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Le Monde questiona crescimento econômico brasileiro: recuperação ou ilusão?

‘Esse crescimento é uma ilusão total: estamos apenas acompanhando a recessão de 2015-2016, período em que o PIB caiu 7,5%’, diz Eduardo Fagnani, professor de economia da Unicamp.

A edição do jornal francês Le Monde, datada de domingo (12/01) e segunda-feira (13/01), traz uma página inteira sobre os primeiros indicadores verdes da economia brasileira e lança a questão sobre se o Brasil estaria, finalmente, começando a se recuperar da crise na qual está mergulhado pelo menos desde 2015. O tema divide economistas. Para Eduardo Fagnani, esse crescimento é “uma ilusão total”.

“Em 3 de dezembro de 2019, Jair Bolsonaro não escondeu sua alegria. ‘Estamos no caminho certo!’, disse o chefe de Estado brasileiro, comemorando no Twitter os números positivos de crescimento do PIB divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja: um aumento de 0,6% no PIB no terceiro trimestre, o mais forte registrado em um ano e meio, 0,2 ponto percentual acima do previsto pelos analistas”, escreve Le Monde.

O jornal cita os indicadores econômicos que estão em alta em 2020: o crescimento esperado em 2,2% neste ano, após 1,2% em 2019; inflação contida (3,5% para este ano); queda do desemprego (em 11,8%, um ponto a menos de 12 meses atrás) e o período de euforia da Bolsa de Valores de São Paulo, com um índice da Bovespa que ultrapassou a marca de 100.000 pontos pela primeira vez em sua história, terminando 2019 com uma alta espetacular de 35% em um ano.

Diante disso, Le Monde pergunta: “As ‘Bolsonomics’ – o nome dado às medidas econômicas adotadas pelo executivo – são eficazes?”. A questão divide economistas, acrescenta o correspondente do Le Monde no Rio de Janeiro, Bruno Meyerfeld, que assina o texto.

“Eu me oponho totalmente a esse governo no meio ambiente, na diplomacia, no tratamento das minorias… Mas, na economia, tenho que admitir que a linha é boa”, observa Renato Fragelli Cardoso, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), citando, em particular, o mérito de duas medidas: a drástica redução dos gastos públicos (com um déficit reduzido pela metade em relação às previsões) e, sobretudo, a grande reforma previdenciária, adotada no final de outubro de 2019.

Mercado financeiro

A reforma, que estabelece pela primeira vez uma idade legal de partida, deve economizar R$ 800 bilhões em dez anos. Ele encantou os mercados financeiros. “Estamos esperando por essa reforma há 25 anos. Devolve credibilidade econômica ao Brasil. É um choque psicológico real “, disse Fragelli Cardoso ao Monde.

No entanto, nem todo mundo entende dessa maneira. “Esse crescimento é uma ilusão total: estamos apenas acompanhando a recessão de 2015-2016, período em que o PIB caiu 7,5%”, estima Eduardo Fagnani, professor de economia da Unicamp. “Além disso, o crescimento de 2% em um país em desenvolvimento como o Brasil é extremamente baixo. A verdade é que ainda estamos em uma economia em crise”, diz o economista ao jornal francês.

Apesar de um real baixo (a moeda perdeu quase 10% do seu valor em relação ao dólar em um ano), nem tudo vai bem na balança comercial. Em 2018, o país sofreu as consequências da crise vivida por seu vizinho argentino, um grande importador de produtos manufaturados. Como resultado, o superávit comercial de Brasília caiu quase 20% em 2019, para o nível mais baixo desde 2015, passando de US$ 52 bilhões em 2018 para US$ 42 bilhões.

Pobreza extrema

“Muitos investidores relutam em investir no Brasil do altamente imprevisível Bolsonaro”, diz Le Monde. “No total, € 3,3 bilhões de ativos detidos por estrangeiros foram vendidos e retirados dos mercados financeiros no Brasil em 2019, de acordo com dados da Bolsa de Valores de São Paulo. A decolagem do índice Bovespa seria, portanto, principalmente o trabalho de investidores locais”, explica.

Se o desemprego está em queda, escreve o Le Monde, o país continua sendo o campeão mundial da desigualdade: 1% da população monopoliza quase 30% da riqueza, de acordo com o “Relatório sobre desigualdades globais 2018″.

Em constante aumento desde 2015, a pobreza extrema atinge 13,5 milhões de cidadãos, que sobrevivem com menos de R$145 reais por mês.

