma reunião ministerial em abril daquele ano.

— Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que tem oficialmente, desinforma — disse ele, na ocasião.

A defesa do ex-presidente disse que ele não “atuou ou conspirou contra a Constituição e o estado democrático de direito”. A Abin e o GSI não se manifestaram, mas, anteriormente, já informaram que colaboram com as apurações.

Um dos alvos centrais do núcleo de inteligência paralela era o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e integrante do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado era responsável por conduzir o processo de votação em 2022 e pelos principais inquéritos envolvendo o ex-presidente e seu entorno.

De olho nisso, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o coronel Marcelo Câmara, que também assessorava o então presidente, trocavam informações sobre os passos de Moraes. Em dezembro de 2022, os dois militares conversaram em mensagens sobre os voos dele entre Brasília e São Paulo — as viagens citadas coincidiram com o itinerário feito pelo ministro naquela ocasião. Os homens de confiança de Bolsonaro estavam dispostos, de acordo com o inquérito, a prender Moraes em 18 de dezembro de 2022, num plano eu envolvia a tomada do poder.

“As circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode significar a utilização de equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle”, diz a PF.

Auxiliar mais próximo a Bolsonaro, Cid concentrava as informações que chegavam ao presidente no mesmo período em que participava diretamente das discussões sobre o plano de ruptura institucional — uma minuta com teor golpista foi encontrada no celular dele. Câmara era responsável por checar relatos que chegavam a Bolsonaro via WhatsApp, principal fonte de informações usada por ele.

*Da coluna de Bernardo Mello Franco/O Globo

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‘Chega de punição coletiva’: Lula aumenta repasses à agência para refugiados palestinos

Presidente brasileiro reforça apoio a órgão ligado à ONU que enfrenta crise iniciada por acusações de Israel, que alega existir um suposto vínculo da mesma com o Hamas.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu ampliar as doações e repasses financeiros à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), o órgão internacional que fornece ajuda humanitária aos palestinos em situação de refúgio na Faixa de Gaza.

O anúncio dado pelo mandatário durante uma visita à Embaixada da Palestina, em Brasília, na quinta-feira (08/02), foi divulgado pelo Palácio do Planalto no dia seguinte.

“O Brasil exorta a comunidade internacional a manter e reforçar suas contribuições para o bom funcionamento das suas atividades. Meu governo fará aporte adicional de recursos para a agência”, declarou Lula.

Por outro lado, o presidente reforçou que as denúncias contra os funcionários da UNRWA “precisam ser devidamente investigadas, mas não podem paralisá-la”.

“Chegou a hora de pôr fim à catástrofe humanitária que se abateu sobre os mais de dois milhões de palestinos que vivem em Gaza. Quase 30 mil pessoas morreram, a maioria crianças, idosos e mulheres indefesas. Mais de 80% da população foi realocada à força (…). Chega de punição coletiva”, acrescentou o petista.

Lula mencionou ‘punição coletiva’, o mesmo termo utilizado pelo próprio comissário-geral da UNRWA, Phelippe Lazzarini, no momento em que diversos países passavam a declarar suspensão de ajuda à agência da ONU.

Opera Mundi consultou o Itamaraty sobre a definição do valor a ser repassado pelo Brasil, mas até o fechamento desta reportagem não obteve resposta.

Os últimos dados divulgados pelo órgão internacional revelam que o orçamento total de 2022 foi de US$ 1,17 bilhão. Os maiores doadores foram os membros da União Europeia, que destinaram US$ 520 milhões, e os Estados Unidos, com US$ 344 milhões. O Brasil enviou apenas US$ 75 mil.

Acusação israelense contra funcionários da UNRWA

A decisão do chefe de Estado brasileiro ocorre poucas semanas após Israel ter alegado que alguns funcionários da agência da ONU participaram da primeira ofensiva lançada pelo grupo de resistência palestina Hamas, em 7 de outubro.

A reação da UNRWA junto com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi imediata. Em 26 de janeiro, as autoridades da ONU apoiaram a abertura de investigações dentro da agência destinada a refugiados . Dos 12 funcionários acusados, nove foram demitidos, dois ainda precisam ser identificados e um morreu.

