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Coronavírus, emergência global: o estrago que já causa na economia moribunda brasileira

Analistas destacam que ações de empresas de commodities são as que mais podem sofrer no curto prazo.

O temor sobre os efeitos do coronavírus vem impactando fortemente os mercados, inclusive o brasileiro, em meio às indicações de que o surto da doença que se assemelha a uma pneumonia afete fortemente a economia chinesa e, consequentemente, a mundial.

Conforme destacou Zhang Ming, economista do governo do gigante asiático, o crescimento econômico do país pode cair para 5% ou menos no primeiro trimestre por conta do surto, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta quinta-feira (30) o coronavírus como emergência global. O Brasil, por ser um dos maiores exportadores para a China, pode ver diversos setores da economia sendo impactados.

O Itaú BBA, o Morgan Stanley, XP Investimentos e Bradesco BBI apontaram o impacto para diferentes setores da economia da América Latina e, especialmente, para a brasileira.

A equipe de análise do Itaú BBA avalia que a China é o parceiro comercial considerado chave para a economia latino-americana, sendo o principal parceiro de Peru, China e Brasil, com o gigante asiático sendo responsável por mais de 20% do total exportado desses países. Assim, dada a importância dessa relação, é possível um impacto direto para o PIB dessas nações.

Apesar de haver vários segmentos impactados, a mensagem é de que não há motivos para pânico, ainda mais quando se traçam paralelos com outros surtos de doença ao longo dos últimos anos e o impacto para a economia e para os mercados no longo prazo. Contudo, no curto prazo, algumas empresas podem sofrer.

Veja abaixo alguns dos setores que podem ser impactados de forma significativo pelo surto de coronavírus:

Commodities
Mineração, siderurgia e celulose

Os analistas do Itaú BBA fizeram um paralelo entre o novo coronavírus e a crise com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), em 2003, que também levou a uma desaceleração da economia chinesa.

A análise sugere que a crise do SARS teve um impacto limitado nos preços de commodities em geral. Após a crise no início daquele ano, na segunda metade de 2003 os preços das ações de companhias do setor recuperaram o valor de antes do surto da doença. Contudo, eles fazem a ponderação de que a China tem agora um papel mais forte como demandante de commodities do que há 17 anos.

Neste cenário, mineração e companhias de celulose aparecem como mais expostas à China, com o Ebitda (lucro antes de juros, depreciações e amortizações) sendo mais diretamente afetados, o que é negativo para Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3).

A China responde diretamente por 72% e 49% da demanda global por minério de ferro e cobre por via marítima, respectivamente, resultando em uma participação significativa no Ebitda das mineradoras. Os analistas apontam que 48% do Ebitda da Vale e 31% do Ebitda da CSN (CSNA3) estão vinculados ao gigante chinês.

Vale ressaltar que, durante o pico do surto de SARS, a produção de aço bruto e as importações de cobre cresceram a uma média de 22% e 53% ao ano respectivamente, indicando não haver um impacto claro no mercado físico do insumo.

“Dito isso, o sentimento negativo do mercado fez com que os preços do cobre caíssem cerca de 11% entre fevereiro e abril de 2003 antes de retornaram rapidamente aos níveis anteriores no final de maio”, avaliam os analistas.

Para eles, embora os preços mais baixos de minério de ferro e cobre possam pesar nas margens dos produtores, o efeito pode ser suavizado pelo fato das empresas de mineração estarem operando com custos baixos.

A China também responde pela maior parte do crescimento da demanda global de celulose (36%). Contudo, o impacto nas empresas brasileiras é diferente: ela é responsável por uma participação relativamente maior no Ebitda da Suzano (43%) do que da Klabin (15%).

“Houve um impacto limitado nos mercados físicos durante a crise da SARS, e os preços de celulose de fibra curta e longa permaneceram fortes e em alta, apoiados por um crescimento médio de 18% na produção de papel chinesa. No entanto, considerando que a China deve impulsionar todo o crescimento estimado para o setor nos próximos anos (entre 2020 e 2023), uma revisão para baixo das taxas de crescimento da demanda por celulose do país pode adiar a tão esperada recuperação dos preços da celulose”, avalia o Itaú BBA.