“Diante dessa situação muitas vezes crítica, o governo pensa apenas em implementar seu projeto ideológico ultraliberal que alimenta a desigualdade e não se preocupa com o padrão de vida da população”, denuncia Eduardo Fagnani.

Desafios para 2020

Para 2020, Guedes planeja privatizar ou vender ações estatais em quase 300 empresas com recursos públicos (incluindo a muito emblemática gigante da produção elétrica Eletrobras), tudo com um ganho estimado de € 33 bilhões. O governo também planeja realizar várias reformas explosivas, incluindo uma simplificação tributária e outra ainda mais arriscada que afeta a estabilidade dos funcionários públicos.

“O jogo não vai ser fácil” para o ministro da economia Paulo Guedes, avalia Le Monde, lembrando que sua política é questionada por ministros ligados às Forças Armadas, com uma tradição mais estatista, e também pelo “influente e hábil” presidente da Câmara dos Deputados, o centrista Rodrigo Maia.

Além disso, destaca o jornal, em 2020, “a desaceleração global poderá pesar bastante sobre a economia brasileira, que é altamente dependente das exportações”. “De Brasília, observamos com ansiedade a guerra comercial sino-americana (os dois primeiros parceiros comerciais do país), mas também um possível confronto militar no Oriente Médio que provavelmente aumentará perigosamente o preço do petróleo.”

 

 

*Com informações do Ópera Mundi

 

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No Brasil, gritaria dos porta-vozes do dinheiro só aparece quando a desigualdade cai, não quando cresce

Com o neoliberalismo cresceu a miséria, alterando a sua composição, como no caso dos usuários do programa de refeições para pobres em SP, originalmente para pessoas em situação de rua, agora frequentado por aposentados, subocupados e desempregados em longas filas de espera.

Em conformidade com dados do governo paulista, a quantidade de usuários que frequentam restaurantes de baixa renda em 2019 cresceu 250% no segmento social de renda zero, 224% para aqueles que recebem até meio salário mínimo mensal e 221% para pessoas com rendimento variável.

Governo Bolsonaro não representa a volta a fase pré Revolução de 1930, mas o retorno ao Estado teocrático, quando a igreja integrava a Monarquia.

Elogio ao deputado herdeiro da família real portuguesa e a posição do Itamaraty sobre religião como política de Estado não deixa dúvida.

Se depender do governo Bolsonaro, a situação do ano que vem não melhora, pois continuará o desembarque dos pobres do orçamento, com recursos de investimento para habitação de R$ 2,5 bilhões insuficientes para pagar obras em andamento, contratos assinados e nada de programa novo.

Retirada do Estado das políticas públicas pelo neoliberalismo aprofunda as desigualdades.

A restrição orçamentária ao SUS, que atende + de 80% do povo, empurra parte restante da população com renda a se transferir para os planos privados que atendem só 17% dos brasileiros negros.

Setores que sustentam o receituário neoliberal, como bancos e mídia, são os que + se distanciam da livre concorrência no Brasil.

Enquanto bancos monopolizam meios de pagamentos, como máquinas, emissores e bandeiras de cartão de crédito, nem 10 famílias controlam a mídia no país.

No Brasil de Bolsonaro, a relação de 32 candidatos por vaga no concurso para coletor de resíduos e material reciclável supera disputas no processo seletivo para o ingresso em cursos de graduação nas universidades paulistas que estão entre as mais concorridas do país.

Mídia comercial expõe sua parcialidade na cobertura amplíssima sobre a posição contrária dos bancos ao tabelamento do cheque especial imposto pelo governo Bolsonaro. Mas quando se trata da retirada de direitos social e trabalhista, inexiste espaço midiático para os trabalhadores.

Manifestação positiva de empresários à gestão de Bolsonaro comprova que desde o golpe de Estado que enterrou o ciclo político da Nova República (1985-2016) não há mais governo voltado à conciliação de classes, pois submetido a influência argentária dominante, exerce a plutocracia.

Da mesma forma que se explicita o adesismo de dirigentes patronais ao governo Bolsonaro, prometendo a melhora no desempenho da economia nacional, acelera a fuga dos recursos de investidores estrangeiros na bolsa de valores, a mais alta saída do Brasil dos últimos 15 anos.

Deterioração rápida das contas externas, estimada em + de 3% do PIB, revela subestimação das possibilidades da economia brasileira melhorar o desempenho em 2020. Saída de recursos para o exterior, asfixia de endividados em dólar e piora na balança comercial mantém a estagnação.