No entanto, a denúncia israelense motivou diversos países ocidentais, incluindo os principais doadores, como os Estados Unidos, a decidirem bloquear repasses à UNRWA, o que gerou uma preocupação ainda maior por parte da agência, que vinha relatando escassez de recursos básicos e apelando por mais auxílio internacional.

Na ocasião, o antigo porta-voz da agência da ONU para refugiados palestinos, Chris Gunness, estranhou a situação e afirmou em “ataque político coordenado”.

“Os israelenses disseram que não podem vencer a guerra em Gaza a menos que a UNRWA seja dissolvida. Que sinal mais claro você deseja?”, questionou Gunness sobre a denúncia de Israel.

Com 13 mil funcionários ativos, a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos é a principal organização que ajuda a população de Gaza em meio ao desastre humanitário. No momento, mais de 2 milhões de habitantes, dos 2,3 milhões totais, dependem do órgão para “pura sobrevivência”, incluindo comida e abrigo.

*Rocio Paik/Opera Mundi

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PF tem informações de que generais Braga Neto e Paulo Sérgio Nogueira tiveram papel central na articulação da tentativa de golpe

Envolvidos nas apurações apontam situação de Braga Netto como a ‘mais delicada’ entre os militares.

Entre os 16 militares alvos da operação que apura a tentativa de golpe de Estado, dois chamaram atenção dos investigadores da Polícia Federal (PF) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). São os generais da reserva Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, respectivamente.

Segundo a colunista Bela Megale, do Globo, a Polícia Federal e o STF têm em mãos dados que mostram que ambos tiveram papel central na articulação da trama golpista arquitetada no governo Jair Bolsonaro.

Parte deste material já veio à tona, como o vídeo da reunião ministerial que mostrou a “dinâmica golpista” apontada pela Polícia Federal, além das mensagens de Braga Netto cobrando militares a aderirem ao golpe e xingando os que se recusavam a fazê-lo.

Envolvidos nas apurações apontam a situação de Braga Netto como a “mais delicada” entre os militares, seguido do general da reserva Paulo Sérgio Nogueira e ainda não descartam o risco de prisão.

Entre ministros do STF há a convicção de que, se fosse Nogueira quem estivesse na cadeira de comandante do Exército quando Bolsonaro foi derrotado por Lula, o general teria atuado para que a Força embarcasse na aventura golpista.

Naquele momento quem comandava o Exército era o general Freire Gomes, que foi chamado de “cagão” por Braga Netto por não aderir ao golpe.

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Vídeo: Boulos é ovacionado e recebido com gritos de ‘prefeito’ em bloco de SP

Deputado foi recebido com festa no cortejo do bloco ‘Tarado Ni Você’ na manhã deste sábado (10), no centro da cidade.

O pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo Psol, Guilherme Boulos, foi recebido com festa no cortejo do bloco Tarado Ni Você na manhã deste sábado (10), no centro da cidade.

Boulos foi abraçado pelos foliões aos gritos de “prefeito!”. Ele forma chapa com a ex-prefeita da capital, Marta Suplicy (PT).

https://twitter.com/i/status/1756329995616575620

É a segunda vez que o deputado federal eleito em 2022 é festejado em blocos da cidade neste Carnaval. No último domingo (4), ele foi cumprimentado e tirou muitas fotos com os foliões no desfile de 15 anos do Acadêmicos do Baixo Augusta, também na região central da capital.

A situação do psolista contrasta com a do atual Ricardo Nunes (MDB), vaiado pelo público no Sambódromo do Anhembi na noite desta sexta (9), na abertura do desfile de Carnaval.

O Tarado, bloco criado em homenagem a Caetano Veloso há dez anos, foi o primeiro a desfilar na manhã deste sábado na região central da cidade.

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Veja momento em que Bolsonaro impede Heleno de revelar espionagem da Abin

“A gente conversa no particular o que a Abin está fazendo”, diz Bolsonaro ao ex-chefe do GSI, preocupado com vazamentos.

