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Saúde

Dengue e HIV: a partir de hoje você pode realizar 40 exames em farmácias, saiba quais

A flexibilização foi autorizada pela Anvisa em maio e passa a valer em 1° de agosto.

A partir desta quarta-feira, 1°, os brasileiros poderão realizar mais de 40 exames médicos em farmácias, entre eles de dengue, HIV e de nível de vitamina D. A flexibilização foi autorizada por uma decisão da diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em maio, segundo O Globo.

A norma substitui uma resolução da Anvisa de 2005 e permite que farmácias realizem exames de análises clínicas (EAC) no país. Antes, a possibilidade se restringia aos exames de Covid-19 e de glicemia.

Conforme a agência, a “evolução do setor de diagnósticos” e a “evidente defasagem da norma frente à realidade tecnológica” motivaram a abertura do processo de revisão da resolução, ainda em 2017.

A Anvisa realizava audiências e consultas públicas sobre o tema desde 2019. As mudanças no acesso da população aos sistemas de saúde, “impulsionadas pelas estratégias de enfrentamento à pandemia de Covid-19, que demandou novas formas de acesso à saúde e à ampliação do diagnóstico”, foi um dos pontos observados.

A reguladora reforça, contudo, que os exames realizados em farmácias possuem “caráter de triagem”, por isso, “não devem ser usados de forma isolada para a tomada de decisões clínicas”. “O resultado de um teste rápido necessita da interpretação de profissionais de saúde, que devem associá-lo aos dados clínicos do indivíduo e à realização de outros exames laboratoriais confirmatórios”, diz nota da agência.

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Saúde

Injeção para prevenir infecção pelo vírus da Aids é aprovada pela Anvisa e tem eficácia mais duradoura

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o registro de novo medicamento ao Cabotegravir, injeção aplicada a cada dois meses para prevenir a infecção pelo HIV. A injeção, desenvolvida pela farmacêutica GSK, tem o nome comercial de Apretude, e funciona como uma profilaxia pré-exposição ao vírus (PrEP). No Brasil, desde 2017, a estratégia é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de comprimidos diários, segundo O Globo.

Nos estudos clínicos, o Cabotegravir injetável apresentou eficácia 69% maior do que os comprimidos diários para evitar a infecção pelo HIV. Ele funciona por meio de duas aplicações mensais no início, e depois uma a cada dois meses – reduzindo a frequência de 365 vezes ao ano, com os comprimidos, para apenas seis. A injeção é feita nos glúteos.

Especialistas afirmam que essa eficácia superior observada nos estudos pode ser justamente devido à maior facilidade na adesão, já que na estratégia atual é preciso que o indivíduo tenha o comprometimento diário de tomar o comprimido para garantir a proteção.

A terapia é destinada a determinados grupos considerados de maior risco de exposição ao HIV, como homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo e pessoas que não vivem com o vírus, mas estão em um relacionamento sorodiscordante (em que a outra pessoa vive com o HIV).

O comprimido, que deve ser tomado diariamente, é uma combinação de dois antirretrovirais, tenofovir + emtricitabina, que bloqueiam os caminhos que o HIV utiliza para infectar o organismo. Com isso, caso o indivíduo seja exposto ao vírus, o risco de contaminação se reduz em mais de 90% menor.

Segundo o Painel PrEP, do Ministério da Saúde, desde a implementação, até abril deste ano, 81.824 brasileiros acessaram a terapia no país – 89% pela rede pública. No entanto, mais de 22 mil deixaram de aderir à estratégia.

Uma das maiores dificuldades para o sucesso da profilaxia é justamente pelo fato de o esquema envolver comprimidos diários, o que leva muitas pessoas a desistirem a longo prazo.

Por isso, pesquisadores têm investido em novos fármacos capazes de aumentar a aderência do público-alvo, como os de longa duração, que podem ser aplicados em intervalos maiores, ou em formatos de implantes, por exemplo.

Um dos mais avançados nesse sentido até agora é o Cabotegravir, que desde julho do ano passado é indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aos países como uma alternativa mais eficaz da PrEP. Nações como Estados Unidos, Austrália e Zimbabue deram aval recente ao medicamento.

Embora a Anvisa tenha concedido o registro de novo medicamento para o Cabotegravir injetável, isso não quer dizer que ele será imediatamente oferecido na rede pública.

