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Economia

O que a sociedade não sabe sobre Campos Neto, presidente do Banco Central

No cargo de presidente do BC, Campos Neto também tem acesso a dados estratégicos, como câmbio e taxas de juros, capazes de afetar seus investimentos lá fora. Em julho do ano passado, por exemplo, ele assinou uma portaria mudando as regras para a declaração de ativos no exterior. Até então, todo brasileiro que tivesse mais de 100 mil dólares lá fora tinha que informar o BC todos os anos. Com a portaria, esse valor subiu para 1 milhão de dólares – uma mudança que, dizem os especialistas, reduziu a transparência dos investimentos de brasileiros no exterior. Não se sabe o volume de recursos que Campos Neto mantinha em sua offshore quando a fechou. Nos Pandora Papers, não aparece essa informação. Consultado pela piauí, ele não quis informar o valor.

O presidente do BC criou sua offshore quando trabalhava no banco Santander e, para tanto, usou os serviços do escritório Mossack Fonseca, o pivô do escândalo mundial dos Panama Papers. Em sua composição original, a Cor Assets tinha dois diretores (Campos Neto e sua mulher, a advogada Adriana Buccolo de Oliveira), um capital subscrito de 10 mil dólares e uma conta corrente no banco Safra em Luxemburgo, um paraíso fiscal na Europa. Num documento do Mossack Fonseca, o casal explicou que o objetivo da Cor Assets era receber “investimentos em ativos financeiros do Santander private bank”. Assim que o escritório no Panamá enviou a Luxemburgo os documentos para abrir a conta no Safra, o funcionário luxemburguês Jost Dex informou a um colega de trabalho: “Nós destruiremos os documentos e você pode encerrar esse caso.” O sigilo sobre os negócios de seus clientes era a regra número um do Mossack Fonseca e, mesmo assim, tornou-se o epicentro do megavazamento de dados em 2016.

Em julho de 2004, dois meses depois de fundar a Cor Assets, Campos Neto transferiu mais 1,08 milhão de dólares para a conta estrangeira e aumentou significativamente o capital da empresa. Ele disse ao Mossack Fonseca que havia declarado o dinheiro transferido à Receita brasileira. Paralelamente, entre janeiro de 2007 e novembro de 2016, o executivo manteve outra offshore, a ROCN Limited, agora nas Ilhas Virgens Britânicas. A empresa foi criada pelo escritório Trident Trust, o mesmo responsável por abrir a firma de Paulo Guedes.

A piauí procurou o ministro Paulo Guedes duas vezes para pedir esclarecimentos sobre a Dreadnoughts International. Em dezoito perguntas, a reportagem inquiriu, entre outros pontos, se o ministro declarou a offshore em seu imposto de renda, se poderia comprovar essa informação documentalmente, qual a origem do capital aportado as Ilhas Virgens Britânicas, se a offshore possui bens no Brasil, qual o capital atual da empresa e, por fim, se Guedes é a favor da taxação do capital mantido por brasileiros no exterior.

A assessoria do ministro ignorou as perguntas e se manifestou de modo genérico, por meio de uma nota: “Toda a atuação privada do ministro Paulo Guedes, anterior à investidura no [atual] cargo, foi devidamente declarada à Receita Federal e aos demais órgãos competentes, o que inclui a sua participação societária na empresa mencionada. Sua atuação sempre respeitou a legislação aplicável e se pautou pela ética e pela responsabilidade. Desde que assumiu o cargo de ministro da Economia, Paulo Guedes se desvinculou de toda sua atuação no mercado privado, nos termos exigidos pela Comissão de Ética Pública, respeitando integralmente a legislação aplicada aos servidores públicos e ocupantes de cargos em comissão. Cumpre destacar que o próprio Supremo Tribunal Federal já atestou a idoneidade e a capacidade de Paulo Guedes, no julgamento de ação proposta pelo PDT contra o ministro da Economia.” A reportagem insistiu para que o ministro respondesse as perguntas específicas, mas Guedes preferiu não dar mais detalhes. A reportagem queria esclarecer, em especial, a passagem da nota em que Guedes diz ter se desvinculado “de toda sua atuação no mercado privado” – o que não aconteceu em relação à offshore, de acordo com os documentos do Pandora Papers.

A revista mandou as mesmas perguntas para o presidente do Banco Central. Em nota, Campos Neto respondeu o seguinte: “As empresas estão declaradas à Receita Federal e foram constituídas há mais de 14 anos com rendimentos obtidos ao longo de 22 anos de trabalho no mercado financeiro, decorrentes, inclusive, de atuação em funções executivas no exterior. Não houve nenhuma remessa de recursos às empresas após minha nomeação para função pública. Desde então, por questões de compliance, não faço investimentos com recursos das empresas. Questões tributárias não são atribuição da minha função pública.”

