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Opinião

Brasil, indignai-vos!

Chora a nossa pátria mãe gentil. Choram Marias e Clarices, mas também Julianas, Carolinas, Ruths, Danielas, Patrícias, Estelas, Anas e Milcas. Choram ainda Josés, Pedros, Joãos e tantos outros.

Primeiro foram os hospitais públicos que declararam que não tinham mais vagas. Depois, foram os hospitais privados. E, por último, foram os cemitérios que suspenderam os enterros por falta de valas. Desesperada pela falta de acesso à saúde, a elite brasileira descobriu como vivem…os brasileiros.

Nos últimos dias, o Brasil somou mais mortes que o total das vítimas do desembarque aliado da Normandia. E, diante de um estado fracassado, nenhum ato solene, nenhuma medalha, nenhuma declaração de reconhecimento e muito menos ações para compensar as perdas foram consideradas.

O trauma pelo qual passamos exigirá Justiça, um processo de reconstrução da memória e uma investigação. As cicatrizes são profundas.

Mas a história não irá nos poupar quando perguntar: o que faziam aquelas pessoas enquanto o país sepultava diariamente seu futuro?

Nossa geração tem um desafio de grandes proporções. Precisaremos de uma ruptura com o que parece ser um destino intransigente que nos persegue e nos teima em adiar os sonhos.

Mas, para isso, o oxigênio deve ser destinado para a indignação, talvez a mesma que permita que uma flor tenha a audácia de romper um inverno.

Num país historicamente insensível aos corpos estendidos no chão, em viadutos ou em arcos de obras arquitetônicas premiadas, a covid-19 aprofundou a banalização da morte e ganhou novas proporções diante de um governo que adotou uma estratégia deliberada de desvalorizar a vida.

A indignação, se também morrer, pode ser fatal para uma sociedade. Ao longo da história, ela foi o alicerce de mudanças. Hoje, só ela nos resta para entender que, no cemitério Brasil, o enterro é do futuro, justamente num país que jamais sepulta seu passado. Só ela nos mostra que nada disso era inevitável.

A indignação não apenas move a ação. Ela é a mãe da dignidade, palavra essa que foi deliberadamente resgatada para ser usada na Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 para marcar uma ruptura com o horror da morte. Naquele texto, repleto de indignação, estabelecia-se que a dignidade é um direito inalienável.

Na mesma Declaração, pode-se ler o óbvio em uma frase poderosa: todos têm o direito à vida. O poder intransigente nessa sentença não vem da palavra vida. Mas da constatação de que ela um direito de todos.

Em muitos sentidos, depois do horror nazista, aquele texto inaugura uma nova era para o que consideramos como uma vida digna.

Luis Alves e Luiz Antonio Teixeira, ambos da Fiocruz, também apontam como Foucault já descrevia como a era moderna tinha criado uma nova maneira de lidar com a vida e com a morte. Se na Idade Média a autoridade tinha o poder de fazer seus súditos morressem ou deixassem que eles sobrevivessem, a política atual é baseada em outro pilar: governos têm o dever de permitir que cidadãos vivam. A saúde, portanto, é um assunto de estado.

Mas quando não há a defesa da vida, quando a dignidade é abandonada e quando a fronteira da morte é cruzada, o contrato social foi de forma permanente abalado. Quando não há mais espaços nas funerárias, uma sociedade precisa interromper sua procissão de caixões sem rumo para se indignar e romper o sepultamento diário de um projeto de país.

A principal divisão no mundo não é entre esquerda ou direita. Nem entre religiosos e ateus. Mas entre humano ou desumano. E é nessa encruzilhada civilizatória que nossa geração no Brasil se encontra.

Há dez anos, o cientista político Alan Wolfe também já alertava que matar todos os judeus não foi um gesto de loucos. Foi um plano de poder. Expulsar todos que não se parecem com você não é uma questão de insanidade. Mas garantir o domínio eterno de um grupo da sociedade. Aterrorizar pessoas indefesas não é uma doença. Mas forçar o inimigo a desistir. Há, portanto, um método em toda a aparente loucura, concluiria Wolfe.

Os 20 mil mortos nesta semana ou os mais 300 mil em um ano não são resultados de loucuras. Enquanto as autoridades forem acusadas de insanidade estaremos dando provas de que nada entendemos de governo.

Para nós que ficamos, o único monumento que podemos erguer em homenagem aos que partiram é reconstruir o país. E, para isso, resgatar a indignação é o primeiro degrau de um longo caminho.

Só com ela é que, murmurando entre quatro paredes, nas artes, nos hospitais, nas escolas, nas escolhas de atitude, por zoom ou nos berros das manchetes, poderemos devolver a pergunta sobre onde estávamos.

E rebater a quem ajudou a disseminar a escuridão com uma outra ainda mais poderosa: “quando o dia raiar, onde é que vocês vão se esconder?”

*Jamil Chade/Uol

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Bolsonaro não quer salvar a economia, quer salvar seu mandato

Desde a chegada do coronavírus no Brasil, Bolsonaro não fez nada para salvar a economia e, muito menos a população.

Agora quer abrir o comércio e colocar pequenos comerciantes e população em risco de morte, jogando todos à própria sorte.

É uma tacada macabra que vai custar milhares de vidas, na parte de dentro e de fora dos balcões.

Mesmo sendo proibido, um comerciante manteve seu bar funcionando com as portas fechadas, morreu contaminado por covid-19. Várias pessoas se contaminaram neste bar e contaminaram outras tantas, inclusive de suas famílias.