Para isso, ainda é necessária uma avaliação do Ministério da Saúde para decidir se irá incorporar ou não o novo fármaco à estratégia da PrEP no SUS, e desenvolver as novas regras.

Porém, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já havia anunciado no ano passado que iria implementar um projeto piloto com a PrEP injetável no Brasil, uma iniciativa financiada pela Unitaid, agência global de saúde ligada à OMS. A Fiocruz é quem produz hoje a versão em comprimidos da profilaxia distribuída nos postos de saúde do país.

O avanço de novas formas de prevenir a infecção pelo HIV é importante no momento em que o Brasil registra avanço no número de novas contaminações. De acordo com o Ministério da Saúde, um milhão de brasileiros vivem com o vírus. No mundo, o programa para aids das Nações Unidas (Unaids) estima um total de 38,4 milhões de indivíduos.

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Saúde

Mulher recebe transplante de células-tronco do cordão umbilical e é curada do HIV

Mulher recebe um transplante de células-tronco do cordão umbilical e está livre do vírus há dois anos e meio. Os outros três casos anteriores à “paciente de Nova York” também tinham leucemia, mas foram tratados com material coletado de adultos.

Pela primeira vez, uma pessoa com HIV entrou em remissão da doença após receber um transplante de células-tronco do cordão umbilical. Trata-se de uma mulher, a “paciente de Nova York”, que está livre do vírus e sem medicação há 30 meses. Descrito ontem em um artigo publicado na revista Cell, o caso havia sido divulgado no ano passado, durante uma conferência médica. Agora, os pesquisadores de universidades norte-americanas detalharam o procedimento.

Em uma coletiva de imprensa transmitida on-line, os cientistas destacaram que preferem não falar em “cura definitiva”, mas “cura possível”. “Basicamente, estamos esperando por um período mais longo de acompanhamento”, afirmou Yvonne Byrson, diretora do Consórcio de Aids Los Angeles-Brasil da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e um dos médicos que acompanharam o caso. Ela também ressalta que o procedimento não é para todos: além de HIV, a paciente tinha leucemia, condição que justificava o transplante, considerado de altíssimo risco.

“Neste momento, não há distinção oficial entre estar curado ou em remissão de longo prazo”, complementou Deborah Persaud, infectologista pediatra da Universidade Johns Hopkins, que também supervisionou o caso. “Embora o prognóstico da paciente de Nova York seja ótimo, acho que relutamos em dizer, agora, que está curada.” Nos dois anos e meio de acompanhamento, desde que a mulher parou de tomar os medicamentos antivirais, não houve rebote do HIV, ressaltou.

Três outras pessoas que também tinham leucemia foram consideradas livres do HIV graças ao transplante de medula óssea com células-tronco, mas, nesses casos, o material foi coletado de adultos. Os doadores portavam duas cópias de uma rara mutação genética, a CCR5 delta 32, que bloqueia a entrada do vírus nas células. Ao serem transplantadas para o receptor, elas assumem o controle do sistema imunológico do paciente, substituindo as antigas células, suscetíveis ao vírus, por aquelas mais resistentes a ele.

Porém, a mutação, além de rara — 1% dos caucasianos são portadores —, é praticamente inexistente em outras populações, caso da paciente de Nova York, com ascendência africana. “Os transplantes de células-tronco exigem uma compatibilidade muito forte, e isso limita os procedimentos. Essa mulher é miscigenada. Teria sido muito difícil encontrar uma correspondência usando células adultas”, relatou Byrson.

Químio e cirurgia

Como parte de um ensaio clínico dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, os cientistas tiveram acesso a um banco de células do cordão umbilical, já identificadas como tendo a mutação CCR5 delta 32. Assim como os outros pacientes em remissão, a de Nova York passou por quimioterapia para retirar o máximo possível das estruturas doentes e, em 2017, fez a cirurgia. Os médicos transplantaram para a medula óssea da mulher uma infusão contendo as células-tronco do cordão umbilical, resistentes ao HIV, e células adicionais de um parente compatível, para estimular o sistema imunológico.

A paciente continuou na terapia antiviral até que, há dois anos e meio, parou de usar os medicamentos. “As células resistentes ao vírus assumiram o controle do sistema imunológico dela. A mulher está livre do câncer e, até agora, do HIV: mesmo técnicas muito sensíveis não detectaram o vírus em sua corrente sanguínea”, contou Byrson. Embora, por enquanto, o procedimento seja indicado somente para pessoas que, além de câncer, têm HIV, a cientista acredita haver potencial de adaptar o método por meio de novas técnicas e terapia genética, para beneficiar outros pacientes.