A reportagem também perguntou a Campos Neto se ele havia informado a Comissão de Ética Pública sobre a existência de sua offshore no Panamá. A resposta foi a seguinte: “A integralidade desse patrimônio, no país e no exterior, está declarada à CEP, à Receita Federal e ao Banco Central, com recolhimento de toda a tributação devida e observância de todas as regras legais e comandos éticos aplicáveis aos agentes públicos.” Nas atas de reuniões da Comissão de Ética Pública, no entanto, não consta nenhum julgamento de processo do presidente do BC. Assim como no caso de Guedes, a comissão recusou-se a dar informações sobre o caso.

Embora ter uma offshore devidamente declarada à Receita não seja ilegal, criá-la nem sempre atende a propósitos republicanos, sobretudo quando a empresa se localiza em paraísos fiscais, onde a tributação é baixa ou até mesmo nula. Além do mais, esses paraísos raramente participam de tratados internacionais e são usados para viabilizar a lavagem de dinheiro oriundo de organizações criminosas e corrupção.

Guedes e Campos Neto não informaram as razões que motivaram seus investimentos. Mas, segundo especialistas consultados pela piauí, quem se utiliza legalmente de offshores em paraísos fiscais costuma ter dois objetivos: blindar seu patrimônio de instabilidades políticas e econômicas e escapar de tributações mais elevadas em seu país de origem, manobra conhecida como elisão fiscal. Tudo é feito sob o máximo sigilo. Primeiro, cria-se a empresa atrelada a uma conta no exterior, normalmente aberta em bancos de países com economia sólida, como a Suíça e os Estados Unidos. A partir dessa conta, investe-se em companhias e fundos estrangeiros de maneira direta, sem que os rendimentos sobre o capital investido sejam tributados imediatamente no Brasil.Em termos práticos, um investidor que aporta 1 milhão de reais num fundo de ações no Brasil e obtém ganhos de 100 mil reais ao longo de um ano deve declarar para o Fisco não apenas o seu patrimônio como a sua rentabilidade e ser tributado por isso anualmente. Já um investidor que possui uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas pode fazer o mesmo investimento em fundos de ações no exterior e não pagar nenhum imposto por lá, uma vez que a maioria dos paraísos fiscais não tributa o capital na fonte. A mordida do Leão ocorrerá, portanto, somente quando – e se – o dinheiro chegar ao país onde o dono reside. A remessa legal de dinheiro para o exterior sofre tributação mínima. Paga-se 0,38% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) mais a tarifa bancária, que pode ser nula, dependendo do cliente.

O fosso entre o dinheiro declarado dos brasileiros no exterior e aquele que realmente é remetido para fora pode ser constatado em números divulgados pela Receita e pelo Banco Central. O BC deve ser informado sobre todo estoque financeiro mantido por brasileiros no exterior, embora não esteja autorizado a compartilhar essas informações com o Fisco – se o fizesse, estaria analisando dados, incumbência que não é sua. No ano passado, nas contas do BC, os brasileiros mantinham no exterior um total de 204,2 bilhões de dólares, o equivalente a 1,12 trilhão de reais. Nas Ilhas Virgens Britânicas estavam 14,7% do capital brasileiro. O local se consolidou como o terceiro principal destino do dinheiro tirado do Brasil, atrás dos Países Baixos e das Ilhas Cayman. Já a Receita Federal, que cobra tributos sobre o patrimônio, estima que os brasileiros tenham apenas 50,4 bilhões de reais  no exterior. Como não dispõe de informações constantes sobre a quantia que circula nessas contas estrangeiras, a Receita considera apenas o saldo declarado na data de entrega do Imposto de Renda.

A diferença brutal entre os números – 1 trilhão de reais para o BC, 50 bilhões para a Receita – é, por si só, uma expressão cabal da falta de transparência nessas operações no exterior. É uma das razões pelas quais a Tax Justice, uma ONG que trabalha em defesa da justiça tributária, prega o fim dos benefícios oferecidos nos paraísos fiscais. Fala-se em justiça porque os detentores de offshores– como Guedes e Campos Neto – têm um privilégio tributário ao qual a imensa maioria dos cidadãos de seus países não têm acesso, o que lhes confere vantagens desiguais. Em um ranking das nações que mais colaboram para o que a Tax Justice chama de “exploração tributária”, estão justamente as Ilhas Virgens Britânicas.

