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A farsa judicial contra Cristina Kirchner

Jeferson Miola – O jornal argentino página 12 denunciou que a sentença de morte política eterna de CFK foi decidida em um encontro de estilo mafioso que reuniu juízes, empresários, magnatas de mídia, macristas e bandidos do gênero na Patagônia, num lugar chamado Lago Escondido.

 

 

 

 

 

 

A ex-presidente e atual vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner [CFK], também presidente constitucional do Senado da República de La Argentina, é vítima da mesma estratégia de perseguição judicial fascista que Lula foi vítima no Brasil.

A execução do plano fascista pela organização judicial mafiosa argentina seguiu o mesmo script da sua organização homóloga no Brasil, a gangue da Lava Jato.

A mídia hegemônica do país rioplatense, até o último fio de cabelo comprometida com o golpismo e o extremismo de direita – como o Grupo Clarín –, toca o bumbo com a sentença contra Cristina, que representa um duro golpe à democracia do país.

Os canalhas do judiciário e do ministério público [la fiscalía] argentinos foram, porém, ainda mais inventivos que seus homólogos brasileiros.

Eles condenaram CFK a “apenas” seis anos de prisão – metade, portanto, do tempo que esta própria Inquisição Argentina anunciava, de 12 anos de enjaulamento de CFK na masmorra.

Mas, em contrapartida, se abrandaram a pena de privação de liberdade de CFK, os inovadores juízes argentinos a condenaram à morte política eterna.

No seu veredito, o Tribunal Oral nº 02, o equivalente do inquisitorial TRF4 da Lava Jato, sentenciou que CFK não poderá exercer cargos públicos por toda eternidade!

A inabilitação política eterna, até onde minha ignorância histórica alcança, pode não ser algo genuíno na história mundial, mas certamente é um procedimento típico de regimes totalitários e fascistas.

A inabilitação política eterna de CFK é sintoma da luta crucial que está em andamento no mundo inteiro, não só na Argentina, no Brasil e em outros países, mas que é a luta de sobrevivência da democracia ante o avanço da ameaça fascista.

A região das Américas é a única, no mundo inteiro, em que as esquerdas e o campo progressista estão polarizando com a extrema-direita fascista e, por enquanto, estão conseguindo derrotá-la.

Na Europa, entretanto, é a direita tradicional que polariza com o fascismo. Lá, a esquerda é um ator meramente coadjuvante.

Em grande medida, este fenômeno deriva do preço que a socialdemocracia européia paga pelo descrédito causado com a adesão e submissão ideológica ao ideário neoliberal.

CFK é tão vítima do “lavajatismo internacional” quanto Lula foi em 2018. A sincronia impressiona.

Cristina muito provavelmente será escolhida candidata presidencial da Frente de Todos para a sucessão de Alberto Fernández.

E, como conhecemos com a leitura do Manual de Lawfare contra Líderes Populares, que acabo de criar enquanto escrevo este artigo, a candidatura da Cristina será impugnada. Aliás, como foi impugnado o registro da candidatura do Lula em 2018.

Cristina, porém, teve a seu favor uma espécie de Vaza Jato antecipada.

É um caso de revelação da farsa e do teatro farsesco em tempo real, enquanto acontecia. E o povo argentino, além disso, se manifesta mais ruidosamente que o povo brasileiro.

O jornal argentino página12 denunciou que a sentença de morte política eterna de CFK foi decidida em um encontro de estilo mafioso que reuniu juízes, empresários, magnatas de mídia, macristas e bandidos do gênero em um lugar da Patagônia sugestivamente chamado de Lago Escondido. Um encontro auspiciado e financiado por setores nitidamente anti-CFK.

Sim, o nome do lugar onde bandidos argentinos do estilo Sergio Moro e Deltan Dallagnol sentenciaram a morte política de CFK se chama, ironicamente, Lago Escondido. É o subterrâneo fascista.

*Viomundo

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Justiça persegue líderes como Lula e eu, diz Cristina Kirchner um dia antes de sentença que pode levá-la à prisão

Vice-presidente quebra silêncio de cinco anos e fala à Folha com exclusividade na véspera de julgamento por desvio de recursos, diz Mônica Bergamo.