“Apesar de o transplante não ser uma opção para a maioria das pessoas com HIV, os casos relatados, até agora, são interessantes, inspiradores e iluminam o caminho da cura”, acredita Sharon Lewin, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Melbourne, que não participou da pesquisa. “Atualmente, existem estudos extensos tentando descobrir se você pode manipular ou modificar as próprias células de uma pessoa para ter essa mutação”, disse Koen Van Besian, especialista em transplante células-tronco na Universidade de Cornell e coautor do artigo. Segundo o médico, embora ainda falte muito para que isso aconteça, na prática, é uma abordagem realista, que merece ser investigada mais a fundo.

Mais chance de doadores

“Quando nascemos, as células progenitoras são mais adaptáveis a diferentes contextos genéticos. Um transplante de medula de células-tronco adultas requer uma identidade genética 100% completa em vários genes. No entanto, para as células do cordão umbilical, 50% de identidade é suficiente. A doação de células dessa fonte é, portanto, uma excelente estratégia para ultrapassar esse obstáculo. Trata-se de mais um caso de cura por transplante de medula óssea em paciente com câncer hematológico, é interessante porque o uso do sangue de cordão aumenta as chances de encontrar um doador compatível. Mas não devemos dar falsas esperanças: esse tratamento não é possível, viável ou desejável para a grande maioria dos pacientes vivendo com HIV, para quem a medicação antiviral convencional permite uma vida longa e com excelente qualidade.”

José Alcami, virologista do Instituto de Saúde Carlos III, na Espanha

Esconderijos no cérebro

Um dos motivos pelos quais a infecção por HIV é considerada uma doença incurável para a maioria das pessoas é porque o vírus fica dormente por muito tempo no genoma das células infectadas. Isso o torna invisível e inacessível ao sistema imunológico e aos medicamentos antivirais. Agora, pesquisadores da Alemanha conseguiram desenvolver modelos da enfermidade em culturas de células da micróglia humana, um dos locais onde o microrganismo pode “dormir”.

Os caminhos que o HIV segue para permanecer oculto no genoma da célula hospedeira foram estudados principalmente nas células T CD4 do sangue — as principais células-alvo do vírus. No entanto, ele pode infectar outras células imunes em diferentes órgãos, onde estabelece reservatórios estáveis. Um desses santuários virais é o cérebro, onde o vírus infecta principalmente as células imunes da micróglia, muitas vezes causando neuroinflamação e sintomas de transtorno neurocognitivo associado ao HIV.

Questões relacionadas à infecção e à replicação do HIV no cérebro têm sido muito difíceis de resolver porque os estudos em pacientes são limitados em sua capacidade de monitorar o vírus no órgão. A equipe internacional liderada por Marina Lusic, do Hospital Universitário de Heidelberg, porém, conseguiu desenvolver um modelo que reproduz a ação do micro-organismo em células da micróglia. A inserção genômica resulta no silenciamento do genoma viral, levando às características funcionais do chamado “vírus adormecido”.

Com o modelo, os cientistas identificaram uma correlação forte entre uma proteína chamada CTCF e o estado latente do HIV no cérebro. “Esses estudos em modelos de cultura de células são extremamente importantes para entender como o vírus pode ser direcionado a diferentes partes do corpo, onde pode permanecer oculto ou causar distúrbios neurológicos mesmo sob os regimes terapêuticos atuais”, conclui Lusic. Os resultados foram publicados na revista Cell.

*Com CorreioBraziliense

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Justiça

PF diz que Bolsonaro cometeu incitação ao crime ao associar HIV a vacina

O presidente associou, falsamente, uma ligação entre a vacina contra a covid-19 e o vírus HIV em uma live feita em outubro de 2021.

Na mesma transmissão, Bolsonaro disse, sem apresentar provas, que a maioria das vítimas de gripe espanhola não teria morrido da doença, mas de “pneumonia bacteriana causada pelo uso de máscara”.

