O New York Times, porta-voz de interesses imperialistas, escreveu nesta terça-feira (4) que a guinada da América Latina à esquerda deve “minar” a influência regional dos Estados Unidos, favorecendo o seu maior rival geopolítico, a China.
As vitórias de Gabriel Boric (Chile) e Xiomara Castro (Honduras), e o favoritismo de Gustavo Petro (Colômbia) e de Lula (Brasil), que recebeu amplo destaque na matéria, devem ainda prejudicar o isolamento promovido pelos EUA sobre regimes considerados “autoritários”, como Venezuela, Nicarágua e Cuba.
A publicação cita exclusivamente analistas de universidades estrangeiras: “Os ganhos da esquerda podem impulsionar a China e minar os Estados Unidos enquanto competem por influência regional, dizem os analistas, com uma nova safra de líderes latino-americanos que estão desesperados por desenvolvimento econômico e mais abertos à estratégia global de Pequim de oferecer empréstimos e investimentos em infraestrutura. A mudança também pode tornar mais difícil para os Estados Unidos continuar a isolar regimes autoritários de esquerda na Venezuela, Nicarágua e Cuba”.
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O Brasil é um dos três países que mais precisam de moderação de conteúdo do Facebook, ao lado de Índia e Estados Unidos, segundo demonstram documentos vazados por funcionários da empresa e pela ex-gerente e delatora Frances Haugen. O caso está sendo chamado de “Facebook Papers” (Documentos do Facebook, em tradução direta).
De acordo com os arquivos internos da empresa, desde o final de 2019, a plataforma mantém um ranking de nações que demandam atenção especial, principalmente em períodos delicados, como eleições, manifestações e instabilidade social. Brasil, EUA e Índia estão no topo, o “nível 0” (tier 0), de prioridade máxima.
Eles são os que recebem mais recursos e um trabalho proativo de moderação, incluindo equipes especializadas dedicadas 24 horas por dia, com auxílio de inteligência artificial. O Facebook estabeleceu verdadeiras “salas de guerra”, oficialmente chamadas de “centros de operações aprimoradas”, para monitorar a plataforma nestes três países constantemente.
De acordo com as investigações:
No “nível 1” (tier 1), estão Indonésia, Israel, Irã, Itália e Alemanha. Eles recebem menos recursos, com atenção especial apenas na época de eleições.
No “nível 2” (tier 2), há outros 22 países, sem “salas de guerra”.
No “nível 3” (tier 3), está o resto do mundo que o Facebook funciona. Na categoria, existe mínima intervenção e a avaliação de conteúdo é quase inexistente: uma postagem indevida só é retirada do ar caso seja localizada manualmente por um moderador.
Apenas no caso de crises e eventos extraordinários, como golpes de Estado e violações aos direitos humanos, um desses países ou regiões do grupo três pode receber esforços mais ativos, temporariamente.
Ou seja, apenas as 30 nações com mais usuários e acessos à rede social contam de fato com revisão das postagens. De acordo com os documentos internos, o ranking —criado meses antes das últimas eleições presidenciais norte-americanas, em 2020— foi uma maneira de distribuir melhor o uso dos recursos de moderação pelo mundo.
Consequências da desigualdade
Com cerca de 3 bilhões de usuários, a empresa preferiu fazer escolhas e priorizar os locais em que é mais popular do que dividir os recursos igualmente. Essa desigualdade de moderação tem sido alvo de críticas nos últimos anos.
Países como Mianmar, Paquistão e Etiópia, apesar de constantemente atravessarem conflitos sectários, políticos e sociais, não contam com classificadores de conteúdo, o que contribui para o aumento da disseminação de violência e ódio na rede social.
Em Mianmar a situação é ainda pior, pois o Facebook é a principal maneira de navegação na Internet, devido aos constantes blecautes e à censura imposta pelo governo.
Uma das grandes barreiras é o idioma: a empresa não tem especialistas, como tradutores e moderadores, suficientes que falem a língua de boa parte dos países de nível 2 e 3. Só assim seria possível detectar discursos de ódio e fake news, além de treinar a inteligência artificial para fazer o mesmo.
“Temos equipes dedicadas que trabalham para impedir o abuso em nossa plataforma em países onde há alto risco de conflito e violência. Também temos equipes globais com falantes nativos que revisam o conteúdo em mais de 70 idiomas, juntamente com especialistas em questões humanitárias e de direitos humanos”, garantiu um porta-voz do Facebook ao site Insider.