*Agência  Pública

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Pandora Papers e os oligarcas ligados a Zelensky

Presidente ucraniano e seus aliados são acusados de serem beneficiários de empresas offshore; uma delas possui propriedades na Inglaterra.

O presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky foi eleito com a promessa de limpar o país da corrupção, mas documentos vazados no caso Pandora Papers mostram que ele e seus aliados foram favorecidos por um esquema de empresas offshore, que inclui empresas que possuem propriedades caras em Londres.

Segundo o site OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project), os documentos mostram que Zelensky e seus sócios na produtora de televisão Kvartal 95 montaram uma rede de empresas offshore que datam a partir de 2012.

No mesmo ano, a empresa começou a produzir conteúdo regularmente para emissoras de TV ligadas a Ihor Kolomoisky, um oligarca perseguido por alegações de fraudes multibilionárias.

As empresas offshore também foram usadas pelos associados de Zelensky para comprar e possuir três propriedades privilegiadas no centro de Londres.

Os documentos mostram que, antes da eleição de Zelensky, ele doou sua participação na offshore Maltex Multicapital Corp., registrada nas Ilhas Virgens Britânicas, para seu parceiro de negócios – e que se tornaria seu principal assessor presidencial.

“Apesar de desistir de suas ações, os documentos mostram que logo foi feito um acordo que permitiria que o offshore continuasse pagando dividendos a uma empresa que agora pertence à sua esposa”, diz a reportagem.

Zelensky venceu as eleições presidenciais com 73% das intenções de voto, capitalizando a fúria da população contra casos de corrupção. Porém, a reportagem destaca que sua campanha eleitoral em 2019 foi cercada de dúvidas sobre a sua boa fé no combate à corrupção.

Os questionamentos se devem à participação da mídia ligada à Kolomoisky na campanha do presidente eleito. “Kolomoisky acusado de roubar US$ 5,5 bilhões de seu próprio banco e canalizando-o para o exterior em conjunto com seu parceiro, Hennadiy Boholiubov”.

*Com GGN

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Mundo

The Guardian: Reveladas as conexões offshore do presidente ucraniano, o antioligarca

Volodymyr Zelenskiy criticou políticos que escondem riqueza no exterior, mas não divulgou links para a empresa BVI.

Foi um enredo que em tempos anteriores teria parecido impossível. Durante quatro anos, o ator e comediante Volodymyr Zelenskiy entreteve o público da TV na Ucrânia com seu papel principal na sitcom Servant of the People. Zelenskiy interpretou um professor que, indignado com a corrupção crônica de seu país, concorre com sucesso à presidência. Em 2019, Zelenskiy tornou a ficção real quando contestou a eleição presidencial real da Ucrânia e venceu.

Na campanha, Zelenskiy prometeu limpar o sistema dominante dominado por oligarcas da Ucrânia. E ele criticou políticos como o rico titular Petro Poroshenko, que escondeu seus ativos no exterior. A mensagem funcionou. Zelenskiy obteve 73% dos votos e agora ocupa um escritório cavernoso na capital, Kiev, decorado com tetos de estuque dourado. No mês passado, ele conversou com Joe Biden no Salão Oval.

Os documentos de Pandora, vazados para o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e compartilhados com o Guardian como parte de uma investigação global, no entanto, sugerem que Zelenskiy é bastante semelhante a seus antecessores.

Os documentos vazados sugerem que ele tinha – ou tem – uma participação anteriormente não revelada em uma empresa offshore, que ele parece ter transferido secretamente para um amigo semanas antes de ganhar a votação presidencial.

O que são os papéis de Pandora?

Os papéis de Pandora são o maior tesouro de dados vazados que expõem o sigilo dos paraísos fiscais da história. Eles fornecem uma rara janela para o mundo oculto das finanças offshore, lançando luz sobre os segredos financeiros de algumas das pessoas mais ricas do mundo. Os arquivos vazaram para o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que compartilhou o acesso com o Guardian, a BBC e outros meios de comunicação em todo o mundo. No total, o acervo consiste em 11,9 milhões de arquivos vazados de um total de 14 prestadores de serviços offshore, totalizando 2,94 terabytes de informações. Isso o torna maior em volume do que os papéis do Panamá (2016) e os papéis do paraíso (2017), dois vazamentos offshore anteriores.

De onde vieram os documentos de Pandora?

O ICIJ, uma organização sem fins lucrativos de jornalismo com sede em Washington DC, não está identificando a fonte dos documentos vazados. Para facilitar uma investigação global, o ICIJ deu acesso remoto aos documentos a jornalistas em 117 países, incluindo repórteres do Washington Post, Le Monde, El País, Süddeutsche Zeitung, PBS Frontline e Australian Broadcasting Corporation. No Reino Unido, a investigação foi liderada pelo Guardian e pela BBC Panorama.

