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“Nossa aldeia é sem partido ou facção, não tem bispo, nem se curva a capitão”. Portela

No momento em que o Globo revela que metade dos povos indígenas isolados do Brasil é alvo de religiosos e que a milícia do Ceará soma quase 150 assassinatos desde início da paralisação de PMs, o carnaval é marcado pelas críticas contra a beligerância do bolsonarismo, as escolas de samba do Rio de Janeiro, no primeiro dia de desfile, produziram uma mistura de emoção, resistência e luta contra os tratados entre o governo Bolsonaro, milícia e pastores evangélicos, que têm como principal foco a mutilação da cidadania, a segregação, o racismo e a discriminação de negros, índios, mulheres e gays, resumindo a capacidade de fazer o mal que esse governo tem exercido.

Lógico que uma parte significativa da população carioca, principalmente das camadas mais pobres, viu-se espelhada nos enredos dos desfiles das escolas até aqui. Vários temas com várias versões desaguaram numa crítica contundente a esse estado de coisas que o Brasil vive e que assombra não só o país, mas a comunidade internacional.

Bolsonaro é um monstro tipo exportação e todo o cenário de ódio que o rodeia, pois tudo o que tem a marca do bolsonarismo, tem crime, sangue, violência, crueldade, injustiça, segregação e exaltação ao terror, marcas de uma mesma sociedade, que tem em uma parcela de fanáticos a garantia de que a individualidade é o melhor caminho para se nutrir o preconceito. Individualidade que tem como comissão de frente o mercado que, por ser um conceito abstrato, estimula todo o tipo de egoísmo, cobiça, indigência intelectual, social e política em nome do lucro e do enriquecimento a todo custo.

É nessa lógica do privado contra o comum que as escolas de samba souberam muito bem explorar e expor os mercadores da fé, as milícias, os magnatas, banqueiros garimpeiros, madeireiros e grileiros que não medem esforços para saciar a ambição que carregam consigo, potencializada com a chegada de um clã disposto a fazer acordos, parcerias com o que existe de mais nefasto numa civilização.

Nada disso impediu que as escolas de samba saíssem deslumbrantes com sambas encantadores, cada um mais belo que o outro, trazendo o tom da emoção ao limite do humano, principalmente os temas que carregam a defesa das religiões de matrizes africanas. mas o coro somado das escolas produziu um só enredo no primeiro dia de desfile no Rio, o de repúdio a Bolsonaro e a tudo o que representa o bolsonarismo como ideologia de guerra em nome do ódio ao outro.

Como diz e estrofe do lindo samba da Grande Rio:

“Salve o candomblé, Eparrei Oyá
Grande Rio é Tata Londirá
Pelo amor de Deus, pelo amor que há na fé
Eu respeito seu amém
Você respeita o meu axé”

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

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Não fosse a pressão, Bolsonaro, que deu exemplos do seu nazismo contra negros e índios na Hebraica-RJ, Alvim seria mantido

No Brasil o problema não é ser nazista, mas se declarar nazista.

Quando Bolsonaro, em plena Hebraica, atacou negros e índios, com risadas da plateia e aplauso no final, as entidades que hoje repudiaram a fala do nazista Roberto Alvim, calaram-se. O que se viu fora do clube foram muitos judeus se indignarem por Bolsonaro usar a Hebraica, no Rio de Janeiro, para declarar e insuflar seu racismo contra cidadãos negros e índios. Ou seja, todos conheciam bem o, então candidato, Bolsonaro que, entre outras coisas, declarou o que segue abaixo.

Muito menos se viu deputados ou senadores de direita pedindo boicote à campanha de Bolsonaro por essa fala pra lá de nazista: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”

Mas Bolsonaro não parou aí e seguiu seu ataque: “Se eu chegar lá (na Presidência), não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola.”

O problema é que Bolsonaro teve solidariedade de muitas entidades que hoje repudiaram a fala de seu secretário de cultura, Roberto Alvim, fala que merece sim repúdio, mas que não se pode dizer que o presidente não sabia sabia ou não apoia esse tipo de pensamento, porque ele foi pra lá de escrachado quando personalizou o nazismo contra índios, negros, sobretudo quando anunciou que tinha em seus planos a segregação, num nítido aviso que não reconhecia os quase quatro séculos de escravidão no Brasil e a quase extinção dos índios brasileiros.

Não por acaso, Bolsonaro colocou Sergio de Camargo, um negro racista na direção da Fundação Palmares, que tinha na ponta da língua um discurso de extinção do próprio órgão como representante da comunidade negra no Brasil, incluindo os quilombolas, quando falou que o dia da Consciência Negra deveria ser varrido no Brasil, imediatamente ganhou o emprego.

O STF, que hoje repudiou a fala de Alvim, com toda razão, não viu nas palavras de Bolsonaro na Hebraica crime de racismo, então, o candidato pôde se manter no pleito, vencer a eleição, destruir o Ministério da Cultura e colocar um secretário que repetisse as palavras de Joseph Goebbels. Não só isso, o mesmo Bolsonaro começou a colocar em prática seu projeto nazista na Amazônia, o que foi repudiado pelo mundo todo com o dia do fogo que atacou os povos da floresta, incluindo quilombos e tribos.

