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Civis em Gaza podem morrer de fome imediatamente, diz órgão da ONU

Apenas 10% dos fornecimentos alimentares necessários chegam hoje à Faixa de Gaza; situação piora com abrigos lotados e a chegada do inverno.

O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas afirmou que civis na Faixa de Gaza enfrentam “fome generalizada”, uma vez que só 10% do fornecimento alimentar necessário entra no território desde o início da guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas. E a situação tende a piorar, diz o Metrópoles.

“Com a chegada do inverno, os abrigos inseguros e sobrelotados e a falta de água potável, os civis enfrentam a possibilidade imediata de morrer de fome”, afirmou Cindy McCain, diretora executiva do órgão da ONU.

Nas palavras dela, a existência de apenas uma passagem na fronteira piora o cenário. “A única esperança é abrir outra passagem segura para o acesso humanitário à Gaza para levar alimentos que salvam vidas”, continuou.

Em Gaza, mercados fecharam
O Programa Alimentar Mundial confirmou o fechamento da última padaria que mantinha em parceria com a população por falta de combustível. O projeto tinha 130 padarias do mesmo tipo, todas que forneciam alimento aos civis e agora estão interrompidas.

De acordo com McCain, dos 1.129 caminhões que entraram em Gaza desde a abertura da passagem fronteiriça de Rafah, em 21/10, apenas 447 transportavam alimentos. Nos cálculos do órgão da ONU, isso é suficiente para satisfazer 7% das necessidades calóricas mínimas diárias da população.

A situação descrita é impressionante: 25% das lojas contratadas pelo programa da ONU seguem funcionando, e em outras os produtos acabaram; os mercados locais fecharam; e os preços estão muito inflacionados. A maioria sobrevive com uma refeição por dia. Quem tem sorte consegue produtos enlatados, cebolas e berinjelas cruas.

“O colapso das cadeias de abastecimento alimentar é um ponto de viragem catastrófico numa situação já terrível, em que as pessoas foram privadas de necessidades básicas”, apontou Samer Abdeljaber, diretor do programa da ONU na Palestina. “As pessoas estão passando fome.”

 

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Mundo

Al-Shifa será o estigma de Israel

A palavra ‘genocídio’ já é lugar comum e as medidas formais de denúncia por crimes de guerra se multiplicam.

Por Carol Proner e Helena Pontes

Quem do Brasil acompanha as notícias na Faixa de Gaza sabe que, ao acordar, já acumulamos cinco horas de atraso em relação a tudo que aconteceu no território ocupado e massacrado. A cada manhã nos atualizamos das desgraças da madrugada e dos planos de extermínio do dia que, por lá, já vai pela metade.

A novidade da última jornada foi a invasão do Hospital Al-Shifa.

Atacar um hospital é evidentemente proibido pelo direito internacional. As Convenções de Genebra, que limitam o direito da guerra, proíbem ataques contra pessoal religioso, médico e hospitalar e são taxativas quanto a hospitais certificados e identificados como tal. Esse é o caso de Al-Shifa, o maior entre todos e o único com habilidade para tratamento de câncer. Esse é também o caso de outros 11 centros de saúde bombardeados desde o 7 de outubro em mais de 137 ataques registrados pela OMS. Al-Shifa, portanto, não é um caso isolado, embora certamente o mais abominável.

Para justificar as atrocidades proibidas pelas leis humanitárias em hospitais, o comando militar israelense argumenta serem lugares profanados por servirem a propósitos militares ilícitos. Dá para imaginar o quão tentador pode ser, como disfarce militar, o uso enganoso de um espaço protegido, seja um hospital, uma escola ou um templo. E esse raciocínio hipotético e fantasioso aquece os debates já polarizados entre Hamas e Israel, ofuscando a percepção do fim último das normas humanitárias. Ora, para desabonar regras de proteção consideradas de máxima observação (normas imperativas), a parte que decide desrespeitar precisa, como mínimo, provar o uso manifestamente impostor da mesma (do lugar protegido) e, como se viu, além de uma mochila com armas e outras ilações, nada foi provado.

Al-Shifa sensibilizou a comunidade internacional desde que Israel decidiu decretar a evacuação forçada urgente e sem qualquer planejamento. As imagens de médicos e pacientes em pânico diante do perverso ultimato provocaram revolta e questionamentos. Obviamente uma regra tão auto evidente como a de proteger hospitais não teria sido convencionada sem as garantias laterais de proteção à vida de civis já vulneráveis (hospitalizados).