O que é um provedor de serviços offshore?

Os 14 prestadores de serviços offshore no vazamento fornecem serviços corporativos para indivíduos ou empresas que buscam fazer negócios no exterior. Seus clientes geralmente procuram estabelecer discretamente empresas ou fundos em paraísos fiscais levemente regulamentados, como as Ilhas Virgens Britânicas (BVI), Panamá, Ilhas Cook e o estado americano de Dakota do Sul. As empresas registradas no exterior podem ser usadas para manter ativos como propriedades, aeronaves, iates e investimentos em ações e ações. Ao manter esses ativos em uma empresa offshore, é possível esconder do resto do mundo a identidade da pessoa a quem eles realmente pertencem, ou o “proprietário efetivo”.

Por que as pessoas transferem dinheiro para o exterior?

Geralmente por motivos fiscais, sigilosos ou regulatórios. As jurisdições offshore tendem a não ter impostos sobre a renda ou as empresas, o que as torna potencialmente atraentes para indivíduos e empresas ricos que não querem pagar impostos em seus países de origem. Embora moralmente questionável, esse tipo de evasão fiscal pode ser legal. As jurisdições offshore também tendem a ser altamente sigilosas e publicam pouca ou nenhuma informação sobre as empresas ou trusts ali constituídos. Isso pode torná-los úteis para criminosos, como sonegadores de impostos ou lavadores de dinheiro, que precisam esconder dinheiro de autoridades fiscais ou policiais. Também é verdade que pessoas em países corruptos ou instáveis ​​podem usar provedores offshore para colocar seus ativos fora do alcance de governos repressivos ou adversários criminosos que podem tentar apreendê-los ou tentar contornar as restrições de moeda forte. Outros podem ir para o exterior por motivos de herança ou planejamento imobiliário.

Uma transferência secreta

Antes de se tornar presidente, Zelenskiy declarou alguns de seus bens privados. Eles incluíam carros, propriedades e três das empresas offshore co-propriedade. Um deles, Film Heritage, que ele manteve em conjunto com sua esposa, Olena, ex-escritora de Kvartal 95, está registrado em Belize.

Mas os papéis da Pandora mostram mais ativos offshore que Zelenskiy parece não ter revelado. A Film Heritage tinha uma participação de 25% na Davegra, uma holding de Chipre. A Davegra, por sua vez, é proprietária da Maltex Multicapital Corp, uma entidade até então desconhecida registrada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas (BVI). Zelenskiy, os irmãos Shefir e Yakovlev detinham cada um 25% da Maltex.

Em 13 de março de 2019, duas semanas antes do primeiro turno de votação nas eleições da Ucrânia, Zelenskiy deu sua participação na Maltex para Serhiy Shefir, mostram os documentos. Não está claro se Shefir pagou Zelenskiy. Bakanov testemunhou essa transferência secreta e assinou os papéis offshore.

Cerca de seis semanas depois, após a vitória esmagadora de Zelenskiy, um advogado do grupo Kvartal 95 assinou outro documento. Ele estipulou que a Maltex continuaria a pagar dividendos ao Film Heritage de Zelenskiy, mesmo que não possuísse mais nenhuma participação na empresa. Sua principal receita vem da atividade na Ucrânia, Rússia e Bielorrússia, de acordo com um perfil de cliente da Maltex.

Os papéis da Pandora não indicam se algum dividendo foi pago ou seu tamanho. Nem revelam quantos pagamentos podem ter sido feitos. A esposa de Zelenskiy, Olena, agora é a proprietária declarada do Film Heritage, o que significa que qualquer pagamento desde 2019 teria fluído para ela.

O documento-chave – datado de 24 de abril de 2019 – diz que a Maltex detém ações em empresas que produzem e distribuem filmes para TV. Uma das razões para a criação da Maltex foi a “acumulação fiscal eficiente dos lucros das empresas”; outro, afirma, era a “proteção legal”. Borys Sheifir disse que Bakanov montou principalmente esses “esquemas financeiros” offshore para proteger a empresa de “autoridades e bandidos”.

“Falando honestamente, não estou pronto para responder a você. Pode ser que eu seja um proprietário [da Maltex]”, disse Shefir ao Projeto de Denúncias de Crime Organizado e Corrupção (OCCRP), um dos parceiros de mídia dos Pandora Papers. Ele disse que estava tentando se desfazer de seus interesses offshore, mas disse que este era um processo lento e difícil. Serhiy Shefir, Bakanov e Yakovlev se recusaram a comentar, assim como seu advogado.