Durante reunião ministerial liderada pelo então presidente Jair Bolsonaro em 5 de julho de 2022, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na ocasião, quase revelou pormenores de um “esquema” para infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas eleições daquele ano.

Mas Bolsonaro impediu Heleno de revelar os detalhes do desvirtuamento da Abin para fins políticos. “A gente conversa em particular o que porventura a Abin está fazendo”, disse Bolsonaro.

O momento em que Bolsonaro corta a fala de Heleno sobre a espionagem da Abin consta no vídeo da reunião ministerial que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, tornou público nesta sexta (9), um dia após autorizar a fase ostensiva da operação Tempus Veritatis, contra o gabinete que planejava um atentado à democracia.

Perto do final da reunião, depois que Bolsonaro fez inúmeras falas atacando o sistema eleitoral e os ministros do STF, Heleno pede o microfone para pontuar “duas questões.”

“Primeiro, o problema da inteligência. Eu já conversei ontem com o Vitor [Felismino Carneiro], o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo”, disse Heleno.

No relatório em que analisa a gravação, a Polícia Federal assinalou que se tratava de infiltração de agentes nas “campanhas eleitorais”.

“O problema todo disso”, continuou Heleno, “é se vazar qualquer coisa. (…) Eles se conhecem nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer lugar…”

Neste instante, Bolsonaro interrompe bruscamente a fala de Heleno. “Oh, general, eu peço ao senhor que não fale, por favor. Peço que não prossiga mais na tua observação aqui. Peço ao senhor que não prossiga. Se a gente começar a falar de não vazar, esquece, pode vazar. Então a gente conversa em particular na nossa sala sobre esse assunto, o que porventura a Abin está fazendo”, disse Bolsonaro.

*Com GGN

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PF apreende agenda de general Heleno com anotações golpistas escritas de ‘próprio punho’

Segundo os investigadores, as anotações estão alinhadas com outros documentos descobertos no âmbito da operação da quinta-feira, como a minuta de um decreto golpista.

Polícia Federal (PF) apreendeu, na residência do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Jair Bolsonaro (PL), uma agenda com anotações de teor golpista escritas de ‘próprio punho’ pelo militar.

A agenda foi apreendida durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no âmbito da Operação Tempus Veritatis, deflagrada na quinta-feira (8) pela PF com o objetivo de apurar uma trama para uma tentativa de golpe de Estado, que culminou no dia 8 de janeiro do ano passado. Além de Heleno, Bolsonaro e outros integrantes da sua gestão, incluindo assessores, ex-ministros e militares, também foram alvos da ação policial.

De acordo com a coluna da jornalista Bela Megale, de O Globo, fontes ligadas à investigação revelaram que a agenda do ex-ministro continha anotações com teor antidemocrático, alinhando-se com outros documentos golpistas previamente descobertos ao longo das diligências. Entre esses documentos, destaca-se a minuta de um decreto golpista encontrado no escritório de Jair Bolsonaro, na sede do PL, que também foi apreendido pela PF.

As anotações feitas à mão na agenda de Augusto Heleno indicam um possível plano para restringir o poder de atuação do ministro Alexandre de Moraes. O general basearia suas ações em um suposto entendimento jurídico, fundamentado em um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU). Além disso, as notas mencionam que ordens de um juiz considerado suspeito seriam ilegais, com a possibilidade de prisão do delegado que as cumprisse

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Vídeo: Bolsonaro convoca ministros a agirem antes da eleição: ‘Se reagir depois, vai ter caos no Brasil’

A Operação Tempus Veritatis (Hora da Verdade), da Polícia Federal, realizada nesta quinta, 8, coloca Bolsonaro no centro do fracassado golpe contra as instituições brasileiras. Documentos e filmes que vieram à tona mostram o papel ativo do ex-presidente na tentativa de desacreditar o processo eleitoral e criar condições para um golpe de Estado a fim de melar o resultado eleitoral e mantê-lo no poder.

A nota emitida pela PF diz que a operação é para “apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito”. Diz ainda que o objetivo do grupo era “obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República (Bolsonaro) no poder”.