  • A investigação da PF concluiu que ambas as informações são falsas.
  • Intimado a depor no início do mês, Bolsonaro não respondeu ao prazo oferecido pela PF.
  • Investigadores entenderam que o presidente optou por ficar em silêncio no caso.
  • O documento da PF foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

A PF diz que Bolsonaro cometeu os seguintes crimes e contravenções:

  • Art. 141 da Lei de Contravenções Penais: Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar ato capaz de produzir pânico ou tumulto;
  • Art. 286 do Código Penal: Incitação ao crime.

A PF também mirou o ajudante de ordens da Presidência, o tenente Mauro César Barbosa Cid, que teria levantado as informações divulgadas por Bolsonaro.

Ele foi indiciado pelas mesmas condutas que o presidente e alegou, no curso da investigação, de que as falas estariam protegidas pela liberdade de expressão.

“Não se tratou de uma mera opinião, conforme defendido por Mauro Cid, mas sim de uma opinião de um Chefe de Estado, propagada com base em manipulação falsa de publicações existentes nas redes sociais, opinião essa, que por ter a convicção de que atingiria um número expressivo de expectadores, intencionalmente, potencialmente promoveu alarma”, disse a PF.

A conclusão final da corporação segue a mesma linha apresentada no relatório parcial do caso, enviado para o STF em agosto.

Em relatório, PF diz que informações são falsas. No documento entregue a Moraes, a Polícia Federal lista que as publicações que teriam embasado a narrativa divulgada por Bolsonaro “em nenhum momento mencionam a existência de que essas informações teriam sido provenientes de relatórios oficiais do governo do Reino Unido”, como inicialmente dito pelo presidente.

Observou-se que todas as publicações mencionadas pelo declarante, em nenhum momento, mencionam a existência de que essas informações teriam sido provenientes de relatórios oficiais do governo do Reino Unido, ou, ainda, que mencionados relatórios haviam sugerido que os totalmente vacinados estariam desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rapidamente que o previsto”Trecho de relatório da Polícia Federal

O mesmo entendimento se aplica aos supostos estudos citados por Bolsonaro de que a maioria dos mortos por gripe espanhola teria morrido por “pneumonia bacteriana” causada por uso de máscara, e não pela doença.

Neste caso, a PF diz que o discurso do presidente acabava por incentivar a população a deixar de usar as máscaras – medida preventiva contra a covid-19 que ainda estava em vigor no momento da live, inclusive com uso obrigatório previsto em lei.

“Ao ser feito um silogismo entre o uso de máscaras em razão da pandemia causada pela gripe espanhola e o uso de máscaras em razão da pandemia causada pela COVID-19, promoveu-se um verdadeiro desestímulo ao seu uso, quando naquele momento, por determinação legal, seu uso era obrigatório pela população”, disse a PF.

Bolsonaro não quis depor. No relatório entregue ao STF, a PF diz que intimou Bolsonaro tanto via AGU (Advocacia-Geral da União) quanto pelo seu gabinete na Presidência para prestar informações no caso no início deste mês.

Bolsonaro, no entanto, não respondeu à intimação no prazo e a PF considerou que o presidente optou por ficar em silêncio.

O UOL entrou em contato com o Palácio do Planalto, mas ainda não obteve retorno.

Qual o caminho agora? Uma vez concluído o inquérito, a PF informou que não indiciaria Bolsonaro em razão do entendimento do Supremo de que autoridades com foro não podem ser indiciadas pela Polícia Federal sem prévia autorização.

Com isso, o relatório deverá ser analisado pela PGR (Procuradoria Geral da República), que decidirá se arquiva o caso ou oferece denúncia contra Bolsonaro.

Nos últimos meses, a PGR arquivou as apurações derivadas da CPI da Covid no Senado, alegando falta de provas que justificassem a apresentação de uma denúncia.

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Política

Governo suspende exame que define tratamento de pessoas com HIV e hepatite C

O governo de Bolsonaro suspendeu todos os exames de genotipagem de HIV e de hepatite C, procedimentos considerados fundamentais para ​pessoas que vivem com os vírus.

O exame é de extrema importância para determinar a combinação de medicamentos que será administrada aos pacientes.

A determinação de suspender o serviço consta de uma nota informativa, divulgada em 2 de dezembro. O documento é do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde. A nota é assinada por Angélica Espinosa Barbosa Miranda, diretora substituta do órgão.

Na data anterior à divulgação, o Ministério da Saúde celebrou o Dia Mundial da Luta Contra a Aids. A pasta comemorou a primeira redução em uma década no número de casos notificados, além da queda no índice de mortalidade da doença.