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Brasil

Acredite, Guedes se recusa a revelar seus ganhos com offshore por “medo de ser assaltado”

É exatamente isso que disse o Ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, que não revela seus lucros com a offshore nas Ilhas Britânicas porque tem medo de sofrer um assalto.

Nesta terça-feira (23/11), o chefe da equipe econômica participou de uma audiência em comissão especial da Câmara dos Deputados para dar explicações sobre um possível conflito de interesses diante do caso, que foi revelado pelo Pandora Papers, uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.

Na ocasião, porém, Guedes se recusou a descrever seus lucros. “Você pode ser perseguido por um vizinho, assaltado por um vizinho. Não posso chegar aqui e falar: ‘Brasil, olha tudo que eu tenho. Não pode ser assim”, argumentou o ministro.

Ele destacou que esses recursos estão à disposição das instâncias pertinentes, por meio de declaração do Imposto de Renda. “Se parlamentares me pedirem, a resposta é não. Agora, se me disserem ‘uma instância pertinente pediu’, será entregue, como sempre foi. Os números estão todos disponíveis. Mas os senhores precisam entender que existe uma coisa chamada privacidade”, disse.

“Offshore é um veículo de investimento absolutamente legal. É absolutamente legal. Por razões sucessórias, se comprar ações de empresas, se tiver uma conta em nome da pessoa física, se você falecer, 46%, 47% são expropriados pelo governo americano. Tendo uma conta em pessoa física, todo seu trabalho de vida, em vez de deixar para herdeiros, vira imposto sobre herança. Então, o melhor é usar offshore, que está fora do continente”, sustentou.

*Com informações do Metrópoles

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O abnegado Guedes diz que offshore não está no nome dele, mas de sua mulher

Em evento patrocinado pelo Itaú, Guedes diz que esse escândalo é caso superado e que, ao contrário do que dizem as más línguas, o abnegadíssimo ministro da Economia, só perdeu dinheiro durante o governo Bolsonaro.

Seus advogados apresentaram documento assinado por representantes da Trident Trust, agente financeira com contas nas Ilhas Britânicas, mostrando que Guedes deixou a direção da tal Dreadnoughts International Group Limited em 21 de dezembro de 2018, dias antes de assumir o mandato no governo.

Por um lapso, o distraído Guedes esqueceu de mencionar, por exemplo, que tanto a filha quanto a esposa, Maria Cristina Bolivar Guedes, seguem sendo sócias da empresa.

Paulo Guedes exalta, num autoelogio, o significado desse tipo de operação, “não há qualquer conflito de interesses, é tudo legal e declarado, o resto é barulho”.

Ou seja, esse homem se sacrifica desinteressadamente em prol dos brasileiros. Ele teve a nobre atitude de renunciar à direção de sua offshore recusando qualquer vantagem especulativa e sacrificando seus próprios negócios e interesses em nome de um princípio quase bíblico de se posicionar sempre de forma altruísta em nome do interesse coletivo.

Esse desapego, essa generosidade toda é coisa mesmo de banqueiro, agiota e outros servos da vontade divina. A função de um banqueiro no mundo é ajudar o próximo, cobrando módicos juros para não prejudicar o irmão.

Esse homem ainda vai abrir uma igreja em sociedade com Edir Macedo ou Malafaia. O sujeito é um caridoso inato.

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Câmara e Senado aprovam convocação de Guedes para explicar sua conta offshore

A medida foi aprovada nesta terça-ferra (5) pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados.

A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (5) a convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar suas movimentações financeiras no exterior através de offshore em paraíso fiscal.

O ministro da Economia abriu uma offshore, em 2014, nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, e, com a alta do dólar, valorizou o seu patrimônio em pelo menos R$ 14 milhões de 2019 em diante.

Depois da Câmara, agora é o Senado que aprova a convocação de Paulo Guedes.

O convite se estende ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A intenção é realizar a audiência no dia 19 de outubro.

A Comissão de Assuntos Econômicos da Casa aprovou nesta terça-feira (5) convite para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, preste informações sobre o escândalo da offshore que ele possui nas Ilhas Virgens Britânicas. O convite se estende ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que também possui uma offshore no arquipélago caribenho.

De acordo com os senadores e Jean Paul Prates (PT-RN) e Paulo Rocha (PT-PA), que apresentaram o requerimento, a ação de Guedes configura “um evidente conflito de interesses”. Os parlamentares haviam pedido a convocação de Guedes, mas, após acordo, decidiu-se por um convite.