Se Bolsonaro desse suporte econômico para o dono do bar, certamente ele não abriria, mas, ao contrário, correu para entregar R$ 1,2 trilhão a banqueiros e deixou os comerciantes à míngua e ainda arrumou uma maneira de criminalizar as pessoas que têm direito aos míseros R$ 600 reais que o congresso impôs goela abaixo a Bolsonaro, que queria que fosse R$ 200. Benefício que está sendo pago de forma desorganizada e precária.

Por outro lado, o Globo mostra que UTIs de quatro hospitais públicos da região metropolitana de SP já atingiram a capacidade máxima de atendimento.

Pacientes relatam a dificuldade de conseguir atendimento. Por trás dos números de morte, ainda existe outra realidade, a dos médicos e de outros profissionais da saúde que lutam para salvar o máximo possível de pacientes e, com isso correm um enorme risco de contaminação. Mas não para aí.

O esgotamento de leitos para pacientes da Covid-19 ameaça também o tratamento e a vida de pessoas com outras doenças.

E o que faz Bolsonaro?

Diz que não vai comentar nada porque 70% da população vai se contaminar mesmo e não quer saber de falar sobre as vítimas fatais, porque não é coveiro.

É nítido que Bolsonaro quer lavar as mãos dizendo que está do lado de quem quer trabalhar, coisa que claramente não faz como presidente, como nunca fez durante seus 30 anos como deputado sem aprovar um único projeto.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Mundo Saúde

Coronavírus: Ministro francês da Saúde alerta contra uso de ibuprofeno e cortisona em pacientes

O ministro da Saúde francês, Olivier Véran, alertou hoje contra o uso de ibuprofeno em pessoas infectadas com o coronavírus. Segundo ele, esse tipo de medicamento pode agravar a pneumonia causada pelo Covid-19. Apesar das recomendações do governo, que pediu o adiamento de manifestações públicas com mais de 100 pessoas, os coletes amarelos voltaram às ruas em várias cidades francesas.

“Tomar medicamentos anti-inflamatórios (ibuprofeno, cortisona e outros) pode agravar a infecção. Em caso de febre, tome paracetamol. Se você já está tomando medicamentos anti-inflamatórios ou em caso de dúvida, pergunte ao seu médico”, disse o ministro na sua conta no Twitter.

O ibuprofeno – vendido sob esse nome no Brasil e outras denominações comerciais, como Advil, Alivium ou Ibuflex – provavelmente agravará infecções já existentes e poderá gerar outras complicações. Segundo o ministro francês, vários médicos mencionaram casos de pacientes jovens infectados pelo Covid-19, sem outras patologias conhecidas, que se encontraram em estado grave depois de tomar ibuprofeno para baixar a febre provocada pela nova gripe.

Com mais de 3.600 casos confirmados no país e 79 mortes, Véran, que é médico, insistiu que “estamos no início de uma epidemia de um vírus desconhecido”. Ele instou toda a população “a modificar rigorosa e escrupulosamente de comportamento, para se proteger individualmente e também de forma coletiva.

Os hospitais de Paris “nunca enfrentaram um fenômeno de tal magnitude”, disse hoje o diretor-geral dos hospitais públicos de Paris, Martin Hirsch. Em entrevista ao jornal Le Monde, Hirsch relatou que dos cerca de 900 testes de triagem do Covid-19 realizados na sexta-feira (13) na capital francesa, cerca de 20% deram positivo. Hirsch descreveu uma situação “inédita” e “complexa”, mas tranquilizou os parisienses assegurando que as equipes dos hospitais públicos estão prontas para receber novos pacientes. “Pode haver um aumento de casos graves de 20% a 30% por dia”, o que “representaria 400 pacientes que necessitam simultaneamente de cuidados intensivos na região de Île-de-France [onde fica a capital] dentro de dez a quinze dias”, prevê o diretor-geral.

Coletes amarelos desafiam recomendações das autoridades

A França registrou neste sábado um primeiro caso da infecção no sistema penitenciário. Um detento do presídio de Fresnes (região parisiense) de 74 anos contraiu o novo Covid-19. Pela idade avançada, o presidiário esteve em uma célula individual desde que chegou à penitenciária, no dia 8 de março. Depois de apresentar sintomas, ele foi levado para o hospital Kremlin-Bicêtre.

O coronavírus também avança entre políticos franceses. A secretária de Estado para a Transição Ecológica, Brune Poirson, 38 anos, testou positivo para o coronavírus, assim como a senadora Guylène Pantel. O ministro francês da Cultura, Franck Riester, e dez deputados foram contaminados.

O governo tem recomendado o adiamento de encontros e manifestações públicas com mais de 100 pessoas. Porém, os coletes amarelos ignoraram essa orientação e voltaram às ruas neste sábado em Paris, Bordeaux (sudoeste) e outras localidades, a fim de marcar o 70° ato do movimento. A polícia deteve ao menos 34 manifestantes na capital, depois de surgirem focos de incêndio na zona sul da cidade.

Eleições municipais

Apesar das medidas tomadas para conter a propagação do coronavírus, os franceses vão às urnas neste domingo (15), no primeiro turno das eleições municipais. As autoridades responsáveis pela organização das seções eleitorais se prepararam para receber os eleitores nas melhores condições possíveis, desinfetando maçanetas, mesas e cabines de votação. Os franceses são convidados a levar uma caneta de casa. Foram tomadas medidas para evitar filas e respeitar as distâncias de segurança.

O ministro do Interior, Christophe Castaner, admitiu “temer” uma participação em declínio. Ele reconheceu que alguns municípios consideram difícil abrir suas seções eleitorais.

 

*Com informações do Uol