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Opinião

Campanha de Aras é armadilha contra Lula

Enquanto Lula ocupa a presidência pela terceira vez, após a mais apertada campanha eleitoral em décadas de História, não custa lembrar que o país permanece em plena travessia institucional.

Neste ambiente, inevitavelmente tumultuado, irá ocorrer uma primeira definição importante, após a vitória que impediu a reeleição de Jair Bolsonaro — a escolha do novo Procurador Geral da República, posto estratégico na cúpula do Estado, ainda mais na conjuntura atual.

Como já é tradição, os procuradores definiram uma lista tríplice de concorrentes ao posto, oferecida como sugestão ao presidente Lula, que tem o direito à palavra final, inclusive anunciando um novo um nome fora da lista do MP. Há outro candidato no horizonte, contudo.

Após dois mandatos como PGR, cargo que ocupou por escolha de Jair Bolsonaro, o primeiro presidente da República a desconsiderar a lista tríplice, o atual PGR Augusto Aras tenta um terceiro mandato. Desta vez, suas chances se resumem a uma única possibilidade: ser indicado por Lula a permanecer na função até agosto de 2025, poucos meses antes da próxima eleição presidencial.

Só para recordar: o primeiro mandato de Augusto Aras como PGR foi iniciado em setembro de 2019. Indicado por Bolsonaro, tomou posse num ambiente marcado pelos dois episódios decisivos do retrocesso brasileiro mais recente — a prisão de Lula, em abril de 2018, e a derrota de Haddad, meses depois.

O segundo mandato de Aras foi iniciado em agosto de 2021, quando sua recondução foi aprovada no Senado por 55 votos a 10. A marca principal que permitiu a ascenção de Aras como PGR residiu no espírito Lava-Jato, que fortaleceu um punitivismo primitivo, enfraquecendo os princípios constitucionais básicos da presunção da inocência que ocupam a espinha dorsal da Constituição de 1988.

Essa postura alimentou o golpe contra Dilma Rousseff e os ataques à Petrobras, mostrando que os adversários da presidente do PT tinham fôlego, dentro do Ministério Público, para indicar um novo PGR. Seu nome era Nicolau Dino, irmão mais novo de Flávio Dino, o ministro da Justiça de Lula. Primeiro colocado na escolha interna, com 651 votos, ele não sobreviveu até a chegada do novo governo, contudo. Michel Temer optou por Raquel Dodge, que Bolsonaro iria trocar por Augusto Aras.

Embora sua campanha contasse com o patrocínio declarado de Jair Bolsonaro & filhos, além de estrelas do primeiro escalão do Congresso, nunca faltaram vozes amigas no Ministério Público com disposição para retocar a imagem do candidato, espalhando a noção de que o punitivismo de Aras seria apenas teatro eleitoral, que seria substituído por sólidos princípios garantistas quando o candidato a PGR já estivesse firme no cargo e pudesse demonstrar sua vocação democrática.

Como o país pode constatar nos anos seguintes, o Aras da vida real nada tinha a ver com essa fantasia ingênua e/ou interesseira. Em vez de manter uma postura vigilante diante dos abusos cometidos pelo governo Bolsonaro, atitude que constitui obrigação número 1 da função, o PGR cultivou uma indisfarçável capacidade de adaptação aos gestos e atitudes de um governo que tentava encaminhar o país para uma ditadura.

O mal-estar contra sua atuação atingiu tal ponto que em agosto de 2021 quatro lideranças históricas do Ministério Público sentiram-se no dever de abandonar o descanso para tomar uma atitude inédita, cuja gravidade os estudiosos dos meios jurídicos do país conseguem avaliar com mais precisão. Enviaram ofício ao Conselho Superior do MP para acusar o PGR de “não cumprir a missão constitucional” em casos de óbvio interesse nacional.

Aras foi acusado de “omissão” diante da atuação de personalidades notórias como ex-ministro Ricardo Salles e o primogênito Flavio Bolsonaro. Os procuravam fizaram acusação pior. Escreveram que o PGR “por si próprio ou por intermédio de pessoa de sua mais estrita confiança, vem, sistematicamente, deixando de praticar, ou retardando, a prática de atos funcionais para favorecer a pessoa do presidente da República ou pessoas do seu entorno”. Sua omissão na tragédia de 700 000 mortos na covid-19 também foi lembrada com pesar.

Pelo histórico, resta perguntar se o perfil de Augusto Aras se encaixa na conjuntura de um país que procura reconstruir o regime democrático. O PGR tem a prerrogativa única de investigar políticos com foro especial — a começar pelo presidente da República.

Também é o único membro do Ministério Público que pode iniciar ações penais contra senadores e deputados federais, além de ministros e, mais uma vez, o presidente da República. Resumindo: para o bem ou para o mal, o PGR é um personagem destinado a se mover no olho dos furacões — jurídicos, políticos, econômicos — que costumam explodir cotidianamente na República.

Diante de um histórico conhecido, um Presidente da República comprometido com o Estado Democrático de Direito não tem nenhum interesse em entregar tamanho poder a Augusto Aras.

Alguma dúvida?