*Com informações do 247

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Política

Guedes tem offshore milionária em paraíso fiscal

Documentos exclusivos comprovam o investimento, mas o ministro não é um caso único no governo: o presidente do Banco Central fez o mesmo.

Agência Pública – Esta reportagem faz parte do Pandora Papers, projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) que reúne mais de 600 repórteres de 151 veículos em 117 países e territórios. O Pandora Papers investigou milhões de documentos de paraísos fiscais em todo o mundo. No Brasil, participaram da apuração Agência Pública, revista piauí, Poder360 e Metrópoles. Esta reportagem foi produzida por Allan de Abreu e Ana Clara Costa (reportagem), Armando Antenore e Fernanda da Escóssia (edição), Plinio Lopes (checagem), Ana Martini (revisão), José Roberto de Toledo (coordenação do projeto) e André Petry (direção de redação).

No dia 24 de setembro de 2014, com o mercado financeiro cada vez mais agitado diante da iminência da reeleição de Dilma Rousseff (PT), o Banco Central interveio para conter a alta do dólar. No dia seguinte, o economista Paulo Guedes, então sócio da gestora de recursos Bozano Investimentos, tomou uma providência para manter parte da sua fortuna longe das turbulências da economia brasileira: fundou a Dreadnoughts International, uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe. Nos meses seguintes, Guedes aportou na conta da offshore, aberta numa agência do banco Crédit Suisse, em Nova York, a quantia de 9,55 milhões de dólares, o equivalente a 23 milhões de reais na época (no câmbio atual, o valor hoje corresponde a 50 milhões de reais).

A abertura de uma offshore ou de contas no exterior não é ilegal, desde que o saldo mantido lá fora seja declarado à Receita Federal e ao Banco Central. Mas, no caso de servidores públicos, a situação é diferente. O artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal, instituído em 2000, proíbe funcionários do alto escalão de manter aplicações financeiras, no Brasil ou no exterior, passíveis de ser afetadas por políticas governamentais. A proibição não se refere a toda e qualquer política oficial, mas apenas àquelas sobre as quais “a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função”. Em janeiro de 2019, cinco anos depois de abrir a offshore e depositar 9,55 milhões de dólares, Guedes virou o principal fiador do governo Bolsonaro e assumiu o cargo de ministro da Economia, sob cuja responsabilidade está um enorme leque de decisões capazes de afetar seus próprios investimentos no exterior.

As penas para quem infringe o artigo 5º variam de uma simples advertência à recomendação de demissão. O ministro disse à Piauí que, assim que assumiu o ministério em janeiro de 2019, ele informou à Comissão de Ética Pública, encarregada de julgar possíveis infrações ao código, sobre seus investimentos externos. A Comissão de Ética, no entanto, só julgou o caso em julho passado. Não viu nenhuma irregularidade e decidiu arquivar o caso. A Piauí pediu ao órgão a justificativa da decisão, mas recebeu como resposta que as informações contidas nos julgamentos são sigilosas “em face dos dados sensíveis que delas constam – inclusive fiscais e bancários”.

Desde o início da gestão Bolsonaro, a Comissão de Ética de Pública tem sido criticada por ser leniente com comportamentos antiéticos por parte da cúpula do governo. Em maio de 2020, o conselheiro Erick Vidigal pediu demissão e divulgou uma carta com fortes críticas ao órgão. “Eu não entrei na Comissão de Ética para bater palma para governantes indecentes ou para perseguir desafetos do governo”, escreveu. Em 2019, último ano em que a comissão divulgou dados, apenas um servidor fora punido – com pena de advertência –, contra seis no ano anterior e 17 em 2017. “A comissão só trabalha de verdade na análise das quarentenas e em alguns casos de conflito de interesses. Quanto aos desvios éticos, adoram colocar panos quentes, especialmente quando se trata de ministros de Estado”, critica um ex-membro do órgão, que não quis se identificar para não se indispor com os atuais conselheiros.

A proposta de reforma tributária apresentada pelo governo ao Congresso Nacional é um exemplo de conflito de interesses. Por sugestão da Receita Federal, o projeto original da reforma previa a taxação de ganhos de capital no exterior, incluindo investimentos em paraísos fiscais – situação que, sabe-se agora, atingia o ministro Guedes. A ideia, no entanto, acabou derrubada com a anuência do Ministério da Economia. Outro item da reforma, negociado e aprovado pela equipe econômica, reduz drasticamente a taxação sobre a repatriação de recursos. Hoje, a taxa não é um consenso, e sempre rende discussões judiciais, mas varia de 15% a 27,5%, a depender do volume de recursos. Pela proposta do governo, a alíquota, se aprovada, cairá para 6%.