Uma das figuras mais emblemáticas da América Latina e da política de seu país, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, quebrou um silêncio de cinco anos sem conceder entrevistas e recebeu a Folha para uma conversa em Buenos Aires no Instituto Pátria, que fundou inspirada no instituto de Lula (PT) no Brasil.

É a primeira vez também que ela concede entrevista a uma publicação brasileira.

Aos 69 anos, Cristina, que já foi deputada, senadora, primeira-dama e presidente da Argentina por duas vezes, será julgada na terça (6) em um processo em que é acusada de liderar um esquema de desvio de verbas públicas.

A Procuradoria pede que ela seja condenada a 12 anos de prisão. Os promotores dizem que Cristina chefiava uma associação ilícita que destinava verbas para 51 obras na província de Santa Cruz, da qual o ex-presidente Néstor Kirchner, seu marido, morto em 2010, foi governador.

Cristina diz que é vítima de um “pelotão de fuzilamento” e que as acusações são uma “falsidade absoluta”. Como Lula, ela seria vítima de “lawfare”, quando juízes perseguem investigados por razões políticas.

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multidão faz ato pró-democracia após ataque contra Cristina Kirchner

As ruas do centro de Buenos Aires foram tomadas hoje por grupos de manifestantes que se concentraram na praça de Maio, onde está a sede do Poder Executivo argentino. Em um ato pró-democracia, o grupo pedia o fim da violência na política e também gritava palavras de ordem em favor da vice-presidente do país, Cristina Kirchner, que foi vítima de um atentado na noite de ontem (1º).

O ato foi extremamente pacífico. Às 19h, a maioria dos manifestantes já havia deixado o local. Tirando a grande quantidade de lixo pela praça, nada evocava um cenário de caos. Na verdade, o ato foi em boa parte uma festa em prol da democracia e de combate ao ódio.

Nem a polícia teve uma presença muito ostensiva, apenas cercando os principais monumentos da praça. Com a maior concentração de pessoas às 17h, o ato começou a se dispersar depois de um emocionado discurso em prol da união da nação. No início da noite eram poucos os que permaneciam, com gritos de “Viva a presidenta”.

Ainda não há números oficiais de quantas pessoas foram aos atos pró-democracia, mas já se ventila que a manifestação foi tão ou mais massiva que as marchas sobre o aborto que levaram mais de 150 mil pessoas às ruas da capital no final de 2020.

Apesar da tentativa da organização de criar um ato massivo envolvendo vários representantes do espectro político, o que se viu foi que havia entre os manifestantes um desejo de responsabilizar movimentos de extrema direita pelo atentado devido a uma escalada no discurso de ódio contra Cristina.

Como foi o ato? Contribuiu para a grande afluência de pessoas o fato de o presidente Alberto Fernández ter declarado o dia como feriado nacional e estimulado as pessoas a comparecerem às manifestações que fecharam também importantes avenidas de Buenos Aires, como a 9 de Julio.

O que se observava na cidade, porém, era que o feriado anunciado quase na virada de ontem para hoje não havia tido tanta adesão do setor de serviços. Os transportes funcionavam normalmente, mas havia também, especialmente entre moradores do centro da cidade, um medo em relação ao tom dos atos, que foram afinal bastante pacíficos.

*Com Uol

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Kirchner diz a Dilma que nervosismo do atirador fez arma falhar

Cristina Kirchner disse a Dilma Rousseff que escapou “por um milagre”, e, de acordo com a polícia, a arma estava funcionando.

De acordo com Guilherme Amado, Metrópoles, A ex-presidente Dilma Rousseff telefonou na manhã desta sexta-feira para a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, horas após a tentativa de atentado na noite de ontem (1º/9) em Buenos Aires. Cristina estava muito tensa na conversa.

Cristina disse a Dilma que escapou “por um milagre”, e, de acordo com a polícia, a arma estava funcionando. Segundo a vice-presidente, o nervosismo do brasileiro que tentou matá-la foi o que acabou a ajudando.

O atirador, segundo Cristina, atrapalhou-se na hora de disparar, não puxou o gatilho direito e a bala não entrou no tambor da Bersa, calibre 32. Havia cinco balas no revólver, mas nenhuma delas entrou na câmara da pistola.

Fernando Sabag Montiel foi preso em flagrante.