Para que uma tal acusação, como a perfídia em lugares protegidos, pudesse legitimar a invasão armada ou mesmo um ataque, as mesmas Convenções de Genebra obrigam ao dever de proteger os civis que, no caso do hospital, implica correlato dever de evacuar pessoas com os cuidados devidos, de transferir pacientes ligados a máquinas vitais, de acolher enfermos terminais, de transportar pessoas com dificuldades de deslocamento e, especificamente no caso de Al-Shifa, de garantir a continuidade da vida dos recém-nascidos forçosamente desligados das incubadoras.

*Opera Mundi

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Justiça

Hassan vai processar Zambelli por ataques e ameaças. PF investiga

A defesa do brasileiro Hasan Rabee, repatriado da Faixa de Gaza para o Brasil, afirma que vai processar as pessoas responsáveis por ameaças contra ele. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) acusou o palestino com cidadania brasileira de compartilhar mensagens “pró-terrorismo” e também deverá ser acionada na Justiça. A informação foi publicada nesta quinta-feira (16) pela coluna de Mônica Bergamo. De acordo com a jornalista, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandado por Flávio Dino, determinou à Polícia Federal uma investição das ameaças feitas aos brasileiros que estavam no território palestino.

Desde a sua chegada ao Brasil, na segunda-feira (13), Hasan teria recebido mais de 200 mensagens de diferentes pessoas que teriam apoiado ele. “Vagabundo safado, te dou um pau se eu te encontrar na rua” foi uma das mensagens enviadas a Hassan e compartilhadas com o Ministério dos Direitos Humanos. “Terrorista filha da p*, espero que você não venha para Florianópolis, seu m*”, “volte pra lá [Gaza] e aguente as consequências”, “não queremos terroristas no Brasil”, “vaza lixo terrorista”, foram outras ameaças.

Ataques de teor xenófobo e contendo ameaças de morte, calúnia e injúria racial foram alguns dos conteúdos identificados, informou a advogada Talitha Camargo da Fonseca, que o representa. A defensora formalizou nesta quinta (16) um pedido ao Ministério dos Direitos Humanos para que o brasileiro e sua família sejam incluídos no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH). Camargo também vai acionar o Ministério da Justiça e Segurança Pública solicitando a concessão de escolta policial para eles.

O número de mortos em Gaza pelos ataques de Israel subiu para mais de 11.500, informou nesta quinta (16) o Ministério da Saúde do enclave palestino. A quantidade de feridos aumentou para mais de 29.800. Apenas um hospital (Al Ahli) das 24 unidades hospitalares com capacidade para pacientes internados no norte de Gaza está funcionando com capacidade mínima e ainda admite pacientes.

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Política

Lula conversa com presidente de Israel e avisa que Brasil apresentará nova lista com brasileiros que desejam deixar Gaza

Uma nova lista de brasileiros e parentes palestinos está em elaboração e será apresentada pelo Brasil. A informação foi dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente de Israel, Isaac Herzog, em conversa telefônica que durou 40 minutos nesta quinta-feira (16). Lula agradeceu a Herzog pela liberação de 32 nacionais, que chegaram a Brasília na última segunda-feira, após atravessarem a fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito.

De acordo com o Palácio do Planalto, o presidente de Israel revelou sua preocupação com os reféns sequestrados pelo grupo extremista Hamas, entre eles diversos latino-americanos. Herzog pediu que o presidente Lula reforce o apelo pela sua libertação, em articulação com outros países da América Latina.

Lula reafirmou a posição do Brasil em defesa de dois Estados, o de Israel e o da Palestina, “vivendo lado a lado, com fronteiras seguras e mutuamente aceitas”. Lembrou que o governo brasileiro defende uma ampla reforma da governança global, que também seja voltada e eficiente para a prevenção e resolução de conflitos como o que se prolonga no Oriente Médio.

“Além de se comprometer com o pedido, o presidente Lula recordou que já fez apelos pela libertação de todos os reféns em contatos mantidos com vários líderes do Oriente Médio (Irã, Emirados Árabes, Turquia, Catar, Egito, Autoridade Palestina), além de França, Rússia e Índia. Informou ter realizado videoconferência com familiares israelenses dos reféns”, diz nota divulgada pelo Planalto, diz O Globo.