Por outro lado, avaliam, os resultados dos produtores de papel dependem mais da demanda regional, sugerindo uma resiliência relativamente mais alta dos números operacionais da Klabin em relação aos da Suzano. Enquanto isso, em meio ao surto (com as pessoas evitando sair de casa), o comércio eletrônico pode ganhar relevância na comparação com as lojas físicas na China, dando suporte ao aumento da demanda por embalagens.

Enquanto isso, as empresas siderúrgicas estão menos expostas diretamente à China, mas os preços globais podem impactar essas empresas. A maior parte das receitas e do Ebitda dessas companhias são provenientes de seus respectivos mercados domésticos, com a China tendo uma participação direta de menos de 5% do Ebitda.

“Dito isso, contudo, um potencial declínio nos preços globais do aço pode ter efeitos negativos sobre os preços no Brasil, Argentina e México devido às relações de paridade de importação. De fato, os preços domésticos de aço tipo HRC e vergalhão da China caíram 19% e 4%, respectivamente, de fevereiro a maio de 2003, antes de se recuperar para níveis anteriores em outubro daquele ano. Pelo lado positivo, moedas locais mais depreciadas podem ajudar a compensar parcialmente o impacto da queda dos preços”, avaliam.

Além disso, atenção para as possíveis medidas de estímulo do governo chinês, que podem ser anunciadas para reverter o cenário de desaceleração da economia e impactar positivamente as siderúrgicas e mineradoras.

Petroleiras

O petróleo do tipo brent registra uma queda de mais de 10% em apenas seis sessões, com o barril abaixo de US$ 58 o barril, uma vez que a preocupação sobre a demanda aumenta.

Conforme destacam os analistas do Morgan Stanley, as preocupações não são infundadas, uma vez que há um número crescente dos voos para a China está sendo cancelado, as restrições de viagens estão aumentando entre as cidades chinesas e o vírus está se espalhando para outros países. Levando em conta que tudo isso afeta as expectativas de crescimento econômico do maior importador de petróleo do mundo, há justificativas para a forte queda do petróleo.

As vendas de cargas da commodity da América Latina para a China foram interrompidas esta semana, com a crise do coronavírus paralisando um período de feriado já tranquilo, aponta a Bloomberg. Desde a semana passada, nenhuma venda de cargas para entrega em março do Brasil e da Colômbia foi registrada e cargas sem vender estão se acumulando, apontaram fontes à publicação.

As refinarias na China – que recebem 30% dos embarques do Brasil, Colômbia e de outros grandes exportadores da América Latina – deverão cortar a produção em meio a especulações de que restrições de viagem para conter a propagação do coronavírus reduzirão a demanda por gasolina, diesel e combustível de aviação, aponta a agência.

Um relatório da Platts Analytics calcula que, se o surto do coronavírus for tão grave como a epidemia da SARS, a demanda por petróleo poderá cair entre 700 mil e 800 mil barris diários no mundo, que são equivalentes a mais da metade do crescimento da demanda projetado para este ano. Segundo o ministro da Energia da Argélia, Mohamed Arkab, os membros da OPEP + estão considerando uma reunião de emergência em fevereiro devido a preocupações relacionadas ao coronavírus.

Porém, aponta o Morgan Stanley, caso a situação se estabilize, há espaço para os preços do petróleo voltarem para a casa dos US$ 65,00. Enquanto isso não acontece, as ações de petroleiras, como é o caso da Petrobras (PETR3;PETR4), podem repercutir a queda da cotação da commodity negativamente na bolsa.