“Fizemos progresso no enfrentamento de grandes desafios, como a evolução de termos de discurso de ódio, e construímos novas maneiras de responder rapidamente aos problemas quando eles surgirem. Sabemos que esses desafios são reais e estamos orgulhosos do trabalho que fizemos até agora.”
*Com informações do Uol
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Expectativa de elevação de juros ganha força com pressão inflacionária.
A Bolsa de Valores brasileira caiu 3,05%, a 110.123 pontos, e o dólar subiu 0,87%, a R$ 5,4260 nesta terça-feira (28), em um dia marcado por fortes baixas nos mercados de ações do exterior devido à expectativa de inflação e consequente elevação de juros nos Estados Unidos.
Em Wall Street, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq fecharam com quedas de 1,63%, 2,04% e 2,83%, respectivamente.
A tempestade nas bolsas está relacionada à busca dos investidores por ganhos com títulos do Tesouro dos Estados Unidos devido à expectativa de confirmação de que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) elevará os juros básicos e reduzirá suas compras de ativos realizadas para estimular a economia no período mais grave da pandemia.
Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos atingiram o maior valor em meses e estão atraindo investidores que passaram a abandonar o mercado de ações, principalmente quanto aos papéis de empresas de tecnologia que compõem o Nasdaq, segundo o Wall Street Journal.
A inflação é uma preocupação mundial devido a um cenário de elevação do preço das commodities.
O petróleo está no centro do problema. O barril do Brent, referência para o setor petrolífero, atingiu US$ 80,75 (R$ 437,71) na abertura do mercado, o maior valor desde 16 de outubro de 2018, segundo dados da Bloomberg. Ao final do dia, a commodity recuou 1,19%, a US$ 78,58 (R$ 425,95), após cinco altas consecutivas.
A elevação da commodity é um dos fatores de inflação global e, no caso específico dos Estados Unidos, a alta no custo de vida pode confirmar a elevação dos juros básicos a partir de 2022. Um dos reflexos disso para o Brasil é a valorização do dólar frente ao real, com reflexos na inflação e nos juros brasileiros.
“Estamos vendo esse aumento da expectativa de juros por lá muito por conta de um dólar se fortalecendo frente a moedas emergentes e pela alta das commodities”, diz Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora.
“Esses dois fatores combinados refletem na subida da inflação e, com isso, pode ser que o Fed tenha que subir os juros da taxa básica para contê-la”, analisa.
No Brasil, que tem na Petrobras uma das mais importantes empresas do seu mercado de ações, a alta tem efeito ambíguo.
À primeira vista, a elevação da commodity beneficia o mercado acionário brasileiro porque impulsiona as ações da Petrobras. Mas a alta também pressiona os preços dos combustíveis, com reflexos na inflação e na pressão política para que o governo interfira nos preços praticados pela estatal.
Nesta terça (28), a Petrobras anunciou aumento de 8,9% no preço do diesel em suas refinarias, após 85 dias sem reajuste. O anúncio ocorre um dia depois de mais uma sequência de ruídos entre o governo e a estatal em relação aos preços dos combustíveis.
Nesta segunda-feira (27), a as ações da Petrobras, que tinham iniciado o dia subindo quase 2% impulsionadas pela alta do petróleo, passaram a devolver os ganhos após o presidente Jair Bolsonaro afirmar ter se reunido com o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) para discutir formas de “diminuir o preço” de combustíveis “na ponta da linha”.
*Com informações da Folha
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O blogueiro de extrema-direita Allan dos Santos pode ser alvo de um pedido de extradição aos Estados Unidos, onde está foragido, se for pedida a sua prisão por ameaça e incitação ao crime contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso.
O bolsonarista foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por causa de um VÍDEO em que xingou e ameaçou o magistrado.
“Tira o digital, se você tem culhão”, disse.
“Tira a porra do digital, e cresce! Dá nome aos bois! De uma vez por todas Barroso, vira homem! Tira a porra do digital! E bota só terrorista! Pra você ver o que a gente faz com você. Tá na hora de falar grosso nessa porra!”.
A prisão não foi pedida, mas a se levar em consideração o que aconteceu com Roberto Jefferson, preso na semana passada por suspeita de participação em organização criminosa digital para atacar a Corte e outras instituições, é melhor o blogueiro ir fazendo as malas para retornar ao Brasil.
*Com informações do DCM
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Enquanto ameaça os brasileiros com golpe para fazer o ódio tóxico fluir livremente no país, com seu consentimento, Bolsonaro segue matando mais de mil brasileiros por dia.