Curiosamente, a tributação sobre ganhos de capital no exterior – incluindo os paraísos fiscais – é uma medida defendida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado “clube dos ricos” ao qual o governo brasileiro tem se empenhado em aderir. O próprio Guedes faz lobby para que o Brasil seja aceito no clube. Os países membros da OCDE não são obrigados a adotar a taxação, mas a organização a recomenda desde 2014, como uma forma de coibir a evasão de divisas e, também, de reduzir a desigualdade social: se a parcela mais rica da população consegue driblar os impostos, quem não tem acesso às mesmas ferramentas acaba pagando mais taxas, o que causa a erosão da base tributária. O Brasil, no entanto, resiste em implementar a cobrança – como se viu, mais uma vez, na proposta de reforma tributária de agora.

É possível que Guedes estivesse envolvido nas negociações da reforma tributária com as melhores das intenções. Se tivesse se afastado da administração de seus recursos, não haveria qualquer sombra em torno de sua integridade. É para evitar esse tipo de suspeita que o Código de Conduta foi elaborado. Mas, como Guedes preferiu outro caminho, a notícia da existência de sua offshore acaba deixando no ar a dúvida se, no cumprimento de suas tarefas como ministro, ele está colocando seus interesses pessoais à frente dos interesses do país.

Examinando-se a montanha de documentos, descobre-se que o ministro Guedes está na companhia de ministros da Economia de outros três países: Gana, Cazaquistão e Paquistão. Eles também comandam as políticas econômicas de seus países, ao mesmo tempo em que mantêm recursos em paraísos fiscais, protegidos das intempéries econômicas internas. Em países desenvolvidos, uma notícia desse quilate costuma ter efeito explosivo. Em 2016, o escândalo dos Panama Papers, que revelou dados financeiros de milhares de offshores, pulverizou a carreira política do então primeiro-ministro David Cameron, do Reino Unido, ao revelar que ele era acionista de uma offshore criada por seu pai no Panamá. Cameron declarara o negócio à Receita inglesa, como manda a lei, mas a opinião pública não o perdoou pelo fato de manter dinheiro no exterior a salvo dos tributos cobrados dos demais cidadãos britânicos.

Até 28 de setembro de 2021 a Dreadnoughts International continuava ativa, com o ministro Guedes na condição de controlador. As informações constam de documentos sigilosos obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), organização que reúne mais de seiscentos profissionais e veículos de imprensa no mundo, entre eles a Piauí. O conjunto dos documentos, batizado de Pandora Papers, reúne 11,9 milhões de papéis obtidos pelo consórcio junto a catorze escritórios especializados na abertura de offshores em diversos paraísos fiscais, mas o grosso das informações vem das Ilhas Virgens Britânicas. Entre os documentos estão certificados de acionistas em nome dos beneficiários, justificativas para a abertura das empresas, comprovantes de aportes de recursos e e-mails dos funcionários das empresas que se encarregaram da criação das offshores.

Quando abriu a Dreadnoughts Internacional – cujo nome se traduz por “Encouraçado Internacional” –, Guedes tinha como sócia apenas sua filha, a empresária Paula Drumond Guedes, atualmente com 39 anos. Ao criarem a companhia no paraíso fiscal caribenho, pai e filha subscreveram nela 50 mil ações de 160 dólares cada, o que totalizava 8 milhões de dólares, depositados no Crédit Suisse em Nova York. “Subscrever”, no jargão financeiro, equivale a transferir dinheiro. “É como injetar recursos no capital social de uma empresa no Brasil”, compara Edison Fernandes, advogado tributarista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Offshores são abertas em paraísos fiscais por assessorias especializadas. No caso de Guedes, a assessoria responsável é a Trident Trust, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. As informações ali depositadas são ultraconfidenciais. Um documento da Dreadnoughts International informa que o registro da empresa “deve ser privado e não deve ser disponibilizado a qualquer pessoa que não seja o registrador […], a menos que a empresa decida de outra forma por meio de uma resolução devidamente aprovada pelos diretores”.

Em maio de 2015, Maria Cristina Bolívar Drumond Guedes, mulher de Guedes, também ingressou na offshore como acionista e diretora. Naquele mês, ela encaminhou a uma funcionária do Crédit Suisse em Nova York os documentos necessários para a sua entrada na companhia. “Olá, Angela”, escreveu Maria Cristina. “Segue cópia do passaporte e o comprovante de residência (conta telefone). Beijos.” Angela, por sua vez, remeteu os documentos para os escritórios da Trident Trust em Atlanta, nos Estados Unidos, e nas Ilhas Virgens Britânicas, que passaram a cuidar da burocracia envolvendo a nova acionista.