Sobre a nova lista em elaboração, Lula afirmou estar certo de que continuará a contar com o apoio do governo de Israel para que essas pessoas consigam atravessar a fronteira entre Gaza e o Egito. Ouviu do presidente Herzog que serão feitos todos os esforços para que esses cidadãos possam sair de Gaza com a devida rapidez.

“O presidente Lula reafirmou a tradição pacífica do Brasil, onde judeus e árabes sempre conviveram em paz. Reafirmou, ainda, repúdio a atos de antissemitismo e reiterou o empenho do governo brasileiro para coibir essas manifestações”, destacou o Palácio do Planalto.

Disse que uma de suas grandes preocupações, em meio à crise humanitária em Gaza, e com a perda de civis, especialmente crianças.

Ainda há uma demanda de mais de 60 pessoas que pedem para entrar em uma segunda lista. Lula quer que o Brasil seja o mais flexível possível, liberando o ingresso no país, por exemplo, de cidadãos em graus de parentesco a partir do segundo grau, como irmãos.

A questão é que as regras a serem estabelecidas não são do Brasil. Por isso, o governo brasileiro conversa com autoridades israelenses, egípcias e palestinas: é preciso conhecer bem as condições exigidas para que seja possível aos estrangeiros sair da zona de conflito entre Israel e o grupo extremista palestino Hamas.

Em uma avaliação interna, a previsão é que essa segunda fase pode ser demorada. Se Israel não atender à resolução aprovada na última quarta-feira pelas Nações Unidas, que prevê pausas humanitárias para o ingresso de suprimentos e a saída de estrangeiros de Gaza, a autorização para a saída de cidadãos brasileiros e seus parentes deve levar, pelo menos, duas semanas.

Além disso, a saída de brasileiros e parentes de Gaza vai significa uma mudança radical, que terá como bojo a vinda para um país com o qual muitas pessoas que querem fugir da região têm vínculo limitado. Entre as dificuldades a serem solucionadas, por exemplo, é a falta de documentação.

Os dois presidentes não comentaram as críticas de Lula a Israel feitas recentemente. Uma delas é que a “atitude” de Israel com mulheres e crianças é “igual a terrorismo”, em referência aos bombardeios à Faixa de Gaza, que já deixaram mais de 18 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.

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Cotidiano

Mulher passa por plástica para retirar pele, mas acorda com silicone

Após viajar até o México para realizar uma cirurgia de remoção de pele flácida, a americana Kimberly McCormick está denunciando a clínica por ter feito outro procedimento completamente diferente. Quando acordou da anestesia geral, ela estava com silicone nos seios e um enxerto de gordura nos glúteos. O caso aconteceu em outubro deste ano.

Essa não era a primeira viagem de Kimberly ao México para fazer cirurgias plásticas. Há seis anos, ela esteve no país para passar por um procedimento de perda de peso. Agora, estava retornando para retirar a pele flácida de braços, coxas e barriga.

“Quando acordei, meu peito estava muito dolorido e comecei a chorar”, lembra, em entrevista ao canal americano Fox 13. Ao perceber que havia recebido implantes indesejados, Kimberly alertou um coordenador médico. Porém, ele argumentou que ela teria pedido as plásticas.

“Eu nunca pediria isso. Minha intenção era tirar, não acrescentar”, desabafa. Os médicos também não realizaram a retirada da pele flácida, o objetivo principal da cirurgia. Kimberly e a filha, Misty Ann, que acompanhou a mãe na viagem, denunciam que, além da cirurgia errada, a clínica estaria “imunda”.

As duas foram obrigadas a pagar pelos procedimentos não solicitados. “Foram US$ 2,5 mil dólares (cerca de 12 mil reais) a mais do que o acordo. Eles pegaram meu cartão e não pude fazer nada pois estava sozinha e debilitada por conta dos procedimentos”, conta Kimberly. Misty afirma que, ao tentar ver a mãe no pós operatório, foi retirada do local por seguranças armados.

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Espanha: Pedro Sánchez é reeleito premiê e forma segundo governo de coalizão progressista

Com 179 votos, líder do Partido Socialista Operário Espanhol conquistou ampla maioria do Congresso após acordo com independentistas catalães; gabinete também terá participação da coalizão Sumar.