Nas redes sociais, na manhã desta sexta-feira (2/9), Dilma publicou uma mensagem se solidarizando com a vice-presidente da Argentina. A petista disse que o ato merece o repúdio do mundo inteiro e afirmou que o “ódio político e a violência de índole fascista” são estimuladas por políticos extremistas e configuram uma ameaça à democracia.

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Arma tinha 5 balas e brasileiro apertou gatilho 2 vezes contra Kirchner

Pistola Bersa calibre 32, recuperada pela polícia, é de fabricação argentina e tinha a numeração parcialmente apagada.

Como disse o Metrópoles, a pistola Bersa calibre .32, de fabricação argentina, usada no atentado contra a vice-presidente argentina Cristina Kirchner, tinha cinco balas e tentou ser disparada duas vezes. As autoridades prenderam o brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel, 35 anos, acusado pelo crime, e recuperaram a arma.

De acordo com o jornal La Nación, fontes da Polícia Federal afirmaram que o armamento estava pronto para disparar, com o carregador cheio. A pistola, que tem a numeração parcialmente apagada, foi apreendida na Recoleta, bairro onde ocorreu o atentado na noite de quinta-feira (1º/9). Fernando teria sido disparado duas vezes, mas o projétil não saiu.

Segundo o jornal, há especulações de que a bala não saiu por causa dos dispositivos para evitar disparos acidentais. Ou ainda por causa de falha na pistola ou no projétil, por serem antigos e estarem sem cuidados. A Bersa Thunder 32 parou de ser fabricada em 2012, mas ainda há peças de reposição.

“Cristina ainda está viva porque por um motivo ainda não confirmado tecnicamente a arma que tinha cinco balas não disparou, apesar de ter sido engatilhada”, afirmou o presidente argentino, Alberto Fernández.

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Vídeo: Em Buenos Aires, um homem atira na cabeça de Cristina Kirchner, mas arma falha

A polícia argentina deteve na noite desta quinta-feira, 1, um homem que tentou disparar uma pistola contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, em Buenos Aires. De acordo com o ministro da Segurança, Aníbal Fernández, o suspeito é Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos que já havia sido detido no ano passado portando uma faca no bairro de La Paternal, onde mora.

Aconteceu há pouco uma tentativa de atentado contra a vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, em Buenos Aires. O ataque, com uma arma de fogo que teria falhado na hora do disparo, foi capturado em vídeo. Uma pessoa foi detida.

O ataque frustrado acontece em um contexto de acirramento dos ânimos em relação à figura de Cristina, após um pedido de 12 anos de prisão contra ela que seus apoiadores dizem ser lawfare.

Veja:

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Política

Vivaldo Barbosa: Lições da África do Sul

Boa parte do povo sul-africano está indo para as ruas protestar contra a prisão do ex-presidente Zuma por desacato a determinação de um tribunal local. As manifestações têm sido fortes, com depredações, e o que se vê são pessoas bem humildes nas ruas.

Zuma foi eleito na sequência da eleição de Mandela (o segundo, depois de Mandela), já da geração seguinte àquela geração esplendorosa que na década de 1940 e 1950, ainda jovens, Mandela, Oliver Tambo, Walter Suzulo e outros, assumiram a direção do Congresso Nacional Africano, partido fundado no início do Século XX. Levaram o partido para as ruas, manifestações, tribunais, onde eles brilhavam como jovens advogados, Mandela à frente. Foram processados pelo Judiciário local e ficaram 27 anos na prisão. Voltaram em um processo revolucionário que restaurou os direitos dos negros sul-africanos, implantou a democracia e levou Mandela à Presidência. Zuma foi eleito nesta sequência revolucionária.

Agora, Zuma está sendo processado pelo Judiciário local por alegações de corrupção e está preso por desacato. A história recente já está cheia de casos assim. Fizeram o mesmo com Lula, com Rafael Correia no Equador, com Cristina Kirchner na Argentina, cassaram até o mandato de Evo Morales na Bolívia e ele teve de se exilar.

O povo da África do Sul está pedindo respeito ao seu voto. Quando o povo vota e elege, ele está fazendo julgamento da pessoa, com mais força e poder que qualquer juiz. Não que ficam licenciados para fazer falcatruas depois de eleitos, ou que o povo não erre e eleja mentirosos, enganadores e falsos representantes. Mas quando isto acontece, há de haver procedimentos especiais, com tribunais adequadamente preparados e de alto nível, com legitimidade para quebrar a investidura popular que o eleito recebeu, mesmo após o exercício do mandato.

