A Globo, hoje, no Jornal Nacional, praticamente lançou a candidatura de Moro para 2022, acentuando ainda mais a capacidade apaixonada de Moro de combater a corrupção no Brasil. Logicamente que se, de um lado, expôs a “grandeza” de Moro, por outro, vendeu um Bolsonaro derrotado, picando-o em pedacinhos.
Estava ali a campanha de Moro para 2022, numa violenta defesa da Globo, salientando a sua principal característica, a de paladino da justiça contra Bolsonaro e sua extrema belicosidade como se, durante os 16 meses de governo, Moro e Bolsonaro fossem forças contrárias dentro de um mesmo ambiente.
Ocorre que o que Moro mostrou como os grandes crimes de Bolsonaro, teve um preço, um custo para a sua própria imagem, o da prevaricação, porque o que ele relatou foram fatos narrados por um romancista, sem a participação vil do próprio narrador, fazendo parecer que Moro descobriu toda a patifaria de Bolsonaro, suas ideias e práticas dignas de um militante da milícia assassina somente nas últimas 24 horas.
Na verdade, o Jornal Nacional nutriu o tempo todo a imagem do escândalo que, através de Moro, passou dos bastidores do Palácio do Planalto para o JN, sem dizer, é claro, do inesgotável esforço particular de Moro em acobertar todas as práticas criminosas que ele personalizou apenas na imagem de Bolsonaro, como se o próprio não ocultasse tudo o que sabia a partir de seus interesses durante todo o tempo em que permaneceu no governo.
A Globo, fazendo-se de estarrecida com as declarações de Moro, não quis aproveitar a bola quicando para perguntar como Bolsonaro, que tanto dependeu do acobertamento de Moro, conseguiu cometer tantos crimes até aqui sem que ministro denunciasse o que denunciou hoje, afinal não foi ele que mostrou mensagens trocadas com a deputada bolsonarista Carla Zambelli dizendo que ele não estava à venda?
Não estava à venda a partir de quando? De ontem? E o tempo que ele permaneceu no governo sabendo de tudo isso, ele estava à venda?
Mas o principal é esclarecer a única dúvida que nos resta. Se durante a conversa entre os dois, Moro conseguisse dobrar Bolsonaro, mantendo Valeixo no comando da PF, ele convocaria uma coletiva para expor os podres de Bolsonaro ao sol do meio-dia? Claro que não. Isso não convence sequer o mais pateta dos bolsomoristas que ainda permanecem acreditando mais em Moro do que em Bolsonaro, sim, porque estamos diante de uma gigantesca contradição. Na verdade, estamos diante de um cúmplice de Bolsonaro que, contrariado, produziu um rombo no navio do qual era parte da tripulação.
E se Bolsonaro não exonerasse Maurício Valeixo, jamais o Brasil saberia pela boca de Moro o que ficou sabendo hoje, a pretexto de uma suposta ética vigente apenas no mundo dos vigaristas.
*Carlos Henrique Machado Freitas