Somente ontem, mais de 1200 brasileiros morreram de covid com seu ministério da Saúde corrupto, como escancara a CPI.
O Rio de Janeiro teve a maior taxa de transmissão do coronavírus desde o começo da pandemia, porque simplesmente não há mais vacina, porque o ministério da Saúde do genocida Bolsonaro interrompeu o fornecimento da vacina para o estado.
Enquanto diz que o voto impresso nos EUA produziu fraude eleitoral e tirou Trump do poder, Bolsonaro muda o discurso para sua horda de dementes fascistas e diz que não aceita a urna eletrônica que elegeu essa família de bandidos durante anos e que o voto impresso é que deixaria as eleições no Brasil mais seguras.
A pandemia no Brasil segue descontrolada e Bolsonaro faz de conta que país não vive esse caos sanitário.
A inflação dos alimentos já pode ser considerada uma hiperinflação, o que, consequentemente, força o aumento da taxa de juros, enquanto o endividamento das famílias bate recorde.
No setor público, não é diferente, o colapso avança com um endividamento inédito. O chão de Bolsonaro está cada dia mais mole e, com a economia se esfarelando, a tendência é aumentar o número de desempregados, de miseráveis e de pessoas que têm as ruas como moradia.
E o que quer Bolsonaro? Derrubar a eleição com um golpe e se declarar vencedor de um pleito que não existirá. Esse é o plano real e está cada vez mais claro na cabeça de um psicopata que sabe que, tendo a eleição, seja ela através de urna eletrônica ou de papel, ele perde e, perdendo o poder, perde o controle das instituições e vai direto para a cadeia junto com seus filhos. Por isso ele quer incendiar o país.
Mesmo críticos da atuação de ministros do STF, militares dizem acreditar que ofensiva do Judiciário pode frear Bolsonaro.
Mesmo sendo críticos da atuação de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), integrantes do Alto-Comando do Exército manifestaram, em conversas reservadas, concordância com o gesto do presidente da corte, Luiz Fux, de interromper o diálogo com o presidente Jair Bolsonaro.
Pela primeira vez, Fux fez um discurso objetivo, em sessão do STF, em que condena textualmente a ofensiva golpista de Bolsonaro e os ataques desferidos pelo presidente contra o tribunal e contra o sistema eleitoral brasileiro.
O ministro afirmou que o chefe do Executivo não cumpre a própria palavra. Fux, então, cancelou reunião marcada com chefes dos Poderes para apaziguar ânimos.
A reação, adotada nesta quinta-feira (5), se soma a outros gestos concretos do Judiciário brasileiro diante da ameaça de golpismo de Bolsonaro.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido pelo ministro Luís Roberto Barroso, abriu um procedimento para investigar os ataques de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas.
O ministro Alexandre de Moraes atendeu pedido do TSE e incluiu o presidente em inquérito no Supremo que investiga um suposto esquema criminoso de fake news, em razão dos ataques às urnas.
Os dois ministros são atacados pelo presidente da República. A estratégia de Bolsonaro se concentra em Barroso, que preside o TSE.
A relação entre os Poderes não passa pelas Forças Armadas. Mas o próprio presidente envolveu Exército, Aeronáutica e Marinha na crise, de forma direta, ao insinuar golpe e falar, recorrentemente, em “meu Exército”.
A empreitada de Bolsonaro tem respaldo do ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Netto.
As Forças estão vinculadas à pasta comandada pelo general, que defende voto impresso —mesmo sem existir qualquer relação do assunto com o ministério que comanda— e que ameaçou a CPI da Covid no Senado, por meio de uma nota subscrita pelos comandantes das três Forças.
Generais que integram o Alto-Comando do Exército têm uma visão crítica em relação à atuação de ministros do STF. Eles entendem que o tribunal avança nas esferas de atuação de Executivo e Legislativo.
Um caso sempre citado é a decisão de Moraes de barrar, em abril de 2020, a nomeação do delegado Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro, para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Ramagem é diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
A escalada da crise, porém, e o temor do que pode ocorrer em 2022, ano de eleição presidencial, explicam uma aceitação entre integrantes do Alto-Comando dos gestos concretos do Judiciário contra o presidente da República.
Em conversas reservadas, generais afirmam que a reação de Fux faz sentido, diante do reiterado comportamento de Bolsonaro, que deixa claro que não quer conversa, na visão desses militares.