Ao longo de 2015, a família Guedes subscreveu mais 9.687 ações na offshore, que somaram 1,55 milhão de dólares e se juntaram aos 8 milhões aportados anteriormente. Desde então, conforme os documentos obtidos pelo ICIJ, não houve novo aporte nem retirada de capital na empresa.

O ministro Paulo Guedes não é o único integrante da equipe econômica nos Pandora Papers. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também consta nos documentos como dono da Cor Assets S.A., uma offshore no Panamá, outro paraíso fiscal, situado na América Central. Campos Neto criou sua offshore em 2004, com um capital de 1,09 milhão de dólares – 3,3 milhões de reais à época, que, se fossem repatriados hoje, equivaleriam a 5,8 milhões de reais – e continuava como controlador quando assumiu o posto no governo em fevereiro de 2019. À diferença de Guedes, ele fechou sua offshore em outubro do ano passado. Ainda assim, durante os 21 meses em que presidiu o BC na condição de dono da Cor Assets, Campos Neto poderia ser enquadrado no artigo 5º do Código de Conduta.

*Allan de Abreu, Ana Clara Costa, revista Piauí

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Moro desmascarado: Antigo crítico de offshores, Moro é contratado por holding em paraíso fiscal

O ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro anunciou recentemente que passou a integrar o quadro funcional da Alvarez & Marsal Brasil, uma offshore registrada em Delaware, estado americano considerado paraíso fiscal. A estrutura da empresa vai contra à posição de Moro publicada em artigos acadêmicos e decisões como magistrado.

Matéria publicada pelo Jota, em reportagem assinada pelo jornalista Alexandre Aragão, traz um trecho do livro do ex-ministro “Crime de Lavagem de Dinheiro” (Editora Saraiva, 2010), onde Moro critica a falta de transparência exercida por essas empresas. “As offshores podem ser utilizadas tanto para propósitos lícitos como para propósitos ilícitos, mas são reconhecidas internacionalmente como uma das principais técnicas de lavagem de dinheiro”, diz.

São estruturas corporativas, continua Moro, empregadas comumente “para garantir o anonimato de seus proprietários. São constituídas em países considerados ‘paraísos fiscais’, ou seja, de baixa tributação. A expressão offshore provém do fato de essas empresas exercerem atividades apenas fora do território do país de constituição”.

Segundo o ex-ministro, a atividade dessas empresas não é um ato ilícito. A atuação pode ser considerada legal, mas dentro dos limites da lei, para recolher menos tributos em comparação aos que seriam auferidos caso a empresa estivesse registrada no país.

“Diante da dificuldade de identificação dos reais proprietários das offshores, os assim denominados beneficial owners, dependendo usualmente da cooperação jurídica das autoridades dos paraísos fiscais, algo nem sempre disponível, é fácil entender o atrativo que representam para quem deseja permanecer no anonimato”, explica Moro em seu livro.

A administração judicial da Odebrecht, por exemplo, é feita pela Alvarez & Marsal Brasil. Os executivos da empresa foram condenados por utilizarem holdings e offshore para lavar dinheiro e ocultar sócios.

Em despacho no ano de 2016, Moro escreveu que “o Grupo Odebrecht, para realizar os repasses de propinas, teria utilizado contas em nome de off­shores no exterior, algumas tendo por beneficiário controlador ela mesmo, outras cujos beneficiários controladores não foi possível ainda identificar.” De acordo com a reportagem, após listar os nomes das empresas, ele concluiu: “através delas, foram repassados valores milionários a contas off­shores controladas pelos dirigentes da Petrobras.”

Procurada, a assessoria do ex-ministro disse que a empresa responde por demandas que envolvem Moro e a empresa. A Alvarez & Marsal Brasil também foi procurada. Confira a íntegra do posicionamento da empresa:

“A Alvarez & Marsal Brasil é controlada por uma holding norte-americana, país-sede da empresa. A estrutura societária da Alvarez & Marsal globalmente é construída de forma a conferir o controle da holding nos Estados Unidos sobre cada uma das regiões, sem que o foco principal seja o planejamento fiscal. Vale esclarecer que a criação da Alvarez & Marsal Disputas e Investigações Ltda. não tem qualquer relação com a contratação de Sergio Moro, uma vez que foi constituída anteriormente à negociação com o novo executivo da consultoria. Ressalta-se ainda que o contrato do Sergio Moro foi firmado com a Alvarez & Marsal no Brasil exclusivamente para a prática de disputas e investigações.”

 

*Com informações do Congresso em Foco

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