A estatal tem reiterado sua política de seguir o princípio da paridade de importação – levando em conta preços no mercado internacional mais os custos de importadores, como transporte e taxas portuárias, com impacto também do câmbio – e já cortou três vezes o preço dos combustíveis no mês. Em 14 de janeiro, a companhia promoveu um corte de 3% no diesel e gasolina. Na semana passada, a empresa diminuiu o preço médio da gasolina e do diesel nas refinarias em 1,5% e 4,1%, respectivamente. Nesta quinta, houve um novo corte dos preços de combustíveis, também de 3%.

Frigoríficos

Já para os frigoríficos, que até então tinham registrado um forte rali por conta de uma outra doença que estava afetando a China, no caso a gripe suína africana, a expectativa é de um impacto negativo no primeiro trimestre de 2020 (principalmente para as exportadoras) por conta do coronavírus, mas um impacto mais limitado no ano cheio.

Há dois possíveis efeitos no radar, avalia a equipe de análise: i) a redução da atividade econômica, o que deve reduzir a acessibilidade em um contexto em que a carne já é cara e ii) o cancelamento de eventos do Ano Novo Chinês, que poderia guiar altos estoques de produtos no começo deste ano. “Vamos mais risco neste segundo ponto e não esperamos nenhuma mudança significativa nas estimativas para a oferta e demanda da China para 2020”, avaliam os analistas ao citar que, no surto de SARS, também não houve mudanças expressivas na demanda por proteína.

Para eles, o consumo de proteínas, assim como de produtos do varejo, sofrerão menos do que as commodities diretamente impactadas com investimentos ou atividade econômica. Em 2003, aliás, houve um aumento na demanda pelas três principais proteínas (de frango, de boi e de porco) em 3,1% na base de comparação anual, marcando uma aceleração frente os dois anos anteriores.

De qualquer forma, a expectativa é de um primeiro trimestre de 2020 mais fraco depois que todos os efeitos do coronavírus forem contabilizados, também levando em conta que o momento é pior do que o SARS, uma vez que houve uma explosão dos casos na véspera do Ano Novo Chinês.

Há evidências de que vários eventos do ano novo chinês foram cancelados mesmo fora da área em que os focos estavam concentrados. Entre os mais importantes, estavam eventos em Pequim e Hong Kong. O feriado começou em 24 de janeiro, sendo geralmente este o período de maior consumo de proteína no país.

Um aumento no estoque de proteínas devido ao consumo mais fraco, na avaliação deles, pode sim prejudicar os exportadores brasileiros de proteínas no curto prazo. “Desta vez, esperamos que as importações se recuperem menos rapidamente se houver um estoque restante por conta do Ano Novo Chinês”, avaliam.

Porém, não espera-se que o coronavírus mude o quadro geral do déficit de proteína na China no contexto da febre suína africana (ASF), uma vez que a queda no consumo devido ao cancelamento dos eventos do Ano Novo deve ser 14 vezes menor do que a queda na produção na China causada pelo ASF.

Os eventos do Ano Novo Chinês aumentam a demanda em cerca de 3% do consumo anual de proteína em comparação com a média mensal regular. Isso significa que um declínio pela metade nos eventos do ano novo chinês levaria a uma redução de 1,5% na previsão de consumo para o ano de 2020, o que equivale a cerca de 1 milhão de toneladas para as três proteínas combinadas.

Como lembrete, a gripe suína africana levou a uma redução de 14 milhões de toneladas na produção de proteína chinesa. “Apesar do potencial aumento de curto prazo para as exportações brasileiras de proteínas, esperamos que o ASF continue sendo o principal impulsionador do mercado global de proteínas”, avaliam.

Aliás, durante painel realizado pelo Credit Suisse na última quarta-feira (29), os principais produtores de proteína do Brasil disseram que a epidemia de coronavírus poderia até aumentar a demanda por alimentos produzidos no Brasil, especialmente nos países asiáticos. O CEO da BRF, Lorival Luz, disse que isso pode estar relacionado a uma maior demanda por segurança alimentar. Já o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, disse que uma comparação com o surto de SARS em 2003 não pode ser feita, pois, naquela época, o governo chinês restringia as vendas de animais vivos e o país importava mais. Porém, de acordo com o Bradesco BBI, no saldo final, não haverá impacto do coronavírus dentro das empresas do setor. Os analistas seguem com recomendação outperform (desempenho acima da média) para as ações da BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3), com preços-alvos respectivos de R$ 47 e R$ 37.

 

 

*Do Informoney

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Encontro “clandestino” de Deltan foi com bancos réus em ação da Petrobras nos EUA

O “bate-papo secreto” do procurador da República Deltan Dallagnol foi com bancos que também são réus na ação coletiva ajuizada contra a Petrobras nos Estados Unidos. O encontro foi bancado pela XP Investimentos, mas o procurador nega que tenha recebido para falar com os representantes dos bancos. E diz não ver conflito de interesses no encontro, já que, segundo ele, o Ministério Público Federal não se envolveu na ação dos EUA e o assunto não foi discutido no dia.

A conversa com representantes dos bancos aconteceu em São Paulo em junho de 2018. As informações estão em mensagens de Telegram trocadas entre Deltan e uma consultora da XP, divulgadas pelo site The Intercept Brasil.

Segundo a consultora, participariam do encontro representantes dos seguintes bancos: JP Morgan; Morgan Stanley; Barclays; Nomura; Goldman Sachs;  ; Cresit Suisse; Deutsche Bank; Citibank; BNP Paribas; Natixis; Societe Generale; Standard Chartered; State Street Macquarie; Capital; UBS; Toronto Dominion Bank; Royal Bank of Scotland; Itaú; Bradesco; Verde e Santander, conforme o Intercept

E os bancos que foram arrolados como réus na ação coletiva contra a Petrobras nos EUA são: BB Seguradora; Citigroup; J.P. Morgan; Itaú BBA USA Securities; Morgan Stanley; HSBC Securities; Mitsubishi UFJ Securities;, Merrill Lynch; Pierce, Fenner & Smith; Standard Chartered Bank; Bank of China (Hong Kong); Bradesco BBI; Banca IMI S.p.A. and Scotia Capital (USA); e PricewaterhouseCoopers (“PwC Brazil”), conforme consta do processo, divulgado neste site.

Em negrito, os bancos que constam das duas listas.

Na ação contra a Petrobras em território norte-americano estão acionistas da empresa que negociaram papeis na Bolsa de Nova York. Eles acusam a empresa de ter negligenciado seus sistemas de controle interno, o que permitiu que um esquema corrupto se instalasse na estatal. Esse esquema corrupto foi descoberto pelas investigações da “lava jato”, coordenadas por Deltan a partir de Curitiba.

Os bancos foram arrolados como réus porque deram aval ao sistema de controle interno da Petrobras durante o período investigado e chancelaram as auditorias feitas na companhia. Mas nenhum deles arcou com a multa paga no processo, como parte do acordo assinado com os acionistas.

A Petrobras pagou, sozinha, os US$ 3 bilhões. A PwC, auditora contratada pela estatal, fez um acordo separado em que pagou multa de US$ 50 milhões.

Mas, para Deltan, não houve conflito de interesse. O encontro com os bancos na capital paulista não discutiu a ação que corria nos EUA, mas aconteceu apenas para “tratar da pauta anticorrupção”, conforme disse a assessoria de imprensa do MPF no Paraná à ConJur.

“Na ocasião, o procurador tratou de informações de domínio público e não abordou o tema da class action [ação coletiva, nos EUA]. Dadas as circunstâncias descritas, especialmente a gratuidade do encontro e o tema abordado, não há qualquer sombra de conflito de interesses na referida atividade”, afirma o MPF paranaense.

Unidos contra a corrupção
Segundo o MPF, o encontro de Deltan com os bancos foi para tratar da campanha “Unidos contra a Corrupção”, capitaneada pelo procurador. Ele também diz ter levado com ele um representante de Transparência Internacional, “ONG” internacional financiada por vários governos da Europa e por agências governamentais dos EUA que apoiou a “lava jato” e seus protagonistas.

A campanha era, na verdade, parte da campanha política dos procuradores da “lava jato” encabeçada por Deltan. Conforme mensagens de Telegram obtidas pelo Intercept e divulgadas pela Folha de S.Paulo, o procurador pretendia usar a fama que conseguiu com as investigações para ganhar dinheiro com palestras e lançar a si e a colegas candidatos ao Senado.

Deltan não se candidatou ao Senado, mas comemorou o resultado das eleições de 2018 ao Congresso.

Em junho de 2018, um mês depois de ser convidado pela XP para falar com bancos internacionais, Deltan convidou Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, para dar um curso na faculdade Damásio de Jesus. O objetivo era divulgar a campanha “Unidos contra a Corrupção”, disse, numa mensagem.

Quando foi convidado pela XP, em maio de 2018, Deltan chegou a perguntar à consultora que o convidou se havia remuneração, mas a conversa tomou outro rumo e ela não respondeu. Mas, para provar que os encontros eram secretos, disse que encontros daquele tipo já haviam acontecido com os ministros Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, todos do Supremo Tribunal Federal, e nunca foram noticiados.

Barroso e Alexandre negaram ter participado de encontros do tipo. Ambos deram palestras públicas, transmitidas pela internet, em eventos da XP.

Fundação sem fundos
Tanto o MPF quanto a Petrobras negam que a ação coletiva tenha ligação com a “lava jato”. Formalmente, não existe conexão mesmo. Mas foi o acordo assinado com a Petrobras na ação coletiva que criou uma fundação a ser alimentada com dinheiro do acordo para financiar iniciativas de combate à corrupção, conforme mostrou reportagem da ConJur.

E foi Deltan Dallagnol quem criou uma fundação, com dinheiro da Petrobras, para financiar iniciativas de combate à corrupção. O controle dessa fundação ficaria com o MPF em Curitiba, mas o acordo que previu tudo isso foi suspenso pelo ministro Alexandre de Moraes, por desvio de função — o MPF não tem competência para decidir sobre o destino do dinheiro, que deveria ter para o Tesouro.

A fundação de Deltan seria alimentada pelo dinheiro pago pela Petrobras para encerrar as investigações nos EUA, tocadas pelo Departamento de Justiça daquele país (DoJ, na sigla em inglês).

A Petrobras nega que os fundos tenham relação entre eles, mas o cofre é o mesmo — o da estatal. E o acordo firmado na ação coletiva não dá detalhes sobre como é a gestão do dinheiro e nem que ficou a cargo de distribuí-lo.

 

*Do Conjur

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Reunião secreta de Dallagnol envolveu bancos que formataram acordo de R$ 2,5 bilhões com os EUA

Alguns dos bancos que entraram na oferta de ações da BR Distribuidora ou coordenaram a operação na Bovespa, na terça-feira (23), também podem ter estado com o procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol, em reunião privada em 13 de junho de 2018, organizada pela XP Investimentos, para comentar sobre o tema ‘Lava Jato e Eleições’.

O objetivo foi reunir representantes de bancos e investidores nacionais e estrangeiros em um encontro secreto para discutir eleições e conjuntura política com personalidades públicas, como o ministro do STF, Luiz Fux, e o procurador da Lava Jato. Entre os representantes de bancos e investidores convidados para o encontro, estão alguns cujos bancos já foram citados na própria “lava jato”.

Nos bastidores do grande acordo nacional – “com Supremo, com tudo” – a sanha privatista do sistema financeiro internacional sempre teve um foco muito claro: adquirir a empresa que alcançou o posto de segunda maior petrolífera do mundo durante o governo Lula, figurando entre as 4 maiores, em valor de mercado, de todo o planeta.

E a ideia era premiar, com a vultosa quantia de R$ 2,5 bilhões, o principal braço que abriu caminho para que isso pudesse acontecer. Em 1º de fevereiro de 2018, executivos dos bancos JP Morgan, Citigroup, Morgan Stanley, Merrill Lynch, Itau e Bradesco, entre outros, se reuniram para formatar um acordo bilionário a ser pago pela Petrobras para se livrar de ações na Justiça dos Estados Unidos.

Pouco mais de 3 meses depois, o procurador chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, negociou a presença em um “encontro secreto”, proposto pela empresa XP Investimentos, com os mesmos agentes dos bancos que propuseram o acordo.

A participação de Deltan no encontro, negociada pela ex-assessora do ministro Edson Fachin, Débora Santos, ficou acertada para o dia 13 de junho. E o contato para análise de conjunturas políticas e econômicas prosseguiu ao menos até o 8 de fevereiro de 2019, quando Débora pergunta a Dallagnol sobre impressões do novo juiz da Lava Jato em Curitiba, Luiz Bonat: “Pode embarreirar os trabalhos?”, indaga a assessora da XP.

Fundação Dallagnol
Dallagnol se tornou habitué em eventos da corretora do mercado financeiro: “Eu me tornei cliente da XP”, diz o procurador durante palestra no evento Expert 2018, no mês de setembro.

Na ocasião Dallagnol já se apressava e buscava garantir apoio para que os R$ 2,5 bilhões do fundo da Petrobras formatado pelos banqueiros tivesse como destino uma Organização Não Governamental (ONG) gerida por pessoas indicadas pelos procuradores da Lava Jato em Curitiba.

O processo eleitoral poderia atrapalhar os planos do procurador para aquela que ficou conhecida como “Fundação Dallagnol”. Porém, a liberação da delação do ex-ministro Antonio Palocci pelo então juiz Sergio Moro faltando seis dias para o primeiro turno das eleições anulou a subida de Fernando Haddad (PT) nas pesquisas de intenção de voto, consolidando a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) menos de um mês depois.

Sob nova direção
Pouco mais de um mês depois de divulgar a delação de Palocci, Moro deixou a magistratura ao aceitar o comando de um “super ministério” da Justiça proposto por Bolsonaro.

Alçado definitivamente à política, Moro se tornaria um dos principais trunfos de Bolsonaro na Presidência, ao lado de Paulo Guedes, o super ministro da Economia, escalado para consolidar o projeto privatista a mando do sistema financeiro internacional.

Substituta temporária de Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba, Gabriela Hardt homologou ainda em janeiro o acordo formatado pelos bancos para que os R$ 2,5 bilhões da Petrobras fossem geridos pela “Fundação Dallagnol”.

No entanto, a criação do fundo foi suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, porque o MPF não tem competência para decidir sobre a destinação do dinheiro – que encontra-se depositado em conta da Justiça Federal, aguardando decisão da corte.

Guedes, entretanto, cumpre sua parte do plano, privatizando a toque de caixa as riquezas do Brasil. Sob o comando de Bolsonaro, a Petrobras contratou nove bancos para comandar o processo que resultou na privatização da BR Distribuidora, maior empresa de logística e distribuição de combustíveis do país, com mais de 8,5 mil postos, 10 mil clientes, lucro de R$ 3,19 bi em 2018 e capital social de R$ 6,35 bi.

Os mesmos bancos que formataram o acordo para beneficiar a “Fundação Dallagnol” e que, meses depois, se encontraram secretamente com o procurador chefe da Lava Jato e cliente da XP Investimentos.

Em tempo: Luiz Fux, ministro do Supremo Tribunal Federal, que também se encontrou com os mesmos banqueiros, em reunião secreta, facilitou o processo de privatização da empresa, atuando como lobista na ação sobre a venda de estatais na corte. Como parte do grande acordo nacional, com Supremo, com tudo.

 

Por Plínio Teodoro, da Fórum, e Tadeu Porto, petroleiro diretor da FUP e do SindipetroNF

*Com informações da Forum/FUP