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Cerco se fecha contra o clã: Globo revela que Flavio Bolsonaro visitava Adriano da Nóbrega na prisão

O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) sempre disse que sua relação com o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em operação da PM da Bahia no dia 9 de fevereiro, se resumiu a reconhecer seu trabalho contra o crime no Rio. No entanto, em entrevista ao GLOBO, o vereador do Rio, Ítalo Ciba (Avante), sargento da Polícia Militar, contou que, quando esteve na prisão com Adriano, os dois receberam “mais de uma vez” visitas de Flávio Bolsonaro. Além disso, segundo ele, o ex-capitão do Bope frequentava o gabinete de Flávio a convite de Fabrício Queiroz, ex-chefe da segurança de Flávio.

Ciba integrava o Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 16º BPM (Olaria), comandado por Adriano. Em 4 de novembro de 2003, ele, Adriano e outros seis policiais receberam de Flávio na Assembleia Legislativa uma “moção de louvor”. Alguns dias depois, porém, os integrantes do GAT foram presos e começaram a responder um processo criminal por homicídio, tortura e extorsão. Nesse período, Flávio os visitou na prisão. Questionado sobre as visitas, o senador respondeu, por nota, que esteve apenas uma vez na cadeia, em 2005, para ver Adriano e entregar a medalha Tiradentes — maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). “Não há nenhuma relação de Flávio Bolsonaro ou da família com Adriano”, diz a nota.

O GLOBO pediu, via Lei de Acesso à Informação, os registros das visitas a Adriano e aos outros sete policiais do GAT do 16º BPM na prisão, mas a PM negou alegando sigilo. Eles ficaram presos primeiro no Batalhão da Tropa de Choque e depois foram transferidos para o Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar. Na época, O GLOBO fez imagens do momento das prisões dos policiais no dia 27 de novembro de 2003. O GLOBO também pediu à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) os registros de visitas ao gabinete de Flávio, mas não teve resposta até o momento.

No último sábado em evento no Rio, o presidente Jair Bolsonaro disse que foi ele quem pediu que Flávio fizesse a homenagem a Adriano dizendo que, na época, ele era um “herói”.

— Para que não haja dúvida. Eu determinei. Manda pra cima de mim. Meu filho condecorou centenas de policiais militares. Vocês querem me associar a alguém por uma fotografia, uma moção há 15 anos atrás. As pessoas mudam, para o bem ou para o mal mudam — disse Bolsonaro.

Ciba diz que conheceu Adriano em 2002 quando foi trabalhar no 16º BPM. Ele disse não saber quando Adriano conheceu Flávio Bolsonaro e os demais integrantes da família, mas acredita que o contato foi feito por meio de Fabrício Queiroz.

— Sei que ele (Adriano) se dava muito bem com o Flávio, devido ao (Fabrício) Queiroz. Queiroz trabalhou com Adriano lá atrás. Eu sei que o Adriano, de vez em quando, o Queiroz chamava pra ir lá no gabinete. Ele (Adriano) ia no gabinete, quando nós estivemos presos o Flávio foi lá visitar a gente. Mais de uma vez.

Sobre a morte de Adriano, Ítalo Ciba disse que o caso se trata de uma “covardia” e que também acredita que o ex-colega de corporação pode ter sido vítima de uma “queima de arquivo”. Ele disse que viu Adriano pela última vez num shopping, sem lembrar a data exata, mas antes das eleições de 2018.

— Foi de passagem, esbarrei com ele no shopping. Ele falou assim mesmo pra mim: “Estamos sendo perseguidos porque somos amigos do presidente”. Não era presidente ainda não, devia ser deputado, candidato a presidente — afirmou Ciba.

Entre outubro e novembro de 2003, Adriano e os colegas do GAT se envolveram, segundo a Corregedoria da Polícia da PM e o Ministério Público, no sequestro, tortura e extorsão de três jovens da favela de Parada de Lucas, na Zona Norte. Os moradores chamavam o GAT de “guarnição do mal”. Segundo a ficha funcional de Adriano, as vítimas eram levadas para um terreno baldio no antigo Mercado São Sebastião, na Penha. Nesse local, os PMs foram acusados de torturar as pessoas e depois extorquir R$ 1 mil.

Até que, em 27 de novembro daquele ano, eles foram apontados como os executores do guardador de carros Leandro dos Santos Silva, de 24 anos. No dia anterior, Leandro tinha denunciado as sessões de tortura. Foi assassinado, às 6h30m, com três tiros na porta de casa. A cena do crime foi desfeita para impedir a perícia. Mesmo morta, a vítima foi “socorrida” pelos agentes.

A Corregedoria da PM investigou o caso e anotou na ficha de Adriano, a que o GLOBO teve acesso, que ele “em comunhão de ações e desígnios com os demais acusados, consciente e voluntariamente, com vontade de matar, efetuou disparos de arma de fogo contra Leandro dos Santos Silva, inclusive após já estar caído ao solo”. O relatório policial diz ainda que “o crime foi praticado por motivo torpe, qual seja, vingança pelo fato de a vítima ter prestado ‘queixa’ dos denunciados à Corregedoria Interna da Pmerj, bem como, registrado ocorrência na 5ª DP”.

Quando Flávio homenageou os policiais, a justificativa foi de que Adriano e os colegas tiveram destacados a “dedicação, brilhantismo e galhardia” com que serviam à população. Nesse dia, o parlamentar deu a mesma honraria a Fabrício Queiroz, na época, policial do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais.

No dia 24 de outubro de 2005, os PMs foram condenados em primeira instância. Quatro dias depois, o presidente Jair Bolsonaro, então deputado federal, discursou na Câmara em defesa de Adriano — descrito como “um brilhante oficial”. Em novembro de 2006, porém, o júri que condenou os policiais foi anulado, e eles acabaram absolvidos, mesmo diante de provas técnicas apresentadas pelo Ministério Público.

Junto com Adriano e Ítalo Ciba, foram denunciados o capitão Flávio Luiz de Souza, os sargentos Abenor Machado Furtado, Sérgio Rogério Ferreira Nunes, Marcelo da Silva Conceição e os soldados Luiz Carlos Felipe Martins, Flávio Rodrigues Neves, e Alexander Duarte da Silva. Alexander foi depois expulso da PM por infringir o código de conduta.

Os investigadores conseguiram confirmar que o GPS do carro da polícia mostrava os PMs no local do crime e os vigilantes de uma empresa próxima ao antigo mercado confirmaram que viram os policiais no local.

Na versão de Ciba, todo o processo que respondeu no Judiciário se resume a uma questão política.

— Foi uma perseguição política comigo — disse, negando as acusações. Na versão dele, a morte do guardador de carros ocorreu durante uma operação policial em que ocorreu uma troca de tiros na comunidade.

 

*Com informações de O Globo

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Após prisão e ameaça da milícia, PM desativa base em favela na Praça Seca

A PM desativou uma base avançada na favela Bateau Mouche, na Praça Seca, na Zona Oeste, após a milícia que domina a região ameaçar explodir a estrutura e atacar os policiais. A intimidação por parte dos paramilitares começou após agentes do 18º BPM (Jacarepaguá) prenderem Raphael da Silva Nascimento, o Pezão, apontado como chefe da milícia que ocupa o Bateau Mouche, no último dia 11.

O miliciano foi flagrado por agentes do Serviço Reservado (P2) da unidade por volta das 21h, quando extorquia moradores na favela. Após a detenção, o batalhão precisou pedir reforço de homens do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões (Recom) e do 2º Comando de Policiamento de Área (CPA) para conseguir tirar o preso da favela. Comparsas do criminoso cercaram os PMs que fizeram a abordagem e não queriam deixar que ele fosse levado para a delegacia.

Após a chegada do reforço, o miliciano foi retirado da favela. Com Pezão, os PMs apreenderam uma pistola .40 municiada, uma granada, um cinto tático, um radiotransmissor, R$ 1.334 reais e 85 boletos de cobrança, usados para catalogar os pagamentos de moradores. Logo após a prisão, PMs que davam plantão na base passaram a receber ameaças da milícia. A cada turno, sete agentes ficavam no local. De acordo com moradores da favela, os paramilitares afirmavam que iriam explodir a estrutura.

A base ocupava, desde o início do ano, um imóvel na favela. Antes de ser desativada, a estrutura foi toda pintada de branco — antes, havia a inscrição “PMERJ” sobre um fundo azul.

Procurada, a PM alegou que a base “passou por um realinhamento estratégico que visa dar maior mobilidade ao policiamento ostensivo na região”.

Preso respondia por homicídio

Raphael da Silva Nascimento, o Pezão da Chacrinha, estava foragido desde outubro do ano passado, quando o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 3ª Vara Criminal, decretou sua prisão, junto com outros 14 réus, pelo homicídio de um miliciano rival. De acordo com a denúncia do Ministério Público, em dezembro de 2017, o bando matou Alexandro de Lemos Esteves Braz, o Corujinha, a tiros.

De acordo com a investigação da polícia, Raphael e os demais acusados integram uma milícia chamada “Bonde do Horácio”, que atua no Bateau Mouche e na favela da Chacrinha, também dominada por paramilitares. Os homens invadiram uma área ocupada por um grupo rival em plena luz do dia, com carros roubados e portando fuzis. Um dos integrantes do bando aturou na vítima, os demais passaram a intimidar testemunhas. Pezão teria assumido a chefia do bando após a prisão de Horácio Souza Carvalho, em fevereiro de 2018, num apartamento na Barra da Tijuca.

Em agosto deste ano, outro mandado de prisão foi expedido contra Pezão e outros 20 réus por determinação da 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá pelo crime de organização criminosa.

No último dia 11, a PM mudou bases da UPP Vila Cruzeiro de lugar, após um vídeo de homens armados com fuzis na frente da estrutura viralizar nas redes sociais. A cabine foi tirada do Bairro 13 e recolocada na Ladeira da Raia.

Na ocasião, houve tiroteio entre policiais, que faziam uma operação na favela, e os criminosos flagrados. A PM também alegou que “foi realizado um remanejamento estratégico do aparelhamento”.

 

 

*Rafael Soares/Jornal Extra