“Essa redução se deu muito claramente pela testagem precoce e pela disponibilidade e oferta contínua [de medicamentos] para todos os pacientes diagnosticados”, disse na ocasião Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do ministério.

Agora, o documento da pasta justifica a interrupção nos exames devido ao término do contrato para a prestação dos serviços. Ele não foi renovado a tempo.

A pasta explica que os exames de genotipagem eram realizados na rede pública por uma empresa, a Centro de Genomas, desde 2015. O contrato, no entanto, venceu em novembro deste ano.

O pregão eletrônico para contratar novamente o serviço terminou em outubro, um mês antes do término do contrato. No entanto, o processo foi dado como fracassado, pois a empresa ganhadora não enviou toda a documentação exigida.

“Considerando que não há cobertura contratual para manutenção de coletas e processamento das amostras, este departamento informa que as coletas estão temporariamente suspensas, mas com expectativa de retomada do serviço a partir de janeiro de 2021. Caso seja possível retomar antes dessa data, um novo comunicado será publicado”, afirma a nota.

A nota informativa diz que, no caso de pacientes vivendo com HIV/Aids, os exames de genotipagem serão coletados e processados apenas para crianças com menos de 12 anos e gestantes.

Os casos de pacientes fora desse grupo e que necessitem de troca urgente de terapias deverão ser discutidos individualmente com as câmaras técnicas de cada região.

A nota informativa não trouxe alternativas para as pessoas diagnosticadas com hepatite C.

Um novo documento, emitido dias depois, afirma que deixou de ser necessária a realização do exame de genotipagem para a solicitação de tratamento para pacientes de hepatite C que não fizeram uso prévio de remédios antivirais.

O documento traz então a orientação do uso de opções terapêuticas para esses pacientes que não fizeram uso dos antivirais.

Não é possível mensurar quantas pessoas serão afetadas pela falta dos exames. No entanto, números do próprio ministério apontam que cerca de 900 mil pessoas que vivem com o HIV estão em tratamento no Brasil.

Especialistas apontam que o exame de genotipagem é fundamental para os pacientes que vivem com essas doenças, em especial os infectados pelo HIV.

“Em relação aos infectados pelo HIV, quando se suspeita que o vírus está resistente a um antirretroviral, é preciso o exame para que se possa criar um novo esquema de tratamento, uma nova combinação”, afirmou Rico Vasconcelos, infectologista e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP.

“É mais preocupante, porque pode ser uma pessoa com HIV que está em um momento mais crítico. São pessoas que não conseguem zerar a carga viral sem a realização do exame”, disse.

Por outro lado, os exames para as pessoas que vivem com hepatite C são realizados antes do início do tratamento, para definir qual será a combinação inicial.

“O vírus da hepatite C apresenta seis genótipos diferentes, então um medicamento pode funcionar para um e não funcionar para o outro. Por isso o exame é necessário antes do início do tratamento”, afirmou Luciano Goldani, infectologista e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

A suspensão dos exames de genotipagem provocou reações negativas.

A Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids divulgou uma nota neste domingo (6), na qual critica o governo federal por ter retardado a compra, principalmente em um ano tumultuado por causa da pandemia do novo coronavírus.

“Esse exame é fundamental na estratégia para o tratamento tanto para o HIV como para o HCV, pois quando a pessoa está resistente e necessita da genotipagem para iniciar nova combinação encontra-se em um estado de extrema vulnerabilidade às infecções oportunistas e não pode ser prejudicada pela demora ocasionada por entraves meramente burocráticos”, afirma o texto.

A Rede ressaltou que não é a primeira vez que os exames são interrompidos e acusa o governo de destruir conquistas na área.

A nota da rede afirmou que as pessoas que convivem com a doença antes eram vistas como parceiras e agora são despesas.

“A RNP+Brasil acha um absurdo que o Ministério da Saúde tenha demorado para lançar o edital de compras dos kits e não podemos aceitar que isso prejudique o tratamento das pessoas, pois sabemos que o ano de 2021 será o ano que veremos os impactos da Covid-19, tanto nos pacientes de HIV como nos de HCV, e a falta desses exames pode agravar ainda mais esses impactos”, afirma o texto.

O secretário nacional executivo da Rede, Alisson Barreto, afirmou que o atual governo promove uma política de desmonte em relação às conquistas para a população que vive com HIV.