A operação acontece pouco mais de uma semana depois da família Bolsonaro ser alvo de outra ação da PF que investiga esquema de espionagem ilegal na Abin (Agência Brasileira de Inteligência)

A Policia Federal encontrou um documento que previa a “declaração” de estado de sítio e um “decreto” de Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no escritório do ex-presidente Jair Bolsonaro na sede do Partido Liberal, em Brasília. A autoria do documento, no entanto, ainda é desconhecida.

Segundo a PF, o texto do discurso dizia que a decretação do estado de sítio seria necessária “para restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil”.

“Afinal, diante de todo o exposto, e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto operação de garantia da lei e da ordem”, diz o parágrafo final do documento.

Na Constituição, o estado de sítio é previsto em situações de “comoção grave de repercussão nacional” ou de “declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira”.

A aprovação depende do Congresso Nacional, após consulta do Executivo ao Conselho da República (formado pelo presidente, o vice-presidente, os presidentes da Câmara e do Senado, o ministro da Justiça e os líderes da maioria e da minoria da Câmara e do Senado)e o Conselho de Defesa Nacional, (formado pelo vice-presidente e pelos presidentes da Câmara e do Senado, ministros da Justiça, das Relações Exteriores e da Fazenda e de comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica).

O documento tem um dos jargões mais conhecidos do ex-presidente, que sempre alegou “jogar dentro das quatros linhas”.

“Afinal, diante de todo o exposto e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o Estado de Sítio; e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem”, diz o texto.

Antes mesmo dos agentes encontrarem o documento, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou medidas cautelares alternativas à prisão.

As medidas, determinadas pelo Supremo Tribunal Federal são:

• a entrega de passaporte às autoridades dentro de 24 horas;

• a proibição de deixar o país;

• e a proibição de manter contato com os demais investigados.

Além das medidas restritivas contra Bolsonaro, o núcleo duro de seu governo também é alvo; nomes como o do ex-ministro como Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (GSI) e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Defesa), além de assessores de primeira hora, como Filipe Martins, conhecido por ter feito um gesto supremacista branco em meio à uma sessão no Senado.

A operação deflagrada pela PF teve como base a delação premiada feita por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que chegou a ser preso no âmbito das investigações sobre adulteração da carteira vacinal do ex-presidente e sua família.

Outra minuta foi avaliada e modificada por Bolsonaro, diz PF

As investigações da Polícia Federal encontraram outra minuta de golpe em um áudio do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. De acordo com os investigadores, essa minuta teria sido entregue à Bolsonaro pelas mãos de seu então assessor especial, Filipe Martins (preso na casa da namorada na operação desta quinta) e Amauri Feres (alvo de busca).

” O Presidente vem sendo pressionado, aí, por, por vários atores a tomar uma medida mais, mais radical né? Mas ele ainda tá naquela linha do que foi discutido, que foi conversado com os Comandantes, né, e com o Ministro da Defesa. Ele entende as consequências do que pode acontecer. E… hoje ele, ele, ele… ele mexeu naquele decreto, né. Ele reduziu bastante. Fez algo muito mais direto objetivo e curto, e limitado, né”, disse Cid.

A minuta original, elaborada por Martins e Feres, previa a prisão de dois ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), após consumado o golpe de Estado.

Bolsonaro, no entanto, pediu em uma reunião com Martins e Feres que os nomes de Pacheco e Gilmar fossem retirados do documento, mas não o de Moraes, que era o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O ex-presidente também quis que fosse mantido trecho que previa a realização de novas eleições.

Em uma operação após o 8 de janeiro, a PF já tinha encontrado uma outra minuta, também de tom golpista, na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.

Reunião da “dinâmica golpista”

Outro evento revelado pelas investigações foi uma reunião convocada por Bolsonaro com a alta cúpula do governo federal, em 5 de julho de 2022. No encontro, o então presidente cobrou aos presentes que usassem os cargos para disseminar informações falsas sobre supostas fraudes nas eleições. Um vídeo com a gravação da reunião foi encontrado em um dos computadores do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

“Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vir falar para mim porque que ele não quer falar”, disse Bolsonaro, conforme transcrição feita pela PF,

No mesmo encontro, o general Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), defendeu que era preciso agir antes das eleições presidenciais de outubro daquele ano para garantir a permanência de Bolsonaro no comando do país. E usou uma referência esportiva – o assistente de vídeo, recurso usado para corrigir erros de arbitragem no campo de jogo – para afirmar que uma vez realizada, a eleição não poderia ser contestada.

“Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, afirmou.

Heleno chegou a propor que servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fossem infiltrados em campanhas eleitorais. Bolsonaro interrompeu a fala do general e orientou que conversassem sobre o tema posteriormente, em particular.

A partir dessa reunião, a PF aponta que foi realizada uma sequência de eventos para o planejamento do golpe, a partir de mensagens extraídas de celulares de Mauro Cid e nas quais o ajudante de ordens assume a tarefa de coordenação na disseminação de ataques à Justiça Eleitoral.

“A descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral”, descreve a PF.

Monitoramento de Moraes

Os policiais federais identificaram ainda que o grupo monitorou deslocamentos do ministro Alexandre de Moraes entre Brasília e São Paulo, em diversas datas de dezembro de 2022.

O monitoramento foi descoberto nas mensagens trocadas entre Mauro Cid e o coronel do Exército, Marcelo Câmara, que atuou como assessor especial da Presidência da República e foi preso preventivamente nesta quinta-feira. Nas mensagens, Mauro Cid se referia ao ministro do Supremo como “professora”.

“A investigação constatou que os deslocamentos entre Brasília e São Paulo do ministro Alexandre de Moraes são coincidentes com os da pessoa que estava sendo monitorada e acompanhada pelo grupo. Assim, o termo ‘professora’ mutilizado por Mauro Cid e Marcelo Câmara seria um codinome para a ação que tinha o Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como alvo”, informou a Polícia Federal.

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Vídeo: Bolsonaro convoca ministros a agirem antes da eleição: ‘Se reagir depois, vai ter caos no Brasil’

Em vídeo exclusivo obtido pela coluna e que baseou ação da PF, Bolsonaro ataca Lula e ministro do STF.

A reunião ministerial realizada em 5 de julho de 2022 pelo então presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, peça central na operação deflagrada pela Polícia Federal, foi marcada por reações de nervosismo, ofensas, palavrões e destempero do então presidente.

A coluna teve acesso exclusivo a mais de uma hora do vídeo que registra o encontro, que, segundo a PF, “revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo”.

A gravação mostra Jair Bolsonaro visivelmente alterado, desferindo ataques ao então adversário Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chega a se referir como “satanás”, com sucessivas ofensas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, segundo Bela Megale, O Globo.

— Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições — disse Bolsonaro.

Durante toda a reunião, Bolsonaro ordena que seus ministros atuem para questionar o processo eleitoral do dia 2 de outubro de 2022, data do primeiro turno, pois mostrava certeza na vitória de Lula, por causa da infundada fraude que alegava existir, antes mesmo da disputa.

— Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Todos aqui, como todo povo ali fora, têm algo a perder. Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. Eu parei de falar em voto imp… e eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que… eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes — afirma o então presidente.

Bolsonaro defende ainda que todos os integrantes da Comissão de Transparência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) façam uma nota conjunta, afirmando que “a lisura das eleições são (sic) simplesmente impossíveis de ser (sic) atingidas”. O ex-presidente afirma que a nota precisa ser subscrita pela Ordem dos Advogados do Brasil.

Em um dos momentos de mais irritação, Bolsonaro chega a jogar os óculos na mesa e cobra seus ministros:

— Vocês sabem o que está acontecendo. Achando que esses caras estão de brincadeira? “Ah, vamos lá…” Não estão de brincadeira. O que está em jogo é o bem maior que nós temos e contamos aqui na terra, que é a porra da liberdade. Mais claro, impossível. Nós [inaudível] vamos ter que reagir.

O então presidente fala abertamente que o TSE errou ao chamar as Forças Armadas para integrar o comitê de transparência eleitoral da corte, mas admite que se beneficiou disso.

— O TSE cometeu um erro [inaudível] quando convidou as Forças Armadas para participar da comissão de transparência eleitoral. Cometeu um erro. Eles erraram. Pra nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?