O procedimento aberto pelo TSE, a inclusão do presidente como investigado no inquérito das fake news e o cancelamento da reunião entre chefes de Poderes —precedido de um discurso do presidente do STF em que diz que o presidente da República não tem palavra— podem fazer Bolsonaro “baixar a bola”, conforme disseram integrantes do Alto-Comando do Exército.
Eles entendem, porém, que o efeito deve durar pouco. A crise deve se prolongar, com novos arroubos autoritários do presidente, que não segue a liturgia mínima do cargo que ocupa, na visão de generais da cúpula do Exército.
Esses mesmos generais afirmam inexistir a possibilidade de um golpe capitaneado por Bolsonaro e de uma consequente ruptura do processo democrático. Segundo eles, o simples exercício de imaginar o dia seguinte a um golpe mostraria a inviabilidade de uma iniciativa nesse sentido.
No Alto-Comando, existe um temor real de que se repitam no Brasil as cenas vistas nos Estados Unidos após a derrota do republicano Donald Trump, ídolo de Bolsonaro, para o democrata Joe Biden.
Em 6 de janeiro, dia da sessão que confirmou a vitória de Biden, Trump insuflou apoiadores a invadirem o Congresso americano. A invasão chegou a interromper a sessão. Cinco pessoas morreram no ataque ao Capitólio.
Trump estimulou apoiadores radicais com o discurso de fraude nas eleições. É a mesma cartilha seguida por Bolsonaro, um ano e dois meses antes das eleições de 2022.
Nos EUA, as Forças Armadas não embarcaram na aventura golpista. No Brasil, o ministro da Defesa tem se mostrado alinhado à postura do presidente.
Integrantes do Alto-Comando do Exército dizem não enxergar risco de ruptura com suporte das Forças Armadas. Para esses generais, o risco está na atuação de policiais nos estados, em um cenário de eventual derrota de Bolsonaro nas urnas.
O presidente faz reiterados acenos a forças de segurança locais, e uma parcela expressiva de policiais civis e militares é bolsonarista.
O jornalista norte-americano Brian Mier falou à TV 247 sobre a declaração do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, acerca da preocupação de seu país com a corrupção no Brasil, e não com a democracia. Segundo o jornalista, os EUA já preparam um novo golpe contra o Brasil.
“Ele foi honesto. Os Estados Unidos não se preocupam com democracia, se preocupam com petróleo. Esse foi exatamente o motivo principal para o golpe de 2016, para privatizar o pré-sal”, disse Brian Mier sobre a fala de Chapman.
Para ele, é preciso ficar atento para uma nova investida norte-americana contra o Brasil, principalmente com o objetivo de impedir a volta do ex-presidente Lula ao poder. O jornalista recomendou que se arme uma defesa contra o que está por vir. “Se prepara para mais um golpe no ano que vem, se prepara para um bombardeamento nas mídias sociais contra o PT e contra o Lula, porque essa é a nova ferramenta da guerra do espectro total, originado dos Estados Unidos”.
“A gente precisa pensar em como vamos nos defender de um ataque dessa natureza. Está sendo tudo montado. A gente não pode pensar que só porque Lula está liderando em todas as pesquisas ele vai ser eleito presidente. Tem outra tentativa de golpe eleitoral sendo montada com ajuda dos Estados Unidos, com a CIA, provavelmente, que estava lá visitando o Bolsonaro, e eu fico um pouco preocupado”, completou.
Biden pede que Cuba ‘ouça seu povo’; Rússia alerta contra ‘interferência’.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse hoje que o país está ao lado do povo de Cuba em seus apelos por liberdade e alívio da pandemia de coronavírus e de décadas de repressão, um dia após as maiores manifestações contra o governo na ilha comunista em décadas. Já a Rússia, uma das principais defensoras das autoridades cubanas desde os tempos soviéticos, alertou hoje contra qualquer “interferência externa” na crise.
Rússia e México reagem
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, reagiu a fala de Biden. “Consideramos inaceitável qualquer ingerência externa nos assuntos internos de um Estado soberano e qualquer ação destrutiva que favoreça a desestabilização da situação na ilha.”
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, rejeitou a política “intervencionista” da situação em Cuba e se ofereceu para enviar ajuda humanitária.
O México poderia “ajudar com remédios, vacinas (contra a covid-19), com o que for necessário e com alimentação, porque saúde e alimentação são direitos humanos fundamentais”, disse o presidente esquerdista em sua conferência matinal.