Ele citou que as mudanças começaram com a troca no nome do departamento que trata de HIV, cujo nome Aids foi retirado.

“Isso não é apenas um detalhe. Isso enfraquece a nossa luta em termos político, para avançar a condição de vidas das pessoas que vivem com HIV”, disse.

Barreto também citou a mudança nas regras para realização de exames de carga viral para esses pacientes. Anteriormente, a decisão cabia unicamente aos médicos, que solicitavam nos casos que consideravam adequados. Agora, no entanto, há uma limitação de um exame por ano.

O Ministério da Saúde foi procurado na noite de domingo, mas não respondeu aos questionamentos até a conclusão desta reportagem.

A pasta é comandada pelo general Eduardo Pazuello, que assumiu interinamente em maio, sendo efetivado quatro meses depois.

Um dos principais argumentos do governo ao designar o militar para a pasta é sua expertise em logística, que seria fundamental no combate à pandemia do novo coronavírus, para adquirir e distribuir insumos para estados e municípios.

 

*Com informações da Folha

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Um relato fundamental de Claudio Souza, ex-morador de rua: “Quando ela (a rua) acabou de me educar, eu era um bicho”

Por Cláudio Souza

Eu saí de casa com pouco mais, meses, de dose anos. E vivi, na verdade mal sobrevivi, nas ruas de Sampa até os 17 e alguma coisa. Eu tive bons momentos e mesmo momentos em que houve até mesmo “especialização minha em sobrevivência!”.

Mas o sistema de vida nas ruas acaba corroendo, geralmente de dentro para fora, qualquer especialização que você possa desenvolver.

Trinta e tantos anos atrás, em face à realidade dos dias de hoje, a situação poderia ter sido tratada como “light”.

Ontem mesmo eu vi, com um misto de horror, pavor e novo “um homem” (sic) agredir uma moradora de rua porque ela estava pedindo ajuda dentro da “empresa dele” que, parecia, um posto de gasolina.

Muitos dirão que o dinheiro era para drogas. Eu não vi isso. E nem ouvi. O que sei é que, usando drogas ou não, são seres humanos e se você pensa que não, que Deus lhe dê guarida para o proteger de ter um filho ou filha nestas condições.

Eu vi e vivi para ver muita coisa, como esta abaixo

Mas vi um monstro envergando a forma humanóide dando pelo menos três chutes na cabeça de uma mulher com dois terços do peso dele, CAÍDA NO CHÃO. Os chutes eram na nuca, ou perto dela.

Entenda-se. Ela recebeu chutes que sequer pode pressentir e tentar cobrir-se com as mãos pois, além de estar caída, foi agredida pelas costas. Eu sou muito sensível ao problema de moradores de rua pois conheço o sistema, a forma como as coisas acontecem.

É um moto-perpétuo…. Você não tem emprego, ou trabalho porque está sujo. E não consegue tomar um banho porque não tem casa. Como vc não tem casa, não consegue trabalho. E não conseguindo trabalho você passa mais um dia sem banho e o mecanismo se retro-alimenta, em um magnificamente perfeito inferno autogerador.

Além da violência física, há a violência estrutural. Falta tudo e a falta de tudo te impede de buscar o mínimo. Sem mínimo…. Seria mais fácil ilustrar com a Faixa de Moebius.

Eu escrevi um depoimento sobre um momento trágico em minha vida, que quase culminou com minha morte por hipotermia, décadas atrás. Me perguntaram porque não os albergues.
Pois bem.
Eu estive em um numa certa noite.

Ao me aproximar da cama, uma coisa que cheirava tão mal que dava náuseas, eu, mais por instinto e medo do que por qualquer malícia, levantei o colchão.

E lá eu encontrei.

Sim! Eu encontrei agulhas, seringa suja de sangue. Eu tive medo. E nojo.

Assim eu aprendi, de uma vez por todas, que aquele era uma espécie de local onde não se pode arriscar nada.

Quando você vê uma pessoa deitada em uma calçada, envolta ou não em papelão, você pode ter certeza que tudo, absolutamente tudo e todos falharam com ela. Família, pais, sociedade, políticos, a maior parte deles são cães em figura humana, e todo “o resto”.