Em outro momento, Bolsonaro dispara ataques seguidos aos ministros do STF Alexandre de Moraes, Barroso e Fachin, dizendo que “os caras estão preparando tudo” para que Lula ganhe as eleições no primeiro turno, mas por meio de “fraude”.

— Alguém acredita em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar levanta braço? Acredita que são pessoas isentas? — todos permanecem em silêncio diante do questionamento de Bolsonaro.

Em seguida, refere-se à cadeira presidencial como uma “cagada” e emenda: “cagada do bem”.

— Como é que eu ganho uma eleição, um fodido como eu? Deputado do baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado, uma porra de um deputado”.

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O apego do Lira pelo orçamento

Do blog de Jeferson Miola

Na abertura do ano legislativo [5/2], Arthur Lira fez uma defesa fervorosa do orçamento da União.

Ele disse que “o orçamento da União pertence a todos e todas e não apenas ao Executivo; porque, se assim fosse, a Constituição não determinaria a necessária participação do Poder Legislativo na sua confecção e final aprovação”.

Engana-se quem imagina que o chefe do sistema de extorsão e achaque da Câmara tenha sido acometido por uma súbita síndrome republicana.

Na verdade, a defesa ardorosa que Lira faz do orçamento tem motivos muito particularistas.

O assalto ao orçamento da União e aos fundos públicos é a fonte do poder descomunal que Lira exerce no país.

Ele herdou isso do governo dos militares com Bolsonaro e age caninamente para manter o esquema no governo Lula.

Os parlamentares aprovaram R$ 53 bilhões para manejarem através de emendas orçamentárias em 2024.

“É um ultraje, é quase o total que o governo terá para investimento”, denunciou a presidente do PT Gleisi Hoffman.

Lira é o grande maestro da alocação clientelística e eleitoreira desses bilhões nas paróquias eleitorais da direita e extrema-direita.

Com este esquema ele fideliza mais de 300 deputados para votarem segundo suas conveniências políticas e conjunturais. Lira consegue quórum para mudar a Constituição e, inclusive, para aprovar um processo de impeachment.

Além de ser fonte do poder político que Lira exerce de modo imperial e oligárquico, observa-se a coincidência de expansão do orçamento secreto com Bolsonaro e a multiplicação do patrimônio do presidente da Câmara no período.

A declaração de bens do Lira à justiça eleitoral mostra um crescimento de 247,1% dos bens dele em 2022 em comparação com 2018 – multiplicou o patrimônio em quase quatro vezes, conforme mostra a tabela.

Mesmo que Lira tivesse conseguido poupar 100% de todos os salários mensais de quase R$ 40 mil, inclusive o 13º e 1/3 de férias, sem gastar um único centavo durante os quatro anos de mandato de deputado federal, ele no máximo teria aumentado seu patrimônio em R$ 1,7 milhão.

Mas ele conseguiu, porém, o milagre de aumentar seu patrimônio em R$ 4,2 milhões.

O santo que operou o milagre do aumento do patrimônio do Lira pode ter sido seu braço direito Luciano Cavalcante, flagrado recebendo uma bufunfa de dinheiro de emendas desviadas no escândalo do kit robótica.

Luciano Cavalcante estava [ou ainda está] para Arthur Lira como Mauro Cid estava para Jair Bolsonaro.

Na planilha de contabilidade de Cavalcante apreendida pela PF em maio de 2023, consta que Lira recebeu R$ 650 mil do total de R$ 834 mil distribuídos entre dezembro de 2022 e março de 2023.

Em outubro de 2023 Lira se safou inteiramente do “incômodo”.

O ministro do STF Gilmar Mendes, que em agosto já havia anulado as provas obtidas nas investigações do esquema de corrupção do gabinete do Lira, mandou a PF promover “a destruição imediata de todos os áudios captados dentro da Operação Hefesto, desencadeada em junho [2023] para investigar supostas irregularidades na compra de kits de robótica pelo FNDE”, conforme noticiou a agência Pública.

Ilustração: Brum chargista