Pedro Sánchez, atual líder do executivo em exercício da Espanha e secretário-geral do Partido Socialista do país (PSOE), foi reeleito primeiro-ministro, nesta quinta-feira (16/11), com o apoio da maioria no Congresso para um mandato de mais quatro anos. A candidatura do atual premiê obteve 179 votos a favor, acima dos 176 necessários para garantir o cargo. 171 votos foram contrários e não houve nenhuma abstenção, segundo o Opera Mundi.

Para a reeleição, foram determinantes os apoios de movimentos regionalistas do País Basco, da Galícia e das Ilhas Canárias, e principalmente dos independentistas catalães, aos quais o líder socialista decidiu conceder uma lei de anistia para permitir voltar a “fechar as feridas” abertas durante a crise de 2017, e garantir uma unidade na Espanha através do “diálogo e perdão”.

Entre os anistiados pelo acordo está Carles Puigdemont, líder do Juntos pela Catalunha, exilado na Bélgica desde o referendo separatista em 2017 em uma tentativa fracassada de uma declaração unilateral de independência.

A votação aconteceu quase dois dias depois do debate entre líderes partidários que justamente se aprofundaram na questão do pacto de anistia. As inconclusivas eleições nacionais espanholas de 23 de julho deixaram o parlamento muito dividido.

O Partido Popular (PP) recebeu o maior número de votos, mas não obteve apoio suficiente para formar o governo por conta de suas alianças com a extrema direita, o Vox.

Por outro lado, todos os deputados dos grupos socialistas (Somar, ERC, Junts, EH Bildu, PNV, BNG e Coligação Canária) apoiaram Sánchez. Com eles, o líder assinou acordos que incluem medidas que vão além da lei de anistia, pauta que pairou sobre o ambiente político nas últimas semanas e sobre o próprio debate na Câmara dos Deputados.

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EUA estão muito perto de começar uma guerra em que serão ‘devastados’, alerta mídia

A revista Foreign Policy alertou para o fato de os Estados Unidos estarem cada vez mais perto de começar uma guerra em que provavelmente perderão.
De acordo com a revista, os EUA estão enfrentando sérios desafios em duas das três regiões mais estrategicamente importantes do mundo.

A mídia alerta que esse cenário pode levar a uma guerra mundial em três frentes, devido a possíveis conflitos com a China e a Rússia.
Também foi ressaltado que caso os EUA e seus aliados se mobilizem para enfrentar os dois gigantes, certamente enfrentariam desafios significativos.

A capacidade militar dos EUA para lidar com múltiplos adversários é limitada, e a possibilidade de um conflito global traz riscos econômicos, incluindo o aumento da dívida e pressões inflacionárias, destacou a revista.

Segundo a revista, a Rússia e o Irã são grandes produtores de petróleo, e um fechamento prolongado do estreito de Ormuz em um possível conflito no Oriente Médio poderia elevar os preços do petróleo a valores “cósmicos” por barril, aumentando a pressão inflacionária.

Por sua vez, a China é um dos principais detentores da dívida dos EUA, e uma liquidação sustentada por parte de Pequim poderá elevar os rendimentos das obrigações americanas e pressionar ainda mais a economia do país, levando os americanos a enfrentar a escassez em tudo.

Além disso, as perdas humanas de um conflito mundial seriam significativas para o país.

*Sputnik

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Presidente da Turquia afirma que Israel é um ‘Estado terrorista’

Em discurso, Erdogan mandou recado ao premiê israelense Benjamin Netanyahu: ‘seu fim está próximo, quer você tenha armas nucleares ou não’.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, realizou discurso nesta quarta-feira (15/11) um discurso marcado por fortes acusações contra o Estado de Israel e seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

Segundo o jornal turco Sabah, Erdogan realizou um pronunciamento para explicar a recente denúncia que seu país promove contra o premiê israelense Benjamin Netanyahu no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. “É preciso dizer isso claramente: Israel é um Estado terrorista. Israel está cometendo crimes de guerra na Faixa de Gaza”.

A Turquia acusa Netanyahu de cometer um genocídio contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza. O documento enviado ao TPI foi divulgado nesta terça-feira (14/11) pelo partido governista turco Justiça e Desenvolvimento (de direita).