*Paulo Moreira Leite/247

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Política

Bolsonaro diz que STF prepara “armadilha” para prendê-lo e estuda pedir asilo nos EUA

O jornalista Joaquim de Carvalho revelou ao 247 que Jair Bolsonaro disse a aliados que cogita pedir asilo nos Estados Unidos, para fugir da possibilidade de prisão no Brasil.

“O que eu apurei esta semana é que o Allan dos Santos não vai ser extraditado. Ele conseguiu asilo nos Estados Unidos. Se ele tem asilo, não vai ser extraditado. Pode ter muito barulho aqui, ali. Existe uma prisão decretada, mas ele obteve asilo. Aquela licença que ele apresentou para trabalhar é consequência do asilo. A informação que eu tenho é que o Bolsonaro procurará asilo também nos Estados Unidos”, disse Joaquim de Carvalho.

O jornalista também comentou a reação de Jair Bolsonaro diante da notícia de que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) teriam se manifestado sob condição de anonimato de que pretendem cassar seus direitos políticos, mas não admitiriam sua prisão.

“Quando saiu aquela notícia na Mônica Bergamo de que ministros do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça dizendo o seguinte: ‘Olha, nós não vamos prender o Bolsonaro, não vamos deixar prender, ele vai ser só inabilitado politicamente, o Bolsonaro mandou mensagem para os apoiadores dele aqui – apoiadores não, um grupo restrito -, dizendo o seguinte: ‘Isso aqui é uma armadilha. Os ministros combinaram de falar isso porque querem que eu volte. E quando eu voltar, eu vou ser preso'”, declarou o jornalista.

Para Joaquim de Carvalho, essa fala de Bolsonaro indica que ele não vai voltar mesmo. “Então, ele pode pedir mesmo esse asilo e sobretudo nos Estados Unidos, onde existe uma rede de extrema direita que é forte”, afirmou.

Bolsonaro está nos Estados Unidos desde o final de dezembro, quando fugiu antes de entregar a faixa a Lula e supostamente para evitar sua prisão.

Em solo norte-americano, ele já disse que pretendia voltar no final de janeiro para fazer uma nova cirurgia no abdômen, para desobstrução do intestino. Seu médico, Antônio Macedo, chegou a dizer que seria uma operação médica preventiva. Mas já se passou um mês e ele não veio, nem voltou a se internar nos Estados Unidos.

Bolsonaro teria dito que só voltará ao Brasil com a “mudança de cenário”. Para isso, ele aposta na volta de Donald Trump à Casa Branca.

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Bancos privados rejeitam armadilha de Bolsonaro aos pobres e não aceitam fazer consignado com Auxílio Brasil

Bolsonaro e o Centrão criaram armadilha para multiplicar valor do Auxílio Brasil para os mais pobres iludindo-os com o crédito consignado. Juros poderiam chegar até a 98% ao ano. Os grandes bancos privados rejeitaram, com receio da repercussão negativa. Caixa e BB devem oferecer o crédito-arapuca.

Segundo a Forum, os grandes bancos privados do país não vão embarcar na proposta-armadilha aprovada pelo Centrão no Congresso e sancionada por Jair Bolsonaro de oferecer empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil, multiplicando os recursos nas mãos das famílias às vésperas da eleição e esmagando-as a seguir com juros estratosféricos.

Em publicações e anúncios em redes sociais, financeiras e promotoras de crédito que estão recolhendo pré-cadastros para ofertar os empréstimos falam em taxas de 4,99% ao mês, o equivalente a 79% ao ano. Mas as taxas chegam até a 5,88% ao mês, equivalentes a 98% ao ano.

Bradesco, Itaú, Santander, Nubank e BMG são algumas das instituições que já decidiram não oferecer crédito consignado. A recusa do mercado vem após o governo lançar a iniciativa sem colocar um limite à taxa de juros a ser cobrada.

Especialistas ouvidos por O Globo dizem que a saída em série dos grandes bancos mostra que há uma preocupação sobre a efetividade da medida e seu impacto na própria imagem das instituições.

Lauro Gonzalez, coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV, afirmou ao jornalista João Sorima Neto que os bancos não querem se associar à imagem de que estão usando como garantia para o empréstimo uma transferência de renda para uma população na pobreza ou na extrema pobreza.

Isso poderia, inclusive, ir de encontro às práticas ESG (meio ambiente, social e governança na sigla em inglês) adotadas pelas grandes instituições: “As instituições que de fato estejam investindo em políticas ESG vão se questionar muito se entram ou não nesse mercado e, provavelmente, não vão entrar porque parece que há quase um consenso sobre, digamos assim, a ruindade dessa medida”.

Apesar da recusa dos bancos privados, os bancos públicos federais, sob comando bolsonarista, deverão apresentar a armadilha às beneficiárias e beneficiários do Auxílio Brasil. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal informaram à Folha de S.Paulo que estão analisando como ofertar o consignado. A assessoria da Caixa afirmou que as contratações do empréstimo consignado do Auxílio Brasil terão início após a regulamentação das condições da operação, mas recusou-se a informar quais serão as taxas de juros dos empréstimos.

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