Ninguém! Absolutamente ninguém cumpriu tudo o que devia em matéria de solidariedade, respeito e atenção. Antes de resolver não voltar mais para casa eu levei surra após surra, espancamento após espancamento….

Eu passei por muitas coisas e fui salvo de mim, pois no fim das contas estava me encaminhando em definitivo para uma estação do metrô com o fito de descer à via e tocar o trilho eletrificado para não ter uma só possibilidade de sobrevivência.

Fátima, e eu não sei ao certo se este era mesmo o nome dela, me sustou o ato sem se dar conta que o fazia.

Assim eu acabei, de uma maneira ou de outra, sobrevivendo a tudo e, no final, a mim!

Eu tenho muito a contar e estou trabalhando nisso.

Infelizmente a neuropatia periférica por HIV tem me tolhido os movimentos e este texto foi digitado apenas com os indicadores, que são os remanescentes ativos nas duas mãos.

Eu escolhi tudo isso para mim?
De certa forma, eu ousaria dizer que sim!

Mas veja. A bem da verdade eu não recebi nenhuma educação diferente de pancadas! A Rua ensina. Do jeito dela.
Quando ela acabou de me educar eu era um bicho.

Eu precisei da paciência diletante de um amigo para me reformar. Eu não sou, mais, nem levemente parecido com a criatura animalizada que as ruas tornearam.

Graças Deus!

Link abaixo da página de Claudio Souza e seu trabalho fundamental com o tema Soropositivo

https://soropositivo.org/2018/08/20/dj-claudio-souza-ex-morador-de-rua/

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Governo Bolsonaro extingue o Departamento de AIDS, denunciam entidades

Extinguir, cortar, reduzir, privatizar, acabar, são estas as práticas do governo Bolsonaro.

“O governo extingue de maneira inaceitável e irresponsável um dos programas de Aids mais importantes do mundo, que foi, durante décadas, referência internacional”, diz manifesto.

Entidades como Articulação Nacional de Luta contra a Aids (Anaids), Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), Fórum de ONGs AIDS/SP (FOAESP), Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS/RS (GAPA/RS) e Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+Brasil) divulgaram um manifesto contra as mudanças na política de combate à Aids.

O movimento nacional de luta contra a Aids, formado por redes, coletivos, organizações e ativistas, repudia o Decreto Nº 9.795, de 17 de maio de 2019, que modifica a estrutura do Ministério da Saúde. Por meio desse decreto, o Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais passa a se chamar “Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis”.

Não se trata apenas de uma questão de nomenclatura: é o fim do Programa Brasileiro de AIDS. O governo, na prática, extingue de maneira inaceitável e irresponsável um dos programas de AIDS mais importantes do mundo, que foi, durante décadas, referência internacional na luta contra a Aids.

Mais do que um programa, esse decreto acaba com uma experiência democrática de governança de uma epidemia baseada na participação social e na intersetorialidade. Prova disso é que há pouco mais de um mês, nas reuniões da Comissão Nacional de IST, HIV/Aids e Hepatites Virais (CNAIDS) e da Comissão Nacional de Articulação com Movimentos Sociais (CAMS) absolutamente nada se falou sobre o decreto e nenhum esclarecimento foi prestado sobre suas potenciais consequências.

O programa brasileiro de resposta à Aids foi, durante décadas, referência internacional na luta contra a Aids. A relação única de combate e colaboração com uma pujante sociedade civil, a decisão corajosa de oferecer tratamento antirretroviral universal e gratuito, a ousadia nas campanhas de prevenção, fizeram a resposta brasileira ao HIV destaque em inúmeros foros internacionais e inspiraram outros países em desenvolvimento.

O marco simbólico de ter uma estrutura de governo voltada para o enfrentamento a Aids é indicativo da importância que se dá à epidemia. Por mais que se afirme que “nada mudará”, o que fica é o descaso com uma doença que mata cerca de 12 mil pessoas por ano e que, longe de estar controlada, continua crescendo, especialmente populações pauperizadas e estigmatizadas, já tradicionalmente excluídas e que com este ato se tornam mais invisíveis e desrespeitadas.

A resposta ao HIV construída no Brasil não nasceu do dia para a noite. Ao contrário, foi conquistada por meio de mais de três décadas de luta diária das pessoas vivendo e convivendo com HIV/AIDS, população LGBT, negras e negros, mulheres, pessoas trans, jovens e ativistas.

 

 

 

 

 

*Com informações da Forum