Além da ação apresentada em Haia, o governo de Erdogan também tenta articular com líderes de países que se abstiveram na votação de uma resolução da Assembleia Geral da ONU por um cessar-fogo em Gaza, para aumentar o bloco que busca pressionar Israel a retroceder em sua ofensiva contra o território palestino.

*Opera Mundi

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Música

Israel ataca a casa de líder do Hamas em Gaza, mas ele estava no Catar

Nessa quarta-feira (15/11), Israel já indicou que não irá seguir a resolução de cessar-fogo proposta pelo Conselho de Segurança da ONU.

As Forças de Israel (IDF) anunciaram um ataque aéreo à casa de um dos líderes políticos do grupo Hamas, Ismail Haniyeh, na noite dessa quarta-feira (15/11), em Gaza. Contudo, a casa estaria desabitada. Haniyeh vive há três anos em Doha, no Catar, onde também tem residência. Veja o momento do bombardeio:

No vídeo, é possível observar o momento em que um alvo, uma casa no norte da Faixa de Gaza, é atingido por um bombardeio de Israel e, logo em seguida, uma grande explosão toma conta da região. O IDF afirmou que a casa era usada como uma “base terrorista”, além de ser um ponto de encontro para oficiais do grupo Hamas, diz o Metrópoles.

Haniyeh lidera o grupo Hamas há seis anos. Ainda não foram encontradas declarações suas sobre o assunto.

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Peter Oborne: Apoiados por militares de Israel, colonos ilegais impõem reinado de terror a palestinos na Cisjordânia

Por Peter Oborne*, em A Terra é Redonda

É a mesma história em todas as aldeias das colinas do sul de Hebron.

Os colonos israelenses confiscam o gado, destroem tanques de água e painéis solares, demolem casas e olivais dos quais os agricultores palestinos dependem para a sua subsistência.

Como as antigas tropas das SS nazistas, eles chegam sem avisar, armados com metralhadoras M16 – que costumam usar com imensa alegria –, espancam os aldeões com barras de ferro, com paus, com os punhos e com as coronhas das suas armas.

Agridem mulheres e idosos. Entram nas casas palestinas, arrancando utensílios e acessórios, roubando dinheiro, destruindo papéis, derrubando móveis. Atiram para matar. Muitos usam uniformes militares. Eles impuseram um reinado de terror. E são apoiados pelo exército de Israel.

A sua mensagem aos palestinos é sempre a mesma: saiam ou serão mortos. E enquanto os colonos estão armados e atuam impunemente, os palestinos ficam indefesos.

Acompanhado por um guia, cheguei no início de uma tarde à comunidade agrícola de She’b Al-Butom, de 300 habitantes. Dali pode-se ver o assentamento israelense vizinho de Avigay.

Dois “postos avançados” de Avigay controlam tanto essa aldeia quanto a vizinha, Mitzbeh.

Estão ambos cercados. A aldeia sitiada está situada no final de uma longa trilha pedregosa, que quase venceu nosso carro de tração nas quatro rodas. Fui recebido por uma criança traumatizada que fez uma careta. Ela tinha medo de estranhos, depois do que testemunhou nas últimas semanas.

Um grupo de agricultores serviu-nos chá. Disseram que pouco depois do dia 7 de outubro quatro colonos armados entraram na aldeia, causando pequenos danos e partiram.

Durante alguns dias, os colonos concentraram-se em propriedades periféricas, demolindo casas e destruindo edificações agrícolas, obrigando os habitantes a fugir. Três dias depois, os colonos, todos vestindo uniformes militares, retornaram. Desta vez, espancaram vários aldeões e saquearam suas antigas casas construídas com barro.

Na noite de sexta-feira passada eles voltaram e atacaram os aldeões de novo, incluindo um homem de 72 anos. Cada vez que os colonos chegam, eles dizem aos aldeões para irem embora.

O agricultor local Khalid Jibril relatou: “Eles apontaram uma arma para a minha mulher, bateram-me, roubaram o meu telefone e apontaram armas para as crianças”.

Jibril, que usa um keffiyeh na cabeça, acrescentou: “basta mencionar os soldados para as crianças que elas começam a tremer”.

