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Militares da ativa ferem lei e participam de protestos contra posse de Lula

O comportamento, passível de punição como transgressão disciplinar, já era motivo de preocupação nas cúpulas militares; Ministério da Defesa, comandos das Forças Armadas e os próprios militares não comentaram os casos

De forma ilegal, militares da ativa das Forças Armadas se engajaram em manifestações antidemocráticas de inconformidade com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República. Oficiais e praças do Exército, da Marinha e da Aeronáutica se incorporaram à vigília do bolsonarismo e têm sido flagrados em atos presenciais no entorno de quartéis, bem como em publicações de viés golpista nas redes sociais. Essas manifestações são proibidas pelas regras da caserna.

O comportamento, passível de punição como transgressão disciplinar, já era motivo de preocupação nas cúpulas militares. O comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, orientou os subordinados a não se envolverem com as manifestações, durante reunião com os generais da ativa. Além de não reprimi-las com uso da força para encerrar as aglomerações, eles também não deveriam estimular os manifestantes.

O Estadão teve acesso a publicações nas redes sociais do tenente-coronel Darlan Sena, assessor direto do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Logo após a vitória de Lula, o oficial adotou como imagem de perfil a foto do general Newton Cruz, conhecido por representar a repressão no regime militar e ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI). Sena é militar da ativa e exerce função gratificada no Palácio do Planalto, na equipe de comunicação de Augusto Heleno.

Heleno é um dos mais radicais aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) e chegou a dizer que “infelizmente” Lula não estava doente. O GSI é responsável direto pela proteção do presidente da República, vice e familiares. Por desconfiança, foi dispensado do gabinete de transição, embora já tenha feito contato com o general Gonçalves Dias, ex-chefe da segurança de Lula nos governos anteriores.

O assessor de Heleno publicou ainda uma imagem da bandeira do Brasil alterada para a cor preta e com a inscrição “bandidos e corruptos” e o “povo brasileiro mostrou ao mundo que apoia a corrupção e a criminalidade”. Em uma série de publicações seguintes, dizia “sou militar e nunca irei prestar continência a bandido” e “não reconhecemos um governo criminoso; fora, Lula”, com a foto do presidente eleito. Mais recentemente, divulgou um vídeo quebrando um ovo com as mãos diante da bandeira nacional – referência a Alexandre de Moraes, presidente do TSE.

Imagem do General Newton Cruz no perfil de Darlan Sena, militar da ativa, em rede social.Imagem do General Newton Cruz no perfil de Darlan Sena, militar da ativa, em rede social. Foto: Reprodução/Redes sociais Darlan Sen

Outro militar do GSI foi flagrado atuante nas manifestações. Conforme o jornal Folha de S. Paulo, o primeiro-sargento da Marinha Ronaldo Ribeiro Travassos distribuiu vídeos de incentivo aos atos de teor intervencionista, nos quais aparece em frente ao Quartel-General (QG) do Exército, em Brasília. Ele repetiu palavras de ordem de manifestantes que pretendiam impedir a posse de Lula e defendeu a execução de eleitores do petista.

O sargento desempenha funções administrativas no GSI. Ele disse num dos vídeos que “tem certeza” de que “o ladrão não sobe a rampa”. Em áudios de WhatsApp, afirmou que conversou sobre o protesto com o general Joaquim Brandão, assessor especial de Heleno. Ele também previu uma guerra civil no País: “Um patriota eu vou defender. Se o meu irmão faz o L é tiro na cabeça, tem que morrer mesmo. Não é brincadeirinha, não. Quem faz o L é terrorista, tem que morrer mesmo, ou mudar ou morrer”.

Em outra mensagem de áudio, Travassos desdenha das restrições impostas pela legislação brasileira à atuação político-partidária dos militares. Elas constam na Constituição, em leis, como o Estatuto dos Militares, e no Regulamento Disciplinar do Exército. “Alguém está preocupado com isso?”, diz o sargento, dando a entender que um general do GSI tem conhecimento de sua participação nos atos.

O segundo-sargento da Aeronáutica Francisco Roksinaidy gravou vídeos incentivando a participação e trabalhando em uma cozinha improvisada diante do QG do Exército. Ele pedia doações para contribuir com a manutenção do acampamento.

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Medidas disciplinares

O Ministério da Defesa e os comandos das Forças Armadas não comentaram os casos citados pela reportagem, assim como os próprios militares. Em relação ao sargento Travassos, o GSI informou que o Comando da Marinha adotará as medidas administrativas e disciplinares julgadas pertinentes. A pasta não comentou as publicações do tenente-coronel Sena.

Em geral, as Forças Armadas não se pronunciam oficialmente sobre a abertura dos procedimentos, mas notificam os envolvidos.

Por outro lado, oficiais superiores que já fizeram críticas à partidarização das Forças Armadas e ao protagonismo político das atuais cúpulas hierárquicas, mesmo na reserva, sofreram processos disciplinares. É o caso do coronel Marcelo Pimentel, que acumula cinco procedimentos de apuração disciplinar, e do almirante Antônio Nigro.

Pimentel afirma ser vítima de perseguição indevida. No caso do oficial da Marinha, o Ministério Público decidiu abrir um procedimento para apuração possível punição ilegal. Ambos argumentam ter amparo legal para se manifestar sem restrições acerca de assuntos políticos, mesma interpretação do MPF. Embora sujeitos ao Estatuto dos Militares, os militares inativos podem “opinar livremente” sobre assunto político, conforme lei número 7524, de 1986. “Enquanto isto, eu, na reserva e nunca tendo participado, nem na inatividade, de manifestações coletivas de natureza política, estou sendo alvo do 5° PAD por expressar, em tweet, minha crítica ao protagonismo político das cúpulas hierárquicas das Forças Armadas”, protestou Pimentel.

Autoridades militares na cadeia de comando já haviam classificado as manifestações como justas. O general André Luiz Allão, comandante da 10ª Região Militar do Exército, em Fortaleza (CE), discursou diante de militares e afirmou que “toda manifestação ordeira e pacífica é justa, não interessa o que ela pede”. Ele afirmou ter a responsabilidade de proteger as pessoas que participam dos protestos, ainda que existam “ordens de outros poderes no caminho contrário”.

Se os comandantes da Marinha, Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, registravam comportamento simpático ao presidente Bolsonaro nas redes sociais, o general Freire Gomes mantinha-se afastado. No sábado passado, porém, ele abriu discurso de formatura na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) com elogios a Bolsonaro, que participava da primeira viagem nacional após a derrota na eleição. “Estou seguro de que sua dignidade, seu culto à família, seu amor ao Brasil e inabalável fé em Deus serão referência na pavimentação dos caminhos que os jovens a sua frente trilharão a partir de hoje”, disse Freire Gomes, perante os cadetes.

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Decreto de Bolsonaro libera militares da ativa em cargos do governo por tempo indeterminado

Texto publicado no DOU permite integrantes das Forças Armadas em postos no Ministério de Minas e Energia, no STF e em outros Tribunais Superiores, por exemplo.

Segundo matéria de Daniel Carvalho, Folha, o presidente Jair Bolsonaro editou um decreto que libera militares da ativa em cargos no governo por tempo indeterminado.

O texto, assinado também pelo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, foi publicado na edição desta quarta-feira (23) do “Diário Oficial da União”, alterando um decreto de 2017 sobre cargos e funções considerados de natureza militar.

O artigo 98 do Estatuto dos Militares (lei 6.880 de 1980) prevê a transferência de ofício para a reserva remunerada quando o militar “ultrapassar dois anos de afastamento, contínuos ou não, agregado em virtude de ter passado a exercer cargo ou emprego público civil temporário, não-eletivo, inclusive da administração indireta”.

Pelo decreto de agora, passam a ser considerados cargos de natureza militar para os militares da ativa aqueles exercidos no STF (Supremo Tribunal Federal) e nos Tribunais Superiores, no Ministério da Defesa e nos órgãos que integram sua estrutura regimental, na Advocacia-Geral da União (AGU), na Justiça Militar da União e no Ministério Público Militar.

Assim, o prazo de validade de dois anos deixa de existir quando o militar da ativa ocupar estes postos.

O mesmo acontece com os cargos e funções exercidos por militares da Marinha colocados à disposição do Ministério de Minas e Energia, da Caixa de Construções de Casas para o Pessoal da Marinha, da Empresa Gerencial de Projetos Navais, da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A., do Tribunal Marítimo, da Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. e das Indústrias Nucleares do Brasil S.A..

A regra vale também para militares do Exército colocados à disposição da Fundação Habitacional do Exército, da Fundação Osório e da Indústria de Material Bélico do Brasil.

O decreto atingem também cargos exercidos por militares da Aeronáutica colocados à disposição da Caixa de Financiamento Imobiliário da Aeronáutica.

Bolsonaro editou o decreto ao mesmo tempo em que a Câmara discute a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que visa barrar a presença de militares da ativa em cargos na administração pública.

A PEC começou a ser discutida na esteira do episódio em que Jair Bolsonaro pressionou a Força a não punir o general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, por ter participado de um ato político com o presidente em 23 de maio.

A proposta que está no Congresso tem apoio majoritário no Alto-Comando do Exército. A capitulação ao Planalto, defendida pelo comandante Paulo Sérgio Nogueira como uma forma de evitar uma crise ainda maior, não foi digerida plenamente pelo colegiado de 15 generais de quatro estrelas que formam a cúpula do Exército.

Em 1º de junho, Pazuello foi nomeado para um cargo na Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à Presidência da República. O ex-ministro agora é secretário de Estudos Estratégicos no órgão. Este posto não consta do decreto publicado nesta quarta-feira.

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Política

Militares da ativa dizem que Bolsonaro faz Brasil virar piada

Interlocutores de militares da ativa disseram ao blog nesta quarta-feira (11) que eles não gostaram nem um pouco da fala do presidente Jair Bolsonaro na qual diz que, quando acaba a saliva da diplomacia, tem de ter pólvora.

Para esses militares, Bolsonaro transformou o Brasil em motivo de piadas e chacotas, gerando mais um mal estar para as Forças Armadas, que, segundo eles, jamais topariam entrar numa aventura bélica.

Durante discurso nesta terça-feira (10) no Palácio do Planalto, Bolsonaro citou ameaças feitas por Joe Biden de que poderia impor sanções econômicas ao Brasil caso não haja uma reversão no desmatamento na Amazônia.

Sem citar nominalmente o democrata, o presidente afirmou: “Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora senão não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos”.

Antes dessa fala, Bolsonaro disse que um candidato a chefe de Estado fez a ameaça de impor sanções econômicas contra o Brasil caso o país não acabasse com os incêndios na Amazônia. No primeiro debate nas eleições americanas, Biden citou essa possibilidade.

Entre os militares da ativa, há um claro clima de desconforto com as posições do presidente da República. Eles já questionaram o fato de Bolsonaro ter colocado no Ministério da Saúde um general da ativa, Eduardo Pazuello. O ministro foi escolhido para fazer na pasta exatamente o que o presidente defende, independente de decisões técnicas e científicas.

Em relação às declarações desta terça, os militares se perguntavam se Bolsonaro não percebeu que fez uma alusão a um conflito militar com os Estados Unidos.

Segundo interlocutores dos militares da ativa, eles estão preocupados com os “rompantes” e “improvisos” do presidente que estão prejudicando a imagem das Forças Armadas.

Eles lembram que o presidente sempre usa o argumento de que os militares estão do seu lado em caso de alguma crise grave, mas tem tomado decisões que prejudicam as Forças Armadas.

Na avaliação destes militares, a continuar neste ritmo, Bolsonaro acabará forçando os colegas das Forças Armadas a repensarem se vale a pena seguir em seus cargos no governo. Pois, se permanecerem, é como se os militares dessem aval às polêmicas e confusões criadas pelo presidente da República.

 

*Valdo Cruz/G1

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Notícia

189.695 militares receberam irregularmente auxílio de R$ 600, totalizando R$ 113,8 milhões

Enquanto o governo mostra descaso com as longas filas enfrentadas por desempregados e informais para receber o auxílio emergencial de R$ 600 nas agências da Caixa Econômica Federal, quase 190 mil militares foram contemplados com o auxílio emergencial sem qualquer trabalho.

Dados do governo revelam que 189.695 militares da ativa receberam o auxílio emergencial, totalizando R$ 113.816.990,00.

Em nota enviada ao Blog, o Ministério da Defesa disse que “verifica a possibilidade de recebimento indevido de valores referentes ao auxílio emergencial, concedido pelo Governo Federal no período de enfrentamento à pandemia do coronavírus, por integrantes da folha de pagamentos deste Ministério”.

A pasta acrescenta: “Neste sentido, estão sendo adotadas as medidas para apuração do ocorrido, visando identificar se houve valores recebidos indevidamente, de modo a permitir a restituição ao erário e as demais considerações de ordem administrativo-disciplinar, como necessário”.

Procurada, a Caixa informou que é responsável apenas pelo pagamento dos auxílios emergenciais, cujos dados são processados pela Dataprev, com base em informações recebidas do Ministério da Cidadania.

Procurados, a Dataprev e o ministério ainda não se pronunciaram. Alegam que estão esperando as áreas técnicas se pronunciarem para saber o que aconteceu.

As queixas de informais, desempregados, microempreendedores individuais são muitas em relação ao coronavoucher. Muitos reclamam que já fizeram os cadastros no site da Caixa, mas, até agora, não tiveram resposta.

As filas em frente às agências da Caixa são intermináveis e se tornaram um risco para muita gente por causa da pandemia do novo coronavírus. Ou seja, além de não receberem a ajuda prometida pelo governo, as pessoas estão expostas a pegarem a Covid-19.

 

 

*Com informações do Correio Braziliense