Ainda hoje, pouco antes de Biden emitir seu comunicado, Díaz-Canel culpou as sanções norte-americanas, que foram endurecidas nos últimos anos, por problemas econômicos como a escassez de remédios e blecautes que atiçaram os protestos.
Em discurso transmitido por rádio e televisão, o líder comunista, rodeado por diversos de seus ministros, garantiu que seu governo está tentando “enfrentar e superar” as dificuldades face às sanções americanas, reforçadas desde o mandato do presidente americano Donald Trump.
“O que procuram? Provocar agitação social, causar mal-entendidos” entre os cubanos, mas também “a famosa mudança de regime”, denunciou o presidente cubano. Os responsáveis pelas manifestações “tiveram a resposta que mereciam e continuarão a ter, como na Venezuela”, grande aliada de Cuba, acrescentou.
Aonde tem protestos com apoio dos EUA, não custa ligar o sinal de alerta.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou o envio do aparelho telefônico do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles aos Estados Unidos para uma perícia que vai subsidiar investigações da Polícia Federal. A decisão foi tomada no último dia 16 porque o ministro entregou o aparelho bloqueado para a PF.
Ainda em maio o ministro autorizou um mandado de busca e apreensão contra Salles. A denúncia era de que o ex-chefe do Meio Ambiente facilitava exportação ilegal de madeira para os EUA e Europa. Na operação, batizada de Akuanduba, Salles afirmou que estava sem o aparelho. A entrega do celular só ocorreu 19 dias depois, mas com o celular bloqueado.
Na decisão, o ministro determinou que a análise dos dados, depois do desbloqueio, deve ser feita pelas autoridades brasileiras. Moraes descreve ser “imprescindível” o desbloqueio do aparelho nas investigações.
Outro caso protagonizado pelo ex-ministro vem sob a relatoria da ministra Cármen Lúcia. Em 31 de maio, foi solicitado pela Procuradoria Geral da República (PGR) a instalação de um inquérito pelo Supremo para apurar crimes administrativos na pasta.
Ricardo Salles pediu demissão nesta quarta (23), sob investigação da PF por tentativa de obstrução de investigações contra crimes ambientais.
A deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) enviou ao STF um ofício sugerindo a apreensão do passaporte de Salles para evitar possível fuga aos EUA.
‘É prática comum deste governo de criminosos a fuga para o exterior para tentar escapar dos crimes que cometeram no Brasil. Não podemos permitir que Salles saia do país sem ser responsabilizado. Salles já deixa o governo tarde’, disse a deputada.
Gustavo Veiga, Página 12 – A lupa chegou tarde demais às implicações danosas para o Brasil no Lava Jato e ao papel desempenhado pelo Departamento de Estado dos EUA. Proscrito e preso Lula, e Dilma Rousseff afastada, o ovo da serpente chocou o que já se sabe. A ascensão ao Planalto de um ex-militar que reivindica a ditadura, tortura e cujo governo negacionista multiplicou as consequências da trágica pandemia.
Agora, um grupo de 23 parlamentares democratas aguarda a resposta do procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, para saber como a principal potência mundial se intrometeu na questão interna brasileira. O que parecia impossível com Donald Trump, aconteceu com Joe Biden. Mas isso não significa que os interesses e a estratégia da Casa Branca para o país presidido por Jair Bolsonaro tenham mudado.
Talvez mais detalhes secretos da interferência de Washington na mega causa da corrupção que explodiu em 2014 possam ser aprendidos.Alguns dados foram divulgados há muito tempo. Eles fazem parte da lei (lei e guerra, coisas pelo nome) que acabou com a hegemonia do PT em outubro de 2018 e permitiu que a ultradireita subisse ao poder.
O pedido de explicações ao procurador-geral Garland de representantes do Partido Democrata é um derivado da carta que 77 legisladores brasileiros enviaram aos seus homólogos norte-americanos em 2020. O The Nation, veículo progressista dos EUA, divulgou o pedido de colaboração entre parlamentares. Citando o grupo de 23 democratas, que inclui Alexandria Ocasio-Cortez de Nova York, Susan Wild da Pensilvânia, Ilhan Omar de Minnesota, Rashida Tlaib de Michigan, Raul Grijalva do Arizona e Jesús ‘Chuy’ García de Illinois, entre outros – observou que eles estão preocupados que “os recursos que deveriam ter sido destinados à grande legislação dos EUA dedicada ao combate à corrupção tenham sido mal utilizados”.
A carta para Garland foi assinada – além de representantes no Congresso – organizações trabalhistas dos Estados Unidos, como United Auto Workers, United Food and Commercial Workers e Retail, Wholesale and Department Store Union. Um sindicato automotivo, um sindicato alimentar e um sindicato de trabalhadores de grandes empresas como a Amazon. Todos exigiram na semana passada que as informações relativas à Secretaria de Estado e sua intervenção na Lava Jato sejam divulgadas.
Lawfare
As irregularidades do processo conduzido pelo ex-juiz e ex-ministro do atual governo, Sergio Moro, continuam sendo veiculadas. Embora ainda sem consequências importantes como as esperadas pela sociedade brasileira devido aos efeitos devastadores que a lei teve sobre sua democracia. A BBC News Brasil entrevistou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mendes, que apontou: se mais crimes cometidos pelo Judiciário na Lava Jato forem comprovados, mais sentenças cairiam, como a que prendeu e baniu o ex-presidente Lula.
Alguns fatos já são conhecidos e tiveram os Estados Unidos como protagonistas. Trabalho publicado na página do CELAG (Centro Geopolítico Estratégico da América Latina) pela cientista política argentina Silvina Romano em 28 de maio de 2017 aponta que “a judicialização da política tem objetivos materiais claros. Sem precisar examinar muito, percebe-se que a ‘árvore’ da corrupção parece estar cobrindo uma floresta: o desmantelamento da estrutura econômica brasileira”.
O objetivo assim traçado era muito mais do que investigar práticas de corrupção na multinacional brasileira Odebrecht. O texto do também pesquisador do CONICET é prolífico em antecedentes da guerra judiciária sofrida pelas principais lideranças do PT. Ele explica ainda que “parece claro que uma das motivações para a espionagem foi a Petrobras e o papel do Brasil no mercado mundial de hidrocarbonetos”.
A ex-presidente Dilma Rousseff foi espionada pela NSA (entidade subordinada à CIA) e, em 2013, seu ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, descreveu o incidente como “gravíssimo” e uma “clara violação da soberania brasileira”.
Um dos agentes do FBI que trabalhou lado a lado com a Polícia Federal brasileira e operadores judiciais naquele país a serviço do Departamento de Justiça dos Estados Unidos é Leslie Backschies. Citada pela Associated Press em março de 2019, ela disse sem corar: “Vimos presidentes destituídos no Brasil”. E também observou “muita atividade na América do Sul. Odebrecht, Petrobras… América do Sul é uma região onde vimos corrupção. Temos trabalhado muito lá”. Nada de novo, exceto o interesse unidirecional dos Estados Unidos na corrupção de governos que não seguem como um rebanho sua política hemisférica.
Durante a Lava Jato – para a qual foi designada em 2014 – a integrante do FBI conheceu a chamada República de Curitiba. Ela viajou para a capital catarinense com frequência semelhante à que Moro viajou para os Estados Unidos. Já em julho de 1998 e com apenas 25 anos, o ex-ministro estrela de Bolsonaro participava do Programa de Instrução para Advogados na Escola de Direito de Harvard. Desde então, ele nunca mais interrompeu suas viagens aos Estados Unidos. Em julho de 2016 e com a Lava Jato caçando corruptos, ele deu uma conferência em Washington sobre a importância da mídia no apoio às investigações criminais.
O resultado de Moro no gabinete do atual presidente brasileiro é conhecido. Por seus bons ofícios, Backschies foi premiada com um destino na cidade do sol, Miami. Desde 2019, ele chefia a Unidade Internacional de Corrupção (UCI) do FBI, que ficou famosa por Edgar Hoover, o chefe misógino e racista que o liderou por quase 40 anos.
A política contínua de interferência dos Estados Unidos na América Latina para fins comerciais tem um marco na Lei de Práticas de Corrupção no Exterior (FCPA) de 1977. É a ferramenta mais útil do Departamento de Justiça para sancionar outros estados quando os crimes econômicos são cometidos fora da jurisdição dos Estados Unidos É um dos precursores – depois outros foram acrescentados – na instalação do conceito de extraterritorialidade, tão exposto nas políticas de Washington em relação a Cuba e à Venezuela. Desde março de 2015, o FBI estendeu sua influência nas investigações de casos de corrupção além de suas fronteiras. A do Brasil foi uma paradigmática que hoje recupera o interesse pelo Capitólio. O pedido de esclarecimentos ao procurador-geral dos Estados Unidos chega tarde, mas pode seguir assombrando a Lava Jato.