Nesse sentido, Roberto Alvim, em seu discurso, estava respaldado pelo comportamento do próprio Bolsonaro. Isso basta para mostrar que tanto a  situação de Bolsonaro candidato quanto a de Bolsonaro presidente são as mesmas e correspondem a preconceitos contra grupos dentro da sociedade brasileira com a mesma medida e agressividade.

O que precisa ficar claro é que não existe meio nazista ou um nazista que não cite frases do nazismo. Um nazista como Bolsonaro se comporta com um, inspira-se no pensamento e ainda aparece sorridente trocando olhares e risadas com uma plateia tão nazista quanto, ontem, hoje e amanhã.

Não por acaso, em seu primeiro ano de governo o extermínio de jovens e crianças negros, além dos ataques às religiões de matrizes africanas no Brasil que triplicaram, insufladas por seus discursos e práticas. Isso, sem falar do extermínio de índios que bateu todos os recordes e mais a misoginia e homofobia que ele sempre pregou.

Então, não venham agora dizer que não sabiam com quem estavam lidando, porque estava mais do que claro que o Hitler tropical se cercaria de nazistas tão repugnantes quanto ele.

É bom acrescentar que Alvim e Bolsonaro fizeram juntos uma live momentos antes de Alvim publicar seu vídeo. Ninguém, por mais ingênuo que seja, ousa dizer que Bolsonaro não tinha conhecimento do teor do vídeo.

Trocando em miúdos, Bolsonaro abonou o vídeo com o discurso nazista de seu secretário direto.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

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Não existe fundamentalismo religioso no Brasil, o que existe é fundamentalismo da ganância e do charlatanismo religiosos

Por que os tais fundamentalistas evangélicos do Congresso, que têm uma bancada poderosa, não criam um projeto que proíba a publicidade da bebida alcoólica presente no cotidiano dos brasileiros e que traz resultados nefastos ao conjunto da sociedade? Simplesmente porque a bebida alcoólica consagrou, por exemplo, um milionário como Jorge Paulo Lemann como o brasileiro mais rico do país.

Então, quem manda nesse processo não é o fundamentalismo religioso e nem o julgamento de valor da vida dos fieis, a grande virtude dessa gente está na expansão dos lucros que as igrejas neopentecostais impõem como uma dinâmica de mercado religioso.

Por isso o atual governo brasileiro adotou o mesmo discurso da bancada evangélica aceitando participar dos ganhos dessa gente, estruturando o preconceito para carregar de tinta o discurso da purificação privatizada.

Não são poucos os desempregados que buscam respaldo na ideia de que um sacrifício a mais facilitaria sua vida, ou seja, fortalecer o mercado da fé com doações inconsequentes abriria as portas dos templos e o caminho direto do homem com Deus, sem casar um qualquer, o tratamento de Deus para as suas aflições seria negado através das lideranças religiosas.

Isso, numa democracia de mercado, é perfeitamente cabível, principalmente num quadro de degradação institucional em que o país vive. É bom não esquecer que o grande bum dos templos evangélicos se deu no governo FHC, que quebrou o Brasil três vezes em oito anos, gerando uma nação de desempregados, o que reflete hoje numa bancada extremamente poderosa no Congresso. Os interesses dos líderes neopentecostais neste momento são dois , não deixar que a juventude, através da educação, afaste-se das igrejas evangélicas, como ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, com a igreja católica, subordinando a política a um projeto de cerceamento do pensamento para que a natural dispersão não ocorra e a expansão de seus negócios nas camadas mais pobres da população.

Esse é um dos grandes problemas que precisam ser acrescentados a esse debate. Quanto mais a juventude avança na educação, mais distância mantém das religiões.

Logicamente que, como nas periferias e favelas a educação ainda é muito precária, somada à dificuldade de sobrevivência de negros e pobres nesse mesmo ambiente, que já é por si só segregacionista, os espertões, picaretas, vigaristas da fé encontram suas presas mais facilmente. É só observar que os evangélicos caminharam muito pouco ou quase nada nas classes média e alta.

Então, qualquer pensamento que leve a uma educação universalizada, o elemento religioso, do ponto de vista comercial, vai tentar interferir para respaldar a busca por um campo que está sendo perdido pelos templos do dinheiro.

Desconsiderar esse fato, é um erro, sobretudo num país com uma desigualdade tão gritante e com figuras como Edir Macedo, Malafaia, RR Soares, entre outros, que acabam sendo hoje muito mais líderes políticos do que religiosos no atual processo da política nacional.

Por isso, se o assunto não for examinado com a devida precisão, a violência do dinheiro, somado à violência da informação que por si só já dificulta a condução de um esclarecimento maior da sociedade, tornarão, junto com os picaretas da fé, um obstáculo não só para a floração do pensamento, mas também uma contribuição para a manutenção do cativeiro religioso que os fundamentalistas da ganância religiosa impõem ao país.

Não é à toa que as religiões de matrizes africanas têm cada vez mais sido alvo dos picaretas evangélicos localizados, na imensa maioria dos casos, em lugares mais pobres, elas acabam sendo uma barreira de contenção da expansão política e financeira desses vigaristas da fé, já que perdem a cada dia fieis jovens e não conseguem avançar sobre as classes economicamente dominantes.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas