“Team Jorge” usou desinformação para influenciar pleitos em vários países, principalmente na África, e conseguiu resultado esperado em 27 campanhas.
Tal Hanan é o homem por trás da Team Jorge, empresa clandestina israelense que foi usada para influenciar dezenas de eleições em todo o mundo, principalmente na África, mas também em outros países como México e Espanha. As informações foram reveladas na quarta-feira por um grupo de jornalistas investigativos que acompanharam os serviços da agência por meses, disfarçados de potenciais clientes. A reportagem é de O Globo.
O ex-agente das forças especiais de Israel — que atuou por décadas usando o pseudônimo “Jorge” — tem cerca de 50 anos. Em seu perfil profissional do Linkedin, Hanan afirma atuar com Inteligência Financeira e Segurança Patrimonial e diz ser CEO da empresa Demoman International, que oferece serviços de segurança e inteligência, por mais de duas décadas. A empresa tem escritórios em países como Israel, EUA, Suíça, Espanha, México, Colômbia e Ucrânia, dentre outros.
Antes, de 1990 a 1996, Hanan trabalhou nas Forças de Defesa de Israel (IDF), como oficial de descarte de material explosivos. Ainda segundo seu perfil, ele estudou na Universidade Hebraica de Jerusalém de 1997 a 2000, onde se formou em Relações Internacionais. “Sou um estudante da vida. Todo dia aprendo pelo menos uma coisa, ou tento fazer isso”, escreveu.
Os repórteres infiltrados visitaram a sede onde a empresa funciona e foram recebidos por Hanan. Achando que eram dois possíveis clientes, ele brincou: “Você viu o que está escrito na porta, certo? Não diz nada. Isso é quem nós somos. Não somos nada.” Após a reportagem, quando questionado pelo jornal britânico Guardian, Hanan não respondeu a questões detalhadas sobre as atividades e métodos da Team Jorge, mas negou qualquer irregularidade.
Aos jornalistas, o próprio Hanan afirmou que os seus serviços — descritos como “black ops” — estavam disponíveis para agências de informação, campanhas políticas e empresas privadas que quisessem manipular secretamente a opinião pública. O líder revelou ainda que o grupo atuou em África, América do Sul e Central, Estados Unidos e Europa. Do total, ele obteve os resultados esperados em 27 campanhas.
Jorge recebeu os repórteres disfarçados de consultores no final de dezembro, elegantemente vestido com um relógio caro. Era a primeira vez que eles viam o homem com quem vinham se comunicando por videochamadas — ele manteve a câmera desligada em todas as ligações. Foram mais seis horas de reuniões gravadas secretamente.
O consórcio de jornalistas que investigou o Team Jorge inclui repórteres de 30 veículos, incluindo os jornais francês Le Monde; o alemão Der Spiegel e o espanhol El País. O projeto, que parte de uma investigação mais ampla sobre a indústria da desinformação, foi coordenado pela Forbidden Stories, uma organização sem fins lucrativos francesa cuja missão é seguir o trabalho de repórteres assassinados, ameaçados ou presos.
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Reuters – Israel parece estar por trás de um ataque de drone durante a noite contra uma fábrica militar no Irã, disse uma autoridade dos Estados Unidos neste domingo.
O Irã alegou ter interceptado drones que atingiram um alvo da indústria militar perto da cidade central de Isfahan e disse que não houve vítimas ou danos graves.
A extensão dos danos não pôde ser determinada de forma independente. A mídia estatal iraniana divulgou imagens mostrando um flash no céu e veículos de emergência no local.
Um porta-voz do exército israelense se recusou a comentar. O arqui-inimigo Israel disse há muito tempo que está disposto a atacar alvos iranianos se a diplomacia falhar em conter os programas nuclear ou de mísseis de Teerã, mas tem uma política de não comentar sobre incidentes específicos.
O porta-voz do Pentágono, brigadeiro-general Patrick Ryder, disse que nenhuma força militar dos EUA esteve envolvida em ataques no Irã, mas se recusou a fazer mais comentários.
Uma autoridade dos EUA, falando sob condição de anonimato, disse à Reuters que parece que Israel estava envolvido no ataque. Vários outros funcionários dos EUA se recusaram a comentar, além de dizerem que Washington não desempenhou nenhum papel no episódio.
Teerã não atribuiu formalmente a culpa pelo que o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amirabdollahian, chamou de ataque “covarde” com o objetivo de criar “insegurança” no Irã. Mas a TV estatal transmitiu comentários de um legislador, Hossein Mirzaie, dizendo que havia “forte especulação” de que Israel estava por trás do ataque.
O ataque ocorreu em meio à tensão entre o Irã e o Ocidente sobre a atividade nuclear de Teerã e seu fornecimento de armas – incluindo “drones suicidas” de longo alcance – para a guerra da Rússia contra a Ucrânia, bem como meses de manifestações antigovernamentais em casa.
A extensão dos danos não pôde ser confirmada de forma independente. O Ministério da Defesa do Irã disse que a explosão causou apenas danos menores e nenhuma vítima.
“Tais ações não afetarão a determinação de nossos especialistas em progredir em nosso trabalho nuclear pacífico”, disse Amirabdollahian a repórteres em comentários televisionados.
Um ataque israelense ao Irã seria o primeiro sob o comando do primeiro-ministro de extrema direita, Benjamin Netanyahu, desde que ele voltou ao cargo no mês passado.
Na Ucrânia, que acusa o Irã de fornecer centenas de drones à Rússia para atacar alvos civis em cidades ucranianas distantes do front, um assessor sênior do presidente Volodymyr Zelenskiy vinculou o incidente diretamente à guerra no país.
“Noite explosiva no Irã”, escreveu Mykhailo Podolyak no Twitter. “Eu avisei vocês.”
O Irã reconheceu o envio de drones para a Rússia, mas diz que eles foram enviados antes da invasão de Moscou à Ucrânia no ano passado. Moscou nega que suas forças usem drones iranianos na Ucrânia, embora muitos tenham sido abatidos e recuperados lá.
O Irã acusou Israel no passado de planejar ataques usando agentes dentro do território iraniano. Em julho, Teerã disse ter prendido uma equipe de sabotagem formada por militantes curdos que trabalhavam para Israel e que planejavam explodir um centro “sensível” da indústria militar em Isfahan.
Várias instalações nucleares iranianas estão localizadas na província de Isfahan, incluindo Natanz, peça central do programa de enriquecimento de urânio do Irã, que acusa Israel de sabotar em 2021. Houve uma série de explosões e incêndios em torno de instalações militares, nucleares e industriais iranianas nos últimos anos.
As negociações entre o Irã e as potências mundiais para retomar o acordo nuclear de 2015 estão paralisadas desde setembro. Sob o pacto, abandonado por Washington durante o governo de Donald Trump em 2018, Teerã concordou em limitar o trabalho nuclear em troca da flexibilização das sanções econômicas impostas contra o país.
Os governantes clericais do Irã também enfrentam turbulências internas nos últimos meses, com uma repressão a manifestações generalizadas estimuladas pela morte sob custódia de uma mulher detida por supostamente violar o estrito código de vestimenta islâmico.
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Esta imagem não mostra uma garota ucraniana enfrentando um soldado russo, na realidade, esse vídeo foi postado pela primeira vez online em novembro de 2012.
Trata-se de uma gravação de seis minutos do encontro entre soldados israelenses e Ahed Tamimi, então com 12 anos, pode ser assistida abaixo.
Isso não está ocorrendo com uma única imagem ou um único vídeo. Diversas imagens circulam sem relação com o atual conflito na Ucrânia, mostram agências de checagem.
As cenas são compartilhadas fora de contexto, mas na maioria das vezes elas mostram soldados israelenses atacando ou sendo confrontados por jovens palestinos, como se fossem soldados russos e civis ucranianos.
O irônico e trágico é que, num exemplo de hipocrisia cínica, Israel é quem mais critica a invasão russa na Ucrânia.
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O Primeiro-ministro de Israel, que está massacrando crianças palestinas nesse momento, pede cessar-fogo imediato na Ucrânia e diz que enviou medicamentos ao país.
Chamando o planeta de gaiola de idiotas, o impoluto chefe supremo dos sionistas que balearam ontem um jornalista palestino, como se vê nos vídeos, nem cora para exercitar o que Israel sabe fazer de melhor, mentir, dissimular e aquele monte de bobagem falida que não engana mais ninguém no mundo.
Confira:
O jornalista palestino Abdulmhsin Shalalda sendo levado para o hospital após ser deliberadamente atingido pelas forças armadas israelenses pic.twitter.com/9qFaxD5lOF
— Observatório Internacional (@observint) March 1, 2022
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Há muito chamamos a atenção aqui para o fato de que Bolsonaro tem por costume agir como os velhos punguistas, batedores de carteira que gritam, pega ladrão!
Esse golpe tem uma limitação intelectual imensa, mas também pode ter uma grande eficiência. Bolsonaro passou a vida, como deputado, utilizando essa prática punguista, daí suas sucessivas reeleições e, de lambuja, ainda enfiou três filhos na política para sugarem gostosamente as tetas do Estado e se autointitulam de nova política.
E aqui nem entraremos na questão que envolve as chamadas rachadinhas que, na verdade, não passam de formação de quadrilha e peculato. O ponto aqui é a gritaria antecipada de Bolsonaro de uma possível fraude eletrônica nas eleições.
E Janio de Freitas com muita precisão, desenha com todas as cores, o que está por trás do jogo do clã Bolsonaro, tendo Carlos como ponta de lança.
O artigo de Janio na Folha é fundamental, diria mais, decisivo, pois joga luz na tentativa de trapaça de Bolsonaro usando como arma aquilo que ele acusa os outros, como é tática de um punguista:
“Justificada suspeita reforçou a preocupação, retornada em crescendo duas semanas antes, com o golpismo anti-eleitoral. Nas formalidades, quem viajou à Rússia e à Hungria levava o título de presidente; na verdade, quem procurou Putin e Orbán foi o pretendente à reeleição.
Convidado há tempos, Bolsonaro só agora foi a Moscou por seu interesse em contar com a interferência cibernética dos russos na disputa eleitoral. Ao fascista, foi por tê-lo como seu orientador de golpismo, com intermediação mensageira de Carlos Bolsonaro.
A interferência de Moscou na derrota de Hillary Clinton para Trump, por cerrada emissão de fake news ao eleitorado americano, se feita no Brasil seria indefensável, como tem provado a indiferença do simples Telegram às restrições da Justiça Eleitoral. A ação russa nos Estados Unidos tornou-se a mais escandalosa, mas várias outras foram constatadas. Com os resultados pretendidos.
Os propósitos de transgredir a eleição brasileira ficaram comprovados com a tentativa de compra, por Bolsonaro, do equipamento Pegasus. Criado em Israel, é invasor de qualquer aparelhagem, para captar o uso ou introduzir os chamados conteúdos, mesmo que encontre as melhores defesas. Os israelenses vivem um escândalo de sustos e temores com a descoberta de que governantes, parlamentares e figuras de destaque, em número alto e ainda incompleto, estiveram invadidos desde o período de Netanyahu. O Pegasus opera equipamentos alheios com mais eficiência do que os donos.
Os israelenses disseram que a venda aos Bolsonaro foi recusada. Ao que se pode opor, primeiro, a absoluta inconfiabilidade de quem criou, produz, vende ou usa esse aparelho diabólico. Desde a promessa de mudança da embaixada brasileira para Jerusalém, Bolsonaro alimenta, não à toa, a relação com a direita extremista de Israel, sólida no poder e sem cerimônia no uso de seus recursos contundentes. E, se feita a venda em uma das investidas dos Bolsonaro, é óbvio que os dois lados a negariam. Não se sabe se o Pegasus será, ou não, disputante eleitoral em outubro. Em alguma escala, é provável que sim.
Apesar de motivo da preocupação, a interferência russa é incerta, até improvável, talvez. Para a batalha de hostilidades entre ocidentais e Rússia, os diferentes Lula e Ciro seriam melhores do que os iguais Bolsonaro e Moro. A inserção soberana do Brasil no contexto das decisões mundiais, obsessão de Lula, só não é conveniente para poucos, Estados Unidos à frente, sua serviçal Grã-Bretanha e adendos tipo Austrália. É possível que algum mais, digamos, por concorrência comercial, sabido que Bolsonaro é garantia de retrocesso em todas as atividades positivas. Marginal, cercado de ignorâncias negacionistas, ridicularizado, Bolsonaro nada significa no nível em que Putin faz sua esgrima.
Até que comece a campanha fervente, é mais a cibernética da direita extremista de Israel, e menos a cibernética eleitoreira da Rússia, que deve engrossar a expectativa de diferentes violências na disputa pela desprestigiada presidência brasileira.”
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Comitiva foi ao Estado Judeu com a “missão” de conhecer um spray nasal supostamente eficaz contra a Covid-19, mas há suspeitas de que delegação tratou de outros assuntos, de caráter secreto.
O ministro de Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, omitiu de integrantes da CPI do Genocídio duas reuniões que ocorreram em Israel, em março deste ano, durante uma nebulosa visita ao Estado Judeu, que tinha como justificativa oficial conhecer um spray nasal supostamente eficaz no tratamento da Covid-19, mas que jamais foi homologado e destinado a esse fim.
A comitiva, na qual estava o então chanceler brasileiro Ernesto Araújo, contou com a presença ainda de Eduardo Bolsonaro (filho do presidente), Filipe Martins (assessor especial da Presidência da República), Fábio Wajngarten (ex-secretário de comunicação do Planalto) e de Max Moura, um guarda-costas pessoal de Jair Bolsonaro, e despertou desconfiança desde os primeiros momentos após seu anúncio.
Os encontros omitidos aos senadores por Franco França ocorreram entre Ernesto Araújo e Filipe Martins e o conselheiro internacional de segurança do governo israelense, Reuven Azar, e Tzachi Braverman, chefe de gabinete do primeiro ministro Benjamin Netanyahu. O embaixador brasileiro em Tel-Aviv, general Gerson Menandro Garcia Freitas, também compareceu à reunião.
No ofício do Itamaraty encaminhado à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o governo de Jair Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19 não consta a realização dessas reuniões, que teriam sido em “caráter paralelo”, embora realizadas por emissários oficiais do governo brasileiro.
O Itamaraty disse oficialmente que, por se tratar de encontros realizados em paralelo à agenda oficial do então ministro Ernesto Araújo, tratou-se apenas de assuntos sobre a relação Brasil-Israel e temas como paz e segurança regionais e internacionais, dispensando registro oficial das conversas e tópicos abordados.
Segundo diplomatas de carreira, não é normal que reuniões ocorridas paralelamente à agenda oficial de um chanceler não tenha ata relatando os temas abordados. Habitualmente, tudo que ocorre nesses encontros é registrado e repassado ao Ministério de Relações Exteriores.
O fato gerou mais suspeitas após o surgimento de informações vazadas na imprensa internacional sobre o software Pegasus, produzido por uma empresa israelense, que estaria sendo usado por governos ao redor do mundo para monitorar e grampear jornalistas, políticos e ativistas, colocando em xeque o Estado Democrático de Direito nesses países.
Em maio deste ano, Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, foi parar nas manchetes de todos os jornais após ser descoberta uma negociação entre ele, em nome do governo (embora Carlos seja vereador do Rio) e a empresa que produz o programa espião. A intenção do filho 02 era adquirir o sistema para uso governamental, o que faz deduzir que a intenção do clã presidencial era vigiar ilegalmente jornalistas e seus opositores políticos.
Segundo matéria publicada na Sputnik, governo dos EUA aprovou a venda para Israel de armas guiadas de precisão no valor de US$ 735 milhões (R$ 3,87 bilhões), informou hoje (17) The Washington Post citando fontes no Congresso americano.
De acordo com o jornal, o Congresso foi oficialmente notificado da proposta de venda em 5 de maio, vários dias antes de o movimento palestino Hamas iniciar primeiros ataques de foguetes contra Israel na sequência de tumultos em Jerusalém Oriental, quando várias famílias árabes foram forçadas a deixar suas casas no distrito de Sheikh Jarrah após decisão de um tribunal israelense.
Scoop: the Biden admin has approved the sale of $735 million in precision-guided weapons to Israel, raising red flags for some House Dems more open to questioning DC’s support of Netanyahu, suggesting the sale be used as leverage. W/ @karoun: https://t.co/8L9xUy7Vby
Furo jornalístico: a Administração Biden aprovou a venda de armas guiadas de precisão no valor de US$ 735 milhões para Israel, criando alarme para alguns democratas da Câmara mais abertos ao questionamento do apoio de Washington a Netanyahu, sugerindo que a venda seja usada como meio de influência.
Trata-se de venda de Munições de Ataque Direto Conjunto (JDAMS, na sigla em inglês), que é um kit de orientação que converte bombas não guiadas, ou as chamadas “bombas burras”, em munições “inteligentes”.
Anteriormente Israel já havia comprado JDAMS, explicando que durante os ataques aéreos contra Gaza as munições guiadas de precisão ajudam a evitar mortes entre civis.
Fumaça e chamas durante ataques aéreos israelenses na cidade de Gaza, 14 de maio de 2021
Alguns democratas da Câmara dos Representantes querem conhecer os detalhes da venda de armas proposta, uma vez que considera que a escolha do momento pode ser usada como meio de influência, avança jornal.
Após receberem a notificação formal da administração do presidente dos EUA sobre a venda de armas, os legisladores têm 20 dias para contestar com uma resolução não vinculativa de desaprovação.
Tal como muitos outros países, os EUA exigem um cessar-fogo imediato em Gaza, no entanto, Washington sustenta que Israel tem o direito de se defender contra o Hamas.
No domingo (16), Riyad al-Maliki, o ministro das Relações Exteriores da Palestina, disse que as famílias palestinas estão enfrentando horrores indescritíveis enquanto os ataques na Faixa de Gaza continuam.
Atos com críticas a Israel também foram realizados em Varsóvia e em Túnis.
Milhares de manifestantes saíram às ruas neste sábado (15) em várias cidades da Europa e na Tunísia em apoio aos palestinos nos confrontos em curso com Israel.
A região do Oriente Médio vive a pior escalada de violência desde 2014. Neste sábado, houve novos disparos de foguetes e mísseis de ambos os lados lados, e um ataque de Israel derrubou um prédio em Gaza que abrigava veículos de imprensa, incluindo a agência Associated Press e a TV Al Jazeera.
Ao menos 139 pessoas foram mortas em Gaza desde o início dos conflitos, iniciados há uma semana, incluindo 39 crianças e 21 mulheres, e outras 950 ficaram feridas, segundo médicos palestinos. Já a cifra de mortos do lado israelense chegou a dez —um soldado na fronteira e nove civis, dois dos quais crianças.
Na França, atos foram organizados em várias cidades, entre as quais Paris, onde as mobilizações foram proibidas em razão de um precedente de 2014, quando uma marcha pró-palestina desencadeou violência.
A polícia na capital francesa adotou uma tática de dispersão imediata, com uso de canhões de água e de gás lacrimogêneo a cada vez que os manifestantes tentavam se reagrupar. De acordo com jornalistas, confrontos entre manifestantes e policiais ocorreram à tarde no bairro de Barbès, na zona norte da capital.
Em Boulevard Barbès, um grupo de cem pessoas gritava “Israel assassino”, enquanto bandeiras palestinas foram hasteadas ou usadas como capas. “A França é o único país democrático a proibir essas manifestações”, protestaram os advogados da Associação de Palestinos em Île-de-France.
Mesmo em face de turbas de linchamento e violência estatal, muitos palestinos não podem se dar ao luxo de que o regime colonial de ocupação de Israel volte ao ‘normal’.
Matéria de Amjad Iraqi publicada na Carta Maior – O caos que se desenrola na Palestina-Israel é real, brutal e aterrorizante. Caças a jato, foguetes, policiais e turbas de linchamento engoliram os céus e as ruas nos últimos quatro dias. O exército israelense e os militantes do Hamas continuam trocando tiros arbitrários, matando dezenas e ferindo incontáveis outros, esmagadoramente na sitiada Faixa de Gaza. Em Israel, multidões de grupos armados, muitos deles bandidos judeus acompanhados pela polícia, estão perambulando por cidades e bairros destruindo carros, invadindo casas e lojas e buscando derramamento de sangue no que muitos estão corretamente descrevendo como pogrons.
Esta descida ao Estado desenfreado e à violência da multidão está tragicamente abafando um dos momentos mais incríveis da história recente da Palestina. Durante semanas, as comunidades palestinas, com Jerusalém em seu epicentro, organizaram manifestações de massa que se espalharam como fogo em ambos os lados da Linha Verde. Iniciado por eventos no Portão de Damasco e seu bairro adjacente de Sheikh Jarrah, protestos eclodiram do campo de refugiados de Jabaliya em Gaza à cidade de Nazaré em Israel e ao centro da Cisjordânia em Ramallah. E até agora, eles mostram poucos sinais de enfraquecimento.
Mesmo que os eventos atuais deem uma guinada terrível, essas mobilizações das últimas semanas não podem ser negligenciadas. Embora palestinos de todos os matizes estejam profundamente cientes de sua identidade compartilhada, muitos temem, há muito tempo, que a violenta fragmentação de seu povo por Israel – estimulada por líderes nacionais que reforçaram essas divisões – tenha prejudicado irremediavelmente sua unidade. O fato de os palestinos terem saído às ruas em uníssono é um lembrete desafiador de que, apesar do número incomensurável de suas vítimas, a política colonial de Israel ainda não foi bem-sucedida. Essa perseverança é mais do que apenas uma fonte de consolo para os palestinos; isso os galvanizou a aproveitar este momento para forjar uma mudança radical e decisiva.
Esta não é a primeira vez que manifestações assim ocorrem: o Plano Prawer de 2013 para deslocar cidadãos beduínos em Naqab / Negev, a guerra de 2014 em Gaza e a Grande Marcha do Retorno de 2018 geraram ações conjuntas semelhantes, citando apenas eventos da última década. No entanto, qualquer palestino que participou dos protestos atuais ou acompanhou as notícias do exterior não pode deixar de sentir que essa onda é diferente das outras. Algo parece diferente. Ninguém tem certeza do que é ou quanto tempo vai durar – e depois da loucura da noite passada, isso talvez não importe mais. Mas é angustiante de assistir e eletrizante de se ver.
Não é apenas um slogan
A centralidade de Jerusalém neste avivamento nacional é uma parte vital da história. Há anos a capital histórica não estava presente na mente de tantos palestinos – e, na verdade, nas mentes de milhões em todo o mundo – do jeito que tem estado nas últimas semanas. A última vez que isso ocorreu foi em julho de 2017, quando, após um ataque de militantes palestinos à Polícia de Fronteira perto da mesquita de Al-Aqsa, as autoridades israelenses instalaram detectores de metal ao redor do complexo e se recusaram a permitir que fiéis muçulmanos entrassem sem serem examinados pelos detectores.
Rejeitando essa imposição da potência ocupante, os palestinos lideraram um boicote em massa aos detectores e protestaram contra qualquer tentativa de alterar o “status quo” do Haram al-Sharif. Sua desobediência civil obrigou os atores regionais a intervir e, no final, forçou Israel a remover os detectores que haviam instalado. Embora de alcance limitado, foi uma vitória inspiradora que ofereceu um vislumbre do potencial de organização palestina na cidade, que muitos temiam ter sido dizimada pela repressão israelense durante e após a Segunda Intifada.
Desta vez, a mobilização em Jerusalém é muito mais significativa. Ao contrário de 2017, os manifestantes palestinos não se contentaram em simplesmente suspender as restrições arbitrárias da polícia às festividades do Ramadã no Portão de Damasco. No que provou ser fatal, as autoridades israelenses e grupos de colonos intensificaram sua pressão para expulsar famílias palestinas de suas casas em Sheikh Jarrah, cujos despejos deveriam ser selados pela Suprema Corte neste mês, ao mesmo tempo em que a polícia estava escalando sua violência repressiva na Cidade Velha. O destino de Sheikh Jarrah, junto com outras áreas ameaçadas como Silwan, se entrelaçou com o coração da Jerusalém palestina – não apenas como um slogan enfadonho, mas como um movimento que realiza ações em massa para defendê-los.
Ao fazer isso, os palestinos abriram um caminho tremendo na oposição às tentativas de Israel de separar os bairros de Jerusalém uns dos outros e isolá-los de seus irmãos fora da cidade. Estimulados pelo despertar da capital, palestinos em outras cidades organizaram seus próprios protestos em apoio ao Sheikh Jarrah e Al-Aqsa, imperturbáveis pelas ameaças israelenses e atos de repressão. No sábado passado, milhares de cidadãos palestinos de Israel desafiaram as obstruções da polícia e viajaram de ônibus e a pé para professar sua fé no local sagrado, orando pelo Sheikh Jarrah ao mesmo tempo. Até que acontecessem os pogrons desta semana que permearem o país, todos os olhos estavam fixos em Jerusalém com uma energia fervorosa que não era sentida pelos palestinos há anos.
Uma característica extraordinária das manifestações é que elas estão sendo organizadas principalmente não por partidos ou figuras políticas, mas por jovens ativistas palestinos, comitês de bairro e coletivos de base. Na verdade, alguns desses ativistas rejeitam explicitamente o envolvimento das elites políticas em seus protestos, vendo suas ideias e instituições – da Autoridade Palestina à Lista Conjunta – como domesticadas e obsoletas. Eles estão se afirmando nas ruas e principalmente nas redes sociais, incentivando outros jovens que nunca participaram de protestos políticos a se associarem pela primeira vez. De muitas maneiras, esta geração está desafiando sua liderança tradicional tanto quanto está lutando contra o estado israelense.
Forças de segurança israelenses prendem manifestantes durante uma manifestação contra o plano de Israel de despejar palestinos no bairro de Sheikh Jarrah em Jerusalém Oriental, 6 de maio de 2021. (Jamal Awad / Flash90)
Resiliência em meio ao caos
Não é de se admirar que o Hamas tenha decidido entrar no palco disparando milhares de foguetes contra o sul e o centro de Israel em nome da defesa de Jerusalém. Para alguns palestinos, esta é uma intervenção militar justificada para apoiar o movimento de rua; para outros, é uma tentativa descarada de sequestrar os protestos para ganho próprio do Hamas, como fez com a Grande Marcha de Retorno de Gaza. Ainda assim, com o presidente Mahmoud Abbas adiando indefinidamente as eleições palestinas deste verão, os líderes políticos de ambos os lados dos territórios ocupados mostraram que têm pouco a oferecer além de velhas estratégias e um governo mais autoritário.
A cooptação não é a única ameaça que o crescente movimento enfrenta. Nas chamadas “cidades mistas” como Lydd, Jaffa e Haifa – cidades historicamente palestinas que foram transformadas à força em localidades de maioria judia por meio de expulsão e gentrificação – turbas de judeus de direita, muitas protegidas e auxiliadas pela polícia, estão linchando palestinos e aterrorizando seus bairros. Gangues de judeus armados de assentamentos na Cisjordânia, onde violentos ataques contra palestinos estão descontrolados, estão convergindo para essas cidades para entrar na briga. Alguns palestinos também estão atacando israelenses judeus e incendiando seus veículos e propriedades, incluindo ataques incendiários em sinagogas. Porém, apenas grupos de um certo lado têm poucos motivos para temer as autoridades – muito ao contrário, podem contar com a proteção da polícia.
Esses acontecimentos angustiantes provavelmente vão piorar nos próximos dias, à medida que Israel e o Hamas intensificam sua guerra assimétrica, com os palestinos na bloqueada faixa de Gaza pagando o preço mais alto. O governo israelense está agora considerando enviar o exército para ajudar a polícia a estabelecer a “ordem” no país, um movimento que vai impor ainda mais tirania sobre os cidadãos palestinos do Estado. Enquanto isso, muitos palestinos que apoiam os protestos ficaram com medo de tomar as ruas sob o risco de ferimentos, prisões ou pior. Outros se resignaram a acreditar que – após décadas de levantes, inação internacional e impunidade israelense – há pouca esperança de que este episódio traga qualquer mudança significativa.
Sinagogas e carros incendiados e lojas vandalizadas no centro da cidade de Lod, após uma noite de tumultos na cidade, 12 de maio de 2021. (Avshalom Sassoni / Flash90)
E ainda assim, mesmo que a violência pareça sair do controle, não deve ser permitido apagar as correntes de orgulho, solidariedade e alegria que têm energizado a onda de resistência palestina deste mês. Em uma imagem simbólica no domingo, um palestino em Lydd escalou um poste de luz para substituir uma bandeira israelense por uma palestina – uma cena desafiadora quase 73 anos depois que as forças sionistas limparam etnicamente a cidade na Nakba. Quando a polícia bloqueou a entrada de ônibus em Jerusalém para a noite sagrada de Laylat al-Qadr, os motoristas que passavam ofereciam carona aos palestinos que estavam dispostos a caminhar quilômetros para chegar a Al-Aqsa. No bairro de Wadi Nisnas, em Haifa, esta semana, os residentes palestinos se agruparam para afastar as turbas de judeus, sabendo que a polícia provavelmente mais ajudaria os agressores do que os pararia.
Nas redes sociais, um vídeo viral mostrou cidadãos palestinos rindo e aplaudindo enquanto um carro da polícia israelense passava sem saber que uma bandeira palestina havia sido enfiada na porta traseira do veículo. Outro vídeo popular mostrou um menino palestino, empurrado para fora de Al-Aqsa por uma multidão de policiais, jogando seu sapato na cabeça de um policial de capacete. Outro mostrava um palestino abrindo um sorriso quando sua filha, alheia ao fato de que seu pai estava sendo preso pela polícia em sua própria casa, impacientemente o indagava sobre sua boneca. Mesmo em meio ao caos, esses momentos de beleza e resiliência não devem ser esquecidos.
Um levante nacional
Não há dúvida de que este é um momento perigoso para todos aqueles que vivem na Palestina-Israel. A volatilidade nas ruas é petrificante e os perigos que elas trazem parecem quase sem precedentes. Essa loucura deveria ter sido evitada, mas os poderes constituídos a tornaram quase inevitável. A comunidade internacional, incluindo os Estados árabes, efetivamente abandonou a causa palestina; a direita israelense solidificou seu domínio do apartheid entre o rio e o mar; e as lideranças palestinas se recusaram a dar a seu povo uma palavra sobre seu futuro político.
É precisamente esse ambiente de isolamento e esmagamento que o nascente movimento palestino está tentando destruir. Muitos dos jovens ativistas que colocaram seus corpos em risco nas últimas semanas passaram suas vidas tentando garantir sua liberdade. Mais assertivos e mais equipados do que suas gerações anteriores, eles tentaram sua sorte nas redes sociais, na defesa pública, programas de “coexistência”, prática legal, até mesmo amizades com colegas de trabalho judeus – apenas para descobrir que permanecem presos pelas mesmas correntes que seus pais e avós antes deles. Privados de opções, a desobediência pública é agora uma das poucas estratégias que restaram aos palestinos para conter a opressão implacável de Israel, principalmente na luta contra os despejos de Sheikh Jarrah a Jaffa e além.
Créditos da foto: Cidadãos palestinos de Israel confrontam policiais israelenses durante uma manifestação de solidariedade a Gaza e Jerusalém, no centro de Haifa, em 9 de maio de 2021. (Mati Milstein)
Este ato de agitação em massa não pode simplesmente ser classificado como um falso binário de resistência “violenta” ou “não violenta”. É, para ser franco, um levante nacional. Embora seja uma palavra profundamente estigmatizada, e mais usada para demonizar e justificar a brutalidade contra os manifestantes, os levantes são uma característica familiar da resistência popular contra a injustiça; os protestos de Black Lives após o assassinato de George Floyd no ano passado deram exemplos proeminentes disso. E para muitos palestinos nas ruas, qualquer violência que emane desses protestos – por mais abomináveis e condenáveis que sejam – permanece incomparável com a brutalidade diária, direta e estrutural infligida pelo estado que os governa.
De fato, junto com as guerras sísmicas de 1948 e 1967, o sucesso do sionismo como um projeto colonial de ocupação deriva em grande parte de sua abordagem cada vez mais rasteira de expropriação. Ele rouba território pedaço por pedaço, despeja famílias de casa em casa e silencia a oposição pessoa por pessoa. “Silêncio” é a chave para minar a resistência coletiva, enquanto dá aos críticos a ilusão de que eles têm tempo para virar a maré. E como os eventos em Jerusalém mostraram neste mês, quanto mais descaradamente Israel segue suas políticas, mais intensamente a resistência aumentará.
Os palestinos que foram às ruas nas últimas semanas sabem disso muito bem – e é por isso que eles não estão interessados em deixar Israel voltar ao “normal”. Normalidade significa permitir que o colonialismo de ocupação e o apartheid continuem funcionando sem problemas, sem serem impedidos pelo escrutínio local ou internacional. Essa condição violenta e desumana forma a experiência comum de milhões de palestinos, quer vivam sob bloqueio, regime militar, discriminação racista ou exílio. Todos entendem que estão enfrentando uma força única que tenta suprimi-los, pacificá-los e apagá-los, simplesmente por causa de sua identidade nativa.
Mesmo à beira de um estágio assustador de guerra, muitos palestinos não podem se dar ao luxo de esperar pela próxima crise para se livrar dessa força opressora. Há um levante acontecendo agora – e mesmo que isso não liberte os palestinos de suas correntes, pelo menos, pode afrouxar o controle de Israel sobre sua consciência.
*Carta Maior
*Amjad Iraqi é editor e escritor da 972 Magazine. Ele também é analista de políticas no think tank Al-Shabaka e anteriormente foi coordenador de defesa no centro jurídico Adalah. Ele é um cidadão palestino de Israel, baseado em Haifa.
*Publicado originalmente em 972 Magazine | Traduzido por César Locatelli
De acordo com matéria de Jamil Chade, no Uol, O Itamaraty admite que a viagem do ex-chanceler Ernesto Araújo para Israel, em meio à pandemia, não resultou na assinatura de um acordo por escrito de cooperação com o hospital Ichilov para o desenvolvimento ou importação de um tratamento contra a covid-19 conhecido como spray nasal.
Tampouco houve a assinatura de um convênio final com outra entidade israelense, o Instituto Weizmann, responsável por diversas pesquisas no campo da pandemia. O governo brasileiro ainda decidiu classificar os telegramas diplomáticos entre Brasília e Tel Aviv como reservado ou secretos, impedindo alguns deles de serem consultados pelos próximos 15 anos.
Na prática, as informações completas sobre a viagem da delegação brasileira, que foi alvo de polêmica, serão conhecidas apenas em 2036.
As revelações fazem parte de uma resposta de mais de 40 páginas submetida pelo novo chanceler Carlos França à bancada do PSOL na Câmara, no dia 7 de maio. Os deputados tinham solicitado explicações sobre a viagem de uma delegação do governo brasileiro para Israel, na primeira semana de março.
Além de Ernesto Araújo, que chegou a levar um pito público durante a viagem por não usar máscara, o avião da FAB (Força Aérea Brasileira) transportou para Israel o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o deputado Helio Lopes (PSL-RJ), o assessor especial Filipe Martins, e o então secretário de Comunicações, Fabio Wajngarten, além de diplomata.
Da área técnica, a delegação contava com apenas dois representantes: Hélio Angotti Neto, do Ministério da Saúde, e Marco Morales, do Ministério da Ciência e Tecnologia.
No total, o custo da missão foi de mais de R$ 88 mil, sem contar o transporte no avião da FAB e a parcela de gastos arcada pelo governo de Israel.