Repetição da Nakba
Para os palestinos, isso tudo parece uma repetição da Nakba de 1948, quando 750 mil pessoas foram expulsas das suas casas, para nunca mais regressarem. Como hoje, eles foram forçados a sair em meio à violência massiva.

Quando saíamos das colinas do sul de Hebron, os colonos já estavam impondo prazos. Em Um Al-Khair, uma pequena aldeia flanqueada por todos os lados por colonos israelenses, disseram aos aldeões que deveriam hastear uma bandeira de Israel até às 19 horas da noite anterior, ou enfrentariam a destruição.

No dia anterior, os colonos tinham incendiado a casa de um agricultor. Quando as vítimas chamaram a polícia, disseram-lhes: “vocês são mentirosos e vamos prendê-los”.

Nas proximidades de Tuwani, os moradores foram instruídos a partir. “Vão para a cidade!” ― dizem os colonos israelenses. O patriarca local, Hafez Hureini, reagiu: “Não, nunca. Nada me fará sair da minha casa”.

Algumas aldeias já cederam à pressão. A comunidade de 250 pessoas de Khirbet Zanufah, nas colinas do sul de Hebron teve que fugir. De acordo com o grupo israelita de direitos humanos B’Tselem, 13 comunidades de pastores foram evacuadas no último mês.

Os ocupantes israelenses estão trabalhando de acordo com um plano e não há nada de secreto nisso.

Partidos de extrema direita
No final do ano passado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, salvou sua pele ao formar uma coligação com dois partidos políticos de extrema-direita.

O primeiro foi Otzma Yehudit (“Poder Judaico”), liderado por Itamar Ben Gvir, um racista declarado que, ao embarcar na carreira política em 2020, pendurou em seu gabinete um retrato de Baruch Goldstein ― o assassino em massa que executou o massacre de 29 palestinos em 1994 na Mesquita Ibrahim, em Hebron.

Ben Gvir está agora encarregado do policiamento da Cisjordânia, como ministro da Segurança Nacional de Benjamin Netanyahu, posição por meio da qual providenciou a distribuição de fuzis de assalto às “equipes de segurança civil”. Quando pode, ele supervisiona pessoalmente a distribuição.

Benjamin Netanyahu também abraçou o Partido Religioso Sionista, liderado pelo incendiário de extrema direita Bezalel Smotrich.

Ele deu a Bezalel Smotrich o cobiçado cargo de ministro das finanças, mas Bezalel Smotrich buscou um prêmio ainda mais significativo. A cláusula 21 do acordo da coligação de dezembro passado atribuiu a Bezalel Smotrich “total responsabilidade” sobre a Área C da Cisjordânia.

A Área C é mantida sob controle militar e civil israelense, de acordo com o Acordo de Oslo, de 1993.

Isso abarca cerca de 60% da área terrestre da Cisjordânia, incluindo as aldeias isoladas nas colinas do sul de Hebron. Aproximadamente 350 mil palestinos vivem na Área C, juntamente com 500 mil colonos israelenses. Estes últimos, nos termos daquele Acordo e do direito internacional, são completamente ilegais.

O acordo da coligação fez nominalmente de Bezalel Smotrich – que descreve a si mesmo como um “homófobo fascista” – o comandante da chamada “administração civil” da Cisjordânia.

Direito militar
“Administração civil” é, da sua parte, um termo orwelliano.

Enquanto os colonos ilegais israelenses gozam de plenos direitos como cidadãos, os palestinos são governados pela lei militar israelense. Na melhor das hipóteses, estão sujeitos a julgamentos arbitrários, feitos pelas autoridades militares de Israel.

No entanto, com Bezalel Smotrich no comando, tal como num gueto nazista, passaram a não ter quaisquer direitos.

A “administração civil” dirigida por Bezalel Smotrich outorga-lhe o controle total sobre quase todos os aspectos da vida palestina.

Bezalel Smotrich e Ben Gvir têm a Cisjordânia como seu playground. Seus planos nunca foram secretos. Eles estão definidos de forma bastante explícita nos princípios fundadores do acordo de coligação do atual governo, que afirma que “o povo judeu tem o direito exclusivo e indiscutível a todas as partes da terra de Israel”.

Em outras palavras, isso significa a anexação cabal da Cisjordânia ocupada, contrariando até mesmo as posições britânicas e americanas de apoio a uma “solução de dois Estados”.