O povo sul-africano está dizendo: “Alto lá! Zuma foi feito presidente com meu voto, meu julgamento, nós o fizemos sucessor de Mandela, não é qualquer juiz ou Tribunal ou processo comum que vai desfazer isto”. Mesmo que tenha cometido erros, Zuma não pode ser processado em processo comum, como ex-presidente. Aliás, não se pode esquecer que Zuma fez o melhor discurso no enterro do Fidel. Ele disse: “Fidel foi o único do Ocidente que foi à África para nos ajudar, não para explorar nossas riquezas”.

A investidura popular é o momento mais elevado da República. Ensina-se nas Faculdades em Direito Constitucional que o Presidente da República é o magistrado número um do País. Não pode ser processado como um acusado comum, mesmo quando comete erros. Veja com Lula: o juiz fez mais de uma centena de perguntas a ele em audiência, procurando desmerecê-lo; na sequência, em outra audiência, a juíza fez reprimendas a ele, poderia se dar mal porque ele fazia críticas ao juiz anterior, proclamado suspeito e parcial pelo Supremo, pois ela não podia admitir alguém criticar um colega.

A República brasileira já deu uma solução razoável. Na tradição constitucional brasileira, os eleitos, portadores de investidura popular, só poderiam ser processados e julgados por tribunais especiais. O Presidente da República, pelo Supremo. Há países que oferecem soluções melhores, mas já era razoável. Inclusive funcionava na outra ponta: quem cometesse falcatrua, seria enfrentado por tribunal mais forte.

Mas a campanha recente intensa na mídia chamou isto de “foro privilegiado”. E o Supremo Tribunal Federal criou uma norma constitucional, afirmando que somente durante o exercício do mandato o eleito seria julgado por tribunal especial. Nenhuma Constituição previu isto, nenhum tribunal ousou inserir esta norma na Constituição. O Judiciário sempre segue a mídia, especialmente o STF de hoje, e a mídia segue os grupos econômicos, e as elites sempre dando as cartas.

*Vivaldo Barbosa – Coordenador do movimento O TRABALHISMO, Deputado Federal Constituinte, Secretário de Justiça de Brizola

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Trump tupiniquim: Bolsonaro faz ataques ao novo governo argentino e seus seguidores pedem muro na fronteira

Presidente sugeriu que as medidas anunciadas pelo governo de Alberto Fernández podem influenciar negativamente nos estados do Sul do Brasil, o que estimulou muitos a pedirem o fechamento da fronteira com o país vizinho.

O presidente Jair Bolsonaro usou sua conta no Twitter, na manhã desta terça-feira (17), para expor medidas adotadas pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández. Apesar de apenas listar os feitos, o capitão da reserva fez uma comparação que tem um intuito claro: sugerir que os rumos do novo governo argentino influenciarão negativamente na região Sul do Brasil.

“A situação política da Venezuela tem reflexos diretos no Estado de Roraima: aumento da violência e população de rua, piora na saúde e educação, etc. O novo governo da Argentina, que faz divisa com a Região Sul do Brasil (RS, SC e PR), tomou as seguintes medidas: 1) Dupla indenização para demissão sem justa causa; 2) Elevação do imposto de exportação (grãos); 3) Imposto de 30% para compras no exterior; e 4) Volta da discussão da legalização do aborto”, escreveu, dando a entender que acontecerá no Sul, por influência da situação na Argentina, o mesmo que, segundo ele, estaria acontecendo em Roraima por conta da situação na Venezuela.

Conhecendo bem os seguidores que tem, Bolsonaro estimulou, com sua postagem, pedidos de fechamento da fronteira com a Argentina e até mesmo a construção de um muro.

“Ou seja, coloque o Mourão pra fechar as fronteiras do sul tchê”, respondeu um internauta, que foi acompanhado por outros seguidores do presidente. “Quanto custa um muro?”, tuitou uma usuária do Twitter. “A construção do muro é pra ontem”, escreveu outro perfil, que foi respondido por outro internauta: “Pago e me ofereço para a construção do muro”.