Tamanho do fosso que separa ricos e pobres no Brasil pode ser contabilizado pelo extremo pobre de 15 milhões de pessoas (7,2% da população) disporem de R$6,60 por dia e pelo extremo rico de 1,2 milhão de pessoas (1% da população) deterem R$1.824,00 diários (276 vezes mais).

No Brasil, gritaria dos porta-vozes do dinheiro só aparece quando a desigualdade cai, não quando cresce.

Desde 2015, os 50%+ pobres acumulam perdas de 17,1% na renda e os 40% de renda intermediária reduziram em 4,2%, enquanto os 10%+ ricos aumentaram em 4,2% e o 1%+ rico em 10,1%

Impressiona o grau do despreparo e até incompetência de membros da equipe econômica do governo Bolsonaro.

São tantos erros, manipulações e omissões como na projeção da previdência, dados da balança comercial, estimativas nas despesas de pessoal e na receita da cessão onerosa.

Queda na taxa de juros pode revelar o quanto a economia brasileira encontra-se necrosada pelo receituário neoliberal.

Em tese, reduzir juros motiva o investimento, quando não há registro de capacidade ociosa no parque produtivo, pois do contrário poderia prolongar a estagnação.

Vasamento de informações privilegiadas por membros do governo que permite o enriquecimento de especuladores, especialmente no mercado financeiro, constitui corrupção grave.

*Marcio Pochmann

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O Brasil não está quebrado, mas sendo “quebrado” para ser vendido

O Brasil não é um país quebrado, o Brasil é um país que sofre, cronicamente, o mal de ser um país sem projetos.

Como é que se pode dizer que está “quebrado” um país que tem a 6ª maior reserva cambial do mundo? Que tem um confortabilíssimo saldo comercial na sua corrente de comércio exterior? Que tem um parque industrial com 30% de ociosidade, pronto a trabalhar sem a necessidade de novos investimentos expressivos? Que está montado num mar de petróleo e tem a tecnologia – talvez não o capital, é certo – para explorá-lo em prazo reduzido.

Temos mão de obra ociosa aos montes que, empregada, produziria aumento da renda (e do consumo) sem grande pressão sobre custos e sobre a inflação. Isso, do lado humano.

Do lado físico, há cerca de 14 mil obras financiadas com recursos do Governo Federal que estão paradas ou se arrastando e muitas delas deteriorando-se. De novo, com investimento relativamente baixo se pode potencializar recursos que, hoje, estão deteriorando-se na chuva, no sol e no abandono.

Um plano consistente e focado de retomada tem toda a base material para funcionar, sem abalar nosso volume de reservas ou realizar endividamento irresponsável.

Mas a única política econômica com a qual se acena para o Brasil é a de liquidar seu patrimônio, em lugar de pô-lo a trabalhar.

Para “justificar” este criminoso objetivo é preciso criar o terror da falência, como para “justificar” a reforma da previdência foi preciso chantagear aposentados dizendo que eles parariam de receber seus proventos, para que concordassem em sacrificar filhos e netos pelas suas próprias sobrevivências.

Paulo Guedes anuncia agora a intenção, que estaria aprovada por Bolsonaro – de vender todas as empresas estatais. O dinheiro, claro, vai ser consumido na voragem do déficit e da dívida, embora déficit público e dívida não sejam obstáculos ao crescimento econômico no nosso “modelo” nos Estados Unidos que tem a um e à outra imensamente maiores que o Brasil, mesmo levando em conta a proporção com o PIB norte-americano.

Nenhum país – exceto os de economia “mixuruca” e sem potencial de crescimento – adotou uma política de cortes irracionais e foi bem sucedido em recuperação econômica.

Pior, diante da escassez de recursos para investir, Guedes fala em pulverizar entre estados e municípios o pouco que há para investir. Perde-se, portanto, grande parte dos filtros que poderiam assegurar relevância econômica para o país.

É a nossa “sofisticada” política a economia: venda-se tudo, dê-se uma parte da venda para cada agente político (deputados, senadores, prefeitos e governadores) e que cada um faça o que quiser. Não que um ou outro vá gastar bem os recursos, mas não precisa ser um gênio para saber que a grande maioria será malbaratada.

A classe dirigente brasileira, herdeira perdulária dos que construíram este país, agradece e vai viver de Bolsa de Valores.

 

 

*Com informações do Tijolaço