Antes da missão, Eduardo Bolsonaro e outros membros do governo justificaram a ida para Israel por conta, entre outros fatores, de uma perspectiva de cooperação no desenvolvimento de um spray que ajudaria a combater a covid-19.
O presidente Jair Bolsonaro também usou sua live nas redes sociais para tocar no assunto. O produto teria tido bons resultados contra a covid-19. Mas tinha sido testado em apenas 30 pessoas.
Ao escrever para os deputados do PSOL, o chanceler Carlos França confirmou que houve reunião com a direção do hospital Ichilov, responsável pelo desenvolvimento do spray, oficialmente denominado de EXO-CD24.
No encontro, foi acordado um programa de cooperação “com vistas à participação do Brasil no desenvolvimento conjunto do produto (fase 2 e 3 de estudos), caso a Anvisa e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa autorizem ensaios clínicos no país”.
“Foi proposto que o Brasil integrasse a fase 2 do desenvolvimento do medicando EXO-CD24″, fazendo parte de pool internacional”, explicou o chanceler.
Mas, na mesma resposta, o Itamaraty também afirma que a cooperação em relação ao spray nasal não se concretizou por meio de um documento, apesar de a delegação ter preparado em inglês e português um modelo de carta de intenções que foi levada para Israel.
“No que diz respeito à carta de intenções entre o Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Saúde e OBCTCCD24 LTDA [empresa que desenvolve o produto] sobre cooperação em relação ao spray nasal EXO-CD24, cujo objetivo seria consolidar a intenção do governo brasileiro de dar continuidade ao diálogo sobre cooperação com aquela empresa, o projeto da carta não teve sua celebração completada, uma vez que não foi assinada pelo representante do Ministério da Saúde e não chegou à troca de instrumentos entre os signatários, conforme prática de negociações internacionais”, diz o texto assinado por França.
Aos deputados, o chanceler submeteu a proposta de texto do acordo. Ela traz as assinaturas de Ernesto Araújo e da parte israelense, mas a do Ministério da Saúde está ausente.
Procurada, a pasta hoje comandada por Marcelo Queiroga não explicou o motivo de o texto não ter sido assinado, mesmo com um representante do Ministério da Saúde na delegação em Israel. Seus assistentes chegaram a pedir à reportagem mais tempo para que a informação pudesse ser buscada pela pasta. Mas não deram mais retorno.
Ainda nas respostas dadas aos parlamentares, o ministro França insistiu que a viagem “não deve ser reduzida às iniciativas de cooperação no domínio da Saúde, muito menos às tratativas para potencial desenvolvimento do spray nasal”.
Procurada, a embaixada de Israel no Brasil explicou que “o trabalho da delegação brasileira que foi a Israel foi muito frutífero e positivo”. “Muitas discussões estão sendo feitas. Os hospitais Hadassah e Ichilov estão em contato com o Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil”, disse.
“Uma série de acompanhamentos por videoconferência sobre o assunto está em andamento”, completou.
No hospital Ichilov, a coluna tentou em diversas ocasiões contato com os responsáveis pelo projeto após a viagem de Araújo. Mas os pedidos de informação não foram atendidos.
Em resposta à coluna, o Itamaraty explicou que, “em 9/3/2021, a delegação brasileira que foi a Israel reuniu-se com o diretor do Hospital lchilov/Sourasky, Dr. Ronni Gamzu, e com o chefe do Centro de Pesquisa Médica daquela instituição, Dr. Nadar Arber, e com representantes da empresa OBTCD24. O lchilov é o maior hospital de Tel Aviv, responsável pelo desenvolvimento do spray nasal EXO-CD24, para fins de tratamento da COVID-19”.
Mas a chancelaria confirma que o acordo não foi concluído. “Carta de intenções sobre cooperação em relação ao ”spray” nasal “EXO-CD24″ foi rubricada pelo então Ministro das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Araújo, com o objetivo de consolidar a intenção do governo brasileiro de dar continuidade ao diálogo sobre cooperação com a empresa OBCTCD-24”, disse.
“O projeto de carta não teve sua celebração completada, uma vez que não foi assinada pelo representante do Ministério da Saúde e não se chegou à troca de instrumentos entre os signatários, conforme prática de negociação internacional”, disse.
“O projeto de carta de intenção, apenas rubricado, não continha elementos juridicamente vinculantes, nem previsão de gravames financeiros ou obrigações de qualquer espécie para as partes participantes naquela etapa das tratativas”, apontou.
Telegramas em sigilo até o ano de 2036
Os deputados ainda solicitaram que todos os telegramas diplomáticos sobre a viagem fossem disponibilizados. Mas o Itamaraty enviou 28 Termos de Classificação de Informação, no qual apontava como todos os documentos passaram a ser impedidos de ter seus conteúdos revelados.
Alguns deles estão sob sigilo até 2026, enquanto outros até o ano 2036. O Itamaraty ainda colocou tarjas negras para impedir que se saiba até mesmo o motivo pelo qual os telegramas foram classificados como secretos.
O que chama a atenção ainda é que, num dos telegramas colocados como sigilosos por 15 anos, a decisão do Itamaraty foi tomada apenas um mês depois que os documentos foram emitidos.