O sentimento anti-integração regional que o comentário do presidente estimulou ficou evidente em outros comentários. “Isso vai gerar reflexos direto no povo gaúcho, é uma questão de tempo para uma hiper inflação na Argentina e uma migração em massa para para o RS”, disse outra seguidora de Bolsonaro.

O presidente praticamente fez campanha pelo ex-presidente argentino, Mauricio Macri, que foi derrotado no último pleito presidencial por Fernández e Cristina Kirchner.

A ideia de construção de um muro na fronteira, agora apoiada por seguidores do capitão da reserva, foi um dos principais motes de campanha de Donald Trump – o ídolo de Bolsonaro -, que queria, e ainda quer, erguer uma barreira física entre os Estados Unidos e o México.

 

 

*Com informações da Forum

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América Latina luta e volta à esquerda

Para o sociólogo Emir Sader, “a América Latina não apenas volta à esquerda”, mas “luta à esquerda, desmontando o modelo neoliberal no seu eixo fundamental, o Chile”. Neste cenário, diz ele, “a evolução da situação brasileira será determinante” para a terceira década do continente no século XXI.

Nosso continente continua a ser o cenário das mais importantes lutas do mundo contemporâneo – contra o neoliberalismo e pela construção de alternativas ao modelo adotado pelo capitalismo no período histórico atual. O fôlego da retomada neoliberal se confirma como curto. Derrota espetacular de Mauricio Macri na Argentina, do tamanho da euforia que sua vitória havia despertado. Evo Morales, na Bolívia, aguenta firme, apesar da ofensiva da direita e da perda de apoios. No Uruguai, a Frente Ampla continua como a maior força política, mas vai ter parada dura no segundo turno, pela soma das direitas e também pela perda de apoios. Na Colômbia, as eleições municipais representam dura derrota para o atual presidente, Iván Duque, representante do uribismo, se fortalecem candidatos do campo popular e vinculados ao novo líder da esquerda, Gustavo Petro.

A Argentina confirma as fragilidades do neoliberalismo, que a direita não tem outra alternativa, que não aprendeu do esgotamento do seu modelo, que se enganou quanto ao sucesso dos governos antineoliberais, volta com sua política de ajustes fiscais e revela sua incapacidade não apenas de retomar o crescimento econômico e atacar o desemprego, como, em decorrência disso, de conquistar bases de apoio suficientes para ter governos com estabilidade política.

Apesar da recomposição da direita, Evo se apoio em suas bases populares, em grande medida o movimento indígena, para resistir, triunfar eleitoralmente, e ganhar um novo mandato, importante não apenas para completar a extraordinária recuperação econômica e as conquistas sociais e étnicas da Bolívia, como também para recompor suas forças políticas de apoio.

Na Colômbia também um governo neoliberal paga o preço do desgaste desse modelo, assim como da política repressiva e autoritária de Álvaro Uribe, retomada pelo presidente atual. O governo foi derrotado em todas as frentes, a começar por Bogotá e por Medellin, projetando derrota nas próximas eleições presidenciais, com favoritismo de Petro.

Mas a América Latina não apenas volta à esquerda, luta à esquerda, desmonta o modelo neoliberal no seu eixo fundamental, o Chile, e destrói a possibilidade de Lenín Moreno restabelecer o neoliberalismo no Equador. Explosões populares foram a resposta do povo às medidas de ajuste fiscal, que tiveram como reação o recuo aberto de Piñera e de Moreno, revelando como seu modelo é frontalmente antipopular e como o povo já o percebeu e não tolera a continuidade das medidas antipopulares. Esses governos se esgotaram. No Equador se desenha o retorno de governos ligados a Rafael Correa. No Chile, onde a direita tradicional liderava as pesquisas, a esquerda – especialmente a Frente Ampla – tem uma nova e grande oportunidade de voltar a polarizar contra o governo de Piñera.

A primeira década do século XXI na América Latina foi claramente de esquerda, com protagonismo dos governos antineoliberais, e dos seus líderes – Hugo Chávez, Lula, Néstor e Cristina Kirchner, Pepe Mujica, Evo Morales, Rafael Correa – como as principais lideranças de esquerda no mundo. A contraofensiva conservadora se impôs na segunda década do novo século, com as vitórias de Macri e de Jair Bolsonaro, a virada do governo de Moreno, o isolamento internacional do governo de Nicolás Maduro, no marco da eleição de Donald Trump e da vitória do Brexit. A China se reafirma como a grande potência do século XXI e os Brics como o projeto de construção de um mundo multipolar, alternativo à hegemonia imperial norteamericana em declínio.