Muito antes de 7 de outubro, Ben Gvir e Bezalel Smotrich, já tinham defendido o “extermínio” da cidade palestina de Howara, local onde os colonos israelenses realizaram um pogrom contra os palestinos e operaram incansavelmente para pôr aquelas ideias em prática.

Agora, a posição de ambos lhes permite patrocinar um ataque em grande escala dos colonos. Mais uma vez, a mensagem aos palestinos é simples: saiam ou morrerão.

“Espere pela grande Nakba”
Os residentes da aldeia de Deir Istiya, na Cisjordânia, receberam cartas de advertência afirmando: “vocês queriam a guerra, agora esperem pela grande Nakba”. A isso se acrescia a ordem para que fugissem para a Jordânia.

Viajei de ônibus até esta vila, nas colinas acima da antiga cidade palestina de Nablus, para encontrar Faraz Diab, chefe do município. Ele me contou que um grupo da rede Telegram chamado “caçadores de nazistas” está fazendo circular ameaçadoramente seus dados, incluindo sua foto. “Eles deveriam ser presos”, diz ele, mas há poucas chances de isso acontecer.

A agência humanitária da ONU, OCHA, declarou em 6 de novembro que, desde 7 de outubro, 147 palestinos, incluindo 44 crianças, foram mortos pelas forças militares israelenses na Cisjordânia (ou seja, fora de Gaza), com mais oito, incluindo uma criança, mortos por colonos.

Acrescenta: “Desde 7 de outubro, pelo menos 111 famílias palestinas, compreendendo 905 pessoas, incluindo 356 crianças, foram deslocadas, por força da violência dos colonos israelenses e das restrições de acesso”.

“Você tem que sair!”
Além da tragédia humana, este é um desastre global. Agricultores, pastores e tribos beduínas nômades vivem nas colinas e vales escarpados da Cisjordânia desde tempos imemoriais. Eles estão ali desde muito antes que quaisquer israelenses, sobretudo os importados dos últimos 50 anos.

Se forem forçados a abandonar seu antigo modo de vida, sua história, literatura e canções irão embora com ele. Seus meios de subsistência baseiam-se na terra e no ciclo anual, à medida que os pastores passam das pastagens de verão nas colinas para as pastagens de inverno no agora fechado Vale do Jordão.

Muitos não irão. Na sexta-feira passada, diz Khalid Jibril, os colonos emitiram um ultimato. “Você deve ir embora, ou vamos matá-lo. E mataremos seus filhos também, tal como fizemos com as crianças de Gaza”.

Khalid Jibril já foi espancado pelos colonos israelenses. Ele lhes disse: “nossos filhos não são diferentes das crianças de Gaza. Se é isso que querem, venham e façam! Nós não vamos sair”.

Para o movimento de colonos de Israel, com as Forças de Defesa Israelenses (FDI) ao seu lado, este é o seu momento.

A transferência forçada de um povo ocupado é um crime de guerra, mas não consigo encontrar mais que o habitual “apelo” a Israel, por parte do governo do Reino Unido, para “responsabilizar os culpados”.

Esse silêncio é interessante. Em tempos normais, Diane Corner, a cônsul geral britânica em Jerusalém, emite condenações fortes, mesmo que impotentes, à violência dos colonos.

Mas à medida que os ataques começaram a se transformar num reinado de terror em toda a Cisjordânia, ela passou a não ter mais nada a dizer.

Busquei contato com a Sra. Diane Corner através do Twitter, explicando que estava preparando uma matéria sobre as atrocidades dos colonos, incluindo transferências forçadas, em toda a Cisjordânia.

Também é notável que, em tempos normais, o cônsul britânico tem sido rápido em condenar tais atrocidades. Perguntei-lhe por que ela havia ficado em silêncio.

Enquanto o Declassified UK preparava este artigo para publicação, não houve qualquer resposta. Na ausência dela, imagino que Diana Corner, uma mulher decente e bem informada, recebeu ordens de manter a boca fechada, dadas por um governo britânico que prometeu seu apoio “inequívoco” ao Israel de Benjamin Netanyahu.

*Peter Oborne é jornalista. Autor, entre outros livros, de The assault on truth: Boris Johnson and the emergence of a new moral barbarism (Simon & Schuster)