Essa ofensiva revelou logo suas debilidades, a começar pelo próprio Trump e pelo Brexit, pela derrota do governo do Salvini na Itália, do Netanyahu em Israel, até que se consagrou aqui com a formidável vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, de Evo e as fantásticas mobilizações populares no Equador e no Chile. A terceira década promete ser a da retomada da esquerda e do recuo da direita na América Latina.

Com todos os avanços existentes, os governos progressistas em dois dos três países mais importantes do continente – México e Argentina –, com a continuidade do governo de Evo na Bolívia, o decisivo, uma vez mais, recai sobre o Brasil. Duas tendências marcaram a política do país ao longo deste ano: a tendência a um enfraquecimento acelerado do governo de Bolsonaro e ao fracasso da sua forma de fazer política – uma caricatura de Trump. E o fortalecimento da imagem de Lula, não apenas com a reabertura de possibilidades de recuperação da sua liberdade, como da força política que sua liderança recuperou sobre o cenário político brasileiro, com reconhecimento até mesmo de setores tradicionais que sua presença se torna indispensável para a recuperação política do Brasil. Antes de tudo, uma reação de massas às tantas medidas antipopulares do governo atual, assim como a reconstrução do modelo de crescimento econômico com distribuição de renda, precedido de um projeto de reconstrução nacional, diante das políticas de destruição do país dos governos Temer e Bolsonaro.

A liderança de Lula é indispensável nesse processo, mas ela tem que contar com um movimento de massas muito mais ativo e radical nas suas reações às políticas do governo, assim como uma esquerda com espírito unitário e combativo na luta pela reconstrução de uma força que polarize diretamente contra o governo, deixando as contradições internas à direita como fenômeno secundário.

A evolução da situação brasileira será assim determinante para a terceira década da América Latina no século XXI. O país precisa recuperar seu governo popular, para recompor, junto com México e Argentina como líderes, o processo de integração regional e como baluartes mundiais na luta fundamental do nosso tempo – a da derrota e de superação do neoliberalismo.

 

*Emir Sader/247

 

 

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A derrota de Macri é a derrota do Bolsonaro

Depois de sua inútil viagem gastando monumentais recursos públicos sem trazer resultado positivo nenhum de integração com o Japão, China e países árabes, Bolsonaro ainda tem que engolir o resultado das urnas na Argentina, que condena o neoliberalismo de Paulo Guedes, assim como o povo chileno impõe uma derrota a um sistema que faz com que os ricos fiquem mais ricos e pobres mais pobres.

Isso seria fatal. O neoliberalismo é a semente da degeneração no mundo e o resultado na Argentina é somente o reflexo disso.

A vitória de Alberto Fernandez atinge diretamente um governo em crise permanente como o de Bolsonaro, até porque tanto a Argentina quanto o Chile foram explorados como referência pela grande mídia nativa. Com a derrota de Macri na Argentina e a insurreição popular no Chile contra o governo neoliberal de Sebastián Piñera, campanhas e movimentos neoliberais na América Latina perdem muito de sua consistência e espaço, o que consequentemente refletirá na chegada de uma onda que abarcará o Brasil.

Assim, acelera ainda mais a putrefação de um governo fascista que dependeu do adormecimento da classe média ludibriada pelo neoliberalismo e o ódio aos pobres que, se não percebeu ainda a precariedade que isso está causando ao país, também não verá a propaganda dos Chicago Boys derrotados na América Latina que passaram a ser símbolos do bolsonarismo.

Mas estes não são os únicos fatos que despertam a possibilidade de uma outra consciência oposta à pretendida pelos neoliberais, a de que somente um sistema solidário cultivado dentro da sociedade brasileira em que vivem todos os brasileiros, não apenas alguns privilegiados, é que tem futuro.

Cada um de nós, que repudia o que se assiste hoje no Brasil de Bolsonaro, tem que comemorar junto com o povo argentino a vitória da solidariedade contra o egoísmo.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas